As Crônicas de um Gatinho Medroso escrita por Lady Spugna


Capítulo 2
II. Visual novo para uma vida nova?


Notas iniciais do capítulo

Preparem-se para uma linguagem super nerd daqui para frente. Qualquer dúvida é só me perguntar.
Inicialmente esse capítulo teria 4000 palavras, mas eu o dividi.
Boa leitura, pessoal!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/495473/chapter/2

Se mudar nunca é bom, pelo menos é o que dizem por aí. Só tive a sensação de me mudar uma vez, quando eu era um bebê, então realmente eu não sei se é tão ruim. De escolas eu sempre vivi mudando, pois minha mãe sempre recebia bilhetes das professoras dizendo que os alunos tinham me batido, então ela me mudava de escola e ainda falava que eu devia virar um homem de verdade para me defender. Eu já disse, ela nunca gostou de mim de verdade.

Meu pai já havia providenciado minha matrícula em uma escola pública da região. Eu esperava ser diferente das outras em que estudei. Eu quero mudar a vida ridícula em que eu vivia. Irei me encaixar ao padrão das pessoas. Serei alguém popular! As garotas vão se apaixonar por mim e eu por elas, e elas não serão garotas de anime! Bom, acho que me empolguei de novo.

As manhãs eram sempre cansativas. Acordar cedo não era uma tarefa fácil, no entanto preciso certificar-me de que estarei apresentável para o primeiro dia de aula. Talvez um visual novo e inusitado, ou talvez um andar com estilo. Não, não! Vou parecer um cara dos anos 70 desse jeito! Terei de ser natural, apenas mudando minha personalidade de um nerd. Irei parar de ficar vacilando, e que venha novo galanteador! Minha mãe irá ficar orgulhosa disso.

Passei a noite inteira jogando ontem, mas por algum milagre consegui acordar no horário certo, apesar de que havia grandes olheiras bem visíveis presentes no meu rosto estavam para estragar tudo. Meti um corretor estranho em meu rosto que havia pegado emprestado de minha mãe, parecia que estava funcionando aquilo, as olheiras estavam sumindo feito uma mágica! Plíiiim! Só as espinhas que permaneceram intactas! Aquelas eram monstruosas, até mesmo meu warlock level 84 não iria conseguir detê-las.

Logo depois, fui para o armário pegar alguma roupa para causar impacto. Peguei minha melhor camisa polo e coloquei. Nem parecia mais aquele nerd de antes! Eu estava muito bonito! ... Ah, mas quem é que eu quero enganar?! Estou o mesmo de antes! Então, para querer causar, abri um botão da camisa polo, achando que eu estava um pouco ousado; coloquei umas calças jeans que minha mãe me deu e nunca usei; e coloquei um sapato velho, pois ouvi dizer que uma marca, na qual eu não me lembro do nome, é melhor quando está suja. Ah, sim! O nome dela era All-star!

Agora é só escovar os dentes como nunca e arrumar aquele cabelo desgrenhado. Resolvi tirar os óculos. Mesmo porque eu não ia ficar cego se o tirasse, pois meu grau não era muito forte.

Assim que retirei os óculos pareci que comecei a observar um mundo diferente e mais colorido, embora minha vista estivesse um pouco embaçada e doesse um pouco. Eu sabia que deveria ter pedido de Natal lentes de contatos ao invés de pedir figuras de ação. Acho que agora me arrependi. Como é que vou impressionar as garotas se nem sequer vou ver os rostos delas direito?

Olhei para o espelho um pouco satisfeito com o visual, entretanto realmente estava faltando algo. Eram as espinhas! Se nem o corretor as apagavam eu teria de procurar outra maneira de escondê-las.

Passei meus olhos pelo banheiro em busca de algum creme facial, meu pai tinha que ter um. E a única coisa que notei foi à presença uns cremes esquisitos que estavam em cima de uma prateleira, pareciam ser de rosto. Sem mesmo pensar eu peguei um deles e passei em meu rosto. Ele ficou oleoso, mas aquilo era legal. Dei até uma piscadinha para o meu reflexo e me senti uma fangirl morrendo de olhares por um bad-boy bonitão. Acho que senti muito amor próprio agora.

Eu pensei até em colocar gel no cabelo, só que eu ia exagerar demais. Não quero que as garotas fiquem tanto no meu pé, sabe? Uma só é suficiente! E, então, para finalizar eu peguei um pente molhado e comecei a passar no cabelo. É. Fora um pouco difícil passar o pente nos cabelos que não eram penteados faz um bom tempo.

Depois de tanta arrumação fui até a cozinha com um ar maneiro. Tentei fazer um andar mais legal também, e pelo o que eu vi, estava realmente dando certo! Eu estava incrível! Arrasando! Meu Deus!

