A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 62
Capítulo 57 — Guerra em Atlântida: A intervenção de Poseidon


Notas iniciais do capítulo

O deus da guerra fica frente a frente com o Imperador dos Oceanos e um confronto é iniciado, ameaçando a integridade de Atlântida e dos oceanos. No Japão, June tenta levar Seika para um lugar seguro, mas os subordinados do deus do medo surgem para sequestrar a "irmã do pégasos". Na tentativa de enfrenta-los, ela acaba se deparando com seu maior medo, mas um inesperado cavaleiro surge para ajuda-la. Na Dinamarca, Asterion e os outros são surpreendidos por um grupo de berserkers. Na fuga, um antigo combatente se sacrifica.



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Capítulo 57 — Guerra em Atlântida: A intervenção de Poseidon


Atlântida – Palácio, centro do país 

— Não esperava vê-lo aqui. Soube que estava selado na ânfora de Atena. — disse Ares, com tom de zombaria, parado no centro do salão.

— Os selos de Atena não são problemas para mim. Principalmente quando eles estão enfraquecidos após a morte da deusa. — a voz de Poseidon ecoava no grande salão em um tom imponente. — Deve ter esquecido desse detalhe, Ares.

— Para alguém que estava dormindo, você está bastante informado.

— E foi por achar que eu estava dormindo que você julgou oportuno invadir Atlântida?

— Não se superestime. Eu faria isso de qualquer forma. Com você aqui, ou não. Não é o domínio da cidade que eu quero. Tão pouco quero escravizar os seus homens ou abusar das mulheres e crianças. Não dessa vez. O único espólio de guerra que eu quero são as entranhas do Ofioaturo.

— Desista. — disse o deus em tom severo. — Você não vai tê-las. Você continua sendo impulsivo, ambicioso e sádico. Não percebe que está declarando sua própria derrota vindo até aqui? Seu exército na superfície acabou de regressar para Grécia. Fora desse palácio, você tem apenas dois deuses e...

Ares sorriu.

— “Apenas dois deuses”. Você fala como se isso fosse pouco.

— Se comparado ao meu exército e minha presença aqui, sim. É pouco. E você já deve ter percebido isso. Está em um ambiente desfavorável para você agora. Tentou aplicar em nós a mesma tática que os gregos aplicaram em Troia. Infiltrou-se sorrateiramente quando os soldados não estavam com suas atenções voltadas para Atlântida. Eu não vou permitir que isso continue, mas também não estou disposto a deixa-lo ir sem uma devida punição. — Poseidon se levantou do trono elevando o seu cosmo. — Foi por isso que eu voltei a possuir o corpo desse homem e trajei a minha escama. Eu vou lhe lembrar porque me chamam de um dos três grandes deuses do Olimpo.

— Você não é um deus de lutas, Poseidon!! Fique escondido em Atlântida enquanto eu governo a Terra. — disse Ares segurando a lança com firmeza. — Se comporte como um deus marinheiro.

— Então você não tem com o que se preocupar, não é?

Poseidon saltou do alto do trono e em resposta Ares correu em direção ao deus e pulou. Tridente e lança se encontraram no ar e rangeram, emitindo um som de trovoada que crepitou pelo palácio e por toda Atlântida.

...

— Ares e Poseidon estão lutando. — comentou Anfitrite, que do primeiro distrito olhava apreensiva para o palácio, escutando as consecutivas batidas causadas pelo choque das armas divinas.

— São duas forças poderosas colidindo violentamente. — comentou Draco, que havia sido forçado pelo cosmo de Poseidon a voltar a sua forma divina.

O deus dragão estava encurralado, cercado por nereidas e marinas armados que miravam seus tridentes e lanças.

— Talvez essa guerra santa termine mais cedo do que esperávamos. — disse Sehrli, o Almirante do terceiro distrito, apoiado no ombro de uma nereida. — O Imperador Poseidon é superior a Ares. Sozinho, não há chances dele vencê-lo.

— Mas Ares não está sozinho. — disse Draco.

— Você não vai a lugar algum. — disse uma das nereidas, dando um passo à frente e sendo acompanhada pelas demais.

Draco lançou um olhar severo para a lança empunhada pela nereida e em seguida a mirou.

— Não estou falando de mim, mestiça. Existe outra divindade acompanhando o Senhor Ares. Vocês acham que apenas o senhor Ares e eu invadimos Atlântida, mas todo esse tempo eu nunca fui seu braço direito.

Após ouvir as palavras de Draco, Anfitrite abriu caminho entre as nereidas, tomou uma das lanças e a apontou para o pescoço do deus, fazendo-o dar um passo para trás. A ponta da lança perfurou o pescoço de Draco superficialmente, fazendo escorrer um filete de sangue.

— Sem rodeios. Fale logo! Quem está no palácio com Ares?

Draco encarou Anfitrite e em resposta a imperatriz deu um passo à frente e girou a lança, fazendo mais ikhor escorrer pelo pescoço de Draco.

— Vocês são realmente cegos. Todo esse tempo e nunca perceberam uma terceira presença? A deusa que concede a vitória à Ares através do seu grito de guerra.  — disse Draco, de mal grado. — Ela sempre está a sua direita. A deusa Alala.

— Alala? — Anfitrite enrugou o cenho. — Desconheço essa deusa.

— Claro que desconhece. Sendo filha de um deus menor da guerra, que posteriormente foi rebaixado a um espirito da guerra, é normal que o seu nome se mantenha no anonimato. E o senhor Ares garantiu que isso acontecesse, mandando destruir todos os registros sobre seu exército. Pelo menos quase todos. Alala é a deusa que serve ao senhor Ares assim como Nike serve Atena. Ela garante a vitória. Mesmo sendo uma deusa menor, sua habilidade coage o destino a levar quem tem sua benção ao sucesso.

Anfitrite recuou a lança e virou-se para as nereidas.

— Irei até lá. — disse a imperatriz. — Impeçam a qualquer custo o avanço de qualquer outro ao palácio.

— Você não espera que essas suas meninas me detenham, não é?

Anfitrite voltou-se para Draco

— E quem disse que eu estava me referindo a você? — o cosmo da deusa se elevou, emitindo um brilho cintilante e uma melodia ludibriante. — Você eu sei que não dará mais um passo se quer. Cilada de coral.

Um lindo de coral de diversas tonalidades se formou à sua frente, se ramificando no chão até chegar no deus dragão e começar a cobri-lo.

— Esse coral não vai me prender aqui!! — urrou Draco.

— Vai sim. Você não pode voltar a sua forma bestial graças a autoridade de Poseidon que agora cobre Atlântida. E enquanto estiver coberto por esses corais, suas forças serão drenadas até leva-lo ao estado de inconsciência. E só então... — Anfitrite segurou firme no rosto de Draco, ficando cara a cara com ele. — As minhas “meninas” irão mata-lo.

— Senhorita Anfitrite... Talvez não seja mais necessário a senhora ir ao palácio. — disse uma das nereidas olhando para a cúpula que separa Atlântida das águas do oceano.

Uma “estrela cadente” azul estava cruzando a cúpula em direção ao palácio.

— Aquele é... Senhor Tritão? — perguntou Sehrli.

— Tem razão. Talvez eu não precise mais ir até lá. — disse Anfitrite. — Eles darão conta.

Draco sorriu, sonolento.

— Mestiça tola. Você está subestimando o senhor Ares. Ele não sairá daqui sem levar aquilo que veio buscar.

— Então lhe aconselho a não falar muito para não perder rápido as suas energias. Você precisa estar consciente para ver a ruina do seu pai.

...

— Logo após a luta no palácio começar, o Senhor Tritão se dirigiu até lá. — comentou Schönheit. — O senhor não tentará ir até lá também?

— Não tenho interesse. — respondeu Dionísio, que segurava a flauta verde-dourada de sua Kamui. — Por enquanto.

Schönheit olhou para o deus com uma expressão de desconfiança, e vendo a expressão do capitão, Dionísio o respondeu.

— Não sou um deus de combate. Sei que deve estar se perguntando porque eu sigo Ares então. Sempre me questionam isso. Posso resumir que é simplesmente pela amizade. Mas... Existe outro motivo para que eu fique exatamente aqui onde estou. Você.

— Eu?!

Dionísio estendeu a mão para o chão e trouxe para si uma das pérolas do calor que adornava o cabelo de Schönheit, mas que foi rompido pelo próprio capitão quando estava prestes a enfrentar Ares.

— Você usava um cordão de perolas nos cabelos, e ao rompê-lo você emanou um grande poder. Ares pode não ter percebido, mas eu notei. — o cosmo de Dionísio se elevou e quebrou a perola, fazendo-a expelir um cosmo azul. — É um cordão de selos. Um cordão que ornamenta a cabeça daquele que é a reencarnação da criatura mais pura. Você é o ofiotauro

Houve uma densa pausa. O capitão de Mar-e-Guerra do segundo distrito encarou os olhos verdes do deus do vinho.

— E o que o senhor fará agora? Irá me matar para entregar as minhas entranhas ao Senhor Ares?!

— Eu não tiro a vida de humanos e criaturas sagradas como você. Ainda mais... — o deus se aproximou do capitão e tocou em seu rosto. — Ainda mais quando é uma criatura tão bela. Schönheit de Ceto. Você é um encantador contraste entre a beleza e o horror. Quem poderia imaginar que por trás de um homem tão belo e uma criatura tão pura, habitaria também as bestas de Ceto?!

Schönheit segurou a mão de Dionísio e a afastou do seu rosto.

— Com todo respeito meu senhor, mas eu prefiro não ser tocado dessa forma.

Dionísio sorriu e se afastou.

— Tão respeitoso para com os deuses. Sabe... Você e eu temos uma vontade em comum. Eu também não quero que você morra. Prefiro deixar que Ares continue achando que Sehrli seja o Ofiotauro. Esse também é o desejo de Atlântida, não?! Por isso o Almirante do terceiro distrito usa os selos. Não é apenas uma tradição. É um meio de despistar inimigos como Ares. Fazer com que cheguem a erronia conclusão de achar que o almirante seja a reencarnação da criatura.

— Se não pretende me matar... O que o senhor ou Ares ganhariam com isso?

— Eu?! Nada! Ares... Também não ganharia nada.

— Você sendo amigo de Ares, acha correto fazer com que ele perca uma “arma”?

