Take Care escrita por iamthesavior


Capítulo 5
Quinto Capítulo.


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos pelos comentários extremamente estimulantes e carinhosos que recebi nos quatro primeiros capítulos!



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O despertador anunciava o fim das poucas horas de sono que Emma tinha tido naquela noite. Ela se sentia exausta, além do cansaço mental que lhe impedia de querer sair da cama. A loira se levantou e se arrastou para o banho, quase dormindo debaixo da água quente. Estava em cima da hora quando ela guardou seus livros na mochila e saiu do quarto. Parou um segundo e se perguntou se Regina estava bem. Sentiu, além da curiosidade, uma preocupação com a morena, com seu bem estar. O dia mal havia amanhecido e ela decidiu não correr o risco de acordar a mulher entrando em seu quarto.

Mary Margaret estava na cozinha preparando o café quando Emma passou por ela, pegando algumas barrinhas de proteína no armário e guardando-as em sua bolsa.

“Bom dia, Emma!” Mary sorriu. “Está um lindo dia!”

A loira tentou sorrir em meio ao mau humor e fez o melhor que pôde soprando um beijo para a amiga.

“Tenha um ótimo sábado, Mary.” Emma se apressou pegando as chaves no balcão. “Te vejo mais tarde!” ela gritou do quintal, já dentro do carro.

Ela ligou o fusca e contornou a mansão devagar, lembrando-se da reclamação de Regina sobre o barulho do carro. Tarde demais.

Emma dirigiu pela estrada vazia. Apesar de ainda estar cedo, Mary Margaret tinha razão quando disse que o dia estava bonito. A loira abriu o vidro do carro e deixou o vento entrar, o cheiro de natureza emaranhando seus cabelos. Ela ligou a rádio do carro lutando com os botões do aparelho, tapeando as rádios até encontrar uma estação que lhe agradava. ‘Whenever, Wherever’ da Shakira preencheu o ar, o dia de Emma melhorando aos poucos enquanto ela cantava desafinada por cima da música.

Durante a aula, a mente da garota vagou até a mansão. O sentimento de confusão estava tão presente desde o começo que ela não se incomodava mais em tentar acabar com ele. Ela estava completamente confusa com o rumo que aquele tratamento estava tomando, acima de tudo, ela sentia medo do por que se preocupava tanto com o que Regina sentia ou pensava.

Ela nunca teve uma mãe, mas tinha um instinto maternal dentro de si que lhe induzia a cuidar de quem precisasse como ela desejava ser cuidada. Esse sentimento se aflorava com Regina, apesar de garantir que o que sentia pela morena era apenas por educação, por senso, por ser a coisa certa a se fazer. Ela tentou se convencer que se preocupava porque tinha bom coração, tentando negar para si que aquilo tudo era devido ao fato de Regina ter lhe chamado a atenção desde o momento em que ela entrou em seu quarto pela primeira vez.

Elas se conheciam a menos de um mês, mas Emma sentia que conhecia aquela mulher como a palma de sua mão, ironicamente, já que graças á elas ela estava onde estava naquele momento. A loira olhou pela janela e viu o sol brilhando lá fora, as folhas das árvores balançando levemente com a brisa daquela manhã. Pensou em Regina sozinha naquele quarto, vendo tudo através do vidro da sacada, sem poder se mexer. Uma mulher sem família, sem amigos, sem alguém que lhe ligasse para perguntar como estava se sentindo. Regina se curaria apenas para voltar a sua vida anterior, definhando atrás de uma mesa de escritório. Ela se curaria para que, afinal?

Emma tamborilava os dedos na carteira, percebendo num susto que havia perdido mais da metade das explicações da aula. Balançou a cabeça a fim de eliminar os pensamentos que não tivessem a ver com os estudos. Inutilmente. Ela voltou a pensar em Regina e suas grosserias, sorrindo ao pensar nas pequenas rugas em seu queixo quando ela se referia á ‘senhorita Swan’ com desprezo.

Emma voltou para sua nuvem de pensamentos, sem perceber o quão idiota ela parecia aos olhos dos demais alunos da sala. Ela estava sorrindo durante uma aula de anatomia humana. A loira sabia que aquela máscara cruel de Regina era uma fachada para afastar as pessoas, uma coisa que ela própria havia feito durante toda sua vida. Ela havia se apaixonado uma vez por um homem que quebrou seu coração, desde então, tinha casos de uma noite ou duas antes de fugir e nunca mais dar algum sinal. Ela imaginou se Regina já havia se apaixonado alguma vez. Imaginou a cena da morena deitada com seu amado na cama, ele dizendo que a amava e ela respondendo com uma de suas grosserias. ‘Eu não lhe dei intimidade para falar assim comigo, como ousa? Não me lembro de ter lhe dado autoridade para me amar.’ Mais uma vez, Emma estava rindo sozinha na sala de aula.

