Abriu lentamente os olhos, encontrando um teto monotonamente branco. Olhou pro lado; 6h30min da manhã. Bufou, estava na hora de se levantar - dali há alguns minutos seu despertador iria começar a apitar. Na noite passada quase não dormiu, pensando no que fizera a Maka. Um beijo. O que tinha de mais? Ele tinha até mesmo perdido a conta de quantas garotas tinha beijado, e não é como se ele fosse virgem. Foi pro banheiro, lavou o rosto e logo olhou-se no espelho.

"Droga", comentou dentro de si, encarando o reflexo de seu rosto ainda molhado "Isso... Não quer dizer que... Eu gosto daquela pintinha?"

Sacudiu a cabeça - não, aquilo estava fora de questão. Ele simplesmente não poderia se apaixonar por ninguém agora. Tinha algo de muito mais importante a fazer... Mesmo se a competição com Kid era realmente intrigante. Tudo bem que disputavam tudo desde pequenos, mas aquela em particular parecia ter um significado maior pra ambos.

Depois de se vestir, Soul vasculhou alguns livros entre as pilhas de coisas jogadas; ele nem lembrava quais matérias deveria levar aquele dia. Mas não fazia muita diferença. Passar não dependia dele, e sim do dinheiro de seu pai. Naquela realidade em que vivia... Praticamente tudo funcionava assim.

Menos os sentimentos de Maka. Suspirou, mais uma vez estava pensando nela. Por mais que recusasse, era quase evidente que - nem que fosse um pouco -, ela o fascinava. Ou ligeiramente mais do que isso.

Mas não importava tanto assim, afinal.

Desistiu de procurar qualquer coisa para a escola, sinceramente se sentia sem vontade alguma. Estava quase saindo de seu quarto, que fez questão de não dividir com ninguém assim que entrou no Shibusen - era quase uma questão de orgulho. De repente seu celular começou a tocar e ele respondeu sem muita vontade, sentindo-se obrigado a desfazer sua tipica posição com as mãos nos bolsos. Atendeu. Escutou por alguns segundo aquela voz talvez familiar, acabando por não acreditar no que dizia. Aquela notícia era tão inesperada quanto maravilhosa. Largou seu telefone no chão mesmo e começou a correr, enquanto que a pessoa do outro lado da linha perguntava se ele continuava com o celular em mão. Sorriu. Por mais que não soubesse como, sua vingança finalmente tinha começado a andar.

Haviam descoberto o nome do homem que odiava com todo ele mesmo.



Era uma sexta-feira. Soul não tinha ido para a aula aquele dia, e Maka se sentia quase em culpa. Ela tinha gritado demais? Talvez sim, se bem que ele tinha roubado seu primeiro beijo! Quem deveria ter ficado com remorso era ele, não ela. E então como foi que as coisas chegaram àquele ponto?

De tarde tinha que ir entregar os relatórios sobre a assembléia de classe diretamente à Kid - sozinha. A avisaram no dia antecedente. Aquele garoto era quase assustador, e ela tinha certeza que aquela era uma falsa desculpa para poder agarrá-la ou chamá-la de escrava sem motivos.

Ela não queria continuar daquela forma, portanto seria uma boa chance para lhe dizer algumas verdades. Com suas notas altas como estavam, com certeza não iriam poder tirá-la da escola, por mais que o filho do diretor o exigisse.

Ou ao menos ela esperava que fosse assim.

Tsubaki tinha sumido de novo. Era realmente solitário ficar nas aulas sem falar com ninguém. Maka não era nenhuma senhorita popularidade, e os outros alunos não gostavam de se misturar como gente como ela. Bem, era óbvio. Ela não passava de uma simples plebéia perdida em um mundo que não lhe pertencia, afinal.




"Tsubaki.", sua mente procurava incessantemente pela dona daquele nome que lhe trouxe felicidade por tanto tempo. "Tsubaki!", repetiu, ainda correndo pelas ruas afobadas de Tóquio. Se sabia o que ela estava fazendo? Sim, mas realmente esperava que aquela fosse uma brincadeira de mal gosto. Tinha ligado para ele algumas horas antes, com a voz roca pelo choro que tanto tentou esconder inutilmente. Ele estava sem carro, e a mansão principal dos Nakatsukasa ficava longe demais para ir até lá a pé.

Porém ele iria mesmo que o mundo acabasse.

Chegou depois de muito tempo correndo, com o fôlego quase inexistente. Passar pela segurança sem ter que fazer a burocracia normal não foi uma tarefa fácil, mas com certeza era pouco para a pessoa que queria ultrapassar "Deus".

Um Deus que às vezes ele duvidava da existência.

- Tsubaki! - Black Star passou pelo grande salão de festas com passos apressados, escutando os soluços da garota em volta daquele local. Entretanto, ele sabia muito bem de onde vinham. Aquele era o lugar deles, afinal. Encostou-se em uma das paredes brancas, procurando uma parte oca. Encontrou, batendo duas vezes. A parede se abriu, e ele entrou, desaparecendo assim que a mesma voltou a se fechar.

- Black-kun... - lá estava ela, encostada em um canto daquele lugar iluminado por uma única vela. Frágil, demoralizada. Logo quando achou que não precisava mais viver às vontades dos outros, foi obrigada a aceitar um futuro que nunca desejou.