— Me questionando assim faz parecer que você quer morrer. — o deus virou-se para o palácio e observou com atenção, fazendo uma breve pausa como se imaginasse o desenrolar da luta no interior do grande salão. — Por mais que eu acompanhe o deus da guerra e até lhe dê conselhos, eu não torço por sua vitória. Mas também não almejo a sua derrota. Não quero que a Terra fique mergulhada em sangue e lama, mas se isso vier acontecer, eu sei que um dia algum deus trará a ordem para humanidade. Enquanto isso, eu ficaria no meu jardim particular junto com os meus escolhidos.

— Você se mantem neutro. — disse Schönheit

— É muito mais do que ficar neutro. Eu diria que “sigo as coisas ao pé da letra”. Entenda... Se Ares tivesse me pedido para capturar o almirante por achar que ele seja o ofiotauro, eu capturaria e até deixaria Ares mata-lo, mesmo sabendo que ele não é. Mas se Ares tivesse me pedido para capturar o ofiotauro e eu soubesse que você é ele, talvez eu o capturasse. Ou talvez eu ainda levasse o almirante. Eu prefiro que na luta final entre Atena e Ares, os dois estejam em iguais condições.

Dionísio sentou em um pilar caído e preparou sua flauta para tocar.

— Não vou lutar contra você, capitão. Pode ficar comigo se quiser, ou pode ir se juntar com Anfitrite e os demais marinas. Ficarei aqui, aguardando o desfecho da luta entre Poseidon e Ares. Mas eu lhe aviso... Se eu me levantar e decidir interceder na luta entre os dois deuses, não seja tolo em tentar me impedir. Apenas saia do caminho. — os olhos e o tom de voz de Dionísio transmitiram seriedade. — Matar ou ferir em legitima defesa é algo que eu posso fazer.

—...—

 
Oceano primordial do Atlântico Norte — Outro lado do véu 

Após a batida de retirada de Anteros e dos berserkers do campo de batalha, restou apenas uma frota de navios abandonados pelo exército de Ares e uma tripulação de soldados desorientados.

— Os berserkers regressaram para a Grécia, mas abandonaram os soldados russos. — comentou Nasile, o capitão de Mar-e-Guerra do primeiro distrito, vendo os soldados confusos, olhando de um lado para o outro sem saber o que fazer.

— Os soldados são inocentes, Nasile. — disse Cunning, a almirante do segundo distrito. — Foram influenciados pelo poder da guerra.

— Eu duvido disso, senhorita. Esses homens são perversos por natureza. São mergulhados em ignorância, violência, preconceito e estupidez. — o capitão os fitou com seus olhos frios e expressão dura. — Expurga-los seria um ato de benevolência para os habitantes da superfície.

— Você não é juiz. Não toque em um fio de cabelo deles. — ordenou Cunning. — Guie eles até o outro lado do véu. Leve-os para o país natal e apague a memória deles. Nenhum humano pode lembrar deste local. Que continue sendo apenas uma lenda.

Nasile curvou a cabeça em obediência.

— Sim senhora.

— Vamos voltar para Atlântida. — avisou Chrysaor, elevando seu cosmo. Uma quadriga dourada puxada por quatro hipocampos coloridos surgiu rompendo entre as ondas. — Sinto um cosmo poderoso se erguendo no templo.

— E quanto ao corpo de Hyoga? — perguntou Bedra, o General Marina de Lymnades. — Ele lutou contra o exército de Ares. Não podemos abandona-lo sem um enterro descente. Também temos que recolher o corpo de Moshchnost. Ele está na Ilha Rode.

— O senhor poderia se encarregar do corpo do Cavaleiro? — perguntou Nasile para Breda, de costas para os companheiros. — Depois que eu cuidar dos humanos, eu mesmo levarei o corpo do meu mestre para Atlântida.

— Está bem, Nasile. — respondeu Chrysaor, que agora segurava as rédeas dos hipocampos. — Breda, você conhece as regras. Mesmo que Hyoga tenha lutado do nosso lado, ele é um cavaleiro e não pode ser enterrado aqui. Leve-o para junto dos outros cavaleiros. Entregue o corpo dele a eles. Saberão o que fazer.

— Mas se o Santuário de Atena foi tomado por Ares, para onde eu devo leva-lo?

Para responder ao questionamento de Breda, o escudo de libra, que havia ido por espontânea vontade ajudar Hyoga, brilhou. O escudo fez ressonância com o resto da armadura de Aquário, que estava ao redor do corpo de Hyoga, e com o cosmo de Breda.

— O escudo... está lhe dizendo para onde deve levar o corpo? — perguntou Cunning.

— Está! — respondeu o general, indo de encontro ao corpo de Hyoga.

Breda fez uma pausa, olhando para os lados.

— Os corpos dos deuses...

— O corpo da deusa Éris foi absorvido pela maça dourada, que subiu ao céu, general. — respondeu Chrysaor. — E o corpo de Deimos foi levado pelos berserkers.

O general segurou Hyoga nos braços. A armadura divina de cisne havia desaparecido, regressado a sua forma normal. Agora as duas armaduras, cisne e aquário, ambas bastante danificadas, se montaram para acompanhar o general.

— Não irei demorar.

O cosmo do Breda se elevou e ele subiu ao céu, seguido pelas armaduras que Hyoga um dia trajou.

—...—


Arashiyama, distrito de Kyoto (Quioto) — Japão — Noite do 4º dia

O jato da fundação Kido pousou em um estacionamento nos fundos de um restaurante. June desceu as escadas às pressas acompanhada por Seika, que ainda usava camisa social preta, saia branca e trazia o blazer branco pendurado no braço. A amazona de Camaleão olhou para os lados desconfiada, e voltou-se para a irmã de Seiya, tomando o blazer e a vestindo para garantir que Seika não sofresse no frio.

— Onde estamos? — perguntou Seika.

— Arashiyama. Quioto. — respondeu June, segurando a mão de Seika. — Agora preciso que a senhorita preste atenção. Aconteça o que acontecer, não solte a minha mão até que eu diga que é seguro. Enquanto estiver em contato comigo, ninguém vai conseguir nos ver. Vamos estar camufladas com o ambiente. Está bem?

— Sim. — havia nervosismo na voz de Seika.

— Agora eu peço que com a outra mão a senhorita tire os saltos. Não podemos fazer barulho.

June, que já estava descalça, ajudou Seika a tirar os saltos. Ao sentir o chão frio e úmido, Seika sentiu um calafrio percorrer o seu corpo.

Sorrateiramente as duas andaram pelo estacionamento fracamente iluminado pelas luzes do estabelecimento até chegarem em uma pista de mão dupla. Do outro lado havia um rio de águas escuras que as separava de uma grande montanha coberta por uma densa floresta. June apontou em direção a uma ponte que cruzava o rio. A ponte Togetsu-Kyo Bridge, também conhecida como “Ponte da travessia da lua”. Elas apressaram os paços.

A rua estava tenebrosamente iluminada e as sombras das árvores de cerejeiras pareciam ter vida própria quando Seika olhava para elas. Ela tinha a sensação de ter alguém observando-a. Sentindo o cheiro da frustração em tentar esconder o medo que estava sentido. Mesmo o frio fazendo seu queixo tremer incontrolavelmente, ela estava suando. Sua mão estava molhada e escorregadia. Era necessário apertar a mão de June com força e andar mais rápido para não ficar para trás.

Em pouco minutos chegaram na ponte. Eram mais de cento e cinquenta metros até o outro lado da margem. June olhou para os lados, verificando qualquer coisa suspeita, e virou-se para Seika, movendo os lábios em silencio, avisando que elas precisarão correr até o outro lado. Seika acenou com a cabeça e segurou com força na mão de June.

Juntas correram sentindo o vento frio castigar o rosto. Elas estavam na metade do caminho quando Seika escorregou, soltou a mão de June e caiu, soltando um abafado resmungo de dor. A amazona correu para ajuda-lo, tocando em Seika para oculta-la na camuflagem.

— Você está bem? — perguntou June, cochichando. Seika balançou a cabeça dizendo que “sim” e se levantou. June olhou rapidamente para garantir que ela não havia se machucado gravemente. Ela só tinha algumas escoriações nos braços e pernas. — Tem certeza que pode correr mais um pouco?

— Tenho. Apenas escorreguei.

— Está bem. Me dê a mão novamente. Temos que chegar do outro lado.

Seika e June tremeram quando o vento soprou com um frio cortante, dando a sensação de que congelaria até os ossos. E juntas perceberam que havia algo estranho acontecendo. O céu estrelado tornou-se negro como se um véu de trevas caísse sob as estrelas. Tudo ficou em um angustiante silêncio. Os galhos das árvores na grande montanha não se moviam mesmo com o vento forte. As águas escuras do rio continuavam a correr, mas em silêncio. A quebra da água nos pilares da ponte esguichava sem fazer barulho.

O olhar desconfiado de June mirou de um lado para o outro.

— June...

— Espere! — disse ela cochichando. — Tem alguém aqui. Eu acho que...

— Eu ouço sussurros. — sussurrou o vento, emitindo um tilintar de guizos que provocava arrepios.

O corpo de June tremeu mais uma vez. Ela apertou a mão de Seika com força e levou a outra mão a boca sinalizando que elas deveriam fazer silêncio. O vento rodopiou e uma figura esguia surgiu no início da ponte, de onde elas tinham acabado de vir.  

— “Droga! É o mesmo berserker que nos atacou em Chiba.” — pensou a amazona.

— Vocês duas me fizeram suar, sabiam? Tive que correr boa parte do Japão procurando vocês. Você é bastante astuta, amazona. Conseguiu me despistar, mas saiba que isso custou a vida daquele velho careca.

Os olhos de Seika ficaram marejados. Tatsumi estava morto.

Lentamente o berserker deu alguns passos a frente, balançando os guizos presos em sua ombreira, e em seguida ele parou sorrindo por trás da máscara que cobre todo o seu rosto.

— Uma perfeita habilidade de ocultação. Você não apenas oculta a sua imagem e a de quem toca, mas também oculta o seu cosmo e a percepção da sua presença. É uma habilidade essencial de sobrevivência para alguém tão fraca. Mas já chega de brincar de se esconder, meninas. O som emitido pelos meus guizos me diz exatamente onde vocês estão. Agora, apareçam.

