Entre conflito e tristeza e amor escrita por Lulu Tril


Capítulo 4
Um pouco diferente dos outros dias


Notas iniciais do capítulo

Finalmente o quarto capítulo!
Bem, boa leitura (^^) vV

* eu vi alguns erros e arrumei...



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Escutei o alarme do meu celular. Estendi a mão com os olhos fechados ainda meio sonolentos para desligá-lo, e bati a palma da mão em um livro.

Livro?

Mas por que tem livro perto da minha cama? Eu nunca li nada na minha vida antes de dormir.

Mais uma esticada e apertei a tecla do celular para parar a música barulhenta. Então senti uma ternura nas minhas costas.

Hm?

Abri os olhos lentamente e vi o telhado. Não era do meu quarto. Olhei para o lado direito. Não era o meu guarda-roupa. E por último, olhei para a esquerda. Não tinha a parede branca que costumo olhar quando acordo. Lá estava o lançador número um da Geração Milagrosa e ao mesmo tempo o meu namorado: Midorima Shintarou.

Mas o que... ?

Pensei até aí e lembrei o que tinha acontecido ontem. Foi que nem um quebra-cabeça: vai achando uma pecinha de cada vez e encaixando até o formar completamente.

Meu pai.

O soco.

Minha mãe.

Batata recheada.

Beijos.

Foto...

Suspirei profundamente. Não estou muito animado para o dia. Depois de tudo que aconteceu ontem não queria ir para a escola. Sei lá. De repente ficar na cama o dia inteiro não seja uma má ideia.

Olhei de canto para Shin-chan que ainda estava dormindo. Acho que é a primeira vez que acordo mais cedo do que ele. Toda vez que pouso, ao acordar ele já tinha até se trocado ou está sentado perto de mim na cama.

Observei mais de perto o seu rosto aproveitando a oportunidade.

Que cílios longos... Parece até uma boneca de porcelana...

Engoli a saliva e levei a mão para perto da boca. Eu sei que ninguém estava vendo, mas queria disfarçar o rosto colado e quente. Tentei me controlar. Dez, vinte, trinta segundos. Sem sucesso.

O mundo poderia ser só aqui. O mundo onde só tinha eu e ele.

Observei mais um pouco. Bocejei e estava pensando em volta a deitar na cama fofa e enorme para fechar os olhos novamente do lado do meu amado.

Mas é claro que não deixaria fazer isso.

– ACORDAM MENINOS! VAI COMER LOGO CAFÉ DA MANHÃ SE NÃO VÃO ATRASAR PARA O TREINO! – Mikoto-san abriu a porta bruscamente fazendo barulho de propósito.

Shin-chan se levantou devagar ainda no mundo do sonho. Esfregou os olhos e colocou os óculos. Viu ao seu redor, e quando me olhou franziu a testa como se estivesse perdido. Porém logo desfez a ruga da sua testa lembrando o por quê de eu estar no seu lado.

– Bom dia meu filho. – sorriu animada, e depois olhou para mim. – Conseguiu dormir bem Kazunari-kun?

– Sim, Mikoto-san. – devolvi o sorriso.

Então tive uma ideia do nada. Olhei para a Mikoto-san e vi nos olhos dela que estava pensando a mesma coisa que eu. Ela assentiu, e sorrimos maliciosamente. Não é sempre que o lançador está sonolento, nem eu acordado antes dele.

Três.

Um.

– BOM DIA SHIN-CHAN! – gritei e debrucei em cima dele. Logo em seguida, Mikoto-san pulou em cima de nos fazendo montinho no lançador.

– Mas o que...! Saiam de cima de mim! – gritou o Shin-chan mal humorado percebendo a situação.

– Ai, que é isso filhote? Tá parecendo eu no TPM.

– Mãe!

– Mikoto-san, ele é sempre assim comigo. Agora vê como eu sofro todos os dias. – derramei uma lágrima falsa.