Sua mente começou a vagar em mil maneiras de se aproximar de Regina, quando seu professor entrou na sala puxando uma pequena carreta carregada de cadeiras de roda. Aquilo atraiu Emma, que prestou total atenção nas explicações de como montar e manusear a cadeira.

O timming foi perfeito.

Regina olhava impaciente para fora da sacada aberta de seu quarto. Havia tomado um banho com a ajuda de Mary Margaret como de costume e se deitado novamente. Ela não sentia necessidade de ler ou trabalhar, então deixou a mente vagar. Sentiu falta das sessões de massagem, da sensação de estar bem outra vez. Pensou em Emma, como havia feito durante toda a madrugada. Ela não conseguia ignorar o fato de que estava intrigada com as atitudes da garota.

Desde que teve de tomar as rédeas de sua própria vida e da empresa, Regina repeliu todas as tentativas de aproximação de qualquer pessoa. Sua frieza causava medo nas pessoas, que muitas vezes desistiam de falar com ela antes mesmo de tentar. Aos poucos, ela foi perdendo as coisas da vida por isso. As pessoas não lhe cumprimentavam mais no trabalho, seus empregados a temiam e chegavam a chorar quando ela os repreendia. Seus amigos se foram, sua família também. Ela sempre havia sido autossuficiente e feliz assim, mas aos poucos podia perceber que era uma felicidade superficial. Ela vivia por si própria, mas passou a ver que nem ela mesma se importava em lutar por quem ela era. Se amargou mais e perdeu o pouco de compaixão que tinha, tratando a todos com inferioridade quando ela sequer se sentia superior a alguém.

Depois do acidente tudo mudou. Ela pode ver que sua vida valia a pena quando esteve á ponto de perdê-la. A morena aumentou sua autoestima, automaticamente elevando seu ego até o infinito. Se vangloriava pela empresa e pela vida que levava, por ser uma mulher totalmente poderosa e capaz de erguer uma vida nas mãos que mil homens não conseguiriam. A simplicidade se foi, deixando espaço para a nebulosidade preencher. Quando se deu conta, ela estava completamente solitária e abandonada. Na noite seguinte de seu acidente, a única pessoa que telefonou foi um empresário europeu, preocupado com o carregamento marcado para o dia seguinte. Emma Swan foi a primeira pessoa a se preocupar com o que ela sentia e pensava. Ela via nos olhos da garota que aquele cuidado era além do que Regina estava pagando, era algo sentimental. Algo que ambas as mulheres tinham medo de sentir.

A cabeça de Regina martelava conforme ela se esforçava para entender o porquê da garota lhe oferecer tanto em troca de nada. Ela via naturalidade na forma que Emma agia, como se ela realmente fizesse tudo aquilo por pura bondade. O que ela não podia entender era por que a loira ainda insistia em perder tempo com ela mesmo sendo evidente de que Regina não tivesse salvação alguma.

Ela sentiu os olhos queimarem com as lágrimas se formando. A que ponto ela tinha chegado? Um ponto onde ela era tão vazia que não era capaz de acreditar que alguém pudesse lhe querer o bem. Secou as lágrimas com as costas da mão e respirou fundo.

Ela se sentia tão bem quando estava com Emma, comparava á sensação da morfina aliviando suas dores na noite do acidente. Como se a garota fosse um copo d’água durante uma seca. Sentia-se apoiada como nunca havia se sentido na vida, nem mesmo com seus pais. Ela queria dar espaço para Emma ajuda-la ainda mais, mas não sabia como simplesmente acabar com tudo aquilo que havia construído. Ela precisava mudar se quisesse ser mudada.

Os pensamentos de Regina foram interrompidos pela porta se abrindo, Emma entrando devagar no quarto com um sorriso gigante no rosto. A mulher na cama sentiu o peito inchar com a imagem, mas não esboçou reação alguma.

“Gostaria de dar um passeio, senhorita Mills?” a loira disse entusiasmada.

“Não sei se a senhorita percebeu, mas não consigo sequer levantar minha cabeça sem ajuda, Swan.” Regina franziu o cenho.