— Escute com atenção — sussurrou June para Seika. — Se a senhorita ficar aqui, irá se machucar. Eu vou desfazer a invisibilidade e vou ataca-lo. Tentarei segura-lo o máximo que puder. Nesse momento eu preciso que a senhorita corra o mais rápido possível para o outro lado da ponte. Não pare por nada até chegar em um templo no meio da floresta. Não olhe para trás. Não tente fazer nada que seja suicídio. Está bem?

Em silêncio Seika concordou. Ela iria protestar, dizendo que queria ficar e lutar, mas o que uma humana comum poderia fazer se não atrapalhar?!

— Ótimo. Ao meu sinal, a senhorita deve correr. Um... Dois... Agora!!

Seika correu no momento em que a invisibilidade foi desfeita e o chicote de June se materializou e estralou, avançando contra o berserker e o prendendo. O vestido que ela usava queimou reagindo ao seu cosmo, revelando a armadura de bronze de Camaleão.

— Eu, June de Camaleão, serei sua oponente.

— Amazona de bronze... Está me fazendo perder tempo. — O cosmo sanguinário do berserker se levou e rompeu o chicote. — O senhor Phobos tem pressa.

Ele avançou passando por June, ignorando-a como um elefante ignora uma formiga violenta. Alguém que não é uma ameaça não precisa de atenção. Ele estava a poucos metros de alcançar Seika quando dezenas de chicotes estralaram no ar e o seguraram.

— Eu disse que serei sua oponente. Então volte-se para mim.

— É atenção que você quer? — perguntou ele virando-se para June enquanto fazia força para se libertar. — Eu, Clown de Pennywise, irei matá-la. — Os olhos vermelhos da máscara macabra brilharam ao mesmo tempo em que uma risada ranhosa e sinistra ecoou do cosmo sangrento de Clown. — Assim como eu matei todos os que cruzaram o meu caminho até aqui.

— O-O que?!

— Por onde eu passei, eu matei. Japoneses possuem um rosto tão semelhante entre si. É até difícil distinguir quem é quem. Matei aquelas que eu achava que era a irmã de Seiya, mas que na verdade era uma qualquer.  Existe um rastro de sangue e corpos de Chiba até Arashiyama. A irmã do matador de deuses é de valor inestimável. Não vou deixa-la escapar por entre os dedos logo agora... — ele respirou fundo, inflando os pulmões, e liberou pela boca, fazendo vapor sair por baixo de sua máscara. — Logo agora que ela está exalando um doce aroma de medo enquanto corre na floresta escura.

— Eu irei protege-la. — o cosmo de June se elevou. — Mesmo que eu morra tentando, eu irei protege-la.

— Se arrependerá por tamanha tolice.

— Calado! Grande Captura do Camaleão!!

Os chicotes que prendiam Clown apertaram o seu corpo na tentativa de esmaga-lo.

— O que você está fazendo, June? Por que está me prendendo?

A voz do berserker mudou. Agora era uma voz mais branda e inocente. Uma voz familiar. Clown tentou se libertar, mas quanto mais ele se mexia, mais os chicotes o apertavam.

— June!! June!! Por que está fazendo isso?! Por que está me prendendo?! Ele... Ele está enganando você!! Ele foi atrás da Seika!! Ele me prendeu nessa onyx e me controlou!! Vamos June!! Me liberte!!

— Do que você está falando?! — perguntou June, desconfiada. — Você... Essa voz... Não é possível...

Descrente, ela caminhou lentamente até o berserker, apertando-o ainda mais em seu golpe. Ela dizia para si mesmo que era impossível ‘ele’ estar ali. Que ele deveria estar no Tártaro. Mas ao ouvir a voz dele, ela teria que provar para si mesma quem estava atrás daquela máscara.

— Isso! Venha. Agora tire a máscara e veja que eu não sou ele.

— Você... Shun?!

June pós a mão na máscara de Clown e lentamente a removeu na esperança de ver a pessoa que ama, mas o que ela viu foi um rosto pálido, olhos amarelos mergulhados na esclera negra e um sorriso perverso.

— June... — disse Clown ainda imitando a voz de Shun. Aquilo agora soava de forma perturbadora para amazona. — Eu vou rasgar a sua carne e me alimentar do seu medo.

O cosmo de Clown se expandiu rompendo mais uma vez os chicotes. E com o movimentar da mão ele a lançou para trás. June foi arremessada e caiu embolando.

— Eu... Eu não vi ele me atacando. Apenas... Apenas senti uma pressão me empurrando.

— Não me faça perder mais tempo, mulher. Já basta ter que me fazer correr por todo Japão. Você é da classe mais baixa e ainda me desafia... — Clown agarrou June pelo cabelo e a suspendeu. — Lugar de mulher não é no campo de batalha. Aguarde calada e eu lhe mostrarei depois qual a posição em que você deve ficar diante de mim. — disse pervertido, sorrindo.

— Não seja idiota! — disse June aplicando um chute. Clown soltou a amazona e jogou o corpo para trás, se esquivando. — Não me subestime por ser mulher.

O chicote de June se retraiu e ela partiu para um combate corpo a corpo. 

— Que tola! — disse Clown se esquivando. — Você parece uma tartaruga se movendo. É tão lenta quanto.

Ele aplicou um chute que a lançou para o alto. O ar foi expulso dos pulmões de June e seu estômago queimou.

— Não lhe subestimo apenas por ser mulher. — Clown segurou em um dos braços e a girou, lançando-a contra a ponte. — Mas também por ser fraca. — ele estendeu a mão e disparou uma rajada de cosmo. June não teve tempo para se esquivar ou se defender. — E fracos, morrem!

June foi golpeada, tomada por uma coluna de cosmo que se ergueu, desprendendo o asfalto da ponte, e teve sua armadura destruída.

— Que força esmagadora!! — disse ela, cuspindo sangue e tentando se levantar. Sua visão estava embaçada. Ela só via o cosmo obscuro em volta da sombra de Clown em meio a fumaça que subia. — Esse cosmo... É tão poderoso quanto o cosmo de um cavaleiro de ouro.

Os olhos de Clown brilharam.

— Você está abusando da sorte, mulher. Eu poderá ter rasgado a sua garganta.

Clown a segurou pelo pescoço e ergueu, caminhando até a lateral da ponte. June se debatia tentando se livrar das mãos do berserker, mas quanto mais ela se agitava, mas forte ele a apertava. A falta de oxigênio no cérebro estava lhe deixando tonta. Sem força nas mãos, o chicote que ela ainda segurava com tanta determinação caiu e ela parou de se mexer.

— Já desistiu? — perguntou o berserker com desdém, segurando a amazona pendura. — Sabia decisão. Agora está na hora de você enfrentar o seu maior medo. O seu amado Cavaleiro de Andrômeda está lhe esperando no fundo desse rio.

Correntes prateadas romperam nas águas escuras e prenderam o corpo de June.

— Essas correntes... — os olhos de June ficaram marejados.

Quando as correntes frias prenderam seus punhos, pernas, pescoço e tronco, ela lembrou do angustiante dia em que Shun se ofereceu para o teste que lhe garantiria a armadura de Andrômeda.

— Você morrerá no fundo desse rio, afogada em lamurias, vendo a imagem do seu amado se debatendo na sua frente querendo se libertar das correntes, assim como você, e respirar, ainda que por um instante, o ar da superfície. Portanto... — Clow sorriu maliciosamente, e gesticulou com os dedos ordenando que as correntes a puxassem para o fundo do rio. — Encha os seus pulmões o máximo que você puder.

Violentamente ela foi puxada e sentiu o frio castiga-la quando seu corpo mergulhou nas águas escuras e agitadas. Todo esforço para tentar se libertar foi em vão. As correntes lhe apertavam com mais força e pareciam ter vontade própria. Elas a puxaram até uma rocha submersa no meio do rio e a acorrentou.

June elevou o cosmo afim de quebrar a rocha ou partir as correntes, mas seu esforço se esvaiu quando diante dela surgiu a imagem de Shun, mais de quinze anos atrás, enfrentando o teste para obter a armadura de Andrômeda. A mesma aflição que ela sentiu naquele dia voltou à tona naquele momento. Ela sabia que não era ele, mas seu desespero ignorava a lógica.

Ele estava morrendo. A água estava invadindo seus pulmões. O desespero por mais um folego de vida fazia seu corpo se debater. As pálpebras estavam ficando pesadas, e logo sua consciência iria se perder no escuro. Mas ele era um reflexo do que estava acontecendo com ela. Era ela quem estava passando por tudo aquilo.

No momento em que seu corpo cedeu e seus olhos estavam se fechando, ela viu fios prateados e brilhantes entrando na água e se enrolando em seu corpo.

As correntes foram partidas junto com a rocha e seu corpo foi levado de volta a superfície. O som de uma doce melodia despertou a sua consciência, e seus pulmões a fizeram lembrar de respirar. A água escura foi repelida para dar espaço ao oxigênio.

— Você está bem, amazona?

June não ouviu a pergunta. Sentada no chão e encostada na mureta da ponte, os olhos de June se abriram e focaram em Clown caído a alguns metros à frente. O berserker estava se levantando e sangue escorria de sua boca.

— Alguém conseguiu derruba-lo e feri-lo.  pensou surpresa. — Quem teria poder para isso?! Será que foi algum cavaleiro de ouro?!

Ainda desnorteada, seus olhos percorreram a ponte e só então ela notou que havia um cavaleiro agachado ao lado dela. Ele era jovem, bonito e tinha uma expressão serena. Seu cabelo curto era loiro platinado e seus olhos eram azuis.

— Quem é vo..

Antes que ela terminasse a pergunta, sua atenção volte-se para Clown que agora estava em pé e com o cosmo elevado, mas o cavaleiro entendeu qual seria a pergunta e respondeu.

 Sou Lino, o Cavaleiro de Prata de Lira. — disse se levantando.

June ficou espantada.

— Lino?! Você...

— Um cavaleiro de prata?! — perguntou Clown, intrigado, interrompendo June. — Está dizendo que um cavaleiro de prata me acertou?!

Uma segunda música pairou no ar. Era diferente da melodia de Lino. Era um toque levemente sonolento, como uma canção de ninar tocada em um carrossel iluminado.

— Isso mostra o quanto você é fraco, Clown. — disse um berserker de voz ranhosa parado no início da ponte.

