Take Care escrita por iamthesavior


Capítulo 6
Sexto Capítulo.


Notas iniciais do capítulo

Enjoy it.



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"Já podemos sair daqui, Swan."

A loira se levantou e empurrou a cadeira de Regina pelo jardim lateral da mansão. "Já disse que pode me chamar de Emma..."

"E eu já disse que prefiro Swan." Regina respondeu.

Ao invés de parar ao chegar na entrada da casa, elas continuaram seu percurso, Emma empurrando a cadeira despreocupada pela estreita trilha de pedras entre os enormes arbustos de flores.

"Eu gostaria de saber sobre você, senhorita Mills... Entende, não só sobre o que o profissionalismo exige e tudo mais." A loira arriscou. "Gostaria de te conhecer melhor." Ela franziu o cenho, preparando-se para a dura de Regina que viria a seguir.

"E por que gostaria de me conhecer melhor?" A pergunta era razoável, Emma também queria uma resposta para ela.

Pensou por alguns segundos, escolhendo as palavras certas para dizer.

"Porque gosto de você." A garota respondeu com a verdade, dando de ombros como se fosse algo fácil de admitir. "Sei que você tem um gênio muito forte e toda essa postura de durona, mas eu vejo mais do que isso. Acho que esse tratamento seria muito mais prazeroso se eu não tivesse que sentir medo de me expressar com você. Poderíamos ser amigas, se você deixasse."

O coração de Regina torceu com aquelas palavras, o pequeno sorriso nascendo e morrendo em seus lábios.

"Sendo assim, não vejo por que não lhe contar um pouco sobre mim..." A morena disse em seu tom mais calmo.

Emma franziu o cenho em descrença.

"Mas antes, tem um porém." Regina disse.

"Claro que tem..." Emma sabia que para a mulher as coisas vinham com um preço.

"Me fale sobre você antes."

Era um acordo justo. A loira se sentou em um banco de pedra de frente para a cadeira de Regina, afundando os dedos nos fiapos de sua calça novamente. Ela não gostava de falar de si, principalmente porque nada do que tinha para falar era algo importante ou feliz.

"Meu nome é Emma Swan," a loira riu. "tenho 22 anos e sou massagista num spa localizado no Maine. Fiz curso de massoterapia na minha antiga cidade e me mudei para a capital para iniciar minha faculdade."

Regina se sentia interessada em ouvir algo de alguém pela primeira vez em muito, muito tempo. Na verdade, não podia se lembrar quando fora a ultima vez que tinha tido uma conversa comum com alguém.

"O que você cursa?" Ele perguntou, de repente, interessada.

"Fisioterapia."

"E o que te fez se interessar por essa área? Não é muito comum..."

Emma engoliu em seco, desconfortável com o rumo que a conversa estava tomando. Lembrou-se da história de Regina que Mary Margaret havia lhe contado, e decidiu que aquele era o momento para compartilhar sua história também.

"Eu tinha 4 anos quando meus pais sofreram um acidente grave de carro numa rodovia. Meu pai morreu na hora, mas minha mãe ficou em estado grave no hospital durante muitos meses. Quando ela finalmente teve alta, ainda sentia dores tão fortes que me lembro de escuta-la gritar durante a noite." Regina ouvia tudo atenta, ouvindo sua própria história nas palavras de Emma. "Minha mãe precisava de fisioterapia urgente, mas não tínhamos dinheiro nenhum na época, ainda mais depois da morte de meu pai, então ela deu entrada em uma clínica que prometia cura-la por um preço razoável. 1 ano e 3 meses depois minha mãe morreu com complicação nos rins, mas durante todo aquele tempo, ela não deixou de sentir dor um segundo sequer, exceto pelos momentos em que eu a massageava."

Regina refletiu se o choque que a havia atingido também teria afetado sua expressão, mas não conseguiu chegar a uma conclusão. Ela sentiu pena da garota loira, observando uma pequena ruga de preocupação em sua testa enquanto falava de sua falecida família.

"Eu fui para um lar adotivo pois não tinha parente nenhum para me acolher..." Emma continuou. "Fui adotada aos 7 anos, depois novamente aos 10, depois aos 11. Nunca fiquei mais de 2 anos com uma família. Durante todo o tempo em que fiquei no lar, me culpei por não ter feito mais pela minha mãe. Culpei também a clínica em que ela muitas vezes deixou de comer para pagar, cada incopetente fisioterapeuta daquela espelunca. Eu podia ter feito mais, e não fiz."