– Meu Deus! Coitado do meu genro!

– Mas ainda assim eu amo o seu filho. Não é Shin-chan? – direcionei o sorriso para o esverdeado.

No rosto do lançador apareciam veias e os músculos se contraindo. Abracei mais forte na cintura dele para provocar.

– TA...

Opa. Lá vem!

– TAKAOOOOOOOO!!!

O grito dele ecoou pela casa inteira.

Assim, começou mais um dia.

Um dia como sempre, só que um pouco diferente dos outros.

X

– Shin-chan. – chamei debruçado na mesa, mas ele não me respondeu. Ainda estava emburrado do incidente da cama. (Ei, não pense em besteira seus mentes poluídos!).

O lançador nem desviou o olhar da televisão.

– Shin-chan, Shin-chan, Shin-chan, Shin-chan, Shin-chan, Shin-chan, Shin-chan, Shin-chan, Shin-chan, Shin-chan!... – chamei várias vezes

– Cala a boca Takao. – tacou a almofada na minha cabeça. – Vai começar o Oha-asa.

Suspirei fundo pela segunda vez no dia. É melhor deixar quieto agora. Pela minha experiência, só irá piorar se insistir. Por isso fui até o chão brincar com a Mako-chan. Pelo menos ela gosta quando abraço ela. A garotinha estava com um vestido de manga longa cor de azul bebê. A presilha de flores deixava a ainda mais fofa. Por que o Shin-chan também não é tão sincero que nem ela?

“Bom dia minha gente! Hoje também começamos mais um dia maravilhoso aqui no Oha-asa! Agora 5:54 da manhã!”

A apresentadora começou o programa com um lindo sorriso vestindo uma blusa amarela longa com fitas laranja e legue. Chegou na parte do horóscopo dos cancerianos, e até eu parei para olhar.

“Hoje o dia será normal para os cancerianos, nem tão ruim, nem tão boa. Mas não desanime! A sua sorte pode melhorar! Seu item da sorte do dia é... um taco de beisebol com estampa de flores! Proteja-se de todos os tipos de mal! E...”

Puta merda. Não vou atentar ele por hoje pela minha segurança.

..........

.....

..

Só que não.

Onde ele vai achar umas coisas dessa? Um taco de beisebol com estampa de flores? Fala sério!

– Já terminou o Oha-asa? – apareceu o pai do Shin-chan ainda de pijama. - Bom dia filho. Bom dia Takao-kun.

– Bom dia Toshi-san.

– Bom dia pai.

Dea papai! – sorriu a Mako-chan andando desajeitada até o pé do pai. Ele pegou no colo e beijou a bochecha dela.

Será que uma criança sendo levantada a dois metros do chão não sente medo? Se for eu no lugar dela, iria chorar.

– Já acordou querido?

Mikoto-san entrou na cozinha com seu avental branco com borboleta bordado no lado direito inferior.

– Já. Bom dia amor. – Toshi-san beijou a sua esposa ainda com a Mako-chan no colo.

– Bom dia querido. – ela beijou de volta e depois beijou a testa da filha. – Bom dia minha chuchuzinha.

Fiquei um pouco colado, e mandei um olhar significativo para o lançador que tomava leite com café. É que vendo essas cenas deu vontade de beijar ele.

– Ei, não me olhe desse jeito. – franziu a testa.

Até parece que o que aconteceu ontem foi só um sonho. Aqueles beijos intensos e delicados...

Mais uma olhada pelo canto.

O lançador continuava assistindo o seu programa favorito.

É. Ele voltou ao seu modo tsundere normal. Droga. Era tão bom ele carinhoso...

Sentei na mesa para comer a torrada que a Mikoto-san preparou.

Não demorou muito para que o garoto dos cabelos esverdeados fosse para o armazém (também chamado de quarto dos itens da sorte) e pegasse um taco de beisebol com estampas de flores cor de rosa.

– Por que você tem isso.

