Eu tinha conseguido dar uma escapada de todo aquele clima sufocante entre Daniel e Selene.

Pensei que aquilo não me afetaria. Mas estava errada. Imaginar a cena para se preparar para ela é diferente de estar diante da situação.

Respirei fundo e me encostei na parede.

– Você está patética - uma voz esbanjando divertimento disse perto de mim.

Me sobressaltei ao reconhecer seu dono. Claro que Seth não perderia a chance de zombar da minha cara.

– Tire uma foto para preservar o momento - resmunguei e me sentei ali no chão mesmo.

Totalmente digno da princesa herdeira do trono do Reino dos Elfos.

Ouvi um clique e um flash na minha direção. O maldito realmente tirou uma foto.

– Imbecil - murmurei e escondi o rosto entre as mãos.

– Foi você quem pediu - ele sorriu zombeteiro.

Suspirei e o encarei com um olhar cansado. Se ele me odiava tanto, por que não acabava comigo?

– Você é a irmã querida da Selene - ele respondeu parecendo ter lido meus pensamentos - eu jamais faria algo ruim para alguém relacionado à uma pessoa querida para mim.

Cada palavra dele parecia uma facada no meu estômago. Eu estava sendo abandonada. Trocada, melhor dizendo. Trocada por minha irmã gêmea.

Sorri sarcasticamente.

– Não espere nada vindo daquela garota - eu disse apontando para a direção onde Selene estava dançando com Daniel - ela já está caidinha.

– Não espero nada vindo dela - ele respondeu se aproximando com um olhar sério - ela nunca me deu falsas esperanças e sempre deixou claro o que queria.

– Eu nunca te dei falsas esperanças! - me desesperei com aquela acusação.

– É verdade que eu gosto dela - ele me cortou - mas Selene é acima de tudo, uma amiga para mim sem ter nenhuma obrigação em fazer isso. O que você nunca foi ou se esforçou para ser.

Comecei a chorar, o que era algo que não me acontecia há muito tempo. Já não sabia como lidar com as gotas salgadas que escorriam em minhas bochechas, então só fiquei lá, parada, sentindo as lágrimas quentes rolarem.

Patética, como Seth dissera.

– Por que você simplesmente não pede desculpas? - ele perguntou com uma expressão irreconhecível, parecia indignado.

Congelei no lugar. Pedir desculpas? Pelo quê, exatamente? Como eu engoliria meu orgulho e faria aquilo? Era inadmissível.

Mas ele tinha razão.

Eu nunca nem tinha pensado em pedir desculpas. Essa opção nunca foi avaliada por mim.

Funguei e enxuguei algumas lágrimas. Aproveitando meu momento de “princesa patética”, tomei uma decisão rápida antes que eu voltasse à mim e desistisse daquilo.

– Me perdoe - eu disse desatando a chorar de novo - me perdoe, por favor.

Seth me fitou inexpressivamente por minutos, que me pareceram horas.

E quando eu pensei que ele rejeitaria meu pedido de perdão, ele sorriu sinceramente e disse:

– Tudo bem.

Eu não sabia se me sentia aliviada pelo fardo que saiu dos meus ombros ou se ficava desconfiada. Eu consegui o perdão dele.

Mas então, outro fardo maior caiu em cima de mim.

Eu consegui o perdão dele.

Mesmo com tudo o que fiz de vergonhoso e sujo, com um simples pedido de desculpas, ele me perdoara.

Aquilo fez eu me sentir pior. A pior na face da Terra. Eu jamais perdoaria alguém com um simples pedido de desculpas!

– Ei, realmente está tudo bem - ele me chamou.

Assenti e engoli em seco, me recusando a voltar a chorar. Selene jamais choraria.

– Você quer dançar? - ele perguntou, sem jeito.

O encarei, surpresa e confusa. Qual era a dele?

Me peguei dizendo um “sim” sem que eu desse esse comando ao meu cérebro, e Seth me conduziu para o meio do mar de pessoas suadas e do barulho retumbante e dançou “The Only Exception” comigo. Deixei minha mente se iludir com a ideia de que ele escolhera aquela música somente para mim.

Meu olhar cruzou com o de Selene, que estava dançando com Daniel e nós sorrimos. Ela estava tão linda, impossivelmente linda com a luz colorida da festa a iluminando e os olhos ganhando cor só de estar ao lado de quem ela ama. Tão feliz e inocente, que me senti estúpida por tentar parecer ela ao vestir roupas escuras. Tão patética.

Suspirei e fechei os olhos. “Você nunca será Selene”, eu disse à mim mesma. “Seja você mesma”, repeti mentalmente.

Abri os olhos e encontrei os violetas de Seth me encarando, preocupado.

– Você está bem? - ele perguntou.

Assenti sem dizer uma palavra. Tinha medo que minha voz saísse trêmula e demonstrasse o quão vulnerável eu estava.

Sem que eu percebesse, já estava encarando Daniel e Selene novamente. Seth percebeu.

– Eles ficam bem juntos - ele resmungou, mau humorado.

– Você terá a sua chance - eu pisquei para ele, embora não estivesse gostando do fato de Seth demonstrar ciúmes puro.

Ele suspirou.

– Não se preocupe em ser original no momento - ele disse desviando o olhar - você ainda precisa se encontrar.

Abri a boca, indignada. Ele estava na minha mente? Como e quando conseguira entrar tão fácil?

– Você é um livro aberto, não preciso entrar na sua mente pra saber o que pensa - ele se explicou.

– Ao contrário da Sel - completei revirando os olhos - que você tem que ficar adivinhando o que ela sente o tempo todo, e esse parece ser seu passatempo, você quase sempre acerta.

Ele me encarou surpreso e assustado.

– Seu segredo está a salvo comigo - pisquei.

Ele sorriu.

Era um recomeço importante pra mim. Eu daria a minha vida para proteger Selene, mas daria a minha alma para ter Seth ao meu lado, por mais que eu ainda amasse Daniel.

Parei de respirar no momento em que me dei conta de algo. Não. Eu não amava Daniel. Só estava inconformada com a rejeição e assustada com o fato de que Selene era o centro do meu mundo, quando eu é que queria sê-lo.

Aquela percepção me assustou e me aliviou. Me senti menos mal por minha irmã mais nova, mas me senti uma péssima pessoa.

Foi aí que decidi mudar.

– Eu prometo que vou mudar - sussurrei e Seth sorriu.

– Já era hora - ele piscou.