"Mas você era só uma criança..." Regina disse tentando acalma-la, querendo tocar sua mão, mas sem fazê-lo.

"Eu sei, e foi isso que não me impediu de desistir de tudo e me tornar uma delinquente qualquer. Eu sei que não podia ter feito nada por ser uma criança, mas agora sou uma adulta e sei que posso fazer diferente do que aquelas pessoas fizeram. Eu posso salva-los do jeito que eu queria que tivessem salvado minha mãe."

"Essa é uma atitude muito bonita, Swan." Regina admitiu, dizendo apenas partes do que desejava dizer. "Existe muita bondade em você."

"Em você também, senhorita Mills." Emma sorriu para a mulher, que sorriu de volta. "Eu vejo isso em você."

"Não gosto que ninguém espere nada de mim, porque corre grande risco de se decepcionar." Regina disse ríspida.

Emma olhou fixamente para a mulher em sua frente.

"Ainda não somos amigas, mas vou te dar um conselho que te daria se fôssemos: acredite mais em si mesma. Eu sei melhor do que ninguém como é não ter expectativas sobre si própria, sei o que é o medo de falhar. Além de tudo isso, sei o que é ser descartada por não atingir expectativas. Eu nunca faria isso com você, Regina. Nunca faria isso com ninguém."

"Não me lembro de ter lhe dado a intimidade de me chamar pelo primeiro nome..."

"Queira me perdoar, senhorita Mills." Emma sorriu tristemente, vendo que seu discurso não atingiu a morena como ela desejava.

"Não." Regina sorriu. "Não tem problema, pode me chamar assim."

Emma sorriu de volta, a tensão se dissolvendo conforme as duas se olhavam. Muito lentamente, a loira apoiou os braços em sua própria perna, se curvando pra frente em direção á mulher sentada na cadeira. Ela se aproximava lentamente, nunca perdendo o contato visual. O vento batia muito levemente, bagunçando alguns fios do cabelo de Regina enquanto ela olhava fixo para os olhos verdes da garota em sua frente. O sorriso se desfez, dando espaço para lábios entreabertos numa respiração irregular de ambas as partes. A morena arriscou fugir o olhar por um segundo para os lábios da garota em sua frente, voltando para os olhos depressa.

A nuvem de atração prendeu as duas naquele olhar. De repente, as duas estavam encarando os lábios uma da outra.

Emma tocou nas mãos da morena cruzadas em seu colo. Uma descarga elétrica percorreu o corpo da garota, desde a ponta de seus dedos até os pés. Regina sentiu todo o sangue de seu corpo subindo para seu rosto, queimado suas bochechas.

O toque foi suave, inocentemente desencadeando uma série de sensações nas duas mulheres. Regina foi a primeira a recuar, pigarreando e desviando o olhar das armadilhas verdes de Emma. A loira permaneceu na mesma posição, voltando a sua postura segundos depois. Elas ouviram um barulho no jardim, seguido por uma voz.

“Emma! Finalmente encontrei vocês!” Mary sorriu aliviada para a amiga “O almoço está servido!”

Emma se levantou num pulo, os dedos escovando os fiapos soltos da calça.

“Obrigada, Mary. Estamos indo.”

“Precisa de ajuda para levar Regina?” a criada se ofereceu de bom grado.

“Não precisamos de sua ajuda, Mary Margaret.” Regina disse ríspida. “Estamos muito bem assim, obrigada.”

Mary lançou um olhar de diversão para Emma, acostumada com a maneira que era tratada pela patroa. Ao contrário da amiga, a loira não via diversão alguma nos modos de Regina.

“Você deveria trata-la melhor.” A garota sugeriu depois que Mary havia saído.

“E você deveria cuidar do que é de sua conta.”

Emma contornou a cadeira de Regina, tocando seus cabelos de leve para tirá-los da barra da cadeira, provocando um arrepio involuntário na morena.

“Só digo isso porque duvido que possa encontrar outra pessoa que esteja disposta a lhe dar banho e te servir na cama como Mary faz.” Emma deu de ombros, empurrando a cadeira em direção a casa.

“Permaneço com a ideia de que você deveria cuidar do que é de sua conta.” A morena olhava para suas próprias mãos. “Pelo visto já desenvolveu um tipo de amizade com a Srta. Blanchard... Estão até se chamando pelo primeiro nome.”