– É uma longa história.

– Hmm...

Não perguntei mais. Me lembrei da vez que a gente ficou procurando o seu item da sorte em que o escorpião era o unlucky person dos cancerianos. Acho que era... Ah, sim. “Uma mascote com olhares atraentes”. Aquilo se for para contar tudo o que aconteceu, iria gastar mais de cinco páginas de redação. Então, se o Shin-chan disse que é longo, com certeza deve ser do rolo daquele jeito. Por isso deixei de lado. O importante é que vou atormentar ele por causa das estampas floridas.

Quando estávamos de saída, a Mikoto-san apareceu da sala da cozinha.

– Boa aula para vocês. – ela sorriu e a gente saiu da casa do lançador.

X

Puxei o rickshaw, pois perdi no jan-ken-pô do Shin-chan.

Pelando essa bicicleta que sempre pedalei, e provavelmente irei pedalar até terminar o colegial, me dava a sensação de que nada tinha mudado. Mas sabia que isso não era verdade. Toquei na minha bochecha esquerda e senti uma pontada, mostrando que o acontecimento de ontem não fora um sonho.

Dei uma olhada com Howk Eye para o lançador. Ele também bebia o seu oshiruko como o padrão.

Talvez nenhum de nós quisesse aceitar que algo tinha mudado. Que nem nas próximas duas semanas após os pais dele terem descoberto que eu e ele namorávamos. Agimos exatamente igual. Como se tivesse medo de alterar o lindo e agitado cotidiano. Eu não queria e não pretendia mudar. E pelo visto, nem ele.

Acho que o nosso amor é assim mesmo. Não precisava mudar nada para ser perfeito. Pelo menos, a minha vida já é perfeita só com a presença do lançador.

Parei de pedalar porque o sinal virou vermelho.

Quem acabou de pensar nisso? Eu? Sério? Eu pensei isso? Tipo que nem uma menina apaixonadíssima? Sinceramente eu não queria ter percebido essa minha parte feminina.

O sinal ficou verde, e continuei pedalando. Olhei com o conto dos olhos para o Shin-chan bem acomodado atrás com o seu item da sorte do seu lado.

– Hm? O que foi Takao?

– Nada Shin-chan.

É.

Acelerei a velocidade.

Pensando bem. Eu não sou o único afeminado das ideias por aqui.

X

Chegamos na escola e estacionei o rickshaw na garagem. Seis horas e quinze minutos. Faltavam mais quinze minutos para começar o treino. Mas eu tinha a absoluta certeza que os sempais já estavam treinando e o Miyaji-san iria gritar com nos que iria tacar abacaxi.

– Seus lerdos! – gritou o sempai loiro estressado com eu tinha previsto. – Vão logo se trocar e correr! Vai!

– Bom dia Miyaji-san, e Kimura-sempai. – sorri alegremente.

– Bom dia Takao. – respondeu Kimura-sempai. – E Midorima.

Shin-chan acenou com a cabeça levemente com o seu taco de beisebol na mão.

– Se isso atrapalhar o treino juro que vou quebrar em pedacinho! Entendeu Midorima!! – apontou o dedo para o item da sorte do ás do nosso colégio Shutoku.

– Miyaji-san maji tsungire...

Antes de terminar a frase, ele jogou a bola de basquete para a minha direção. Eu iria desviar. Mas antes disso, aconteceu o inesperado. Shin-chan estendeu a mão livre e bloqueou a bola a 10 cm do meu rosto.

Puta. Merda.

Ninguém acreditou no que aconteceu mesmo ter visto com os seus próprios olhos. Nem eu estava acreditando. Ergui a cabeça para ver o lançador, mas o nosso olhar não se cruzou. Ele pegou a bola que caiu e jogou de volta para o Miyaji-san. Sem perder tempo, ele pegou a minha mão e formos até o vestuário.

– Shin-chan!

Como das maiorias das vezes, ele não me respondeu.