— Victor, tem certeza que não vai comer? — Meu pai perguntou me olhando com um olhar feio, um pouco estranhado com meu visual. Aposto que ele estava impressionado, isso sim! Eu estava arrasando, disso eu tenho quase certeza.

— Não, pai, — eu disse fazendo uma cara nova de arrogante, aquilo era legal. — irei estragar meus dentes se comer.

O pai começou a rir feito um louco. Eu não havia entendido o motivo de risos. Se eu comesse meus dentes iriam estragar, não iriam?

— Não sabia que meu filho se importava com coisas desse tipo. Desculpe-me! — Ele retrucou aumentando o tamanho de suas risadas, aquilo era irritante. — Quer ter uma boa impressão, é?

— Quero... — Eu respondi sem ânimo. Ele estava me caçoando!

— Coma algo, fará bem. E você já está atrasado.

Olhei para o relógio e realmente eu estava atrasado. Se atrasar no primeiro dia de aula não é comigo! E as minhas notas exemplares? E meu histórico de faltas? E como fica toda minha transformação se eu me atrasar?! Nunca vou ter garotas! N-U-N-CA! Eu vou ser expulso se faltar no primeiro dia, aposto. E se me prendessem por isso? Não posso nem imaginar!

— Por que você para de ficar pensando aí parado e não vai logo para a escola? — Meu pai cortara meus pensamentos oferecendo uma torrada quente, eu aceitei.

— AH! É mesmo! Já vou saindo!

Saí em disparada com aquela mochila pesada. Eu precisava chegar logo na escola.

Corri até o ponto de ônibus e ainda tive que esperar com fome o maldito ônibus chegar. Acho que o dia não irá ser muito bom, no entanto não posso me desanimar tão cedo. Quando ônibus chegou, eu adentrei e fiquei no amontoado com duas velhas gordas de seios fartos que não paravam de fofocar da vida dos outros. Aquilo foi horrível!

Depois de sair do ônibus tive que caminhar um pouco mais até chegar ao meu destino. Eu só poderia morar no fim do mundo, não é possível! E para atrapalhar tudo o meu rosto começara a pinicar muito. Com certeza era aquele creme maldito dos capetas! Comecei a coçar brutalmente os locais por onde passei o creme, mas nada resolvia o problema.

No meio do caminho e com toda aquela correria tropecei e acabei rasgando um lado da mochila. Por sorte não fizera um buraco grande no qual os materiais contidos dentro pudessem cair. E então finalmente cheguei após dar um jeito para que o buraco não ficar muito visível.

Finalmente terei meu primeiro ano no colegial! E também colocar meus planos para ser um cara legal em ação! Apesar de eu estar todo fodido, eu creio que irei me sair bem. Garotas gostam de caras com a mochila rasgada, não é? É um ar meio despojado!

Olhado em minha volta percebi que a escola era muito grande, bem diferente de outras que eu estudei em Portugal. Ela havia os muros um pouco pichados, um playground com crianças alucinadas brincando e correndo, uns bad-boys — que torço para não ter problemas com eles — brigando com um garoto, umas meninas esquisitas dançando com músicas vulgares e cheias de palavrões, uns garotos com livros nas mãos estudando, pessoas em um canto com fones de ouvido, amigas que acabaram de se ver desde as férias se cumprimentando com beijinhos e abraços, entre muitos outros tipos de grupos.

Com tanta gente assim eu pensei que não poderia mais me destacar. Mas também não poderia ser o quietão da turma, não é? Primeiramente fui conversar com uma das funcionárias da escola para me dizer em que sala eu devo ficar, elas me disseram e fiquei procurando. Em minha busca encontrei garotas bonitas que pareciam ser do 2º ano ou do 3º, elas estavam sentadas em um murinho, conversando. Resolvi dar uma piscadela para ver se elas me notavam. E funcionou! Uma delas viu e deu uma risada, parecendo comentar com as outras amigas sobre o ocorrido. Elas todas estavam rindo, bobas com minha beleza exuberante. Eu sei disto!

Andei mais um pouco pela escola e encontrei com um menino que estava sozinho mexendo em seu celular. Eu me sentei ao lado dele a fim de querer conversar, apesar de que mal sei como me socializar direito. Ele não parecia ser alguém esquisito. É estranho para um garoto dizer isso, mas ele era até bonitinho, tinha o cabelo ruivo bem diferente. Vai que eu viro amigo dele e ele vira popular por ser bonitinho e eu fico conhecido com o amigo do bonitinho?! Seria um máximo! Mas teríamos que dividir as garotas, então não seria tão legal assim.

