"- Então? - Nicole me encarou, com uma sobrancelha erguida.

Estávamos sentados na carruagem que se sacudia perigosamente, mas ela não pareceu se preocupar com isso e seu olhar nem sequer piscava enquanto ela encarava meus olhos fixamente, fuçando no fundo da minha alma.

Foi aí que eu percebi, eu estava encrencado.

– E então o que? - Perguntei, Nervosamente. Os "caras" pareciam sentir a tensão no ar, e estavam calados sentados no banco à nossa frente.

–Quem era ela? - A voz de Nicole era assustadoramente calma. Certo, Teddy, respire. Ela consegue sentir o cheiro do medo.

–Ah, ela é Victoire, uma das campeãs. Ela estava me perguntando sobre Hogwarts e tudo mais, acho que vai ser um torneio bem amistoso.

–Teddy. Você não pode confraternizar com o inimigo. - Resmungou, mas eu não acho realmente que era por isso.

–Ah, cara. Você está com ciúmes? - Sorri, abobado. Nicole corou violentamente e me fuzilou com o olhar.

–É claro que não, porque eu sentiria ciúmes de um babaca feito você? - Ela cruzou os braços apertado e se virou para frente. - É só que você me deixou sozinha com esses idiotas.

Olhei para os caras. Acho que eles nem perceberam a ofensa, pois continuaram quietos pela primeira vez na viagem inteira.

–Desculpe. - Falei. -É que eu estou nervoso com essa competição e tudo mais. É bom conhecer alguém que está tranquilo.

Era verdade. Antes de conversar com Victoire, eu achei que eu iria participar de uma chacina escolar. Agora estava mais pra aquelas olimpíadas estúpidas de meio de ano.

Nicole me encarou pelo canto do olho.

–Eu estou com você, Teddy. Porque você acha que eu vim?

–Não sei. Talvez para conhecer pessoas novas tipo o Alek...- Comecei, mas ela me interrompeu com sua voz um tom mais agudo.

–Teddy! Cale a boca!. - Se é que era possível, seu rosto tinha ficado ainda mais vermelho. - Se você não parara de falar besteira, eu juro que te jogo pela janela pra ser esmagado pela outra carruagem!

Ergui as mãos em sinal de rendição.

–Tudo bem, tudo bem. - Na verdade, agora que eu lembrara do Alek eu também estava meio irritado, não sei porquê.

Um silêncio pesado se instalou na carruagem e tudo que se ouvia era o barulho das rodas passando pela neve e batendo em uma rocha aqui e ali.

Nicole respirava pesadamente, com os braços cruzados no peito, vez ou outra esfregando as mãos.

–Você está com frio. - Observei.

–Certo. Mais alguma informação útil, capitão óbvio? - Resmungou com os dentes batendo. Ela tinha vindo com seu traje habitual de Hogwarts, apenas um suéter por cima e de saia. Era lógico que estava com frio.

Revirei os olhos e tirei meu casaco, jogando-o pra ela.

–Eu n-não preciso d-disso. Idiota. - Respondeu, jogando o casaco de volta.

–Nic. Pega logo o casaco, que droga. - Resmunguei, cruzando os braços também. Agora eu estava com frio.

–Ah. - Ela me viu tremendo, e então, com uma animação surpreendente, pegou o casaco e colocou nos ombros, satisfeita. - Então tá. Morra de frio aí.

–Se você vai pegar só pra me punir então me devolve. - Estendi a mão. Ela a segurou, surpreendendo-me, mas então, levou à boca e mordeu com toda a força - AI! porque você fez isso?!

–Haha, espero que isso tenha doído. Aprenda, Teddy Lupin, você acaba de perder esse casaco por toda a viagem. - Ela abraçou o moletom, muito satisfeita. - Cuidado com a hipotermia.

Ela deitou para o lado e dormiu um pouco. Várias vezes eu tentei tirar o casaco dela silenciosamente, mas ela acordava e soltava um rugido de "Sai!", fuzilando-me com o olhar. No final, me encolhi no banco, tremendo, até que um dos caras sugeriu que eu fechasse a janela do meu lado da carruagem. Eu encarei o vidro da janela, me sentindo mais estúpido do que nunca e a fechei, depois me encolhendo novamente, envergonhado por não ter pensado naquilo antes. Quase pude ouvir uma risadinha debochada da Nicole, como se ela até estivesse sonhando o como eu era abestado.

Estava dormindo quando finalmente chegamos. Acordei desesperado pois quando a carruagem tinha freado eu heroicamente fui jogado pra frente, com um grito nada masculino.

–Mas o que..? - Esfreguei os olhos, me levantando do chão. Nicole soltou uma gargalhada.

–Chegamos, Teddy-bear. - Ela se levantou graciosamente do banco (exatamente o contrário do que eu tinha feito) e saiu, andando que nem uma princesa. Tive vontade de pegar uma bola de neve no chão e acertar naquela cara-de-pau.

Quando saí na neve, eu praticamente congelei, mas um dos alunos de Durmstrang me ofereceu um manto vermelho. O negócio me esquentou pra caramba, e eu olhei para Nicole, presunçoso. Ela apenas revirou os olhos, abraçando seu moletom fajuto.

–Boa noite. - O aluno que me ofereceu o manto falou. - Eu sou Vlad e serei o guia do vocês por hoje. Sintam-se à vontade para conhecer nossa escola, logo depois que eu levá-los aos seus respectivos dormitórios.

Ele foi andando na frente e nós o seguimos, abobados. Ao olhar em volta, tudo era excepcionalmente maior do que parecera e simplesmente dava tontura só de olhar.

Passamos por um dos muros de entrada, que era de pedra negra e se erguia por pelo menos 30 metros de altura. Mal conseguia ver o topo.

A ponte levadiça pela qual passamos era igualmente alta, e quando ela se abaixou fez um estrondo de estourar os tímpanos.

Se fizéssemos silêncio o suficiente, conseguíamos ouviu o barulho do imenso rio daquele vale, passando exatamente por baixo do castelo.

–Ali é nosso campo de quadribol. - Vlad apontou para um gramado verde que se perdia de vista, à nossa direita. - E, logo à frente, há o nosso corujal. - Uma torre alta subia para o céu, onde centenas de pássaros entravam e saíam.

Andamos mais por um longo pátio, até finalmente chegarmos á entrada do castelo, justamente quando recomeçara a nevar.

As portas de madeira antiga se abriram e quando entramos, eu finalmente me dei conta.

Era agora que tudo começava. "