The Chase escrita por Oswin Oswald


Capítulo 8
Beat the Devil's Tatoo


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, mas queria fazer algo que me agradasse completamente. E a inspiração não estava ajudando, demorei a achar essa música.
Podem ouvir ela aqui: https://www.youtube.com/watch?v=mYkhNWIdra0&feature=kp



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– Levaram mais tempo do que eu esperava, tenho que admitir. Sherlock Holmes, por que resolvera me desapontar tanto assim? – O homem continuou, esperando uns segundos a mais para finalmente sair das sombras.

Mary franziu a testa. Ela não esperava aquilo. Na verdade, nem sabia exatamente o que esperava, mas certamente não era o que via. Tudo o que tinha era um palpite, e esse palpite estava morto. Bom, ela também pensava que Sherlock estava morto, e olha só quem estava ao seu lado neste exato momento. A expressão de Sherlock espelhava a de Mary, mas enquanto os olhos do detetive viajavam pelo corpo do homem, uma expressão de nojo tomou conta do rosto de Holmes.

– Não sou exatamente o que esperavam, pelo o que me parece. – Ele riu. Antes que qualquer um deles começasse a falar e antes que se recuperassem do choque, ele começou. – Bom, não pretendo sair daqui vivo, qualquer coisa que vier é lucro. Então ameaças de morte não me atingirão. Mas deixem que eu me apresente, contenham-se nas perguntas, por favor. Meu nome é Stuart Harris, e desde os primórdios de sua carreira, Senhor Holmes, fiz questão de acompanhá-lo. Fiz questão de ler todo o artigo sobre os duzentos e quarenta e três tipos de cinzas de tabaco, e admito que o achava fascinante. Meu sonho era ter um caso para conhecê-lo, ou então ser tão inteligente a ponto de ser seu ajudante.

– Ninguém pode ser assim tão inteligente. – Sherlock bufou, revirando os olhos. Não iria demonstrar que essa frase o lembrava de quando estava no topo o St. Barts, falando com John pelo telefone, e que o fato dessa lembrança surgir juntamente com o pensamento de que John e Molly estavam por perto era ainda mais angustiante.

– Você pode. Mas mesmo assim continuei acreditando. Tentei até mesmo entrar para a Scotland Yard, mas Lestrade nunca me deu uma chance verdadeira. “Quando tivermos uma vaga sobrando, ligaremos para você.” Estou esperando essa ligação até hoje. – Harris cruzou os braços. – Tentei usar a Hooper para me aproximar. Talvez se fingisse ser seu namorado conseguiria passar algum tempo no laboratório. Mas então você conheceu o Doutor Watson. Homem bom, soldado valente. Ele roubou a vaga que deveria ser minha. – O tom dele começou a se elevar na última frase, um traço leve de raiva apareceu, mas sumiu com a mesma rapidez. – Mas continuei a te admirar, Sherlock. Passei a usar a mesma assinatura em minhas mensagens, já que possuímos as mesmas iniciais. Um “sinal”, isso me pareceu. Ou uma coincidência, mas o universo não seria assim tão preguiçoso, seria?

“A Mulher veio e se foi, James Moriarty também. John Watson acabou se casando com uma assassina profissional que adotara o nome de Mary Morstan. A propósito, é adorável vê-la pessoalmente, Mary querida. Foi aí que sabia que meu caminho estava livre novamente. – Ele suspirou. O olhar de Mary foi para Sherlock, que ouvia com atenção, parado como uma estátua. A mão que antes apontava a arma para o rosto de Harris agora estava de volta ao bolso do casaco. A expressão de Sherlock passara de nojo para confusão e então, finalmente em algum momento das palavras de Stuart, entendimento. Um olhar inquisidor foi tudo o que Mary pode fazer sem interromper o discurso do homem parado a frente deles, e a resposta do detetive foi esticar a mão por cima da arma dela e a abaixar.

– Armas não serão úteis. Não agora. – Ele sussurrou.

