As Crônicas de um Gatinho Medroso escrita por Lady Spugna


Capítulo 3
III. Meu amigo, as garotas bico-de-pato, as esquisitas e a bela Victória!


Notas iniciais do capítulo

Olá, povão!
Eu deixo para vocês mais um capítulo (Com um nome bem grandão!). Qualquer dúvida é só perguntar!



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Enquanto a professora não chegava, fiquei conversando com Lucas. Até o grupinho das garotas esquisitas virem nos atrapalhar. Bom, elas são garotas. Minha mãe sempre dizia para mim que só serviam as garotas bonitas, entretanto meu pai falava o contrário, que as que tinham sentimentos eram as melhores. Mas pelo jeito acho que meu pai seguiu o conselho de sua mulher, não é?

Bom, realmente não sei o que elas queriam. A primeira coisa que me veio à cabeça foi que elas ficaram caidinhas pelo meu jeito de cara legal.

— Oi! — Uma delas disse, se sentando do nosso lado. Ela não era tão feia, tinha belos olhos azuis e parecia “liderar” aquelas suas amigas. — Vocês são novos, não? Parecem que são os únicos, além daquela garota estranha sem peitos que está sozinha.

— Sim, somos novos. — Lucas respondeu. — Eu sou o Lucas e esse tímido do meu lado é o Victor.

Precisava falar o tímido? Eu corei na hora.

— Bem-vindos. Eu sou a Lindsay. Aquelas são Milena, Carla e Alemanha. — Ela se apresentou, apontando para cada uma das amigas respectivamente. Olhando de perto elas pareciam ainda mais estranhas. E quem diabos têm o nome de Alemanha?

Milena era um pouco séria, bem magra, tinha cabelos pretos e longos e usava roupas bem largas e quentes. Ela queria se matar de calor, só pode! Carla parecia ser uma garota engraçada, um pouco gordinha e tinha cabelos curtos e negros. E sobre a Alemanha não tenho muito o quê comentar, tinha cabelos bem longos castanhos escuros, e uma cara de psicopata.

— Lindsay e Carla são otaku, Milena é unicórnio e ama muito livros e eu sou apenas uma garota normal que ama pandas. — Alemanha disse ainda com aquela sua cara de psicopata. Desse jeito a garota não parecia normal. Como assim amar pandas? Eles vão te comer se você chegar perto de um. E que diabos são unicórnios? Pensei que era um ser mitológico, não uma pessoa.

— Hm, legal... — Lucas respondeu para não ficar sem assunto, parecia que ele estava desinteressado nas garotas. Que tipo de cara ele é?! — O Victor pelo que eu andei notando é um cara bem tímido, mas é legal, e acho que ele também é um ota... Otaku! E eu sou... Acho que sou normal.

— Hm, legal... — Lindsay imitou Lucas, depois saiu de perto de nós junto de seu bando. Garotas são estranhas! Pelo menos essas são.

Comecei a falar com o Lucas de novo, mas fomos interrompidos pela terceira vez.

Todos se silenciaram com a chegada de um professor. Ele era alto, tinha bastante presença, parecia ser um dos professores mais bravos que tinha nessa escola. E sem dar nenhuma palavra foi à mesa das garotas de bico de pato e tirou o celular delas e depois os colocou em cima de sua mesa.

— Quem estiver com celular, guarde agora. Caso contrário, irei pegá-los e só devolverei para seus pais. — Ele rosnou para os alunos, colocando medo em todos. Aquele era mesmo o professor mais bravo, nem consigo imaginar algum que tenha o título maior que o dele.

Logo que ele disse, percebi que os emos tiraram os fones e guardaram bem rápido os celulares em suas bolsas, sem que o professor visse. Após isso, ele se sentou na cadeira da mesa, jogando seus livros e pertences fazendo um barulho bem alto que ecoava pela sala, e pegou a lista de chamada analisando-a.

— Esse professor deve ser dos bravos. — Lucas sussurrou para mim, dando uma risada de leve em seguida.

— Por que é que estou ouvindo conversas? — O professor quebrou o silêncio, dando sustos em alguns distraídos. — Irei fazer a chamada, quero todos quietos.