O que deu nele?

Olhei para o seu taco de beisebol como se a resposta estivesse nas estampas de flores.

Ao chegar no vestuário, o lançador colocou o seu item da sorte no banco e começou a se trocar. E eu, fiquei que nem um bobo parado na porta olhando para o garoto dos cabelos esverdeados.

– Se troca logo Takao. Vamos nos atrasar para o treino.

– Você está bem Shin-chan? – perguntei erguendo uma das sobrancelhas. Estava pouco me importando se iria me atrasar.

– Não Takao. – ele fechou a porta do armário e olhou para mim. – A questão é se VOCÊ está bem.

Arregalei os olhos, pisquei rápido uns pares de vezes, e então comecei a rir. Coloquei uma das mãos no rosto para disfarçar as bochechas que com certeza estavam vermelhas. Eu não era tão lerdo para não perceber que ele estava preocupado comigo. E esse fato faziam cócegas no meu coração.

– Eu estou falando sério. – disse um pouco mal humorado franzindo a testa.

– Eu sei. - enxuguei as lágrimas que acumulou no canto dos olhos de tanto rir. – Obrigado Shin-chan! – sorri com tanta vontade que acho que podia ver corações voando.

– Humf.

Me troquei rapidamente antes que ele saísse do vestuário.

– Mas por que você bloqueou com a mão e não com o seu taco de beisebol?

– ....................Por que o Miyaji-san poderia tomar de mim.

– Mentira.

– Não é mentira.

– Então o que foi esse espaço de tempo? Por que você precisou pensar Shin-chan?

– ....Não te interessa.

O lançador ajeitou os seus óculos. Tudo bem. Ele não iria me contar. Por isso não insisti mais do que isso. Deve ser porque esqueceu que tinha um taco de beisebol na sua mão e não queria admitir isso.

Nunca na minha vida iria imaginar que ele estava olhando para mim respondendo mentalmente: “Eu iria usar o taco. Mas logo pensei na possibilidade de poder te machucar e bloqueei com a mão mesmo”.

Sem saber da verdadeira preocupação do lançador, a gente correu e iria se misturar no mini game (5 on 5).

Mas é claro que o Otsubo-sempai precisava perguntar por que a minha bochecha estava inchado, e dei uma desculpa falando que era alergia.

– Então isso no seu pescoço também é alergia? – apontou ingenuamente.

– Pescoço?

Otsubo-sempai me deu um espelho e eu vi uma marca vermelho. Não era alergia. Isso eu tenho certeza. Não sabia se deveria brigar com o Shin-chan ou ficar vermelho ou azul. Talvez o arco-íris seja a melhor opção. Fuzilei o lançador com o olhar, mas o verdinho nem se quer ligou.

– Sim. É alergia. – Menti.

– Hmm... Tome cuidado Takao. Se estiver passando mal ou alguma coisa assim é para avisar, tudo bem?

Ele estava preocupado comigo como um bom capitão do time. E isso fazia com que eu me sentisse ainda mais péssimo.

– Tudo bem. – respondi sem olhar nos seus olhos.

Fuzilei mais uma vez o lançador. Ele somente ajeitou os seus óculos e ergueu as pontas dos lábios satisfeito.

X

Após mais uma manhã de treino apavorantemente puxado, chegamos para a sala. Eu virei a cadeira para trás e encarei-o.

– O que é isso? – apontei para o meu pescoço.

– O que? – nem ergueu o olhar do livro que tirou da bolsa.

– Essa “alergia” meu. A sorte é que com o uniforme não dar para perceber. – a última parte falei baixinho, quase cochichando.

– Deve ser alergia.

– MIDORIMA!! – bati a mão na mesa e levantei a voz. Eu estava tão vermelho quanto uma maçã. Eu não acredito que ele deu um chupão no meu pescoço enquanto eu dormia. Eu não acredito que AQUELE Midorima Shintarou fizera isso.

