A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 61
Capítulo 56 — Guerra em Atlântida: Poseidon


Notas iniciais do capítulo

A guerra em Atlântida chega em sua reta final. Em meio a luta entre Anfitrite e Ares, o deus da guerra revela o seu verdadeiro objetivo. Quando o cerco em sua volta se fecha, um cosmo poderoso se ergue no palácio convidando Ares para uma luta final. O Imperador dos Mares acordou.

Longe dali, um novo berserker surge em busca de Seika, a vinda de um semi-deus é anunciada e Phobos desperta por completo.

Faltam 5 dias para Atena regressar do Tártaro.



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Capítulo 56 — Guerra em Atlântida: Poseidon


Atlântida – 1º distrito

Ares e Anfitrite haviam entrado em confronto após a morte de Deimos. Armado com sua lança, Ares atacava com fúria e maestria. Algo já esperado de um deus da guerra sanguinário. Mas o que mais surpreendeu foi a destreza de Anfitrite armada com seu tridente e escama dourada.

A deusa das nereidas manejava a arma e lutava com pontual agilidade. Desviava nos momentos exatos, e atacava de forma precisa. Mas duelar com o deus da guerra não era tão fácil. Ares é perito em combate, seja ele armado ou não. Os músculos do deus estavam rígidos. Seus olhos vermelhos estavam vidrados devido a adrenalina do confronto. Seu curto cabelo castanho se agitava com o frenesi da batalha. 

— Deveria ter ficado sentada no seu trono!!

— Ficar sentada vendo você consumir o meu país com essa sua carnificina doentia e desenfreada? Eu não sou esse tipo de mulher! Se achou que ao chegar aqui iria encontrar uma mulher submissa aos seus caprichos, está enganado. Não sento naquele trono de forma simbólica. Eu assumi a segurança de Atlântida! 

A lança de Ares voltou a se transformar em uma espada rubra no momento em que ele girou e se defendeu do tridente de Anfitrite. Os choques das armas geravam fortes batidas e liberavam ondas de cosmo. Os edifícios gregos ao redor estavam marcados por consequência da luta. O que antes era uma rua de altas construções semelhantes a templos, agora era um monte de ruínas. O primeiro distrito estava sendo reduzido a um rastro de destruição. Uma mancha escura em Atlântida. 

Em um dos encontros, Ares desviou da arma da deusa, se teletransportou para a sua lateral e aplicou um soco no peito dela. Anfitrite se inclinou para frente quando foi acertada e foi arremessada para o final da rua, colidindo brutalmente com um monumento semelhante a um obelisco.

— Senhorita Anfitrite!! — gritaram as nereidas.

O cosmo de Ares liberou algumas rajadas e o chão ao seu redor foi esmagado pela potência do seu poder. Ele flexionou os joelhos e saltou, indo de encontro com Anfitrite ainda caída. Mas no meio do percurso ele foi atacado por dezenas de lanças disparadas pelas servas da deusa.  Ares girou no ar e brandiu sua espada se defendendo, lança por lança. Ele estendeu a mão para as outras lanças que iam ao seu encontro e as dominou, fazendo com as armas se voltassem contra as nereidas. Dezenas de guerreiras foram abatidas com uma lança cravada no coração.

— Mulheres tolas. — disse o deus pousando, olhando para as nereidas por cima do ombro. Ele apertou firme no cabo de sua espada, estava pronto para disparar um golpe que partiria as nereidas restantes ao meio, mas sua atenção voltou-se para Anfitrite que estava se levantando. — O que está fazendo? Vai realmente voltar a lutar?

Anfitrite flexionou os joelhos e se moveu, deixando um rastro de cosmo em seu percurso. Ela passou por Ares e parou lado a lado. E como se fosse em câmera lenta, com seus longos cabelos verde-oceano pairando ao seu redor, ela olhou de lado para o deus.

— Eu já estou em pé, mas você já está pronto para cair?

Ela atacou com seu tridente e Ares se defendeu com sua espada. A forte batida gerou uma explosão cósmica que afundou o chão e arremessou as nereidas e o terceiro almirante para longe, colidindo com as colunas dos prédios em ruínas. Ambas as divindades deram passos para trás, apertaram a mão em suas armas e atacaram novamente.