O professor fez a chamada, os alunos só abriram a boca para respondê-la. Com a chamada pude perceber melhor que tipo de pessoas havia na classe. Alguns faziam a tão conhecida piadinha de trocar o “presente” por “presunto”, que, sinceramente, é uma coisa ridícula e sem-noção, e é claro que o professor repreendeu todos àqueles que fizeram esse tipo de brincadeira.

Houve também uma troca nos nomes registrados na chamada. Uma garota com o nome de “Victória” acabou sendo registrada como “Victor”, que pelo visto havia sido uma pequena confusão nos nomes das pessoas da chamada. No meio desse alvoroço acabei percebendo que essa Victória era uma garota serena; delicada. Havia lindos cabelos castanhos claros e olhos de sua mesma cor. E bem diferente das tantas outras que vi em minha classe, essa, ao invés de ser uma completa louca, aparentava ser madura e compreensiva. Imaginem, se eu namorasse ela seria como um nome de uma dupla sertaneja: Victor e Victória.

Quando respondi chamada, Lucas rira ao saber que meu sobrenome era “Madeira”, mas o dele era ainda pior! Era Seco! Lucas Seco! Ele era seco. Entenderam a piadinha?

Assim que realizou a chamada, o professor se apresentou para nós. Ele era um professor novo de história, seu nome era Watson, e não deixou de mencionar que suas aulas vão ser bem cansativas para fazer futuros brilhantes.

As primeiras aulas foram de história. Logo depois entrou uma professora bem bonita e legal, mas que não sabia lidar com a bagunça da sala de aula. Seu nome era Lídia, ela dava aula de geografia e aqueles garotos idiotas ficavam babando nela.

Após a aula da Lídia, bateu o sinal para o intervalo, e os alunos partiam em disparada para a cantina como um monte de crianças alucinadas indo para o playground. Imagino que aqui deve ser ainda mais complicado de se comprar o lanche... E o pior: Eu nem tinha tomado café da manhã direito.

— E então, Victor. Você vai arriscar entrar na fila da cantina e garantir seu lanche quente, vai entrar somente depois e pegar um lanche gelado e ainda ter o risco de não poder comer a tempo ou não vai para não morrer?

Engoli a seco. Que tipo de escola maluca era aquela?

— Acho que não vou.

Não vou mesmo, mas não morrer não é uma opção, pois estou quase morrendo de fome.

— Se for assim, eu também não. Vamos nos sentar e conversar, Madeira!

Madeira?!

Nós nos sentamos e eu não tinha um assunto. Se eu começasse a falar de mangás ou jogos ele iria ficar confuso ou até mesmo entediado, aposto. Precisarei deixar o fanatismo de lado e conversar sobre meninas gostosas de seios fartos que não são personagens de anime. É isso aí!

Quando eu ia começar a falar sobre esse assunto que estou meio por for, aquelas garotas esquisitas estavam vindo à nossa mesa. Por dentro eu dei graças a Deus, pois com certeza eu iria falar alguma merda para Lucas e ele iria me zombar no resto do dia. E tenho que admitir, realmente não tinha imaginado o quão os meus planos de sedução dariam certo. Aquelas garotas gostavam de mim! Ou era isso ou era de Lucas. Hm... Segunda opção é mais provável.

— Oi! A Lindsay disse que queria vir conversar com vocês. — Alemanha começou. Ela estava com um bicho de pelúcia de panda na mão. Ela levava mesmo a sério sua adoração por pandas, que tosco.

— Falar sobre? — Lucas perguntou, gesticulando com as mãos.

— Na verdade não vim apenas para falar algo e ir embora. Queríamos criar uma amizade legal com vocês!

A garota gordinha, a Carla, praticamente se jogou em uma das cadeiras vazias da mesa parecendo que queria quebra-la, e depois a aproximou de Lucas com uns olhões maliciosos. Prevejo Lucas fazendo sucesso. Ou não.

A psicopata esquisitinha apenas se sentou delicadamente ao lado de Carla, que pensei que ela até parecia ser alguém normal. Lindsay e Milena se sentaram depois, com seus celulares nas mãos, teclando algo.

Percebi que aquela líder do grupo, a Lindsay, estava vendo umas imagens muito estranhas de romance gay em estilo anime em um site que começava com “TUMB”, o resto não consegui ver bem. Aquilo foi escroto. E Milena via imagens no mesmo site, mas agora esta via umas em preto e branco, com um tema obscuro. Ótimo, uma pervertida doente e outra psicopata! Eu não sou mais anormal, mãe!

