"Iae.

Hoje foi um longo dia. Estou quase despencando de sono nesse quarto frio e úmido, então, se eu escrever qualquer besteira, é por conta disso.

Ah, sim. Eu estou em Durmstrang.

Eu sei que passei uns 2 dias sem escrever em você, é que eu estava me preparando para a viagem. Acredite ou não, enviar um adolescente para a morte requer muita burocracia por parte da escola.

Certo, Certo. Eu não posso mais reclamar. E porque essa tranquilidade repentina por estar no torneio? Bem, vou lhe contar agora.

Acordei às oito horas da manhã, tomei um café reforçado e me encaminhei para o pátio exterior de hogwarts. Lá fora, um dos professores me aguardava, pronto para levar a mim e aos meus amigos à estação de trem, onde eu pegaria um expresso que me levaria a Durmstrang.

Sim, que frescura né? Podiam simplesmente me deixar aparatar. Tipo, só uma vezinha. Morro de curiosidade de saber qual é a sensação.

Mas enfim, continuando...

Sim, Nicole conseguiu vir comigo. Mas, depois que eu terminar de escrever, você vai entender que isso não foi bem uma boa ideia...

Nos sentamos todos numa cabine, apesar de termos o trem inteiro só para nós. Nos serviram várias guloseimas e várias músicas boas tocaram no trem durante a viagem. Era quase como se me dissessem: "então, qual é seu último desejo? ah, sim, rolling stones, é pra já."

Nicole se sentara ao meu lado a viagem inteira, um tanto animada por conhecer uma nova escola. Acho que, agora que ela já não podia impedir que eu entrasse no torneio, ela me acompanharia, segundo ela "pra certificar que eu coloque um pouco de juízo nessa sua cabeça oca."

Quem me acompanhava era, em grande maioria, pessoas que eu nunca tinha visto na vida. Sério. Eu fiquei tipo "hã... oi. Quem são vocês?".

Eram muitos alunos do quarto e quinto ano, que estavam animados com o torneio e que decidiram me acompanhar para torcer por mim. Agradeci, tentando recordar o nome de alguém. Não lembrei de nenhum, então os chamava de "caras".

–Então, cara. - Me virei para um deles, sentado à minha frente. - Acha que já estamos chegando?

–Não sei Teddy.- Ele me respondeu, dando de ombros. Ao meu lado, Nicole pirava com a paisagem que passava pela janela.

–Ted, veja! Parece o cenário daquele livro que eu estava lendo! - Ela se empertigou no banco, se debruçando na janela. E então, começou a recitar:- "campos verdejantes distribuídos ao longo de altas colinas arborizadas. Uma fina poeira de neve vagueia pelo ar e logo formará um tapete branco no horizonte, banhado pela luz da lua, com os uivos tristes dos lobos ecoando ao fundo como uma trilha sonora perfeita."

Eu não entendi nada e estava prestes à ir à loucura naquele trem. Os caras falando sem parar, Nicole dizendo um monte de palavras que não faziam sentido, e eu tentando me concentrar em alguma coisa para não pensar sobre o torneio.

E então, depois de uma hora nesse inferno, o trem começou a parar.

Tínhamos chegado.

–Ah meu deus. - Nicole notou, e então agarrou meu braço em expectativa. - Como será que é lá?

Bom, digamos que era bem... Maravilhoso.

Imagine montanhas. Tipo, muitas, e extremamente altas. Estávamos em cima de uma, coberta de neve, e ao olhar para baixo quase desmaiei.

Um vale gigantesco se estendia até onde se podia ver. Lá embaixo, um lago azul cristalino banhava as montanhas, e , passando em cima dele, uma plataforma se erguia, como uma ponte que levava de uma margem à outra do lago. Em cima dessa plataforma, havia o castelo mais assustadoramente belo que eu já vira.

Tinha torres extremamente altas, que quase chegavam à altura de onde estávamos. Algumas delas estavam cobertas de gelo que as conectavam umas às outras, como teias de aranha gigantes. As paredes do castelo eram feitas de pedras negras osidianas que refletiam a claridade do sol. O castelo parecia brilhar de forma sombria naquele ambiente tão inóspito. Parecia irreal.