Um casamento por interesse.

Seus pais tinham deixado um contrato com a familia Evans, o qual dizia que assim que completasse 18 anos, os dois segundos filhos das duas familias deveriam se casar. Ela nunca iria sequer sonhar com algo do gênero. Por mais que se interessasse por Soul, a Nakatsukasa preferia a liberdade. A qual ela finalmente notou que não existiu desde o principio.

Mesmo convencendo a si mesma a não odiar ninguém, ela desprezava seus pais. Por mais que tentasse não culpar o destino, parecia ser inevitável. Se repetia sem cansar que bastava olhar para a frente, entretanto a visão estava embaçada por conta das lágrimas.

O rapaz se aproximou cauteloso, com o suor que pingava de sua face sobre seus pés e a respiração pesada. Sentou-se ao seu lado, abraçando-a. Tsubaki não se assustou com aquilo, e podia escutar o coração de seu melhor amigo palpitar. "Ele com certeza correu até aqui.", foi o que pensou, retribuindo o abraço e sentindo seu pranto parar vagarosamente. Agradeceu em silêncio por ele ainda existir... Por Black Star não ter ido embora com os outros de seu clã quando teve a oportunidade.

- Tsubaki. - Ele se afastou um pouco dela, olhando-a de frente. Encostaram uma testa na outra, e Black Star poderia contar seus cílios de tão perto que se encontrava da mulher que amava. - Fuja comigo.

Aquilo ela não esperava. A garota olhou para baixo, tentando não encontrar seu olhar, por mais que não quisesse sair daquela posição. Voltou a encarar seu suposto mordomo; não deu uma reposta, mas seus orbes diziam sim e não ao mesmo tempo. Queria desaparecer, mas sentia que se o fizessem não passaria de uma perdedora e medrosa. Exatamente como seu irmão costumava dizer.

- Hey. - o rapaz dono dos cabelos verdes se afastou mais uma vez, segurando com força os ombros de sua mestre - Eu não quero fugir com você como seu mordomo. Lembra? Você me prometeu que ficaria ao meu lado. Tsubaki... - Black Star lentamente selou seus lábios por alguns instantes, voltando a contemplar aquela face agora um tanto confusa - Eu... te amo. Por favor, cumpra sua promessa.

- M-Mas... - Tsubaki perdeu as palavras, descobrindo algo de realmente inusitado. Quem diria que aquele garotinho que cresceu com ela a amava? Porém, por mais que ele tivesse se declarado... Ela não conseguia vê-lo daquela forma. - Perdão... Eu não posso corresponder... - disse timidamente, se culpando por ferir os sentimentos de alguém que ela tanto gostava - Eu não consigo te ver dessa forma...

- Não importa! - Black Star respondeu sem hesitar, ainda encarando-a com aqueles olhos verdes e penetrantes - Passe a olhar para mim desde agora como um homem! Eu sou aquele que vai superar Deus, não sou? Eu posso muito bem esperar por toda a eternidade.

Ela sorriu. Seu otimismo era fora do normal. Fez com ele soltasse seus ombros, abraçando-o de novo. Beijou sua bochecha, e sentiu o rosto do garoto esquentar furiosamente; ele tinha corando.

Sussurrou desculpas mais uma vez. Tsubaki sabia muito mais do que ninguém que ir contra as ordens de seus falecidos pais significava ser fraca. E ela tinha decido muito tempo atrás que iria ser bem melhor do que os outros esperavam que ela fosse.



Tomava coragem na frente daquela entrada extremamente diferente das outras ao seu redor que pareciam normais. Era feita por duas portas, consequentemente uma parecia o reflexo da outra. Talvez agora estedesse o que soul quis dizer com 'maniaco por simetria'.

Andou para um lado e para o outro pela terceira vez. Ainda estava vestindo seu uniforme, por mais que as aulas tivessem acabado há horas. Realmente, estava quase escurecendo. Em suas mãos segurava o caderno com as anotações feitas depois da assembléia de classe, com algumas sujestões para o conselho estudantil. Mas ela tinha certeza que não serviriam para absolutamente nada. Era uma desuclpa para os dois; mesmo se Maka não sabia bem quais fossem suas intenções, ela simplesmente queria dar um fim naquela brincadeira de mal gosto.

Respirou fundo. Aquele era o momento. Ela não tinha porque se preocupar, certo? Ele também deveria ter um colega de quarto. Bateu quatro vezes na porta, timidamente. Não demorou para que Kid a abrisse. Estava com uma toalha sobre a cabeça e somente com uma calça jeans, deixando o peito pálido totalmente à mostra. Provavelmente tinha acabado de sair do banho, pois seus negros cabelos pareciam molhados por baixo daquele pano. A Albarn corou imediatamente com tal cena, virando o rosto para o lado e empurrando para cima dele o caderno. Estava pronta para correr, quando sentiu seu braço sendo puxado pelo rapaz das listras brancas.

- Finalmente. - ele disse, arrastando-a para dentro de seu quarto e fechando a porta com força - Agora, escrava-chan... Tire suas roupas, vamos praticar.

- Praticar?! - berrou Maka, assustada. Ele estava passando dos limites.