Queria exigir explicação, mas o professor entrou bem na hora que abri a boca.

– Sentam cada um na sua mesa e pega o caderno de história. Hoje vamos falar sobre a Segunda Guerra Mundial.

Guerra Mundial estou eu querendo tacar uma bomba atômica nele.

Suspirei e virei a minha cadeira para frente.

E assim se passaram três aulas normalmente sem nenhum incidente.

No recreio, nós estávamos no pátio e lembrei que ainda não tinha ligado para a minha mãe. Peguei o celular na mão. Mas o que eu vou falar para ela? “Oi mãe Eu estou super bem depois da surra que ganhei do pai, e fui chorando no caminho até a casa do meu namorado que foi a causa do discursão de ontem.” Não. Péssima ideia.

O que eu devo falar? Será que ela vai atender? Se o meu pai estiver do seu lado?

Fiquei encarando o celular durante um bom tempo pensando nisso.

– Takao, você está quase beijando o celular. O que está acontecendo? – perguntou o lançador comendo a sua marmita. O meu também era igual o dele. Foi a Mikoto-san que deu para a gente antes de sair.

– Está com ciúme Shin-chan? Você que um beijo? – sorri brincando e ele cutucou a minha testa um pouco forte. – Ai que violência!

– Violência foi o Miyaji-san tacando bola em você.

– Ele sabia que eu conseguia me desviar. E sabe Shin-chan. Eu amo essa parte tsundete de você.

– Se você não calar essa sua boca grande e responder logo a minha pergunta, vou apertar sua bochecha inchada. E o que está acontecendo?

Paralisei no sorriso. Ele normalmente não insistia no assunto em que eu não queria que insistisse. Principalmente quando eu disfarço ou desviava do assunto. Mas parece que, de ontem para hoje, as coisas estão estranhas. Será que é só eu que não quero admitir isso?

Olhei nos olhos do lançador. O olhar puro e penetrante como sempre. Mas nos seus olhos apareciam traços de preocupação. Desde ontem é assim. Preocupado, inseguro... Eu devo estar surpreso com esses fatos, por não querer talvez, admitir da verdadeira situação que me encontrava.

Estou praticamente expulso de casa. O meu pai me rejeitou. Sou menor de idade. Não tenho emprego, pois as normas da escola não permitem e mesmo se pudesse não tenho tempo por causa do baquete. A minha mãe ainda tenta me defender, ou seja, está do meu lado e não do meu pai (isso piora a situação para ela). E...

Eu falei que namorava com alguém da mesma escola.

Falei para os pais dele na janta que não, mas agora estou me lembrando da vez que escapou da minha boca.

O desespero tomou conta de mim em um instante juntamente com o calafrio, que foi das pontas dos pés até a cabeça gelando a minha própria alma. Tem certeza que estamos perto do verão? Pois eu necessitava urgentemente de um casaco de neve para me proteger.

Para me proteger de tudo.

– Takao!? O que houve? Você está pálido! – Shin-chan chegou perto de mim. Mas não tinha tempo de responder para ele. A minha mente estava lotado de pensamentos.

E se ele me tirasse da escola?

Não vou mais poder jogar basquete, pois com certeza me proibirão de fazer qualquer coisa disso em diante.

A minha vida sem basquete? Sem bolas sendo dribladas? Som os sons dos tênis? Sem os treinos de manhã com o Miyaji-san gritando com nós? Sem Os belos três pontos do nosso lançador?

A minha vida sem o Shin-chan?

Senti o sangue esfriar. Tenho absoluta certeza que até os meus lábios estavam roxo. Minhas mãos tremiam pelas pontas dos dedos.

Sim. Eu realmente não queria admitir a minha verdadeira situação que encontrava. De preferência nem queria ter percebido.

– Shin-chan! O que eu vou fazer? Eu... Eu... – falei desesperadamente.

– Acalme-se Takao. Respire fundo. E fala o que aconteceu.