O tridente de Anfitrite se moveu como uma extensão do seu braço. Ela girou mirando a lateral de Ares, e liberou uma rajada de cosmo em seu ataque. O deus se defendeu, mas não esperava que fosse ser empurrado para trás. Ele deu um mortal no ar e pousou, mas a deusa já estava em cima dele e o acertou no rosto com um soco.

Ares tentou segura-la pelo braço, mas Anfitrite foi mais rápida e se moveu para as costas do deus, aplicando um chute. Ares foi jogado, mas se segurou cravando a espada no chão, girou no cabo e aplicou um chute no rosto da líder das nereidas, fazendo ela cuspir sangue.

Furiosa, Anfitrite foi de encontro ao deus, mas só bastou um sorriso sádico de Ares para que a deusa perdesse a confiança do seu ataque e se desequilibrasse. Ares avançou e bloqueou a arma divina da deusa. Eles enrijeceram os músculos do braço e colidiram com firmeza. Agora estavam em igualdade.

— Desista Ares!!

— Siga seu próprio conselho, mulher. Por mais que você saiba lutar e tenha a coragem de vir armada para me enfrentar, o campo de batalha não é o seu lugar.

Ares empurrou a espada para cima de Anfitrite, mas a deusa fixou os pés no chão e sustentou a colusão.

— Pare de brincadeiras, Ares! — Disse uma voz vindo da superfície. — Você não tem tempo pra isso e Anfitrite não é do tipo de mulher que desiste por causa de ofensas toscas. 

 Um cosmo vermelho-vinho cruzou a barreira de Atlântida e caiu como um meteoro a poucos metros de onde os dois deuses estavam. O deus do vinho surgiu segurando a flauta verde-dourada de sua Kamui.

— O que faz aqui, Dionísio? — perguntou Ares.

— Dionísio?! — disse Anfitrite surpresa.

— Olá Anfitrite. Você continua bela, igual a sua mãe. — disse o deus com um tom formal, cumprimentando uma antiga conhecida, e virou-se para Ares. — Não tenho mais o que fazer na superfície. Deimos está morto e Éris logo será derrotada. Hyoga de Aquário está lutando com ela nesse exato momento. Faça o que tem que fazer antes que...

Um estrondo vindo da superfície abalou Atlântida como se fosse um pequeno terremoto. Pouco tempo depois um segundo abalou trovejou.

— Seja tarde demais. — completou o deus do vinho.

— Esse estrondo... Foi provocado pelo Tridente de Poseidon!! — disse Anfitrite, reconhecendo o poder da arma divina.

— O segundo abalo foi resultado do confronto de Éris e Hyoga. — disse Dionísio. — Os cosmos de ambos estão diminuindo. Ares! Não temos tempo. Pegue e vamos embora!!

— Pegar? — Anfitrite franziu o rosto com estranheza. — O que você veio pegar aqui em Atlântida?

Ares elevou o cosmo, suprimindo o de Anfitrite, e com a mão livre ele segurou no tridente e o afastou a força.

— Você acha que eu viria até aqui para tomar um país de covardes que se escondem no fundo do oceano? Destruir Atlântida é só uma diversão a parte. Seus marinas não servem nem mesmo para serem escravos. Eu vim aqui buscar a criança que me concederá a vitória através de suas entranhas. — respondeu o deus, com tom de voz alterado.

Ares aplicou uma cabeçada na deusa, deixando-a desnorteada, e em seguida tomou o tridente da sua mão e aplicou um soco que lançou Anfitrite para trás, fazendo-a colidir em uma coluna que desabou junto com ela.

— Draco!! — gritou o deus. — Você já teve tempo suficiente. Achou a criança?

— Não senhor! — respondeu o deus dragão no alto de um edifício. Seus olhos dourados em forma de fenda percorriam Atlântida como se fosse uma serpente cega procurando um sinal de calor corporal. — Mas é quase impossível que consigam esconder totalmente o cosmo que essa criança provavelmente emana.

— Então só tem uma maneira de encontrar. Incendei tudo. Queime os três distritos! Queime o palácio! Queime Atlântida! Depois é só esperar Anfitrite e as nereidas correrem para salva-lo. Ou salva-la. Se não vão me entregar a criança, então eu matarei todas até que reste apenas uma.