“Ela é uma excelente pessoa. Muito dedicada e tem um grande afeto por você, Regina. Deveria valoriza-la mais.”

Regina sentiu uma pontada de ciúmes da maneira com que a loira defendia sua amiga.

“Está querendo dizer que ela considera deixar esta casa caso meu comportamento não mude?”

“Estou querendo dizer que ela te quer bem e não merece isso em retribuição.” Emma deu de ombros. “Nem tudo é baseado na chantagem.”

Regina sequer pareceu notar que a garota estava lhe dizendo o que fazer. Sua mente ainda pairava no fato da amizade entre as duas funcionárias ser mais forte do que os laços que as mulheres tinham com ela. Acima de tudo, sentia ciúmes por Emma investir em mais alguém além dela. Um sentimento egoísta, mas natural em Regina. Não era a primeira vez que Mary Margaret se apoderava de alguém especial na vida da morena.

As mulheres entraram na casa em silêncio. Emma colocou Regina em frente a mesa de jantar na sala e seguiu para a cozinha, ajudando Mary com os pratos.

Elas comiam lentamente, o silêncio á mesa se tornava cada vez mais constrangedor.

"Ainda quero saber mais sobre você..." Emma disse limpando a boca no guardanapo.

"Não tem nada a ser dito." Regina deu de ombros. "Eu sou o que você vê."

“Duvido que você seja apenas dolorida e bonita...” E grosseira, controladora, desconcentrante, manipuladora, incrivelmente atraente...

Regina corou fortemente com as palavras de Emma, desviando o olhar para a comida em seu prato.

“Posso lhe dizer que...” Ela fez beicinho para pensar, presa nos olhos curiosos da loira fixos em seu rosto. “posso preparar uma lasanha incomparavelmente mais saborosa do que esta... Pelo amor de Deus, Srta Blanchard, pensei que havia aprendido a receita.”

“Me desculpe, Srta Mills...” Mary riu para sua patroa. “Nem todas nascemos com o dom para cozinhar como a senhora.”

“Quer dizer então que você sabe cozinhar?” Emma ergueu a sobrancelha para a morena em sua frente. Boa cozinheira era a última coisa que viria a sua cabeça.

“As sobremesas de Regina são as melhores!” Mary acrescentou, dando ênfase.

“Isso é algo que quero provar.” Emma deu uma garfada na lasanha e colocou-a na boca, quebrando o sorriso enorme que estava ali segundos antes. “Mas não se preocupe, Mary, sua lasanha está ótima... Se dependesse de mim, estaríamos todas tomando água queimada.”

“Você poderá provar quando eu estiver curada e puder cozinhar... Também poderá provar minha torta.” Regina se gabou. “Preciso usar as maçãs de minha árvore para algo, já que não tenho mais meu contador para poder jogá-las nele.”

Emma riu alto, a boca cheia de lasanha. Ela tampou os lábios com uma mão e fez sinal para que Regina esperasse com a outra. A morena não entendeu nada, mas a risada da garota era contagiante. Logo, todas estavam rindo na mesa.

“Eu disse algo errado?” Regina disse inocente. “O que deu em você, Swan?”

“Nada... Já passou.” A loira respondeu, tomando um gole de seu suco, se controlando para não rir novamente.

Sem sucesso.

Emma descobriu que Regina podia ser engraçada, e muito. Depois de burlar seu sistema de estudos, a loira decidiu matar o resto de seu sábado fazendo companhia para sua paciente no jardim da mansão. As horas passavam e elas iam se conhecendo cada vez mais.

A morena falou mais sobre seu passado, contando detalhes da adolescência solitária no colégio interno. Contou sobre reuniões malsucedidas e histórias bizarras do mundo dos negócios, fazendo a garota rir cada vez mais alto. Regina se sentia bem como nunca, sem se incomodar em dar detalhes sobre sua história para a quase-estranha em sua frente. A mulher já havia decorado a risada de Emma. O gargalhar acompanhado de uma jogada de cabeça para trás, bochechas coradas e pequenas lágrimas nos olhos. Até a maneira com que a loira arrumava o cabelo quando se acalmava a tornava ainda mais encantadora.