— Oi! — O garoto disse espontâneo se virando para mim, meio que se segurando para não rir, quase me matando do coração pelo susto. — Sou o Lucas, e você é?

Embora ele tivesse rido de mim, ele quis se socializar comigo, coisa que só acontecia quando alguém queria pegar minha lição ou pedir emprestado um lápis! Então... Meu Deus, alguma socialização! Meu visual novo estava dando certo! Eu sou um gênio! Agora eu não posso estragar tudo e dar uma resposta ridícula.

— Meu nome é... É Victor. — Eu disse gaguejando, bem baixo. O garoto olhou estranho para mim, mas logo em seguida deu uma risada. Será que é um bom sinal?

— Victor? Prazer em conhecê-lo, Victor! Você é novo aqui?

— Sou. — Eu respondi, mas agora um pouco frio. Se controle, Victor, por favor. Vai dar tudo certo. Ele vai ser seu primeiro amigo de verdade.

— Sério? Eu também sou. Agora me sinto muito melhor em saber disso, pelo menos não serei o único perdido aqui. Que sala você está?

— 1-a do 1º colegial.

Por mais que eu quisesse dizer as palavras, elas mal saíam de minha boca corretamente. Eu até já estava me arrependendo de tentar me socializar. As pessoas são imprevisíveis, nunca irei saber o que elas vão dizer ou sentir.

— Opa! Eu também. — Ele respondeu com um sorriso no rosto — Prevejo que seremos grandes amigos até lá.

Amigos? Ele disse... amigos?! Isso! Eu tenho um amigo! Eu arrasei! Eu sou incrível! Eu sou demais! Agora sim, se minha mãe não estivesse na prisão ela ficaria orgulhosa de mim. Aposto que serei popular aqui. Eu já tenho um amigo, viram? Sim, um amigo. E agora vou ter vários daqui para frente.

Nós conversamos por mais um tempo, apesar de que minha timidez vivia atrapalhando. Lucas era legal. Jogava alguns dos jogos que eu jogava, mas era um pouco noob pelo o que eu percebi. Disse ele que se mudou porque seus pais não tinham mais condições de pagar uma escola particular, e que suas notas não excediam o necessário para uma bolsa de estudos. Ele também havia me perguntado se eu tinha um celular com Whatsapp, mas eu respondi que não sabia o que era e ele riu da minha cara, depois pediu para eu fazer um. O problema é que eu não tenho celular...

Nossa conversa foi interrompida por um som estridente do sinal tocando, quase morri, pois percebi que estava logo abaixo do maldito do sinal. Entretanto, não posso deixar de mencionar que eu estava bem feliz por saber que seria fácil me socializar. Eu era um total arraso. Agora só faltam as garotas, pois namorar um garoto não deve ser nada legal.

Eu entrei na sala de aula, logo notei os tipos de pessoas que tinham. Havia umas garotas estranhas (E bem feinhas), que ficavam conversando e rindo como loucas, então logo tirei a conclusão de que não deveria me socializar com elas. E se eu fosse transformado em um louco feito elas? E também tinham umas garotas muito bonitas, que tiravam fotos com celular com um horrível bico de pato. Elas só poderiam estar se desvalorizando, eram muito bonitas para fazerem uma careta como essa. Por um lado elas pareciam ser engraçadas. Bico de pato deve estar na moda, sei lá!

De meninos notei uns que pareciam serem populares, que ficavam indo atrás das garotas de bico de pato. Dentre deles, alguns pareciam ser uns completos idiotas, e outros pareciam ser legais, mas daqueles que batem em nerds. Acho que precisarei me afastar.

Tinham também o grupinho de roupa preta. Dois meninos e uma garota que pareciam serem os tão conhecidos emos. Do lado havia um grupinho de pessoas que eram quietas, e não tiravam a cara de livros, apenas esperando a chegada do professor. Aqueles com certeza eram os cdfs. E atrás deles vi outras duas pessoas. Presumo que o primeiro era um fracassado como eu e a segunda era uma garota muito bonita, que não parecia ser daquelas que se desvaloriza. Só não entendo o porquê de estar sozinha. Ela deve ser nova.

Com toda essa turma estranha, acho que tenho um pouco de possibilidades de me destacar e ter uma vida social ativa. Eu acho que com o Lucas do meu lado pode acabar mudando tudo. Vamos ver e encarar o que o futuro nos aguarda!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Voltei-me mais a descrição dos personagens e o ponto de vista do protagonista sobre eles. Mas no próximo iremos ter a ação da coisa, ahahaha. :D
Até a próxima.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Crônicas de um Gatinho Medroso" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.