Como tinha prometido, Ryuko me vestiu pra dormir, e como estava uma noite quente, apenas se deitou no colchão, ficando imóvel a espera de dormir.

“Ryuko...?”

Quase ri da forma como ela suspirou.

–Você esta muito falante ultimamente, o que foi?

“Eu queria perguntar umas coisas pra você...”.

–Manda...

“Por que você é tão resoluta em encontrar a pessoa que tem a outra metade da sua espada-tesoura?”

–Não é óbvio? Eu quero mata-la!

“Por quê?”

–Por que ela matou meu pai cacete, o que há com essas perguntas?

–Mas... você disse que não era muito próxima dele.

Ryuko ficou em silêncio por alguns momentos, imóvel sobre o colchão. Estava pra me desculpar por tocar num assunto tão desconfortável quando ela levantou os olhos pra responder.

–Eu sei que não, mas... mesmo assim, eu não queria que ele tivesse morrido. Mesmo não tendo o visto em algum tempo, ele era uma pessoa importante que foi tirada de mim, eu quero descobrir o por que, e quem fez isso... E também o seu passado, e por que meu pai fez a Scisor-blade.

“Entendi”.

–Por que perguntou isso tão de repente?

“Eu só... nada não”.

–Senketsu?

“Eu só queria saber como você se sentia pelo seu pai, e comparar...”.

–Com?

“Com o que eu sinto por você... Eu também acho que ia querer matar alguém que te machucasse, Ryuko”.

Mais uma vez, ela ruborizou profundamente, mas dessa vez com um sorriso pequeno no rosto.

–Acho que você esta tentando me agradar por ter dado banho em você.

“Não, eu... nunca tive ninguém pra conversar comigo, nem que estivesse disposta a me deixar dormir junto ou me limpar da forma como você fez, depois de tanto tempo em silencio e no escuro, eu não quero voltar pra lá, por isso eu...”.

–Não se preocupe Senketsu – Ryuko disse, com um sorriso de canto, afagando com os dedos a dobra do meu colarinho no seu próprio pescoço – Nada vai acontecer, mas se algo acontecer, a Mako vai cuidar de você, ou então...

“Não!” – eu disse, um pouco mais forte do que tinha pretendido. Ryuko me olhou confusa e eu senti a vergonha aquecendo minha lapela – “Não é só por ficar sozinho, é por ficar sem você... Eu prefiro ficar sozinho a ficar com outra pessoa, que não seja você, Ryuko...”.

Dessa vez o rubor foi num vermelho profundo, quase roxo. Seus olhos marejaram e os lábios tremeram, e, sendo a moleca que era, ela acertou um soco em mim – e no seu próprio peito, indiretamente – e se cobriu, se enrolando de lado nas cobertas e sorrindo pro interior escuro.