The Forest City escrita por Senjougaha
Notas iniciais do capítulo
Capítulo curtinho, mas a intenção é o que vale :(
Me revirei pela milésima vez na cama. Nenhuma posição era confortável e as lembranças da tarde que passei tentando convencer Daniel de que eu não me metera em nenhuma encrenca durante o mês que passei “sozinha” invadiam minha mente. Ele parecia não se contentar com meu perfeito auto-controle de transformação.
Suspirei e estremeci com o vento gelado que entrou pela janela, depois me levantei para fechá-la.
Um gato preto pulou na minha cama e eu torci o nariz. Eu andava recebendo visitas de gatos demais ultimamente.
– Sai - resmunguei e o coloquei no peitoral da janela, na esperança de que ele fosse embora.
Ele emitiu um chiado de decepção e pela primeira vez reparei no quão… humanos eram aqueles olhos.
– Cacete - sussurrei assustada e coloquei a mão na boca.
A forma de gato tremulou e logo uma Yukina estava sentada na janela, com um olhar de censura.
– Como eu saberia que era você? - perguntei em minha defesa.
– Soube assim que prestou atenção - ela fez um biquinho manhoso e sorriu, pulando da janela em minha direção para um abraço melodramático e apertado.
Não pude desviar. Tanto porque não tive tempo quanto porque eu realmente sentia falta dela.
– Senti saudades - murmurei mau humorada.
Ela me soltou e começou a pular pelo quarto.
– Ah, deuses eu não acredito que ouvi isso! - ela gritou - repete, repete!!!!
Revirei os olhos e joguei um travesseiro nela.
– Eu senti saudades - repeti, surpreendendo-a - agora me explique por que diabos me deixou aquele grimório louco.
Levantei meu colchão e peguei o livro de capa velha encouraçada. Folheei-o, passando os dedos pelas páginas velhas e amareladas que poderiam se esfarelar a qualquer momento.
– Como assim você deixou ele aqui?!!! - ela sibilou, brava - esse livro é PODER! Tem ideia do que poderia acontecer caso alguém o encontrasse??
– Não sou retardada - sibilei de volta - até mesmo eu SINTO poder saindo dessa coisa.
Encarei o livro horrorizada. Era verdade. Como UM LIVRO podia pulsar de poder?
Dei um passo para tras e fitei a expressão interrogativa de Yukina.
– Eu coloquei um feitiço de “esconder” - expliquei - não sei como fiz, foi instintivo e até mesmo eu tinha dificuldades pra encontrar esse negócio ou me lembrar de onde coloquei.
Ela fechou o livro com força e me olhou duvidosa.
– Isso é pura loucura, ok? - eu explodi - esse livro tem feitiços LOUCOS, que quase me deixaram LOUCA também só de olhar pra eles.
– Conseguiu entender pelo menos? - ela perguntou e riu.
– Sim e não - respondi - é como se eu soubesse falar mas não soubesse interpretar… E que língua é essa?
– Várias - ela deu de ombros - você fez o que durante esse tempo todo?
Ela guardou o grimório de volta, para debaixo do colchão e aguardou minha resposta com ansiedade e um brilho animado nos olhos.
Suspirei e me joguei na cama depois de fechar a janela.
– Fiquei lendo isso - respondi - decorei alguns feitiços, mas o único que fiz foi o de “esconder”.
– Kakusu - ela corrigiu - é um feitiço ninja japonês que exige mais concentração do que magia.
– Isso aí mesmo - murmurei e fitei o teto de gesso.
Ficamos em silêncio durante alguns minutos, até que de repente ela se levantou e suspirou pesadamente.
– Você terá uma punição adequada, Selene - ela disse e eu a encarei incrédula.
Mas seus olhos obscuros indicavam que ela não era a Yukina animadora de torcida de sempre. E que eu não deveria protestar.
– E por quê? - perguntei.
Ela me deu um tapa na cabeça como se eu já devesse saber a resposta.
– Você não treinou, não praticou feitiço algum e ainda por cima bateu de frente com uma deusa! - ela esbravejou.
– Ela me atacou do nada! O que eu podia fazer? Além disso, Coraline ficou no meu pé o tempo todo - resmunguei.
– Quando um deus chega perto de você, só se pode fazer uma coisa: correr! - ela rebateu.
– Eu corri! - me levantei e bati o pé.
Yukina semicerrou os olhos e virou a cabeça de lado.
– Vai ter que aprender a correr mais rápido então - disse uma voz brincalhona e me sobressaltei.
Eu me lembrava de ter fechado a janela, mas ela já estava aberta novamente e sentado nela, estava um Liam sorridente.
– Liam - me surpreendi.
– Oh, ela ainda se lembra de mim - ele franziu o cenho como se estivesse aliviado.
Arqueei uma sobrancelha.
– Como eu esqueceria meu mordomo? - perguntei brincalhona.
Ele esboçou uma careta e depois sorriu, descendo da janela e a fechando.
Liam me surpreendeu mais ainda com um abraço tímido e riu da minha cara quando me soltou.
– Qual é, Selene - ele brincou - vai dizer que não sentiu minha falta?
Ri desanimada e assenti. Era verdade, Liam fizera falta.
Mas não tanto quanto Daniel.
Suspirei e nos sentamos. Eu na cama, Yukina num puff de sushi que eu ganhara de Coraline e Liam no chão. Não parecia estar desconfortável para ele.
E ficamos assim a noite toda, até a mais humana dali adormecer no meio de uma conversa sobre tipos sanguíneos e suas relações com a magia.
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