– Mas então, - Harris levantou a voz para ter total atenção dos dois novamente – quando achei que o grande Senhor Holmes tinha parado de se importar com as pessoas, porque admito que essa amizade com Watson realmente me surpreendeu, você passou a se aproximar de Hooper. Sinceramente, onde está o homem que eu conhecia? O que não ligava para as pessoas, o que se importava somente com o trabalho? Afinal, você não era “casado” com seu trabalho, Holmes? “Se importar não é uma vantagem”, fora uma das frases que já escutei saírem de sua boca. Pelo jeito, seu lema mudou agora, não é? Todo esse seu sentimentalismo me enoja, Hol—

As palavras de Stuart Harris foram interrompidas com o som de um tiro. Com as mãos sobre o abdômen, o homem olhou para baixo quando Sherlock e Mary tinham suas armas em posição novamente. Eles se entreolharam no momento em que uma mancha vermelha começou a se espalhar sobre seu terno. Com os olhos aterrorizados, ele estendeu a mão ensanguentada até Sherlock, a boca aberta. Mas nenhuma palavra saiu dela enquanto o homem caía em direção ao detetive, que deu um passo para trás. Mais um tiro seguiu, vindo da escuridão em uma porta aberta na frente dos dois, dessa vez acertando a cabeça do moribundo.

– Blá, blá, blá. Isso já estava me cansando. Harris reclamava do seu sentimentalismo, mas era tão meloso quanto. Mas é uma surpresa vê-lo novamente, Sherlock. Mas bom, aqui estou eu também. Ambos ressuscitados. – James Moriarty riu, andando sob as luzes, as mãos rodando a ama que matara o outro há segundos atrás. – É bom vê-los novamente, queridinhos. Sentiram minha falta?

– Mais um passo... E eu atiro. Melhor ficar onde está, Moriarty. – Ela ameaçou, dizendo o nome dele com um carregado desprezo na voz.

– Acho que já me provei ser a prova de balas, Mary. Assim como o Sherlock aqui se provou ser a prova de quedas. Pode tentar, mas balas não irão me parar. – Ele piscou para ela, mas continuou onde estava. Com as mãos no bolso e a arma presa no cinto, olhou para o corpo de Harris no chão, o sangue escorrendo pelo chão e indo em direção aos pés do detetive.

– Acredita que ele fazia parte de uma espécie de clube? Depois da sua morte, muitos lunáticos começaram a te venerar, Sherly. Até criaram um nome para eles. “Sherlockians”.

– Se está com ciúmes, não precisa de tanto, Jim. Posso achar um grupo para ficar de olho e dar palpite em tudo o que você faz também. Tenho certeza de que vai adorar. – Sherlock retrucou. – Mas sei que você e o Stuart aqui se deram muito bem. Afinal, você não aceitaria a ideia de mandar as músicas se ele fosse realmente entediante.

– Ah, não, ele era útil. Sabia de tudo o que você já fez, tinha até uma coleção com coisas relacionadas a seus casos. Já foi paciente do John e trabalhou até mesmo no casamento, Mary. – Ela tentou não mostrar nenhuma reação, mas não conseguiu. As palavras dele a pegara de surpresa.

– Quanto você teve que pagar a Sra. Hudson para que ela concordasse com seu plano? – Holmes levantou a voz, com as mãos atrás do corpo. Ele andou para perto de Moriarty, passando por cima do corpo de Stuart. – Porque a participação dela realmente me surpreendeu.

Neste momento, Mary lembrou-se das palavras de Sherlock. “Sra. Hudson não é a melhor pessoa para se confiar agora.” Ela fazia parte de tudo isso? Mas... não. Ela não faria isso, não aceitaria dinheiro de Moriarty. Não.

– Ela não aceitou o dinheiro. O que a fez concordar foi a forma mais fácil de fazer com que alguém colabore. Chantagem. – A assassina disse, abaixando a arma. Claramente não fazia muita diferença agora.

– Ah, nossa criminosa finalmente se manifestou. Sinceramente, Mary, se você não estivesse do lado de Sherlock, poderíamos fazer uma grande dupla. Você seria uma ótima substituta para a Adler.

– Você não faz meu tipo, Jimmy. – Ela deu de ombros.

Sherlock bufou.

