Mackenzie

Eu corri tanto que já estava ofegante. Parei por um momento para respirar um pouco. Pensei onde Eduard poderia estar, o que ele estava fazendo. Também pensei em Trevor, como ele deve estar aonde quer que esteja. Cai no chão no exato momento, desmaiando.

Percebi que estava sendo carregada quando acordei. Não sabia quem era, um desconhecido. Não falei nada, ele deve pensar que estou morta. Só talvez. Eu já sabia por que tinha desmaiado. Foi porque eu pensei em Trevor, um anjo negro. Meus olhos estavam cansados. Decidi dormir mais um pouco, não queria saber onde ele estava me levando.

Acordei em um quarto estranho. Ele era todo branco, paredes e chão. Eu estava em uma cama não muito confortável. Sentei-me na cama, minha coluna estava doendo. Na cama ao lado, havia uma garota. Ela aparentemente tinha a minha idade. Ela tinha a pele um pouco escura, era morena de cabelo cacheado. Vestia uma regata branca e uma calça de moletom preta. Ela estava sentada na cama desenhando em um caderno.

Ela olhou pra mim e sorriu.

– Você deve ser a garota nova. – falou. – Prazer, meu nome é Elissa.

Elissa estendeu a mão e eu apertei.

– Mackenzie. – soltamos nossas mãos. – Onde estamos?

– Te encontraram desmaiada. Você vai ficar aqui até que se sinta bem.

– Acho que nunca vou ficar bem. – murmurei.

– Claro que vai ficar! – eu não queria que Elissa ouvisse.

– Não sei. – olhei em seus olhos verdes. – Eu desmaiei por causa de um castigo.

– Acho que eu sei que castigo é esse. – ela deixou o caderno e o lápis de lado. – O único jeito de se livrar é provando seu amor pela pessoa.

– E como posso provar? Só de pensar nele eu desmaio.

– Eu posso te ajudar. – ela sorria.

– Obrigada. – sorri também. Ela pegou seu caderno e voltou a desenhar. – Elissa, por que você está aqui?

Ela suspirou.

– Eu fui para a guerra. Eu não queria ir, mas eu fui forçada. E, sem querer, eu matei um anjo branco. – ela parou de desenhar. Fitou o desenho e respirou um pouco. – Estou aqui por causa disso. Talvez eu nunca saia.

– Sinto muito Elissa...

– Está tudo bem. – pensei que Elissa falava com o desenho, porque ela não tirava os olhos dele. – Vamos fugir daqui essa noite.

– O quê?

– Você quer sair, não quer?

– Quero.

– Então se prepare que é hoje que fugimos desse inferno. – não pude deixar de rir. – O plano é o seguinte...

***

Elissa contou aos detalhes o tal plano. Esperamos que ficasse no fim da noite, lá pelas 23h para começar. Descobrimo-nos e levantamos das nossas camas. Calcei meu tênis, Elissa preferiu ficar descalçada. Não sei exatamente se ela trocou de roupa porque estava escuro, mas a luz da Lua refletiu em seu rosto, mostrando que ela fez uma linha preta em cada bochecha.

Ela deu uma espiada pela fechadura da porta, e depois fez um sinal com as mãos, dizendo que está tudo livre. Subiu na cama, colocou um dos pés na janela e se jogou contra a parede. Ela tentava não cair, mas a parede era muito lisa. Ela pediu para que eu ajudasse, e foi o que fiz. Segurei-a para não cair. Elissa se apoiou em mim e abriu uma passagem no teto. Eu não tinha visto, estava completamente escondida.

– Você primeiro. – falou, enquanto se jogava no chão e caia em pé. – Eu te ajudo.

Elissa pegou em minha cintura e me levantou. Fiquei impressionada com a facilidade que ela fez isso. Segurei-me na beirada e dei impulso. Entrei na passagem. Era tudo vazio e um pouco escuro. Havia teias de aranhas por todo o lugar. Elissa entrou logo em seguida. A passagem era pequena, então tínhamos que ficar espremidas. Ela fez um gesto, indicando que eu podia seguir em frente.

A passagem era estranha. Algumas partes eram íngremes, outras eram retas. Tinham algumas tão pequenas que eu pensei que íamos morrer ali, e também tinha de grande espaço, que cabiam três de mim ali. Elissa pediu para ficar na frente, porque ela sabia o caminho. Se ela sabia o caminho, por que não fugiu mais cedo?

Chegamos a uma parte com espelhos, em todas as partes. Olhei pro meu reflexo do espelho que ficava do meu lado direito, e vi várias Mackenzie’s e várias Elissa’s.

Elissa parou e mudou de posição, sentando-se. Fiz o mesmo.

– Agora vai ficar mais interessante. – falou com um sorriso. – Faça o que eu fizer.

Pude perceber que a sua frente à passagem era meio íngreme, qualquer coisa que colocasse ali iria escorregar. Elissa foi um pouco pra frente e escorregou. Fui pro seu lugar, coloquei as mãos na minha frente, segurando meus ombros. Inclinei-me pra frente e escorreguei.

Parecia uma montanha-russa. Só que uma montanha-russa suja e cheia de teias de aranha. Havia curvas para a direita e esquerda, fazendo-me bater a cabeça em cada uma delas. O final era reto, então eu tinha que sair me arrastando. Agradeci quando pude levantar. Minha coluna estava doendo, e eu posso falar o mesmo das minhas pernas. Elissa estava me esperando. Assim que eu me levantei, saímos correndo para qualquer direção, ficando cada vez mais longe da “prisão”, ou seja lá o que aquilo for.

Estávamos sujas e encardidas. Meu cabelo fedia, meus braços estavam imundos. Minhas roupas estavam do mesmo jeito. Elissa parecia se divertir.

Ela falou para continuarmos correndo naquela direção, que dava na casa dela. Pelo menos estávamos livres.