Um par de largas asas vermelhas de dragão romperam das costas de Draco em meio ao seu rugido. Com um pesado bater de asas, o deus dragão voou. O corpo do deus iniciou seu processo de mudança. Sua onyx passou de verde para vermelho sangue e se fundiu ao seu corpo como uma grossa pele escamosa de dragão. Seu corpo cresceu e se transformou em um gigantesco dragão rubro.

Draco pousou de forma desastrosa atrás de Ares. Sua calda espinhosa varreu dezenas de casas. Sua grande cabeça, passando pela lateral do deus da guerra, parou a poucos metros de Anfitrite.

 — Algo tão medonho assim só poderia ter nascido da relação de um deus sanguinário com uma deusa indecente. — As palavras de Anfitrite estavam carregadas de nojo e repulsa.

— Está cara a cara com a morte e mesmo assim é estupida. Você parece ser corajosa, rainha das nereidas. — disse Draco. Sua voz era rouca e forte, e sibilava como uma grande serpente. Seus olhos dourados em chamas fitavam Anfitrite com o desejo de devora-la. — Mas eu sinto o cheiro de medo vindo de você. Talvez seja apenas uma tola que fala demais.

— Quem deveria sentir medo é você. — disse Anfirtrite, em tom de ameaça. — Você está no fundo do Oceano. Basta eu desfazer a barreira para que você morra afogado e suas chamas sejam apagadas.

— Tem certeza? — disse Draco, gritando com desdém. — Olhe bem para o meu peito, falsa deusa, e repita essas palavras novamente!! — Ele ergue seu longo pescoço e mostrou uma marca negra em forma de tridente dada por Ares e Anteros. — Desfaça a barreira se quiser. Eu não morrerei. Essa era a sua vantagem maior? Mesmo que os oceanos desabem sobre nós, Atlântida não deixará de queimar. 

— Chega de conversa Draco! Vá!

Draco abriu suas asas e voou. Seu tamanho e seu peso quase derrubaram a construção em que ele pousou. O fogo ardeu em sua garganta e em seguida foi expelido em uma poderosa rajada. Ele bateu as asas novamente e voou disparando chamas e destruindo tudo por onde passava.

— Anfitrite, e vocês também nereidas, se amam o seu país, digam-me onde está a criança!! Onde está a criança que trás consigo as entranhas do Ofiotauro?!

A expressão súbita e os olhos perturbados das nereidas deram a Ares a certeza que ele precisava. A lenda era verdadeira. O animal sagrado de Poseidon estava ali, na forma de uma criança, e ele precisava encontra-lo.

—...—


Oceano primordial do Atlântico Norte — Outro lado do véu 

Por um momento houve silêncio no oceano. As águas se acalmaram e o vento já não soprava forte como antes. Todos olharam surpresos para o resultado daquela batalha. Éris foi novamente selada e não voltará a Terra nos próximos duzentos anos, já Hyoga, ele caiu morto trajando a armadura divina de cisne.

Os deuses Anteros e Tritão, que ainda duelavam, saltaram para trás, tomando distância um do outro, para ver a cena de um lendário caindo e de uma deusa subindo aos céus. Anatole, que observava os combates em um dos navios de Ares junto co os demais berserkers, não escondeu a expressão de satisfação. Cunning, Chrysaor e os outros marinas lamentaram a perda, mas agradeceram pelo sacrifício. Dois deuses aliados de Ares haviam caído, e agora só restava os poucos berserkers do exército do Terror.

— Dionísio se retirou. — disse Chrysaor para Tritão através do cosmo. — Mas sinto seu cosmo ainda nessa dimensão. Ele deve ter ido até Atlântida ajudar Ares. Você também deve ir para ajudar Anfitrite.

Tritão olhou para o irmão por cima do ombro. Ele estava sob os cuidados de Cunning, a Almirante do segundo distrito, deitado em cima dos escombros de um navio ainda preso na camada de gelo que foi formada por Hyoga.

— Primeiro eu preciso derrotar Anteros. É o único deus que resta e é perigoso. Você ainda não tem condições de lutar. O ikhor ainda está curando os seus ferimentos. Cunning e os outros marinas seriam presas fáceis para ele. — respondeu Tritão.

— Então acabe logo com isso. — disse uma segunda voz, grossa e firme.

Tritão olhou para Chrysaor com os olhos arregalados, mas o irmão enrugou o cenho sem entender a expressão de espanto. Apenas Tritão estava ouvindo aquela vez. A voz veio acompanhada por um cosmo grandioso, falando diretamente na sua mente.