Bandeiras vermelhas tremulavam em todas as torres, e vassouras mágicas voavam em torno do castelo. Em um dos pátios, podia-se ver um campo de quadribol, no mínimo 3 vezes maior do que o de Hogwarts. Eu estava completamente boquiaberto.

–Ah, Teddy, Olhe! - Nicole sacudiu meu braço, como se eu ainda não tivesse visto aquilo. - É incrível!

–É. - Concordei, sorrindo. Nunca vi Nicole tão maravilhada.

–Muito bem, muito bem! - Um homem nos esperava em um dos bancos da estação. Falava com um forte sotaque. - Nós agradecemos os elogios, crianças. Sejam bem vindos a Durmstrang.

Ele levantou-se com dificuldade e caminhou até nós.

–Vocês estão adiantados... Era pra chegarem junto com as... - Um apito o interrompeu e logo outro trem surgiu na estação. - Ah, aí estão elas!

Todos nos viramos pra olhar, enquanto o trem, completamente branco e moderno parava ao lado do nosso. Depois de alguns segundos a porta se abriu e saíram de lá 6 figuras encapuzadas.

Quando a primeira delas abaixou o capuz, pela segunda vez no dia eu achei que fosse desmaiar.

–Bonjour Monsieur.– Uma garota loura com pele alva cumprimentou o senhor que estava conosco. Ela apertou o casaco contra o corpo.- Está frio, não?

Eu continuei encarando-a, sem conseguir acreditar no que via.

Sabe aquelas artistas de cinema dos anos 40? Loura, com cabelos longos penteados em ondas perfeitas, pele clara como a neve e lábios vermelhos como sangue? Então, essa era a descrição perfeita dela.

Exceto pelo fato que, bem.. Ela era pelo menos dez vezes mais bonita do que isso.

Tinha olhos verdes faiscantes e um nariz reto, sem imperfeição alguma. Era alta e magra, tinha quase a minha altura, e suas bochechas estavam rosadas pelo frio. Por baixo do casaco, usava uma calça jeans escura e tênis all star, e quando ela arrumou os cabelos, pude perceber...

Ela tinha uma mecha azul, logo atrás da orelha.

Certo, certo. Eu posso estar parecendo um pervertido, mas cara, ela tinha uma mecha azul. E eu também tinha o cabelo colorido! Era um sinal do destino para que nos uníssemos.

Brincadeira. Eu sei que isso é estranho demais. É só que, quando ela se virou pra mim, ela disse:

–Hum. Qual é seu nome?

–Teddy. - Respondi, meio abobado.

Ela sorriu amigavelmente.

–Gostei do seu cabelo Teddy. - Depois, ela voltou sua atenção novamente ao senhor do meu lado. - Monsieur, nossas malas estão no compartimento de trás. Será que pode trazê-las, por favor?

–Claro srta. Weasley.

–Merci.

Epa. Espera aí.

Srta. Weasley?

–Desculpe a pergunta, mas... Quem é seu pai? - Perguntei, curioso.

– Bill Weasley. - Ela respondeu, displicentemente. - Porquê?

Ah cara. Será que tinha Weasleys espalhados pelo mundo inteiro?

–Ah, sim. Eu meio que... conheço boa parte da família do seu pai.

–Como? - Ela ergueu uma sobrancelha.

–Hã... Gina Weasley. É sua tia. É a mãe dos meus amigos. - Mencionei.

–Mon dieu!– Ela exclamou, sorridente. E que sorriso... - Que mundo pequeno!

–É. - Não pude deixar de sorrir de volta.

–Venha Teddy, conhecemos tanta gente em comum, precisamos nos conhecer também. - Ela me puxou pelo braço, rindo. Eu quase fui com ela, se alguém não tivesse me puxado pela camisa para o outro lado.

–Teddy. - Nicole me encarou. Pela cara dela, ela estava me matando repetidamente em pensamento. - Aonde pensa que vai?

–Nic, eu já volto. - Soltei-me de seu aperto e me deixei ir com a garota francesa. - A propósito, qual é seu nome?

–Victoire.

–É um prazer conhecê-la. - Falei, tentando soar como um cavalheiro.

–O prazer é todo meu.

* * *