“Eu vou te ajudar... Sabe, hoje minha aula foi incrível!” Emma disse se sentando na beira da cama de Regina. Ela fazia aquilo com frequência. “Aprendi as maravilhas de uma cadeira de rodas... Claro que precisar de uma não é exatamente um fato maravilhoso, mas fui ensinada como montar, desmontar e tudo mais... Sei até a posição correta pra te colocar nela. Então, no fim da aula, fingi analisar uma e corri escada abaixo com ela, enfiei no porta-malas do meu carro e vim pra cá.” Ela se levantou e estendeu a mão para a mulher na cama. “Vem, vamos dar uma volta no seu jardim.”

“Você roubou uma cadeira de rodas?” ela ergueu a sobrancelha.

“Não, eu peguei emprestada.” Emma deu de ombros.

Regina pensou por um segundo no quanto aquilo podia ser maravilhoso. Ela contava os segundos para sair daquele quarto, mas não sabia exatamente se seria algo positivo no final das contas.

Ela considerou a resposta. “Isso não vai prejudicar minha coluna?” Regina disse em dúvida, o sorriso de Emma ainda não havia desaparecido.

“Claro que não! Que tipo de pessoa eu seria se fizesse algo para lhe prejudicar?”

Regina quis sorrir.

“E então, vamos ou não? Última chamada.” A morena olhou para a mão estendida e a segurou.

Emma se abaixou e pegou Regina no colo sem esforço algum, saindo do quarto e descendo as escadas. A mulher não sentiu medo da loira não aguentar o peso, havia notado os músculos em seus braços na primeira vez que Emma entrou em seu quarto.

“Antes...” Regina finalizou. “Quero deixar bem claro que se isso for prejudicial, tratarei de puni-la pessoalmente, Swan.”

“Uhum, claro.” A loira revirou os olhos. “Se for prejudicial eu lhe faço uma massagem totalmente grátis.”

A morena considerou a resposta já sentada na cadeira de rodas. Emma a empurrou pela casa e em segundos elas estavam no jardim, abaixo da macieira de Regina. Ela respirou fundo o ar puro. A loira se sentou no banco e tirou o casaco, ficando apenas em sua regata branca de verão e calças jeans. Pegou um livro de fisiologia e começou a ler, sem entender exatamente o que estava escrito. Arrependeu-se por não ter prestado atenção na aula, o motivo estava em sua frente, com os olhos fechados se banhando num raio de sol.

Sem tirar os olhos do livro, Emma pensou na mulher na cadeira de rodas. Ela não havia sido grosseira naquele dia, uma evolução dos outros dias em que estavam convivendo. Talvez ela estivesse apenas percebendo que Emma não era uma sorrateira atrás de sua fortuna, ou talvez ela quisesse realmente se aproximar dela. A primeira opção era mais provável. Quando decidiu levar Regina para o lado de fora da casa, ela pensou na opção da mulher simplesmente enxota-la e mandar cuidar de sua própria vida, então, Emma não tentaria mais nenhuma aproximação. Mas quando Regina reagiu bem ao seu convite, a loira sabia que a mulher valia a pena, apesar de tudo aquilo lhe trazer mais confusão.

Regina estava completamente relaxada por fora, mas por dentro um turbilhão de pensamentos lhe enchiam a cabeça. Aquela garota realmente roubou de sua própria universidade para lhe agradar, e Regina não sabia se tinha gostado daquilo ou não. Ela estava do lado de fora da casa pela primeira vez, se sentindo incrivelmente livre, apesar de tudo. A mulher tinha total consciência de Emma sentada atrás dela, e quando se arriscou a olhar, a loira estava totalmente submersa em sua leitura. Regina se afogou nas palavras que queria lhe dizer e não disse. Ela queria agradecer Emma Swan, não só pela iniciativa do passeio, não só por arriscar sua própria pele na universidade para lhe trazer uma alegria, não só pelas massagens ou pelas palavras da madrugada. Mas por simplesmente não desistir dela como todas as outras pessoas.

Regina quis dizer, mas não conseguiu.

Ela sabia que não seria fácil se aproximar de Swan, uma vez que ela havia menosprezado todas as tentativas da garota de fazer o mesmo. O medo de que Emma houvesse desistido dela desencadeou um pânico dentro de Regina. Ela não queria ficar sozinha, não quando teve a oportunidade de ter uma amiga, uma pessoa que se preocupasse com ela.

A voz da loira acalmou todos seus pânicos com uma pergunta.

“Está se sentindo bem, Regina?”

Sim, estou. Pela primeira vez em anos estou tendo esperanças. Pela primeira vez em anos estou acompanhada de uma pessoa que, por mais que não tenha laços comigo, se preocupa com o que eu penso e sinto. O fato de você me perguntar se estou bem já torna as coisas melhor.

“Estou sim, Swan...” Ela fechou os olhos para o sol novamente. “Estou sim.”


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