 Lembre-se de quem você é, da arma que você carrega na mão e de onde você está. É vergonhoso ser submisso e derrotado em seu próprio território.

Com os olhos ainda arregalados, naquele momento Tritão sentiu o seu corpo inteiro estremecer. Não por causa do cosmo imponente que aquela voz trazia consigo, mas por causa de quem ela pertencia.

— Essa voz... Esse cosmo... Pai?!

— Ares está maculando esse território sagrado que não é manchado com sangue desde a era mitológica. O sangue do meu povo não deveria ser derramado novamente neste lugar. Saímos do mundo humano para livrar os Atlantis do sofrimento, mas vidas inocentes estão sendo encurraladas e outras foram sacrificadas. — O tridente brilhou e vibrou na mão de Tritão e um cosmo poderoso se elevou. O cosmo de Poseidon.  — Você tem na mão o poder, a autoridade e o dever de expurgar o mal que assola o nosso mundo. Exerça a sua autoridade e expulse eles daqui!!

Tritão segurou firme no tridente e levou o seu cosmo, unindo-o ao cosmo que a arma divina emanava.

— O poder, a autoridade e o dever...

— O que disse? — perguntou Anteros, franzindo o cenho vendo Tritão segurar com firmeza o tridente.

— Eu vou expulsar vocês desse mundo!!

Tritão ergueu o braço apontando a arma para o céu, disparando um raio de cosmo azul para as nuvens, e o raio brilhou entre elas, transformando-as em pesadas nuvens de tempestade que rugiam com poderosos trovões. Elas começaram a se mover de forma incomum. Começaram a girar ainda no firmamento, formando um redemoinho, e no centro dele raios azuis crepitavam e um portal começou a ser aberto.

A luz da lua brilhou através do redemoinho mostrando que uma fenda dimensional foi aberta para o mundo dos homens. A passagem estava ficando cada vez mais larga, e agora dava para ver a paisagem do outro lado. As montanhas e a luminosa capital da Grécia estavam de cabeça para baixo. Os dois mundos eram literalmente opostos entre sim.

— Essa cidade... É Atenas!! — disse Anteros.

— Exatamente! Essa passagem irá levar vocês de volta para lá. Se não quiserem morrer, saltem em direção a fenda e se retirem de bom grado. Pouparei o meu povo da infelicidade de ter os cadáveres de vocês apodrecendo nessas águas sagradas.

—...—


Japão, região de Kanto, província de Chiba —Noite do 4º dia

— June... O Tatsume... — Seika estava apreensiva. — Estou com medo de que algo tenha acontecido com ele.

Ela estava sentada no banco de trás de um Bugatti Chiron preto, agarrada com o sinto de segurança, enquanto June pisava no acelerador. O ponteiro marcava 300km/h. Para Seika tudo era um borrão através da janela, mas para June, que se move e enxerga na velocidade do som, tudo continuava nítido do lado de fora.

— Não repita essa palavra, por favor. Afaste esse sentimento da senhorita. Isso é como um farol para os berserkers. E não se preocupe! Tatsume e eu estávamos cientes de que um dia isso poderia acontecer. Quando aceitamos a missão de cuidar da senhorita, tentamos de tudo para mantê-la em uma vida mais normal possível, mas... Talvez tenhamos falhado nisso.

— Do que você está falando? — perguntou Seika, confusa.

— Quando o Grande Mestre me enviou para cuidar de você, ele ordenou que eu apenas a auxiliasse em sua vida cotidiana, fazendo a sua guarda secretamente, sem alterar as suas atividades. Mas quando a guerra estava para começar, ele pediu para que Tatsume e eu levasse a senhorita para Quioto. Para um refúgio fortemente selado e vigiado onde a senhorita deveria passar os restos dos dias até que fosse seguro novamente, mas... — June olhou rapidamente para Seika através do retrovisor do teto. — Vimos a senhorita tão dedicada com a escola. Estava tão feliz em seu trabalho como diretora. Não queríamos trancafia-la em uma casa por mais de um mês.

June girou o volante em uma curva apertada e quase atropelou um grupo de estudantes que estavam atravessando a rua.