Tentei segui a sua instrução. Demorei um pouco, mas consegui. Ainda tinha aquela cratera enorme de desespero no fundo do meu coração, mas tentei ignorar. Pois se não, não conseguirei nem ficar de olhos abertos. Ficaria encolhido em baixo dos cobertores tapando os ouvidos e tentando controlar o corpo tremendo.

Mas isso não resolveria nada. E o pior de tudo isso, é que eu sabia disso.

– A minha mãe. – Respirei fundo mais uma vez. O lançador prestava atenção em cada uma das palavras que pronunciava. – Ela me disse que era para ligar quando for possível. Por isso que estava quase beijando o celular. Não sabia o que poderia se dizer numa circunstância dessas. Então me lembrei que eles sabem que eu namoro uma pessoa da escola. Não contei quem era. Mas isso não interessa. É só me tirar da escola e tudo estará resolvido para eles.

Não, melhor, tudo estará resolvido para ele.

Agora o Shin-chan também estava ficando pálido. Mais branco do que já é. Se fosse em uma outra ocasião, até poderia ter feito uma piadinha sem graça. Porém essa opção nem veio para a minha cabeça.

Não sabíamos o que falar. Era mais do que conseguimos aguentar.

O que a gente fez? O que fizemos de errado? Só queria ser feliz e eu sou feliz. Então por que tudo isso está acontecendo?

Sem saber mais nada do que poderia fazer ou dizer, encostei a minha cabeça lentamente no ombro dele. Ele estendeu a mão e começou a acariciar os meus cabelos tão delicadamente, que nem dava para perceber direito.

Olhei para cima. Nunca achei que o céu fosse tanto azul e nem que as nuvens fossem tão brancas chegando a ser cruéis ao meu ponto de vista.

– Eu acho. – disse o lançador depois de ter se passado mais de dez minutos naquela posição. – Que você deveria ligar para sua mãe. Pelo menos para dizer que estar vivo e não dormiu na rua ontem à noite.

Fixei o olhar no celular preto, com uma tira com bolas de basquete como enfeite, em cima da minha mão. Não estava muito a fim de fazer isso. Principalmente depois do ataque de desespero.

Olhei para Shin-chan, e ele assentiu me encorajando. Tudo bem. Não tenho escolha. Mas eu não iria conseguir fazer isso sozinho. Estendi a mão para segurar o dele, e disquei o número. Foi quase no mesmo instante que ele apertou de volta a minha mão e a minha mãe atendeu.

“-Filho?”

– Alô mãe. Sou eu. – tentei não deixar perceber que a minha voz estava tremendo.

“- Kazu-kun! Eu fiquei tanto preocupada com você! Você está bem? Ah, esquece. Foi uma pergunta idiota. Como você está? Inchou muito a sua bochecha meu filho? Onde você está? Você está na escola ou nem foi hoje? E...”

– Calma mãe. Uma coisa de cada vez.

Sorri, e suspirei por alívio. Que bom. É a minha mãe de sempre, e como sempre.

“- Me desculpe filho. É que é tanta coisa que eu quero perguntar...”

– Não se preocupe mãe. Eu estou bem. Eh... Mais ou menos bem, para falar a verdade. Mas não estou tão ruim. Estou na escola e a minha bochecha está um pouco inchada. – respondi uma de casa as suas perguntas feitas naquele pouco tempo.

“- Ufa. Isso me faz sentir melhor.”

– Eu também mãe.

E muito melhor.

“- Tem certeza que está bem filho? Está precisando de alguma coisa?”

– Não mãe. Eu estou sã e salvo. E no momento eu não estou precisando de nada. Pelo menos do que eu me lembro.

“- Então tá ótimo. Ah! As suas irmãs estavam perguntando de você preocupadas.”

– Fala para elas que estou bem.

