Em meio a todos os meus traumas, sempre arrumo um jeito de seguir em frente. A pessoa que mais me ajuda é Anabel. Ela é minha melhor amiga, e além disso também é minha colega de quarto. Dividimos um pequeno apartamento para cursar a faculdade na pequena cidade de Calixto, que fica no Sul do país.

Anabel tem um estilo parecido com o meu, então é normal brigarmos por questão de roupas emprestadas, mas fora isso quase nunca brigamos. A não ser que o assunto seja: Jonatan. Ele é o namorado de Anabel, e eu particularmente não gosto dele. Não é por causa de ciúmes não, é porque eu fico preocupada com o relacionamento dos dois. Sempre que o Jonatan chega, Anabel me dá algumas indiretas pra sair e deixá-los sozinhos. É claro que como namorados eles querem ficar sozinhos ás vezes, mas isso é todo dia! Fora isso, Jonatan não é o que chamamos de "bom rapaz". Ele e seus amigos adoram curtir com os outros, inclusive Jeff, que é gay e sofre muito por causa da homofobia.

Em plena sexta-feira, tive que correr para não chegar atrasada á faculdade. Anabel me atrasou muito por que não sabia que sapatilha usar. Eu não podia chegar atrasada, não com meu professor me cobrando meu trabalho de "Matemática para negócios". Anabel correu para sua sala onde ela cursava moda, e eu segui em direção ao corredor de administração. Meu trabalho estava em minhas mãos, e eu não tive tempo nem de grampeá-lo, mas o que importava era entregá-lo para não tirar um "0" bem grande. Corri em direção á sala, mas quase caí devido ás pessoas que estavam correndo em direção contrária a minha. Um jovem correu em minha direção e esbarrou no meu braço, provocando o que eu tanto temia. Meu trabalho se espalhou todo pelo chão e ele ainda teve a audácia de perguntar:

– Não olha por onde anda não??

Não respondi, e ele se abaixou para pegar o meu trabalho. Assim que o recolheu, estendi minha mão e agradeci:

– Ah, obrigada, eu não...

– Vejamos... - disse o jovem com um sorriso no rosto. - Matemática para negócios. Que coincidência, estava mesmo precisando do trabalho. Não tive tempo para fazer, então...

– Peraí! Não! Ele é meu! - respondi tentando tomar o trabalho das mãos dele.

– Por sorte você numerou as páginas, vai me adiantar muito. Obrigado gracinha, você salvou minha pele.

Tentei tomar da mão dele outra vez, mas ele saiu correndo para a sala. Como eu iria para a mesma sala, não me importei em segui-lo. Já era. Meu trabalho já estava sendo entregue ao Professor Ferreira pelas mãos dele. O professor deu um sorriso satisfatório e deu dois tapinhas amigáveis nas costas dele. Ele se sentou com o grupo de "marmanjos" em que o Jonatan também estava. Me sentei do lado de minhas amigas Marina e Isabelle, que logo foram me perguntando onde estava meu trabalho.

– Ah ! Já sei! Chamam ele de Lipe, ele até que é gatinho, mas não presta. - avisou Belle.

– Gente, o que eu faço ?! Hoje é o último dia da entrega. Eu tô ferrada, e olha que eu passei a noite inteira fazendo isso. - respondi com raiva.

– Srt. Castro! - chamou o professor. Eu sabia que era a minha vez, e eu sabia o que me aguardava.

– Sim, professor. - respondi me levantando.

– Onde está seu trabalho?

Olhei para Lipe, que estava gargalhando junto com Jonatan.

– Sinto muito professor, não o terminei.

– Sabe que isso a deixará com a média baixa, não sabe?

– Sim.

– Ok. Pode se sentar.

Afundei em minha cadeira querendo apenas sumir dali. Senti que esse seria um dos piores dias da minha vida.