Mary Margaret recolhia seus pertences de cima do aparador da sala quando ouviu os gritos de Regina em sua direção.

“SAIA DA FRENTE MARY MARGARET!”

As duas mulheres entraram na sala como um canhão, rindo como duas adolescentes.

“Vinte e oito segundos!” Regina gritou incrédula. “Você não é tão má corredora, afinal!”

“Eu sou incrivelmente veloz... Não me subestime.” Emma ofegou risonha, apoiada no ombro da amiga que olhava incrédula para a loira.

Mary se despediu das mulheres, ainda assustada pela cena que havia presenciado.

“Minha bunda está quadrada.” Regina reclamou, arrancando outro riso de Emma.

“Acho que é hora de te levar pra cima...” A loira respondeu não muito contente.

“Ah, por favor!” Regina implorou como uma criança. “Vamos ficar aqui em baixo. Vamos ver um filme, o que me diz?”

Emma considerou a proposta da morena, aceitando-a sem pestanejar.

“Desde que não seja Velozes e Furiosos...”

“Claro, porque nem velocidade e nem fúria são seu forte.” Regina brincou, o sorriso de Emma nunca desaparecendo. “Vamos assistir Shrek!”

“Animação? Você gosta de animação?” A garota disse incrédula, franzindo o cenho para a mulher na cadeira de rodas.

“Por que a surpresa? Vamos, me ajude a sair daqui...” A loira pensou por um segundo. Aquela mulher era uma caixa de surpresas.

Emma colocou o filme no aparelho de DVD e empurrou Regina até a beira do sofá, analisando uma maneira confortável para deitar a mulher.

Ela se sentou puxando a cadeira de Regina em sua frente.

“Você se incomodaria de se apoiar em mim?” Emma disse, de repente tímida.

“Se for a posição mais confortável, não me incomodaria.” O coração de Regina disparou.

“Então venha, vou te pegar no colo.” Emma disse se levantando, mas foi impedida pelas mãos da morena.

“Ao invés de me carregar, ajude-me a levantar.”

A loira estendeu a mão para Regina, que entrelaçou os dedos nos seus. A morena se levantou lentamente, com muito esforço, a dor sendo anestesiada pela dosagem do álcool em seu sangue. A mulher ficou em pé com um sorriso estonteante em seu rosto, caindo no colo de Emma.

As mulheres se deitaram, o corpo de Regina praticamente todo sob o de Emma. Os cabelos castanhos suavemente mesclando nos loiros da garota que envolvia um dos braços por baixo da mulher em seu colo. Usou a mão livre para apertar o botão de ‘play’ no controle remoto, os créditos iniciais do filme começando.

A posição era completamente confortável para ambas as mulheres. As mãos ainda entrelaçadas desde o momento em que a morena se levantou, concretizando o primeiro sinal de sua recuperação. O filme rolava e prestar atenção nele era algo praticamente impossível para as duas. O coração da morena batia tão rápido que ela mal podia escutar algo além de seus batimentos abafados em seu ouvido, sincronizados com os de Emma que tentava manter a postura ainda quando o cheiro inebriante dos cabelos de Regina atingia seu rosto.

Mesmo nervosa, Regina tentou se concentrar no filme, rindo conforme o Burro Falante falava algo inusitado. Ela já havia assistido dezenas de vezes, e o escolheu justamente para tirar vantagem caso se distraísse demais. De vez em quando ela se perdia sem fazer ideia de qual parte o filme estava, mas ria para fingir que estar deitada no colo de Emma não lhe afetava de nenhum modo.

Emma por sua parte sentia dor nas bochechas de tanto sorrir, observando por cima as maçãs do rosto de Regina se levantar conforme ela ria das cenas da animação que a loira não estava prestando atenção.

Regina foi surpreendida por uma das mãos de Emma em seu cabelo, acariciando os fios numa espécie de cafuné confuso, porém infinitamente gostoso. As pálpebras da morena começaram a pesar conforme a garota enrolava as mechas nos dedos, e minutos depois, ela estava dormindo profundamente.

Emma fechou os olhos sendo dominada pelo cansaço, mas impossibilitada de dormir. Ela não podia relaxar, não enquanto a mulher estivesse em seus braços. A loira olhou para as mãos entrelaçadas, agora pousadas suavemente na almofada do sofá. Com muito cuidado, Emma puxou as mãos até seu rosto, beijando os dedos de Regina muito lentamente. Ela sorriu e desfez o emaranhado de dedos, já sentindo falta do contato das mãos. Agora, sua mão percorria do ombro até as pernas de Regina, muito suavemente, com cuidado para não acordá-la. Ela observava a mulher com cautela, sentindo uma inquietação ao percorrer os dedos em seu corpo. Emma segurou a parte traseira das coxas da morena e puxou com suavidade, tomando-a em seus braços.

Emma se levantou devagar, olhando para o rosto maravilhoso da mulher adormecida em seu colo. Com esforço, desligou a televisão e subiu as escadas, ainda bêbada de cerveja e Regina Mills.

Ela deitou a mulher em sua cama com cuidado, se afastando para verificar se suas costas estavam confortáveis e se aproximando novamente. Tirou os cabelos do rosto de Regina e sorriu, dando-lhe um beijo suave na testa e se afastando da cama.

“Swan?” A voz rouca de Regina fez a loira congelar na porta.

“Sim, Regina?” Emma engoliu em seco com medo das palavras que viriam a seguir.

“Como você aguenta me carregar?” Regina disse sonolenta, arrancando da garota mais um sorriso entre os milhões daquele dia.

“Eu precisava ser forte se quisesse pular os muros do lar adotivo nos finais de semana...”

“Você é forte... Pode me carregar nos braços quando quiser.” Ela disse, a voz pesada da embriaguez evidente.

“Pensei que você não gostasse de depender de ninguém.” Emma disse reforçando as palavras que a mulher lhe dissera uma vez, sem deixar o sorriso em seu rosto desaparecer.

“Você pensa demais, Swan.” Regina disse, adormecendo logo em seguida.

“Boa noite, Regina.”

Emma fechou a porta atrás de si, caminhando lentamente até seu quarto. Ela tirou as calças e as meias, mas não tirou a camiseta.

Ela trazia o cheiro de Regina impregnado, como se a morena ainda estivesse ali.

Emma aspirou o cheiro do tecido e se deitou no travesseiro, pensando na dona daquele perfume até finalmente adormecer.