— Então, — Lindsay, após teclar algo em seu celular, cruzou suas pernas e começou a dizer. — sobre o que iremos falar?

— Acho que você que deveria saber, não? Afinal, vocês vieram aqui para conversar, deveriam ter um assunto. — Lucas provocou-as.

Carla, em questões de segundos levantou seu celular que havia câmera frontal e tirou uma foto com meu rosto e o de Lucas. E mostrou para as suas amiguinhas que deram um gritinho tosco.

— Consegui! Consegui! — Alegou Carla, levantando-se da mesa junto com as outras meninas. —Vamos comprar o lanche agora.

— Ah, acabou o tempo. — Lindsay falou já saindo com as outras. — Adios!

Aquilo que presenciei é a verdadeira face das garotas de hoje em dia? Mas em que mundo eu vivo e que eu nunca percebi nada como isso antes? Eu estive congelado no tempo. Não acredito que as pessoas eram tão estranhas assim. Agora somente me pergunto o porquê de uma foto.

Creio que Lucas também está sem entender. Aliás, ele me pareceu muito calmo. Então deve ser algo comum as garotas serem tão assim, sei lá.

— Desculpa pela pergunta, mas... Por que as garotas tiraram uma foto nossa?

— Desculpa? Ei, somos amigos, não precisa ser formal, Madeira. — Lucas riu. — E aquelas garotas tem algum tipo de problema, todas têm, por isso não se preocupe. Já lidei com muitas assim.

— Ah...

Um silêncio havia dominado a mesa novamente por alguns minutos. Então Lucas se despediu de mim e foi falar com alguns meninos daqueles populares e idiotas da minha sala. Com certeza eu tinha o deixado entrar no tédio. Argh! Estou fazendo tudo errado de novo!

Após alguns minutos de solidão bateu o sinal para voltar para sala de aula. Agora era a hora da luta para entrar na sala de aula, pois logo que o sinal tocou a escola toda pareceu entrar em um transito com muitos atropelamentos.

Resolvi esperar para não ser morto por um “caminhão” passando por cima de mim. De poucos em poucos a cantina ia ficando vazia e mais fácil de respirar.

Eu adentrei na sala de aula e vi que as garotas bico de pato estavam sentadas em meu lugar, conversando. Ah, que bosta! Agora eu vou ter que falar gaguejando para que elas saiam de lá. E já digo: Não vai funcionar! E elas também não irão me ouvir.

— Você, — Eu arrisquei a pronunciar, cutucando o ombro da garota que estava em minha carteira. Ela me olhou com tanto desprezo que senti que iria ser fuzilado pelos seus olhos gigantes. — É que... É que eu sento aí e você está no meu lugar.

Elas riram alto. Agora, olhando bem, elas pareciam galinhas, não patos. Ou melhor, eram galinhas com bico de patos! A que estava em minha carteira era reta como uma tábua, tinha cabelos com luzes loiras, bem maltratadas; tinha os olhos azuis claros cheios de rímel e uma boca carnuda coberta por um batom ridículo vermelho-sangue. A outra era o oposto, havia seios fartos e era bem mais desenvolvida; comparada a sua outra amiga ela era bem bonita; seus olhos eram negros e seus cabelos lisos e bem cuidados. E a terceira parecia ser a líder delas, era loira, continha olhos verde claro e um nariz empinado como um de rosto típico de pessoas arrogantes.

— Azar o seu, garoto! — A garota disse, voltando a conversar com as outras galinhas de bico de pato.

Não tinha escolha, me sentei em outra carteira e aguardei a chegada do professor.

As últimas duas aulas foram de matemática, muito legais. A professora era um pouco brava, mas não deixou de dar uma aula legal. Seu nome era Geórgia, e parecia ser a professora mais velha da escola toda, e tinha muita experiência em seu ramo.

No final da aula a professora deixou todos conversarem, uma das típicas folgas de primeiro dia de aula. Eu apenas fiquei no canto, quieto e sem ação, observando as pessoas malucas em minha volta conversando e rindo histericamente com seus amigos falsos.

Estava um tédio, mas às vezes eu acabo preferindo assim. Tudo solitário. Mas por quê? Pois são menos coisas para pensar, menos problemas em dizer algo errado e menos riscos de ser tachado de idiota por não saber nada deste estúpido mundo real. Eu estou cansado de fazer besteiras com pessoas.