– Ah, claro. Mas ameaçar o restante da família dela realmente foi uma coisa de mal gosto, Jim. Esse não é o seu nível. É algo tão... comum.

– Às vezes precisamos do comum. – Ele encolheu os ombros. – Caso contrário isso teria chegado até você. Sra. Hudson não é a santa que você pensa, e você faz mal em confiar tão cegamente nela. Ela se casou com Frank Hudson afinal. Duvido que não soubesse o que o marido fazia. E também sei que concorda comigo, Sherly. – Jim mordeu os lábios, analisando os dois por um momento. – Devemos começar os negócios? Ao contrário do nosso querido Stuart aqui, eu pretendo sair daqui vivo. Principalmente porque tenho alguns compromissos. Se puderem me seguir, por favor.

E assim os dois fizeram. Tiveram que ligar suas lanternas, mas Moriarty não se importava de andar no escuro. Tinha percorrido esse mesmo caminho tantas vezes que já sabia a quantidade de passos que cada corredor exigia. Além disso, a luz das lanternas dos celulares dos dois já era suficiente.

You have forsaken
All the love you've taken
Sleepin' on a razor
There's nowhere left to fall
Your body's aching
Every bone is breakin'
Nothin' seems to shake it
It just keeps holdin' on

Sherlock e Mary se entreolhavam pelo caminho. Não poderia ser assim tão fácil, certo? Moriarty estava de volta, e da última vez sua saída exigiu muito de Sherlock. O mais óbvio é que ele seguisse esse padrão, mesmo que seu estilo não se apegasse exatamente a nenhum tipo de padrão.

Mais alguns minutos de caminhada foram necessários. Com eles, vieram diferentes corredores, duas escadas e várias portas. Jim não dissera nenhuma palavra, e o silêncio fazia com que a apreensão aumentasse.

Até que uma luz se acendeu. Jim havia encontrado um interruptor, e atrás dele estavam duas portas. Assim que se virou para encarar os dois, a loira passou seu celular para Sherlock, que continha uma mensagem.

Se ele pensa que vai conseguir sair daqui ileso, está muito enganado.”

Ele olhou para loira por algum momento. Queria dizer que não funcionaria, mas... e se funcionasse? Mary se provou ser bastante determinada e um pouco surpreendente em alguns aspectos para o detetive. Ele nunca teve fé nas pessoas, mas era algo que John possuía. Seu melhor amigo merecia um esforço de sua parte.

Your soul is able
Death is all you cradle
Sleepin' on the nails
There's nowhere left to fall
You have admired
Every man desires
Everyone is king
When there's no one left to pawn

– Considere essas portas seus arco-íris. Atravessem-nas, e chegarão aos seus respectivos potes de ouro. – Moriarty pegou sua arma novamente, mirando no detetive e depois na assassina e então, ele atirou.

Atirou no meio dos dois, algo que nenhum deles esperava. Assim que o disparo foi efetuado, as luzes se apagaram, e o silêncio tomou conta. Em seus ouvidos, o zumbido do barulho ensurdecedor causado pela arma os deixava sem uma clara audição do que acontecia ao redor deles. Mary tratou de ligar o interruptor novamente, mas eles estavam sozinhos.

– Não. – Sherlock disse. Não valia a pena ir trás deles. Eles tinham que abrir essas portas.

Ela não teve tempo de responder, pois uma música começou a tocar.

There is no peace here
War is never cheap dear
Love will never meet here
It just gets sold for parts
You cannot fight it
All the world denies it
Open up your eyelids
Let your demons run

Claro, pensou Sherlock. ‘The Grand Finale.’

I thread the needle through
You beat the devil's tattoo
I thread the needle through
You beat the devil's tattoo
I thread the needle through
You beat the devil's tattoo
I thread the needle through
You beat the devil's tattoo

Mary respirou fundo. Era difícil pensar sabendo que John e Molly estavam tão perto, precisando deles. Mas ela precisava manter o sangue frio e se concentrar. Era o que Sherlock estava fazendo, apesar de poder ver nos olhos dele o quanto isso estava abalando-o. Com as mãos nas costas, ele era novamente o grande Sherlock Holmes. Mas em seus olhos... nada além de um homem assustado.