— Então nós triplicamos a sua segurança. Incluímos selos na residência em Chiba para retardar os berserkers e colocamos seguranças em toda a rua da escola da fundação Kido onde a senhorita trabalhava. Peço perdão por tudo isso que está acontecendo agora. Devíamos ter seguido as ordens do Grande Mestre.

— Não June. Não precisa se desculpar. Eu... Eu entendo e agradeço o seu esforço. Mas vocês não poderiam imaginar que os selos iriam perder as forças.

— De fato não esperávamos por isso, mas... Os selos não perderam as forças completamente. Evidentemente diminuíram um pouco o efeito, mas continuam fortes. Mesmo assim o berserker nos encontrou. Isso só pode significar que alguém nos traiu. Mas eu não posso imaginar quem faria isso-. Essa informação foi confiada a poucos, e apenas a pessoas de confiança.

June atravessou o sinal vermelho e quase colidiu com outro carro.

— E para onde estamos indo agora? — perguntou Seika.

— Para onde eu deveria ter levado a senhorita desde o início. Para Quioto.

— Quioto?! Mas Quioto fica a quase seis horas de viagens de Chiba.

— Não se continuarmos nessa velocidade. Tivemos sorte de ser mais de nove horas da noite. As ruas estão menos movimentadas agora.

Passaram pela Baia de Tóquio, atravessaram a Ponte Rainbow e chegaram em Shibuya. Um dos mais importantes centros comerciais e financeiros do mundo, em plena Grande Tóquio, dona das famosas largas ruas de faixas cruzadas, as quais estavam quase desertas. June passou pela cidade sem respeitar os semáforos vermelhos. Sua visão apurada lhe dava uma precisão certa para girar o volante e pisar no acelerador sem causar um grave acidente.

— Aquele homem... O berserker... Ele não está nos seguindo. Eu acho. — disse Seika, olhando pela janela, mas tudo o que ela via do outro lado era borrões de prédios e telões de led.

— Tatsume deve ter despistado ele. Isso vai nos garantir um pouco de tempo. Se tudo der certo, chegaremos lá em segurança. Sem qualquer empecilho. — disse June. Ela apertava o volante com tanta força que os nós dos seus dedos estavam brancos. Ela estava preocupada. — Segure-se!

June fez mais uma curva arriscada e entrou em uma rua, parando em frente a um prédio empresarial com mais de trinta andares.

— Esse não é o prédio de contabilidade da fundação Kido aqui em Shibuya?

— Por favor senhorita, me acompanhe.

Elas saíram do carro e June segurou Seika pelo pulso, entrando no edifício. Passaram as pressas pela recepção e entraram em um elevador exclusivo. H. June apertou no botão que levava para o ponto mais alto do edifício. O heliponto. Mais de trinta andares depois, chegaram ao terraço do prédio onde havia uma plataforma azul devidamente sinalizada em sua lateral e com um círculo amarelo no centro onde um jato executivo estava estacionado.

O vento forte e frio agitava os cabelos e parecia congelar até os ossos. O céu estava ficando nublado. Era sinal de que uma forte chuva estava se aproximando.

— Senhorita June, tem certeza que a senhorita não quer que eu pilote? — perguntou o aviador, gritando para que sua voz fosse ouvida em meio ao vento forte, enquanto descia as escadas do jato. Era um homem pardo de cabelos pretos. Havia um pequeno brasão do báculo de Atena estampado no braço direito do seu terno preto. — O senhor Tatsume me ligou algumas horas atrás. Ele disse que estava sendo seguido por um berserker de Ares. Ele estava bastante transtornado. Como eles acharam a senhorita Seika?

— Fomos traídos. — respondeu June.

— Você sabe sobre os berserkers? — perguntou Seika.

— Ele é um soldado do Santuário.

O piloto estendeu o braço para um aperto de mão.

— É um prazer conhece-la, senhorita Seika. Foi uma honra ser um dos escolhidos para proteger a irmã do Pégasos.

— Não temos tempo para isso. — disse June, secamente. Ela pegou as chaves na mão do piloto e se dirigiu as escadas, guiando Seika com a mão em suas costas. — Ouça... — disse virando-se para o piloto. — Evacue o prédio. Encerre as atividades. O berserker irá visitar cada local ligado a fundação Kido. Não vai demorar muito até que ele chegue aqui. Largue tudo para trás.

— Sim senhora!!

 A porta do jato foi fechada e os motores acionados. Em poucos minutos a aeronave subiu ao céu verticalmente e disparou em direção as pesadas nuvens.