— Outro berserker?! — disse Lino, avistando o homem torto apoiado em uma bengala de onyx. A música foi ficando fraca, mas parecia fluir dele como um anuncio de sua presença.

— Eu sou Dolos de CrookedMan. E também estou na caçada pela irmã do pégasos.

— Eu recebi a ordem direta do Senhor Phobos para levar a garota. — disse Clown.

— Não me importo. Assim como o Senhor Phobos também não se importa. Ele apenas quer a garota. Seja lá quem for que a entregue. Por isso estou aqui. — ele fez uma pausa, olhando para June e Lino, deu mais alguns passos tortos e parou. — Onde ela está?

— Fora do alcance de vocês, berserkers. — respondeu Lino. — June, vá atrás de Seika. Eu assumo a luta.

— Tem certeza? — perguntou preocupada. — Eles são poderosos.

— Está tudo bem. Vá. Encontre-a e siga até o templo no final da trilha. Haverá uma pessoa esperando por vocês.

— Está bem! Cuide-se.

Tão rápida quanto o som ela se moveu, atravessou a ponte, passou pelas casas no pé da montanha e entrou na floresta, sumindo entre as árvores.

— Músico, o que você pode fazer contra dois berserkers como nós? — perguntou Dolos com um tom analítico e ranhoso. — Sinto em você um cosmo poderoso, mas não é poderoso suficiente para enfrentar nós dois ao mesmo tempo.

— E isso lhe preocupa? — perguntou Lino

— Não se intrometa, Dolos. — grunhiu Clown. — Esse miserável é meu.

— Faça como quiser. — o corpo do berserker se dissolveu em trevas e se dissipou com o vento. — Eu deixarei que você lute com ele enquanto sigo a irmã do Pégasos.

Lino moveu a mão até as linhas da Lira e tocou uma melodia. Fios prateados se projetaram e tatearam o ar até se enroscarem em algo solido. O corpo de Dolos se materializou e ele foi puxado contra o chão. O berserker se libertou das linhas e pousou.

— Vejo que não é um homem qualquer. — disse Dolos. — Conseguiu me interceptar.

— Não me importa quantos de vocês apareçam aqui. Vocês não passarão desse ponto. — avisou Lino.

— Você ouviu o rapaz, Dolos. E já que isso é uma caçada pela irmã do matador de deuses, façamos o seguinte... Aquele que primeiro matar esse cavaleiro idiota, irá caçar a irmã do pégasos sozinho. Então... — Clown elevou o cosmo e partiu pra cima de Lino. — Eu tenho pressa.

— É, eu também tenho pressa. — disse Lino, soltando sua lira no ar e desviando com tranquilidade do ataque de Clown. — Não posso ficar aqui perdendo tempo com vocês. — Clown voltou a atacar, e novamente Lino desviou com agilidade e precisão. — Outros berserkers podem aparecer.

— Não se preocupe com a possibilidade de outros berserkers aparecerem. — Clown se materializou diante de Lino esboçando um largo sorriso perverso. — Você já tem problemas demais para...

Lino cerrou o punho e desferiu um soco no rosto de Clown, mas o berserker se defendeu segurando o punho.

— Para um cavaleiro de prata, você luta e se move como um cavaleiro de ouro. — comentou Clown. — E ainda é um cavaleiro menestrel que usa os punhos ao invés do instrumento.

— É tão surpreendente assim? — perguntou Lino

— É algo fora do comum. — comentou Dolos, que observava o confronto.

Lino olhou para ele por cima do ombro.

— Se um cavaleiro não usa seu punho para o combate e depende de uma arma, ele está condenado a ser derrotado. Ao perder a arma, ele perderá seu único meio de lutar. Era isso o que o meu mestre dizia. — E voltou-se para Clown. — Quando eu fui escolhido para ser um aspirante a cavaleiro de prata de Lira, o meu mestre disse que não iria me treinar para ser um tocador de melodias. Naquela ilha infernal no pacifico sul, em três anos eu aprendi a não depender de armas. — O punho de Lino foi tomado por um cosmo prateado. — Não sou um cavaleiro menestrel convencional.

— Interessante. — disse Dolos.

— Muito tocante essa sua experiência pessoal, mas não é algo que me interessa. Eu subestimei você, cavaleiro de Lira, mas isso não vai acontecer novamente.

O cosmo de Clown se elevou com mais intensidade, causando uma pressão sobre Lino.

Lino enrugou o cenho.

— Sua força até pouco tempo era equivalente a de um cavaleiro de ouro, mas agora... Está superando?!

— Meu cosmo lhe surpreende? Efeito coringa. Essa técnica me dá a vantagem de ter o mesmo nível de poder do meu inimigo. Basta eu toca-lo. Entenda isso como uma soma. Eu, que sou equivalente a um cavaleiro de ouro, adquiri também o seu nível de poder, que apesar de ser um cavaleiro de prata, é tão poderoso quanto um cavaleiro de ouro. Em outras palavras, você não é mais um adversário pra mim.

Lino sorriu.

— Não tem força própria para me enfrentar e por isso recorre a esse tipo de habilidade? — o cosmo prateado se tornou vermelho como chamas. — Some o quanto quiser. Essa luta irá terminar agora. Abandone toda a sua esperança! Sussurro de Eurídice!!

O cosmo se concentrou na ponta do dedo indicador de Lino e foi disparado, mas Clown desviou.

— Só isso? — perguntou o berserker gargalhando. — É esse o golpe que vai acabar com a nossa luta?! Isso só pode ser uma piada. Irei desmembrar você!! Guizos de fobia!! 

Lino deu de ombro e virou-se, dando as costas para Clown.

— Agora é a sua vez, Dolos. — disse estendendo a mão para a sua lira, que ainda flutuava.

— Vire-se rapaz. — disse Dolos. — Ou terá seu peito transpassado.

Clown havia avançado contra Lino, mas Lino não se moveu. Antes que o berserker o tocasse, ele parou, e em seu rosto havia espanto. Vozes sussurravam o nome dele. Seu corpo estava tremendo e suor frio escorria pelo seu rosto. Vozes de crianças cantarolavam o nome da sua onyx, o chamando. Lentamente ele virou-se e de imediato converteu-se em pedra, como se tivesse olhado nos olhos da medusa.

— Clown?! — até mesmo Dolos parecia surpreso.

Os olhos azuis e serenos de Lino olharam para Dolos sem perder a tranquilidade.

— O apego ao passado, as frustrações, o arrependimento e a curiosidade trazem fracasso ao homem. — enquanto Lino falava, os fios prateados de sua lira enroscaram o corpo de Clown. — O Sussurro de Eurídice reflete a insegurança e o desejo da nossa alma quando olhamos para trás, para o passado, e nos pune. — o corpo de Clown foi despedaçado e reduzido a pó, sendo levado pelo vento frio. — Esse é o fim da sua existência, berserker.

 — Fantástica essa sua técnica. — disse Dolos, com sua voz ranhosa. — Seu poder vai além da sua patente. Clown falhou miseravelmente, mas eu não tomarei os mesmos passos que ele. — o cosmo do berserker se elevou. — Tenho uma missão para cumprir.

— Sua missão se encerra aqui.

— Não, não, não. — disse pausadamente.

Dolos bateu com a bengala de onyx no chão, e do som metálico ecoou uma melodia acalentadora, entoada serenamente. Na palma da mão do berserker surgiu uma moeda dourada, que flutuava e girava lentamente, acompanhando a melodia.

— Irei lhe contar uma história. Preste bastante atenção. Olhe bem para essa moeda, cavaleiro, pois... Eu vi um homem torto, que andava sem parar. Achou uma moeda e a sorte veio a achar... — a moeda brilhou como ouro de forma intensa, liberando rajadas de cosmos, e arremessou Lino para trás. — Caia em seu pesadelo. Hipnoterapia das trevas!!

O corpo de Lino não caiu no chão. Permaneceu flutuando sobre a ponte junto de sua lira.

— Você nunca mais acordará, garoto. Deveria ter me deixado seguir em frente. Teria poupado essa sua vida frágil.

O cosmo de Dolos rodopiou em sua volta e ele desapareceu nas trevas da noite, indo em direção a floresta.

...


Silkeborg — Dinamarca — Noite do 4º dia

— Chegamos!! — anunciou Jabu, entrando na casa.

Ele estava acompanhado por Nachi e Shina. Ensopados devido a forte chuva que caia lá fora, tiraram os casacos molhados e guardaram os guarda-chuvas no cesto próximo a porta.

— Alguma novidade? — perguntou Alec, que estava sentado no sofá da sala.

Shina o ignorou e foi direto para a cozinha.

— Não encontramos nada suspeito. — respondeu Nachi. — É o segundo dia de ronda. Não há nada lá fora. Talvez Asterion esteja se preocupando demais.

— Qualquer dúvida deve ser conferida. — respondeu Alec. — Não podemos deixar brechas.

— E onde está Asterion? — perguntou Jabu.

— Está no quarto, descansando.

— Irei até ele relatar a nossa busca e...

Uma fagulha de cosmo oscilou longe dali. Alec se levantou abruptamente, assustado. Jabu e Nachi também sentiram. Uma sensação de perigo tomou conta deles. Asterion logo apareceu descendo as escadas e se encontrou com Shina e Plancius vindo da cozinha.

Outra fagulha de cosmo oscilou, e em seguida outras surgiram com intervalos de tempo entre elas.

— O que é isso? — perguntou Shina, sussurrando como se alguém além deles pudesse ouvi-la.

— Tem alguém lá fora. — disse Asterion. — Várias mentes obscuras estão paradas do lado de fora. Olhando pra cá.

— Será que eles seguiram vocês? — perguntou Plancius para Jabu e Nachi.

— Não. Impossível. Fizemos tudo como Asterion nos orientou. — respondeu Nachi. — Não tem como eles terem notado.

Jabu foi até a janela e afastou um pouco a cortina para espiar lá fora. A chuva forte e densa deixava tudo embaçado, mas ainda dava para ver a imagem turva de dezenas de pessoas com trajes pretos. Todos voltados pra casa.

— Eles estão parados. Olhando pra cá. — disse sussurrando. — E um deles... Um deles está indo em direção a porta!

Rapidamente Asterion colocou o dedo diante dos lábios pedindo silêncio, e gesticulou para que não tomassem nenhuma atitude.