Elas não mereciam ter visto aquela cena e nem deveriam. E se por a caso elas ficarem traumatizadas? Imagine. As minhas queridas, amáveis e adoráveis irmãzinhas traumatizadas!! Que absurdo!

Faltavam quinze minutos para bater o sinal. Então comecei a falar qualquer coisa que costumava conversar com a minha mãe: falei sobre o treino de hoje e manhã, o grito do Miyaji-san, as aulas chatas de história e biologia, de que o Inter High estava chegando, lembrei ela que tem reunião na creche das meninas na outra semana e entre outros.

Estávamos conversando normalmente, e até rindo. Nem parece que aconteceu aquela tragédia ontem à noite.

Tudo estava ocorrendo bem, até chegar nesse pergunta.

“- Você está aonde Kazu-kun? Quero dizer, onde você está pousando?”

Engoli em seco. Eu não queria que ela tocasse nisso.

“- Deixa pra lá. – ela disse como tivesse percebido tudo naquele intervalo de silêncio. – Já vai bater o sinal, então vou deixar você terminar o almoço. Mas olha garoto! Nem pense em matar aula heim!”

– Tudo bem mãe.

“- Tchau filho. Mamãe te ama.”

Essas mães... Sempre nos tratando como se a gente ainda tivesse cinco aninho de idade.

– Também te amo mãe.

Portanto, deveria ser exatamente isso que eu necessitava.

Fechei o celular e soltei a mão do garoto esverdeado. E logo em seguida o abracei fortemente.

– Ta-Takao? – franziu a testa não intendendo a minha atitude.

Não respondi. Apenas respirei profundo e suspirei. O meu coração estava batendo mil por minuto e a sensação de sufocado voltou. Nunca achei que uma ligação para a minha mãe, que em toda a minha vida me dei bem, fosse tão difícil.

O sinal bateu como ela tinha falado por último na conversa. Matar aula não seria uma atitude de menino educado, mas vontade é que não faltava.

– Takao, bateu o sinal. Vamos ir para a sala.

É claro que o menino exemplar e certinho do meu namorado não iria permitir isso. Por isso peguei o lixo e desgrudei dele dizendo sorridente.

– Tudo bem às-sama!

X

O restante do dia passou normalmente. Tirando o fato que o Miyaji-san não gritou que iria tacar abacaxi nem que iria nós atropelar com Keitora. Milagres acontecem, pensei nesse momento. Mas acho que pensei alto de mais e acabei sendo perseguido pelo ginásio inteiro condenado pelo sempai de cabelos loiros a correr mais dez volta pela quadra por ter abrido a boca na hora errada.

Mesmo exausto por causa disso, agora eu estava pedalando no caminho de volta o rickshaw com o lançador atrás bebendo oshiruko. Será que um dia vou ganhar dele em jan-ken-pô e sentar lá? Não. Isso chegaria acontecer se um dia o Shin-chan parasse de ver Oha-asa não carregando mais os seus itens da sorte, e sua bola não passar mais na cesta durante o jogo. Traduzindo: nunca.

O vento fresquinho soprava suavemente no meu rosto tornando a situação menos desagradável. Mas pensando bem, esta situação nunca foi desagradável. Pois eu gosto de me dedicar para o verdinho ali atrás.

Ei. Quem pensou (ou falou) que sou um masoquista pra caramba, vamos ter umas conversinhas mais tarde.

Voltando ao assunto, eu não acho essas coisas que faço para ele chato. Pelo contrário. Eu até gosto. O fato é que estou meio depressivo e as dez voltas pela quadra foi pesado.

– Takao. – Shin-chan me chamou quando estava pedalando perto do parque que nós costumamos jogar basquete no final de semana. – O que a sua mãe disse?

– O quê?

– Eu perguntei o que a sua mãe disse para você no recreio, seu idiota.

– Não seja tão brutamente tsundere Shin-chan.

– Eu estou pensando seriamente em mandar você para uma clínica especial. Você não está falando coisa com coisa.