A música se repetia constantemente. Sherlock esfregou as mãos, mexendo-as enquanto falava.

– “Você abandonou todo o amor que recebeu. Dormindo numa navalha, não há mais lugar para cair. Seu corpo está doendo, cada osso está quebrando, nada parece mudar isso... apenas continua.” - Sherlock cantou quando a música começou novamente. Ele sabia que essa estrofe era uma referência a sua pessoa. Ele havia abandonado quase todo o amor que já recebera, pelo menos era o que demonstrava. Seu corpo estava doendo e, além disso, seu peito parecia estar carregando um peso imenso. A dor era tamanha que ele sentia que suas costelas iriam ceder a qualquer momento. – Dormindo uma navalha seria a nossa escolha. Tenho certeza que essas portas escondem algum tipo de armadilha, mas ainda não consegui deduzir o que elas seriam. Dormir na navalha significaria que o menor dos movimentos pode nos cortar. Ou seja, cuidado é essencial.

– “Sua alma está apta, a morte é tudo o que você embala. Dormindo em pregos, não há mais onde cair. Você admirou os desejos de cada homem, todos são reis quando não há ninguém mais para trabalhar.” – Mary continuou. Assim como Sherlock começou, ela sabia que era a sua vez. Ela era uma assassina, seu trabalho se resumia em matar pessoas, pessoas que se tornavam alvos. Mas ninguém consegue matar outra pessoa e simplesmente viver como se nada tivesse acontecido. Para isso acontecer, é necessário que sua alma esteja apta a embalar a morte. E a dela estava. Mary também já admirou os desejos dos homens, seja quando era criança nas condições deploráveis que vivia ou quando eles estavam sob a mira de seu revólver. Ao enfrentar a morte, inúmeros desejos se passam pela cabeça dos homens. Seu serviço era basicamente acabar com os peões no jogo, ninguém para trabalhar. Assim, todos aqueles que sobrarem seriam reis. Mas algo ainda não encaixava. – Dormindo em pregos, não há mais onde cair. Isso não faz sentido, Sherl— Espere. E se... E se isso se referisse a o que nos espera lá dentro. A armadilha de Molly seria uma navalha e a de John seriam pregos.

– Não faz sentido, não se ameaça ninguém com um prego... A não ser que essa questão seja abordada por outro ponto de vista. É possível se deitar sobre pregos se houver um número suficiente deles para distribuir todo o peso do indivíduo. A mesma lógica pode se aplicar a navalhas, mesmo sendo um pouco mais complicada a maneira de distribuí-las. E se analisarmos que... – Os olhos dele se arregalaram. – É uma bomba. Atrás dessas portas já uma bomba, e a única maneira de abri-la é modificando seu peso. Ou seja, a maneira de abrir as portas.

A análise da terceira estrofe foi mais silenciosa. Os dois absorveram o significado das palavras com certo pesar. “Não há paz aqui, a guerra nunca é barata, querido. O amor nunca se encontrará aqui, só é vendido por partes. Você não pode lutar, todo o mundo nega. Abra bem os olhos e deixe seus demônios fugirem.”

Eles não tinham o que falar, mas sabiam o que queriam fazer. Deixe seus demônios fugirem. Era exatamente o que Sherlock queria fazer, mas sabia que, se fizessem isso, aquela bomba detonaria e os quatro morreriam ali dentro. Suas mãos correram por seus cabelos cacheados. Ele respirou fundo e foi para uma das portas.

Molly! John! – gritou. Saber quem estava por trás de cada um das portas era algo que poderiam fazer por enquanto. Sua cabeça girava com teorias e hipóteses, mas todas levavam a um resultado incerto. Holmes nem sequer percebeu que Mary não aderira ao chamado. Ela estava quieta, de cabeça baixa, encostada na parede atrás dele com a mão direita acariciando a arma.

Deixe seus demônios fugirem.

A sentença se repetia na cabeça dela.

Deixe seus demônios fugirem.

A.G.R.A. tinha inúmeros demônios, com os quais se preocupava em esconder.

Deixe seus demônios fugirem.

Afinal...

Por que não?


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