Eles escutaram a maçaneta mexer, mas logo ouviram um chiado acompanhado por xingamentos. Seja lá quem for que tenha tentado abrir a porta, ficou ferido devido aos selos que protegem a casa.

Asterion soltou o ar aliviado.

— Os selos ainda estão ativos. Mesmo que saibam que estamos aqui, eles não podem entrar. — disse Asterion se afastando, indo pra cozinha.

— O que você vai fazer? — perguntou Shina.

— Me armar para uma eventual situação pior. Temos que sobreviver por mais cinco dias até que Atena retorne. Plancius! Suba até o quarto de Jake e o chame. Diga a ele que é urgente. Ele deve tá com a mente cansada, mas irá entender.

— Sim senhor!

 O jovem cavaleiro de bronze de Coroa Boreal correu e subiu as escadas, mas caiu no meio do percurso quando uma poderosa e esmagadora pressão cósmica pairou sobre a casa.

Todos se curvaram diante daquele cosmo. Era uma força que empurrava o corpo para frente e contra o chão. Uma fúria desenfreada e sanguinária. A sensação era de que o corpo seria esmagado contra o piso. Sangue já escorria pela boca de Plancius e Nachi.

O som de algo pesado caindo e batendo no chão veio do andar de cima. Shina olhou para o antigo companheiro e ele logo entendeu do que ela suspeitava. De que haviam entrado na casa através de alguma janela de um dos quartos, mas ele negou com a cabeça essa possibilidade.

As batidas então pararam e eles ouviram passos. Em seguida uma porta rangeu e os passos no corredor foram ficando cada vez mais próximos até que um homem apareceu no topo da escada.

— Jake!! — disse Plancius. — O senhor está bem?!

Jake não respondeu. Ele ficou ali, em pé, com um olhar soberbo e um sorriso fino. Plancius então notou que havia algo estranho. Fluía de Jake uma presença diferente, e os seus olhos azuis não pareciam ser os mesmos.

— Esses olhos... Eu conheço esse olhar. E não pertence ao senhor Jake. — pensou Plancius. E não tardou para ele lembrar, pois os olhos daquele homem ficaram gravados em sua memória junto com uma promessa de vingança. O dono daqueles olhos azuis maliciosos foi quem o intimidou para servir o exército de Ares e que ordenou a morte dos seus pais. — Você é...

Plancius cerrou os punhos e elevou o seu cosmo. A escada ficou coberta de gelo e passou a projetar dezenas de lanças, que se desprenderam e flutuaram mirando Jake.

— Plancius!! O que você está fazendo?! — perguntou Jabu.

— Esse homem que está em pé na nossa frente, não é o senhor Jake!! — disse gritando. — Ele é Phobos, o deus do medo!! O deus miserável que mandou matar os meus pais!!

Mesmo sem se mover, sendo pressionado pelo cosmo esmagador que agora ele sabia que vinha de Phobos através de Jake, Plancius estabilizou suas lanças de gelo e disparou, mas Phobos interceptou o ataque com apenas um dedo, parando as lanças e desintegrando-as até restar apenas uma.

— Como ousa me chamar de miserável?!

Phobos moveu o dedo e o corpo de Plancius levitou. A lança de gelo que restou também se moveu e foi tomada por raios vermelhos.

— Phobos! — chamou Alec. — Não faça isso. Ele é só um garoto.

Phobos sorriu.

— Em uma guerra, eu não faço distinções.

O dedo de ‘Jake’ voltou a se mover e Plancius foi arremessado violentamente contra a porta, e em seguida a lança restante foi disparada e cravou em seu peito, perfurando seu osso esterno, o átrio direito do coração, o pulmão direito e a sua coluna, deixando-o preso na porta.

Com dificuldade para respirar devido a grande quantidade de sangue que entrava em seu pulmão e subia pela sua garganta, ele se engasgava e cuspia seu próprio sangue se debatendo enquanto tentava se libertar.

A cena era perturbadora e parecia passar lentamente. Todos estavam imobilizados, sem poder fazer nada, lamentando a morte agonizante do companheiro. Já Phobos parecia apreciar cada segundo de sofrimento do jovem cavaleiro de bronze. Ele ficou parado, sorrindo, vendo Plancius morrer enquanto lhe olhava nos olhos, torturando lentamente.

Aquilo era muito mais do que ter prazer em ver a morte de alguém. Phobos queria que a última imagem que Plancius visse fosse a dele sorrindo para ele. Uma imagem que simbolizaria o fracasso do cavaleiro de bronze e provavelmente dos seus amigos também. A imagem de um deus triunfante que brincou com suas emoções, caçou seus pais e amigos, os matou, e agora estava matando ele também.

Alguns segundos depois Plancius perdeu as forças e parou de se debater. Sua boca, pescoço, peito e pernas estavam encharcados de sangue. E uma poça de sangue densa se formava embaixo dele, escorrendo pelo assoalho de madeira.

‘Jake’ respirou fundo e soltou o ar, satisfeito.

— Quem iria imagina que os ratos de Atena estariam escondidos aqui, não é mesmo?! — disse o deus, descendo as escadas. — Uma casa simples na cidade de Silkeborg. Procurei vocês em todos os lugares possíveis.

— Phobos?! — disse Shina, furiosa e com os olhos marejados de raiva. — Mas como...

— Como eu encontrei vocês?! Não se sintam traídos. Ela não teve escolha.

— Ela? — perguntou Alec. — De quem você está falando.

Phobos olhou para Alec com os olhos serrados e um sorriso de canto.

— Alec, o traidor. Estou falando de Hestia, a deusa do lar. Parece que ela estava muito apegada a esse rapaz. — disse colocando a mão no peito de Jake. — Ela me deu a localização exata de onde vocês estavam e também outras informações curiosas, como o paradeiro da irmã do pégasos e o de um sobrevivente da rebelião de Saga que estava ajudando Delfos.

O deus percorreu a sala e parou os olhos em Asterion, que estava em silêncio evitando ser notado.

— O antigo cavaleiro de prata de cães de caça, Asterion. Mestre da técnica de Satori. Uma habilidade de compreensão duradoura e profunda sobre a natureza de um indivíduo. Capaz de ler as emoções e a mente através de uma poderosa telepatia. É um grau de iluminação que muitas vezes nem mesmo os deuses possuem.

— Talvez seja a arrogância que impeça. — disse Asterion. — Como você entrou aqui e controlou Jake? Há dezenas de selos protegendo essa casa.

— Não consegue ler a minha mente?!

— Claro que consigo, caso queira. Mesmo estando no Santuário, a sua mente está aberta através da mente de Jake, mas sei que isso é uma armadilha. Como você mesmo disse, eu consigo ler a natureza do indivíduo. Eu leio as intenções antes mesmo de ler a mente. Se eu entrar na sua mente, você irá invadir a minha.

A expressão no rosto de Jake mudou. O sorriso sumiu e ele ficou sério.

— Você é ardiloso, cavaleiro. E achei que saberia responder a sua própria pergunta. A casa pode estar bem protegida, mas a mente do cavaleiro de leão é uma porta escancarada para mim. A luta entre ele e Hugo, o meu berserker, deixou sequelas em sua mente. O medo ficou impregnado nele de uma forma muito intensa. E de acordo com as memorias de Jake, você já deve saber disso. Dos pesadelos que ele veio tendo. Entrar em uma mente assim, tomada por aquilo que eu melhor domino, é extremamente fácil.

— E o que você quer? — perguntou Nachi.

Phobos estalou os dedos e a pressão que prendia eles contra o chão foi sessada.

— Matar vocês, é claro.

— Protejam-se! — gritou Asterion, e todos, exceto ele, vestiram as armaduras materializando-as através do cosmo.

Raios vermelhos crepitaram, acertando Jabu e Shina que foram arremessados contra a parede, e tomaram a casa. Os selos de Atena foram rompidos e a barreira foi cessada.

A maçaneta girou e a porta, que ainda carregava o corpo morto de Plancius pendurado, estava abrindo lentamente. Do outro lado os berserker se atumultuaram para entrar, com suas onyx negras e olhos vermelhos sedentos, mas uma luz dourada brilhou intensamente e a porta foi fechada com um estrondo.

Havia um selo de Atena colado na porta.

— Nenhum berserker dará um passo se quer para dentro dessa casa. — disse Asterion, sério. — Apesar de achar pouco improvável, eu não descartei a possibilidade de sermos encontrados.

Phobos olhou com indiferença para Asterion, mas havia uma ponta de surpresa com a possibilidade deles estarem mais preparados do que ele esperava.

— Está blefando. Vocês estão encurralados.

— Em um momento como esse, não temos tempo para ficar blefando. Ataque de um milhão de fantasmas!!

Asterion multiplicou a sua imagem em centenas de réplicas, tomando todo espaço da sala e cozinha.

— Só pode ser um tolo se acha que essa ilusão fraca irá surtir efeito contra mim. — disse Phobos, disparando uma rajada de cosmo contra as imagens de Asterion, mas nada aconteceu com elas. — Mas... como?!

As imagens de Asterion fecharam um cerco ao redor de Jake e elevaram o cosmo estendendo o braço.

— Essas imagens não passam de ilusões... — disseram as réplicas em conjunto —... então não podem ser atingidas. Nem mesmo por você. Contudo... — a cosmo energia se intensificou e se encontrou na palma da mão deles. — Elas atacam como se fossem verdadeiras. Desculpa Jake. Galáxia Girassol!!

Feixes de luzes douradas foram disparadas e giraram ao redor de Jake, formando uma gigantesca galáxia dourada que se expandiu e rodopiou prendendo-o em um turbilhão de cosmo que se ergueu.

— Suma! — Gritaram as imagens de Asterion.

Houve uma poderosa explosão que tomou toda a casa e a consumiu, erguendo uma coluna de cosmo, chamas e fumaça. Até mesmo os berserker que estavam próximos a porta foram arremessados pelo impacto da explosão.

Em meio aos escombros o corpo de Jake se manteve em pé, sem um mínimo arranhão, protegido por uma barreira de cosmo. Ele olhou em volta e percebeu que Asterion e os demais haviam fugidos.

— Levantem-se! — gritou ele para os berserkers. — Procurem aqueles ratos. Eu quero Asterion e Alec vivos. Os outros podem matar. Vão!

...

— Não guardem as armaduras!! — alertou Asterion, saindo em meio a um pequeno agrupamento de árvores atrás de sua casa. — Podemos ser atacados a qualquer momento.