Ele e suas piadas não piadas. Já até me acostumei com isso também.

– Parecia que a conversa não foi tão ruim nos meus olhos.

– Não. Não foi. Foi até bom. Sabe como que são as mães, não sabe? Daquele jeito delas.

– Eu ainda não conheço a sua mãe direito. Só de vista.

– Todos dizem que somos parecidos em vários aspectos. É uma Mikoto-san menos exagerada não sádica que fala bastante que nem eu.

– Tsc. Mais um na minha vida...

– O que foi que você disse Shin-chan? – perguntei não escutando o murmuro do lançador.

– Não foi nada. Olha para frente se não vai tropeçar com a bicicleta. E eu não estou a fim de sofreu um acidente.

– Que exagero Shin-chan!

– Cala a boca e pedala olhando para frente.

– Ok, ok...

Obedeci continuando a pedalar.

Chegando na casa dele, estacionei o rickshaw e fomos tomar banho (um de cada vez, é claro) e jantamos peixe frito no jantar. Toshi-san não estava, pois tinha uma cirurgia marcada e a Mikoto-san estava contando como foi o seu dia utilizando gestos exagerados com a mão e hashi entre os dedos, e perguntou como foi o nosso dia. Conversamos bastante, contando também que liguei para minha mãe. A mãe do lançador disse que ainda quer ficar muito amiga da minha mãe, e a primeira coisa que ela iria fazer era pegar os meus álbuns e zoar da minha cara. O suor escorreu pelo canto do rosto imediatamente e tentei convencê-la de não fazer isso. Inútil tentativa. Vou ter que me preparar emocionalmente caso isso chegue a acontecer. Durante tudo isso Shin-chan estava quietinho comendo o peixe frito com limão. Mas deu uma risadinha quando ouviu a declaração da Mikoto-san como se estivesse dizendo: “Bem feito”.

É a segunda noite que durmo na casa dele. Mas desta vez foi diferente. Ora, eu também sou como qualquer garoto, certo? Como assim que eu dormiria duas noites com o meu namorado e não teria nada? Bem, com todo respeito à Mikoto-san, não pretendia fazer nada absurdo. Pelo menos pela minha parte.

Depois de ter apagado a luz e sentado ao seu lado, dei um selinho. Eu estava pensando em dizer boa-noite, deitar e dormir abraçado nele. Mas quem não deixou foi ele.

O lançador puxou a minha cintura fortemente até que grudasse contra o seu corpo, e começou a me beijar ferozmente. Arregalei os olhos. Tentei empurrá-lo por reflexo, mas ele segurou o seu pulso e me prendeu contra a parede. Quando começamos a beijar intensamente, me cedi e correspondi o seu beijo delicioso. Saíam gemidos da minha boca e da boca dele também. Só notamos que estávamos passando do limite quando ele me derrubou na cama (arrancado metade do pijama), e nesse exato momento que o clima estava fervendo, escutamos a Mako-chan chorando e a Mikoto-san tentando acalmá-la. Olhamos um para o outro. Confesso que se não for por isso, nem tinha me lembrado de que havia pessoa além de nós dentro da casa.

– Ah... Shin-chan.

Ele não disse nada.

A luz não estava acesa, mas mesmo com a pouca claridade que a lua oferecia, deu para perceber que ele estava vermelho até as orelhas. Me pergunto se da onde o Shin-chan está poderia ver também o meu rosto vermelho.

Arrumei a roupa e deitei de lado.

– Vamos dormir Shin-chan?

Em vez de responder, ele deitou do meu lado e me abraçou. Passei também o braço pelo corpo dele e beijei-o, desta vez na testa para que não aconteça o inesperado novamente.

O lançador sorriu levemente, e me beijou na boca antes de adormecer.

Achei duas vantagens entre toda essa confusão que estamos vivendo:

Eu tenho o beijo dele antes de dormir e a sua ternura durante a noite intensa.


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