Emma por sua vez, sentia o estômago borbulhar conforme Regina se abria mais e mais, mostrando-a quem ela realmente era por baixo daquela máscara amarga. Uma mulher solitária, inteligente e completamente divertida. Emma sentia a pressão em seu coração cada vez que ria com a mulher, o que acabou se tornando uma dor constante, porém definitivamente prazerosa.

“Eu adoraria uma cerveja agora...” Emma disse para a mulher em seu lado, observando o céu laranja de um sol que já se punha.

“Eu também...” Regina respondeu. “Sabe quê, Swan? Podemos ter uma agora mesmo.”

“Uh, uh... Sem chance.” Emma se virou para a morena, as mãos na defensiva entre seus corpos. “Você está sendo medicada.”

“E? “

“’E’ que a universitária aqui sou eu, não você. Sou eu quem tomo as cervejas, você toma... Não sei, que tipo de bebida vocês executivos ricaços costumam beber durante reuniões?”

“Não seja tola, Swan.”

“Quando você vai decidir me chamar de Emma?”

“Sei que você pode ir buscar duas cervejas e voltar antes mesmo de eu terminar de dizer seu nome... Vamos lá, não seja tola. Que malefício uma única cerveja pode me trazer?”

Emma franziu o cenho. Má ideia. Mas quem se importava, afinal? Uma cerveja não ia prejudicar a mulher em sua frente que a olhava com os olhos brilhando de excitação.

“Vá, Swan! Vou contar até dez.”

Emma correu, voltando com duas cervejas segundos depois.

“Cinquenta e sete segundos.” Regina disse conferindo em seu relógio de pulso.

“Posso fazer melhor da próxima vez.” Emma deu de ombros.

Ela se sentou no banco ao lado de Regina, entregando uma das garrafas á ela. As mulheres bateram as garrafas, percebendo que Emma esquecera um pequeno detalhe.

“Onde está o abridor, Swan?”

“Ops...” Emma sorriu constrangida. “Acho que esqueci.”

Regina retirou a garrafa da mão da garota, abrindo-a com agilidade, fazendo o mesmo com a sua própria em seguida.

“Como você fez isso?” A loira perguntou incrédula para a mulher em seu lado.

“Posso não ter sido universitária, Swan... Mas nem sempre fui uma ricaça de negócios.”

“Pelo visto você esconde muitos truques nessa manga, huh?” Emma sorriu, cutucando a mulher com o cotovelo.

“Cale a boca e beba sua cerveja, Swan.” Ela revirou os olhos sorrindo.

Depois de um tempo, muitas corridas cronometradas até a mansão e algumas garrafas vazias de cerveja no chão, o senso de responsabilidade de Emma surgiu.

“Já está escuro, Regina... Acho melhor voltarmos pra dentro.”

“Eu não aguento mais olhar para paredes, sinceramente, Swan. Por mim poderíamos acampar aqui fora hoje.”

“Tentador. Mas ainda não aprendi a pendurar lençóis numa cadeira de rodas... Realmente acho melhor entrarmos.”

"Você sempre acha demais."

Emma deu de ombros.

“Tudo bem.” Regina se rendeu. “Mas antes...”

“Claro, sempre tem um porém.” A loira revirou os olhos para a mulher.

“Você só reclama.” A morena disse para a moça com descaso, mas de uma maneira carinhosa. “Nem ouviu minha condição e já está reclamando.”

“Diga logo a droga da condição, Regina.”

“Não seja estúpida, isso fere meus sentimentos.” A mulher sorriu grande, brincando com a ironia de suas próprias palavras. Emma esperou. “Eu ouvi dizer que você era uma péssima corredora, e pude provar isso com meus olhos vendo você demorar quase quarenta segundos para ir e voltar da mansão até o ponto em que estamos.”

“Onde você quer chegar?”

“Quero chegar até a sala da minha casa em menos de trinta segundos.”

“Realmente não devia ter deixado você tomar aquelas cervejas.” Emma disse incrédula. “Que tipo de condição é essa?”

“Não seja dura consigo mesma, Swan... É só acreditar em você mesma.”

“Não seja tola, Regina. Não estou dizendo isso porque acho que não conseguirei chegar, porque é óbvio que eu consigo... Digo isso porque é imprudente.”

“Aposto que está com medo.”

“Não, não estou.”

As duas se olharam com fogo nos olhos, o desafio pairando no ar.

“Então prove.”


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora, espero que me perdoem!
Um comentário: FINALMENTE.
Obrigada.