Ele correu liderando o grupo por um vasto campo de futebol que surgiu logo a frente rodeado por árvores.  O gramado e o céu noturno foi iluminado quando a coluna de cosmo subiu ao céu acompanhado de uma forte explosão que tremeu a área. Se movendo tão rápido quanto a velocidade do som, eles atravessaram o campo e chegaram a uma rua de pedras totalmente deserta e escura. A rua Søndre Ringvej separava o campo e os fundos das casas que ficavam de frente para a rua principal.

— E para onde iremos? — perguntou Alec.

— Jamiel. — respondeu Asterion.

Usando dois selos de Atena, Asterion elevou o cosmo com uma poderosa intensidade, recitou algumas palavras em grego e lançou os selos a sua frente. Os selos estralaram, raios dourados crepitaram e então uma fenda dimensional foi aberta. Do outro lado o sol começava a brilhar em meio as montanhas que separam a China e a Índia.

— Vão! Entrem! — mandou Asterion. — Essa fenda será como um farol para os berserkers. Logo eles chegarão aqui.

Jabu e Shina correram para a fenda, mas pararam quando cosmos hostis os cercaram. Dezenas de olhos vermelhos brilharam na escuridão e se materializaram através das trevas.

No meio de tantos olhos rubros brilhou um par de olhos azuis e em seguida o corpo de Jake se materializou acompanhado por raios vermelhos.

— Tanto esforço, para nada.

— Todo aquele poder... Não causou um arranhão se quer?! — disse Nachi surpreso.

— Vocês, para trás. Agora! — disse Alec, tomando a frente do grupo.

Seu cosmo se elevou e potentes jatos de ar e cosmo foram expelidos do seu corpo, formando uma poderosa tempestade.

— Essa técnica... — disse Phobos. — Eu já a vi antes.

— Se viu e sobreviveu a ela, foi porque quem a aplicou quis poupar a sua vida. Desapareçam!! Tempestade Nebulosa!

Uma poderosa tempestade varreu a área. Jake se manteve em pé sem demonstrar qualquer reação, enquanto os berserkers forçavam os pés no chão para não serem arrastado. Mas a intenção de Alec era outra. Ele ergueu os braços e manipulou a tempestade, arrancando Jabu, Nachi e Shina do chão e arremessando eles em direção ao portal.

— Agora é a sua vez. — disse Asterion, colocando a mão no ombro de Alec. Ele se esforçava para se manter firme.

— Mas o senhor vai...

— A mente de vocês é frágil diante de um deus como Phobos. Vá! Minha função é essa. Proteger vocês e as informações sobre essa guerra. Não tem problema que eu morra aqui. Phobos nunca terá as informações que busca. Agora Vá!

Asterion segurou o braço de Alec e o puxou, jogando-o em direção ao portal, que em seguida começou a se fechar.

— Venham!

Asterion correu em direção a Jake e voltou a se multiplicar, formando dezenas de réplicas. Suas imagens atacaram o ‘deus’, mas Jake se moveu tão rápido quanto os olhos de Asterion poderiam acompanhar e bloqueou cada ataque desferido pelo antigo cavaleiro de prata.

No céu, um aglomerado de nuvens de tempestade rodopiou e um raio vermelho caiu entre os dois, fazendo o chão se desprender. Phobos saltou, ergueu os braços formando uma massa de cosmo envolvida por raios, e disparou contra Asterion que não conseguiu desviar a tempo.

Uma explosão devastadora se espalhou engolindo casas, carros e árvores, abrindo uma cratera. Asterion foi arremessado para o alto junto com o chão que se desprendeu novamente na explosão, e em seguida caiu bastante ferido, formando uma poça de sangue.

— Berserkers!! O que estão esperando. Atravessem o portal. Matem todos!!

— Sim senhor! — gritaram unanimes.

Eles correram e um grupo saltou ao mesmo tempo, mas ao entrarem em contato com a fenda, todos foram pulverizados pelos selos de Atena, restando apenas as onyx vazias no chão. O grupo restante recuou.

Phobos fez Jake segurar Asterion pelo pescoço e o ergueu para o alto.

— Você pagará caro por isso, cavaleiro.

...


Jamiel — Fronteira entre a China e a India — Manhã do 5º dia

— O portal nos jogou para a montanha antes do vale. — comentou Shina, olhando para o caminho tortuoso que cruza o vale até Jamiel. — A barreira de Kiki deve ter nos repelido.

— Onde estão Alec e Asterion? — perguntou Jabu

— Ainda estão lá. — disse Nachi tentando ver através da fenda, mas a Tempestade Nebulosa dificultava a visão.

Segundos depois Alec surgiu através da fenda sendo arremessado por Asterion. Nachi se adiantou e o segurou.

— E o Asterion?

Alec balançou a cabeça em negação, se afastando de Nachi e indo até o caminho tortuoso.

— Ele não vem. Devemos ir até Kiki.

— Está dizendo que ele ficou para morrer? — perguntou Shina. — Isso é estupidez!

— Se um de nós ficássemos lá... Teríamos as nossas mentes facilmente manipuladas por Phobos. Ele não pode ter mais informações. Já basta as que Jake possui. — explicou Alec. — Diferente de nós, Asterion está preparado mentalmente para isso. Ele prefere morrer e levar com ele tudo o que sabe.

— Shina está certa. Isso sim é estupidez. — disse Nachi. — Ele é mais útil para essa guerra do que qualquer um de nós. Vão para o palácio de Jamiel. — Nachi caminhou até o portal e parou a poucos centímetros. — Chamem um dos cavaleiros de ouro.

— O que pensa que está fazendo, Nachi? Afaste-se daí! Agora! — gritou Jabu.

— Quando um lobo está ferido, a alcateia não o abandona. Sigam em frente. Não venham atrás de mim.

— Mas Nachi... — disse Shina. — Se você for pego...

— Diferente de vocês, eu não tenho uma boa memória graças ao Golpe Fantasma que um dia eu recebi do Ikki. Phobos teria muito trabalho para conseguir extrair algo daqui. — disse ele olhando para trás, sorrindo, mas se arrependeu de ter feito isso. Jabu está chorando em silêncio. O amigo sabia que Nachi estava mentindo. Ele estava disposto a morrer. Os músculos do seu rosto e os lábios tremiam. — Adeus meu amigo.

E então ele pulou de volta para o portal.

—...—


Silkeborg, Dinamarca – Noite do 4º dia.

— Vamos voltar ao Santuário. — disse Phobos, estrangulando Asterion. — Temos muito o que fazer nessa sua cabeça.

— Espere, por favor.

Phobos olhou com curiosidade para Nachi que havia voltado para Dinamarca. Ele estava sério, decidido, trajando a armadura de bronze de lobo e elevando o seu cosmo.

— Idiota!! O que veio fazer aqui? — perguntou Asterion, se esforçando para falar e respirar.

Do cosmo de Nachi foi projetado uma alcateia de lobos brancos e cinzentos de olhos vermelhos.

— Salvar você!!

Seu cosmo explodiu com um grito e simultaneamente os lobos uivaram de forma ensurdecedora, emitindo fortes ondas sonoras. O que parecia ser apenas um uivo simples, trouxe desespero aos berserkers mais próximos que rapidamente levaram as mãos aos ouvidos. A técnica não só afetava a audição, mas também o sistema nervoso central, causando uma rápida paralização. Aquele momento lhe daria uma oportunidade única.

Aproveitando a brecha, Nachi se deslocou entre os berserkers em direção a Jake e Asterion junto com uma rajada de cosmo, mas Phobos estendeu a mão e dissipou a técnica. Nachi não se intimidou. Ele continuou o percurso, se esquivou e desferiu um soco no rosto de Jake.

Vendo que a atenção do deus havia sido tomada, Asterion segurou no braço de Jake e o chutou, se libertando e se distanciando do alcance do deus.

— Agora vá!! — gritou Nachi, pulando em cima de Jake e o segurando. — Vá e feche o portal!

— Nachi...

— Não seja sentimental agora!! Vá!!

— Não banque o herói agora, rapaz. — Phobos cravou o punho de Jake no peito de Nachi e com a outra mão ele segurou o pescoço do cavaleiro de bronze. — Como ousa voltar aqui e me atrapalhar? Berserkers! Segurem Asterion!!  

— Fuja!! — gritou Nachi, com suas últimas forças, cuspindo sangue.

Os berserkers avançaram contra Asterion, mas não o alcançaram a tempo. Ele saltou para trás e entrou no portal. O receio de serem transformados em pó fez com que os berserkers recuassem.

— Desculpa, Nachi. — disse ele antes de desaparecer.

Os selos sumiram e o portal foi fechado.

— DESGRAÇADO!!! — gritou Phobos, apertando o pescoço de Nachi com mais força. As unhas rasgaram a pele e começou a escorrer sangue. Ele ergueu o cavaleiro de bronze e desferiu um soco em sua barriga, fazendo ele cuspir mais sangue. — VOCÊ ME FEZ PERDE-LO!! — gritou novamente, enfurecido.

Os olhos azuis se tornaram vermelhos. Phobos girou e arremessou Nachi contra uma fileira de árvores ao longe, provocando um estrondo na medida em que as árvores tombavam. O deus levitou e foi até Nachi rodeado por raios vermelhos.

 — SE VOCÊ ACHA QUE VINDO AQUI IRIA MORRER, ESTÁ ENGANADO!! IREI ME CERTIFICAR DE QUE VOCÊ SEJA TORTURADO ATÉ A MORTE.  VOU LHE MOSTRAR O DESTINO DOS ‘HERÓIS’.

O corpo de Nachi, agora mais ensanguentado e quase inconsciente, voou até Phobos. O deus girou o corpo de Jake e aplicou um chute que dessa vez arremessou Nachi contra uma fileira de casas.

 VÃO ATRÁS DELE E LEVEM-NO AO SANTUÁRIO. SE EU NÃO OUVIR OS GRITOS DESSES DESGRAÇADO DURANTE O RESTO DA NOITE, EU MESMO IREI TORTURA-LOS.

— Sim senhor!! — disseram unanimes.

Raios vermelhos crepitaram em volta de Jake e seu corpo sumiu, rumo ao Santuário.

—...—


Atlântida — Palácio, centro do país

Ares atacou com sua lança, mas Poseidon se defendeu com um escudo de cosmo projetado instantaneamente e atacou com seu tridente. O deus da guerra jogou o corpo para trás, vendo a arma divina passando rente ao seu rosto.