Deitei meu rosto na carteira entrando em uma busca pela paz para um bom cochilo até o sinal tocar. Mas, infelizmente, não surtia muito efeito, pois o irritante barulho das conversas e risadinhas me atrapalhava, e muito.

Retornando à observação das pessoas da classe percebi que logo aquela Victória estava na carteira em minha frente, me encarando com um sorriso misterioso em seu rosto. Olhando-a mais de perto notei que havia pequenas sardas espalhadas em seu rosto alvo que parecia o de uma boneca de porcelana. Seu perfume delicioso de rosas entrava em minhas narinas e brincava com toda minha mente. Aquela era a garota perfeita! Tão linda... Tão delicada... Mas por que diabos ela está me encarando?!

— Oi! — Ela disse com uma voz fina, como de uma verdadeira boneca. Chegou até ser estranho para falar a verdade. — Sabia que ficar sozinho faz mal, não?

Eu fiquei sem reação. Senti meu rosto queimar com o rubor. Por que ela, que era tão madura, veio logo falar com um fracassado como eu? Deve ter coisa por aí. Eu sei disso.

— Não há nada para fazer e nem para conversar... — Eu respondi tentando parecer calmo e virando o rosto para conter o meu acanhamento.

— Que pena! É que eu iria conversar com você já que está tão sozinho. E, aliás, nossos nomes são parecidos, não?

Ela fez um biquinho escroto junto com uma cara de choro. Bom... Se eu estivesse em um anime com certeza diria que ela era uma Lolita com uma face yandere. E ao saber desses fatos eu iria ter de me afastar (Vai que ela me matava se eu chegasse perto de alguma outra garota). Entretanto, falamos do mundo real agora. E eu realmente não sei nada sobre as pessoas que vivem nele. Talvez as garotas gostem de ter atenção e fazer biquinhos escrotos, né?

— S-sim! — Eu pronunciei gaguejando.

Passamos o resto da aula conversando. Na realidade ela só falava, e eu fiquei de ouvir. Ela só sabia falar de sua vida, maquiagem, moda, de sonhos e essas coisas estranhas de meninas. Na verdade, ela era um pouco irritante como as outras (Não no nível daquelas garotas estranhas que ficaram atrás do Lucas), mas sua beleza me fazia ficar bobo e mal me deixava pensar naquelas baboseiras que estava me falando.

Percebi que Lucas nos fitava profundamente com risinhos maliciosos. Eu estava feliz por isso. Parecia que eu estava dando a impressão de um cara legal e pegador. Agora eu arrasei de verdade.

Bateu o sinal e Victória se despediu e foi embora, enquanto as meninas estranhas a fuzilavam com o olhar. O que era isso? Inveja da coitada? Desculpa se ela é mais bonita que vocês, queridas.

Lucas saiu comigo da escola e logo começou a fazer perguntinhas sobre minhas conversas com Victória. Eu respondi um pouco corado e ele acabou rindo de minha cara.

A única coisa que eu posso dizer de hoje é que eu fui um verdadeiro arraso! Pela primeira vez Victor Madeira conseguiu arrancar o coração de uma garota e fazer um amigo! Ah, mas eu não posso ter tanta certeza que a Victória gostou de mim de verdade. Claro que gostou! Ela foi conversar comigo por conta própria! Ninguém faz isso, faz?

Eu me despedi de Lucas e fui a caminho de minha casa.

Quando cheguei lá cumprimentei meu pai e fui logo para o meu quarto. Joguei-me em minha cama e entrei em meus devaneios pensando em como o dia foi bom. Lembrando dos professores, das meninas esquisitas que eu encontrei, das garotas bico-de-pato, do Lucas, da doce e bela Victória... Ah, a Victória! Todavia, como sempre fui interrompido. Pelo meu pai? Não. Por algum barulho? Não. Por um mosquito chato? Também não. Então pelo o que? Simplesmente por uma dor horrível percorrendo todo meu rosto fazendo com que ele pinicasse. Era o efeito daqueles cremes estranhos! Tenho certeza!

Olhei para o espelho e vi um rosto todo inchado com várias bolhas e um olho vermelho parecendo que eu tinha fumado maconha.

— MERDA! — Berrei alto me desesperando com o que eu havia presenciado.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo! ~



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