Aproveitando que o deus da guerra deu um passo para trás, Poseidon girou sua arma na mão e desceu contra Ares, mas o deus da guerra desviou, fazendo o tridente acertar o chão do palácio e abrir uma fenda, e em seguida atacou, tendo sua lança interrompida novamente pelo escudo de cosmo. Ares pressionou, tentando romper, mas Poseidon não se abalou e começou a empurrar Ares para trás.

Vendo o deus da guerra pressionado, Poseidon girou e atacou. Ares quicou para trás, fugindo do alcance da arma, e girou seu corpo, bloqueando o tridente com a lança e atacando mais uma vez.

Dessa vez o escudo de Poseidon trincou. E vendo isso o cosmo de Ares se elevou para dar mais impulso ao seu golpe. Chamas romperam da lança e a ponta cravou mais alguns centímetros.

Ao perceber que o deus da guerra estava apontando a lança para o seu coração, Poseidon reagiu. Ele preparou sua arma e disparou contra Ares, que se viu obrigado a desviar para trás. Mas nesse momento Poseidon cometeu um deslize. Com a guarda exposta, Ares não perdeu a oportunidade de ferir seu oponente. A lança sangrenta foi arremessada. O escudo surgiu novamente, mas dessa vez ele foi partido em pedaços. A lança atravessou o bloqueio e atingiu o peito esquerdo de raspão, danificando a escama. 

— Na próxima eu não vou errar. — disse Ares, garantindo sua precisão. A lança voltou para sua mão.

— Não haverá uma segunda oportunidade como essa.

Ares avançou. Ele brandiu a lança, dando um passo de cada vez, enquanto Poseidon se defendia com o tridente dando passos para trás. As pesadas batidas continuavam a emitir um som alto como trovão, ecoando por todo o país.

Ares ameaçou descer com a lança mirando partir o deus dos mares ao meio, mas Poseidon saltou, e ao ver que a lança ficou cravada no chão o deus retornou, pressionando ela com os pés.

— O seu fim chegou. — declarou Poseidon, aplicando um soco no rosto de Ares, que se afastou da própria lança. O deus dos mares mirou o peito do deus da guerra. — Mandarei seu corpo para a Grécia!  

— Não seja presunçoso. — disse Ares, sorrindo com desdém.

O tridente seguiu o percurso, mas Ares saltou para trás, dando uma cambalhota. Poseidon avançou. Ares girou em seu próprio eixo e aplicou um chute, que foi bloqueado pela haste do tridente, mas isso não impediu de Ares pousar e girar novamente para uma sequência de chutes, obrigando Poseidon a recuar enquanto bloqueava os ataques. Um dos chutes atingiu o deus do mar no rosto, arrancando seu elmo.

Com Poseidon distante, Ares pisou na sua lança, que girou e ele a agarrou no ar.

— Poderoso, mas tolo. — disse o deus da guerra. — Um dos seus irmãos já foi destronado. O outro está desaparecido. Você ainda se mantem aqui como um parasita resistente, mas já está na hora de você também sair de cena. Uma nova tríade deve ser formada.

— Já terminou de relatar os seus delírios? — perguntou Poseidon. — Não tenho tempo para escutar os fetiches de um deus jovem sanguinário.

Poseidon ziguezagueou e atacou. Com mais agilidade, com mais brutalidade e com mais cosmo. Um cosmo tão grande que é capaz de cobrir todo o planeta. Uma demonstração do real poder de um deus. Ares bloqueou os ataques e também atacou, mas entre eles existia uma nítida diferença de cosmo.

O deus dos mares ergueu seu tridente para um ataque, ficando exposto, e Ares achou oportuno atingi-lo mortalmente nesse momento, mas o que o deus da guerra não esperava era ser atingindo por um pilar de raios que desceu do teto.

Ares foi tomado pela poderosa descarga elétrica e foi arremessado contra uma sequência de pilares, fazendo uma parte do teto cair sobre ele.

— Por um breve momento eu pensei em mata-lo, mas vou fazer como prometi. Lhe darei uma punição e permitirei que retorne para Grécia.

— Está se acovardando? — perguntou Ares, levantando-se dos escombros. Seu rosto estava machucado e sujo de ikhor, e seus braços estavam marcados com escoriações.

— Na ausência de Atena, eu geralmente me empenho para proteger a Terra caso o Santuário não consiga dar conta ou recorra a minha ajuda. Mas nesse seu caso, eu não preciso fazer isso. Atena está para voltar do Tártaro, não é? Quantos dias faltam? Cinco? Quatro? É por isso que você quer tanto as entranhas do Ofiotauro. Você sente que vai perder. E isso é algo que você pode ter certeza de que irá acontecer.

— Não me confunda com você ou com o seu irmão. Eu fiz o que vocês dois nunca fizeram. Atena foi morta e lançada ao tártaro!! — gritou o deus, e atacou.

Poseidon disparou outra rajada de raios que rompeu entre eles, bloqueando Ares e lançando o deus para trás. 

— Não porque você fez, pelo que eu fiquei sabendo. Tem um humano manipulando tudo. Inclusive você.

Ares abaixou a cabeça, sorrindo, e segurou firme na lança. Seu cosmo se elevou. Um vermelho sangue em chamas. A sua aura mudou. Seu cosmo estava crescendo de forma violenta.

— Eu... Não sou um deus... — lentamente ele ergueu a cabeça e fitou Poseidon com ir a. — que é manipulado por um mortal!!

A lança foi tomada por chamas e uma rajada de cosmo flamejante foi disparado. Poseidon ergueu o tridente e uma onda rompeu o teto e caiu diante do deus, bloqueando o ataque. Mas não bloqueou o próprio deus que também havia avançado, cruzou a cascata de água e surgiu diante de Poseidon com a lança ainda tomada por chamas.

— Isso acaba aqui!! Alala!! — Ares gritou o nome da deusa

O cosmo da lança se ampliou e a lâmina sangrenta brilhou. Poseidon estendeu seu tridente, mas Ares zombou. Um sorriso sádico se abriu, e seus olhos ficaram arregalados de tenta euforia.

 Não adianta!! Nem mesmo a sua grandiosa autoridade pode bloquear o trajeto da minha lança.

— Deus tolo.

A lança atravessou o corpo de Poseidon, que se desfez em água e se materializou em um outro ponto.

— Você acha que eu sou ingênuo, Ares?! Sua arma secreta não é novidade para mim. Eu lembro dessa pequena deusa que lhe acompanha.

Ele saltou, erguendo o tridente para o alto. O chão em volta do salão tremeu e rachou, e através da rachadura fluiu rios de água cristalina, subindo em direção ao deus do mar e se concentrando acima dele.

— Eu lhe avisei!! Você está em desvantagem!

Poseidon estendeu o tridente em direção a Ares, que se viu preso dentro de um domo erguido pelo deus do mar. Uma poderosa rajada de cosmo desceu contra o deus, que em um último ato disparou um contra-ataque. Uma segunda rajada poderosa subiu ao céu e colidiu com a força do tridente.

Entre os dois deuses havia uma massa crescente de cosmo colidindo e oscilando. Uma força esmagadora que fazia toda Atlântida tremer e provocava altas ondas nos oceanos.

— Você quer mesmo continuar com isso e afundar sua cidade só para me deter?

— O que eu quero mesmo é arruinar sua autocracia ilusória, mas isso não cabe a mim.

Poseidon desviou pela direita, fazendo algo que Ares não esperava, e atacou. A massa de cosmo se desestabilizou e explodiu no momento em que as armas rangeram e os dois se cruzaram. Metade do teto do grande salão veio a baixo.

— Deveria ter mantido distância. — disse Ares, em tom de ameaça, ao passar por Poseidon.

Quando o deus do mar se virou, Ares já estava voltando com um novo ataque, que foi bloqueado, mas novamente ele girou e atacou, e mais uma vez Poseidon se defendeu. Em um dos encontros o deus dos mares se esquivou, girou e aplicou um chute que lançou Ares para trás.

O deus da guerra rasgou o chão com os pés na tentativa de parar e se estabilizar. E quando ele olhou para frente, Poseidon havia sumido. Inesperadamente a presença imponente e poderosa do deus dos mares surgiu em suas costas, deixando Ares imobilizando de tanta surpresa. Antes que o deus da guerra se virasse, Poseidon rasgou as costas de Ares com o tridente e disparou um golpe que arremessou o deus para o outro lado do salão. Caindo nas escadarias que leva até o trono.

— Volte para Grécia. Leve com você os seus deuses subordinados e não ouse pisar em meu território. Espere Atena voltar do Tártaro para que possa ser derrotado de uma vez. — ordenou Poseidon.

Ares gargalhou. Sua risada ecoou pelo salão e corredores. Era o reflexo da insanidade e violência.

— Você fala demais, Poseidon. — Ares se levantou. Havia ikhor escorrendo pelas escadas. — Eu sou Ares, o senhor da guerra. Eu não saio de uma luta assim. Me vença ou morra.

Ares sumiu em meio a chamas e rompeu o ar diante de Poseidon. Ele agora não estava armado com sua lança, mas sim duas espadas gêmeas. Uma em cada mão. Ele atacou, fazendo o deus dos mares dar um passo para trás. Poseidon tentou ataca-lo, mas Ares desviou, girou e voltou a atacar.  Ainda de costas Poseidon olhou para ele por cima do ombro e girou a haste do tridente para bloquear a espada.

Ares saltou para trás, tomou impulso e avançou. O tridente desceu para parti-la ao meio, mas o deus da guerra bloqueou a arma divina cruzando as duas espadas.

— Queime!!

Círculos de fogo surgiram das espadas gêmeas e foram disparadas, formando poderosas labaredas que derreteram o piso durante o percurso. Poseidon acabou sendo lançado contra um pilar e perdeu o tridente, que escorregou para longe do seu alcance.

Ares então correu, uniu suas espadas formando novamente a lança divina, elevou o cosmo em chamas e disparou a arma contra Poseidon. O deus não teve tempo para reagir, um segundo tridente surgiu e colidiu com a lança de Ares.

O segundo tridente foi partido ao meio, nada poderia impedir que ela continuasse, mas a lança acabou tendo seu trajeto minimamente alterado e errou o alvo por poucos centímetros. A arma ficou cravada no chão, raspando a escama que protege a lateral do peito do deus dos mares.

— Dois contra um não é uma luta justa, não acha? — perguntou Tritão, na porta do grande salão.

Ele estava trajando sua nova escama azul, que foi modificada durante o confronto com Anteros. Seus cabelos prateados com azul estavam bagunçados e seus olhos verdes como alga marinha estavam tomados por um cosmo azul vivo.

— Tritão?!

— Olá pai!

— Não esperava promover uma reunião familiar. — disse Ares com desdém. Sua expressão mudou, ficando mais sério. — E você me atrapalhou, rapaz.

— Vamos lutar dois contra dois, afinal, se eu ouvi bem... Como é que ela se chama mesmo?! Alala?! — uma lança azul esverdeada surgiu na mão de Tritão.

— Tá na hora de encerrar essa guerra em Atlântida. — disse Poseidon.

Tritão se moveu para um ataque. Tão rápido quanto o brilho de um raio, ele ziguezagueou no salão, riscando o piso com sua lança na medida em que se movia. Liberando faíscas.  Até que ele saltou em direção a Ares, mas o deus parou a lança com apenas uma mão, girou e chutou Tritão para longe, que deu uma cambalhota e pousou.

— Ao contrário do seu pai, você não é rival para mim. Não se intrometa. — Ares apontou a lança para o deus dos mares. — Poseidon!! Venha para morrer. Assim tomarei seu trono e governarei a Terra e o Mar. Depois matarei seu povo como punição pela sua tolice. Deveria ter me entregado o ofiotauro.

 Poseidon bateu o tridente com violência, provocando um forte tremor de terra.

— Você fala demais, Ares. A sua ambição lhe cegou. — disse o deus, com o cosmo se elevando intensamente. — Darei a última punição e lhe expulsarei daqui. Deixarei o resto para que Atena resolva. Contudo... — Poseidon jogou seu tridente no chão. — Sem armas.

Ares gargalhou.

— Ora, ora. Quanta coragem. — Ares também lançou a arma divina no chão. — Venha!

Poseidon saltou e depois desceu com uma investida, aplicando um chute. Ares saltou para trás e o deus dos mares acertou o piso, abrindo uma cratera. O deus da guerra então atacou, desferindo um soco no rosto do deus dos mares. Mas antes que ele se afastasse, Poseidon o segurou pelo braço e o girou, arremessando-o contra um pilar.

Ainda no ar, Ares girou e pousou no pilar, sorrindo maliciosamente.

— Não vai acontecer de novo. — disse ele, e pegou impulso.

Os punhos de ambos os deuses se encontraram e se chocaram, liberando rajadas de cosmo. Poseidon recuou, mas Ares avançou girando com um chute. O deus dos mares foi pego, lançado para a lateral do salão, mas ele se equilibrou e pousou rasgando o solo até parar em um pilar.

Poseidon então agarrou a estrutura, e com uma enorme força ele a arrancou e lançou com facilidade contra Ares. O deus saltou, correu sobre a estrutura e desceu contra Poseidon, que já subia em direção a Ares com o punho cerrado. O golpe foi certeiro, fazendo Ares cuspir sangue. Desnorteado, Ares foi pego por Poseidon, que o segurou pela cabeça e o chocou contra o chão.

O tridente então voou para a mão do deus dos mares e Poseidon apontou para o pescoço do deus da guerra. Ares tentou chamar a sua lança, mas Poseidon pisou em sua mão e forçou o tridente contra o corpo do deus.

— Eu disse. Eu poderia mata-lo aqui, mas isso caberá à Atena quando regressar do Tártaro. — os riscos que Tritão havia formado no piso, brilhou em um azul intenso, formado um gigantesco tridente. Dos riscos saíram feixes de água, dando mais forma ao símbolo dos Imperador dos oceanos. — Regresse para a Grécia e espere a sua queda. — As palavras de Poseidon ecoaram por toda Atlântida — Na batalha final, enviarei reforços para o exército de Atena. Graças a você e o sacrifício do cavaleiro de Aquário que lutou por Atlântida, uma simbólica aliança foi forma neste século entre Atena e eu.

Poseidon se afastou e saiu de dentro do perímetro do tridente. Ares se levantou, agora segurando a sua lança, mas não conseguiu passar pela parede de água.

— Ouça bem as minhas palavras, Poseidon. Eu nunca desisto de uma guerra. Eu juro que um dia voltarei e guerrear contra você, e nesse dia Atlântida terá o maior derramamento de sangue de toda a história. — um pilar de cosmo se ergueu, lançando Ares para o alto. — Eu matarei todo o seu povo e mancharei suas águas sagradas com o sangue de toda a sua dinastia!!

A coluna de cosmo passou pelo teto do salão, pela cúpula que protege Atlântida e pelas águas do oceano, abrindo um portal através do véu até o mundo dos humanos.

...

— Terminou. — disse Dionísio, encerrando sua música. A flauta de sua Kamui se desfez em cosmo, e ele se levantou. — Ares foi derrotado em Atlântida e Poseidon o expulsou. Também tenho que ir.

Dionísio passou por Schönheit, que respeitosamente curvou a cabeça para o deus. O deus do vinho então parou.

— Algum problema, senhor? — perguntou Schönheit.

— Você ouviu as palavras de Poseidon. Ele irá enviar alguns de vocês para o Santuário. Eu ficaria feliz em revê-lo, capitão, mas espero que você não vá, caso contrário a sua morte será cobiçada por ambos os lados.

...

— Com Ares e seu exército expulso dessas águas sagradas... — Anfitrite tomou novamente uma das lanças das nereidas e apontou para o coração de Draco, que ainda estava preso no coral. — Sua existência aqui também será encerrada.

— Hoje não, minha bela rainha das nereidas. — disse Dionísio, surgindo ao lado de Anfitrite e tocando na lança, que foi reduzida a cinzas. — Sinto muito, mas eu tirei que leva-lo. — com um estralar de dedo o coral foi desfeito, libertando Draco. — Terá outras oportunidades para mata-lo.

— Dionísio...

— Não vamos permitir que fuja. — gritou uma das nereidas, e as demais a acompanharam, avançando e apontando suas lanças para o deus.

Dionísio olhou para elas com bondade, mas seus olhos verdes brilharam e uma onda de cosmo arremessou todas elas para longe.

— Eduque-as melhor, Anfitrite. — disse o deus com um leve sorriso. — Elas devem aprender a ter modos. 

— Já está de partida, Dionísio?! — perguntou Chrysaor, descendo em uma quadriga puxada por quatro hipocampos, liderando os demais marinas montados nas mesmas criaturas.

— Adoraria ficar para as comemorações, mas sinto dizer que tenho que ir. — disse o deus, que apesar de parecer irônico, estava sendo sincero. — Licença.

Dionísio tocou no braço de Draco e ambos desapareceram, restando apenas uma doce fragrância de vinho.

—...—


Tártaro — Palácio de Oberon

O salão era retangular e fracamente iluminado. Velas flutuavam no alto teto, tão alto e escuro que mal dava para o seu fim, desenhando sombras que mais pareciam demônios espreitando na escuridão. Na parede de fundo havia um grande espelho pendurado na parede em uma moldura dourada. 

No centro do salão, havia uma comprida mesa de mármore com apenas dua cadeiras. Uma no lado direito e outra na cabeceira, a qual estava ocupada por um homem jovem e de beleza encantadoramente obscura. Seus cabelos eram da cor do ébano e sua pele tão branca que o fazia ser pálido. Seus cílios eram pretos e volumosos, seus olhos eram encantadoramente azuis e seus lábios eram vermelhos. 

Ele vestia uma camisa e uma calça social, ambas pretas e ajustadas ao seu corpo forte. Sentado em postura ereta, ele estava se servindo de um pequeno banquete posto na cabeceira da mesa. 

— Oberon... Eles chegaram. — disse uma voz grave e ecoante. — Estão a poucos metros da entrada do palácio.

Oberon pousou o garfo lentamente no prato.

— E o senhor veio aqui pessoalmente para me avisar? 

O deus da escuridão olhou para trás e viu a alma de Hades diante do grande espelho contemplando uma falsa imagem. A imagem do seu antigo receptáculo mortal. 

— É um grupo pequeno, mas não os subestimem. Você já fez isso demais. — alertou Hades. — Você teve todo esse tempo para matar Atena e aquele humano, mas prefere fazer um jogo com o Pégasos e os outros. Isso resultará em sua queda caso não tome cuidado.

Oberon limpou a boca e se levantou. A beleza do deus era inegavel. Tão belo quanto o seus pais.

— Não tenho com o que me preocupar. Harpias!! — gritou o deus, e logo duas subordinadas apareceram entrando no salão. — Avisem a Ápis e os demais. Eles chegaram. E mandem ela aguardar o Pégasos. Ela irá para-lo. 

— E o que você pretende com tudo isso? — perguntou Hades.

— Talvez seja o meu exército que Ares verá saindo pelas Portas da Morte daqui a algumas horas. — respondeu Oberon.

—...—


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Notas finais do capítulo

Grupo da fanfic no facebook: https://www.facebook.com/g roups/562898237189198/

Nesse grupo você acompanha o lançamento dos capítulos e ainda tem acesso ao perfil e histórico de alguns cavaleiros.

Contato: 81 97553813

Próximo capítulo: Capítulo 58 - Aquele nascido do sangue da medusa

Sinopse: Um touro corrompido surge para impedir o avanço do grupo com exceção de Seiya, que estranhamente tem permissão para passar. A tourada dourada cruza o terreno obscuro do Tártaro e colide com uma defesa que se compara a uma grande parede ferro, quase impossível de atravessá-la. No interior do palácio, Seiya se depara com uma mulher que está decidida a para-lo. Em Jamiel, a deusa celestial Suzaku surge para transmitir a vontade de Shiryu.

Data de publicação: indefinida

Oi oi gente ^^ 62 dias depois, capítulo novo ♥ Finalmente TÁRTARO. Tava com saudades de trabalhar com o grupo de Seiya (principalmente Henry). Tem MUITA coisa bacana para acontecer nos próximo capítulos.

Como vocês já sabem, a critica de vocês é sempre bem vinda e fundamental para a história. Motiva bastante a escrever e caprichar. Estou bastante empolgado com esse novo e ultimo arco.

Beijos e abraços.



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