O soldado correu até o elevador e desceu até a recepção. Quando a porta do elevador foi aberta, um forte cheiro de ferro entrou pelo seu nariz e queimou em sua garganta. Seu estomago também se embrulhou com a cena na qual ele se deparou.

As luzes estavam apagadas. A pouca luz da rua atravessa as portas de vidro quebradas e sujas de sangue. Havia dezenas de corpos espalhados pela recepção, alguns com membros quebrados, outros decapitados, e diversas poças de sangue que se ligavam através de filetes de sangue.

— Mas... Mas o que...

Andando entre os corpos ele escutou um choro abafado vindo de trás da bancada da recepção. Cauteloso, ele se aproximou e viu uma criança, com mais ou menos nove anos de idade, escolhido e melado de sangue.

— Ei amigão... Tá tudo bem com você? — disse se abaixando e estendendo a mão. — Você está ferido? 

O menino segurou na mão do soldado e se levantou, caindo nos braços do piloto, chorando.

— Onde estão os seus pais? O que aconteceu aqui?

— Eles fugiram. — respondeu o garoto, soluçando. — Fugiram e me deixaram pra trás. Abandonado. Aconteceu tão de repente. O palhaço chegou. Eu... Eu estava junto deles, mas ai tudo começou, a correria, e eles fugiram. Eu corri atrás dele... Do homem careca... Mas ele não estava com elas.

— Homem careca? Mas... Quem não estava com ele? — perguntou o soldado, enrugando o cenho com estranheza.

Algo na narração daquela criança estava deixando ele apavorado. Talvez fosse o forte cheiro de sangue ou então a entonação inocente e pavorosa. Seu coração começou a bater mais rápido e mais forte. Ele queria se afastar daquele menino, mas seu corpo estava paralisado e o toque daquele garoto parecia se tornar cada vez mais frio.

— Onde elas estão? Onde elas estão? — repetiu o menino, choramingando. — Eu não queria fazer aquilo... Não queria fazer nada disso... Mas não tive escolha. Tenho que encontra-la. Tenho sim. Tenho sim. Tenho que encontra-la antes que ele encontre. Antes que o palhaço encontre.

— Do que você está falando?

— Diga onde elas estão!!! Diga!! Preciso encontra-las antes que o palhaço encontre. Diga!!  

A criança afastou o rosto do ombro do soldado e ficou cara a cara com ele. Mas não havia nada naquele rosto. Não havia olhos, boca ou nariz. Nada. O soldado sentiu o medo sorrir sem boca na sua frente. A adrenalina agora corria em grande quantidade no seu corpo. Era o seu cérebro alertando e preparando seu corpo para fugir. Ele estava apavorado. Seus olhos se encheram de lagrimas. Uma sensação pavorosa estava fazendo o seu corpo inteiro tremer.

O corpo da criança começou a se alongar. Seus ossos faziam um barulho estranho, como se estivessem se quebrando e se modelado. Suas roupas se tornaram negras e se modelaram, tornando-se solidas. O que antes era uma criança, agora era um homem alto, magro, torto, com braços tão longos que passavam do joelho e mãos com dedos longos, contorcidos e unhas afiadas . Ele estava apoiado de forma contorcida e inclinada em um cetro de Onyx que parecia usar como bengala para sustentar seu corpo.

Seu rosto agora estava coberto por uma máscara escura, presa com peças negras de Onyx que circundavam sua cabeça lisa e acinzentada. Não havia fissuras para ele olhar ou para respirar. Apenas uma larga boca, com um sorriso malicioso e doentio repleto de dentes afiados.

— Onde elas estão? — perguntou ele, cravando a ponta afiada do cetro no peito do soldado. Sua voz era grossa, arranhada, rouca e sombria. — Vamos rapaz... Não queira bancar o corajoso comigo. Seus companheiros tentaram fazer a mesma coisa e agora estão mortos. Onde elas estão?!! — Ele gritou.

— Eu... Eu... Eu não vou dizer.

— Você está se urinando de medo e ainda assim não fala. — o homem torto empurrou mais alguns centímetros do cetro no peito do soldado, apoiando seu corpo inclinado. — Eu posso passar a noite inteira brincando com você já que foi o único que restou aqui. Vou perguntar novamente. ONDE ELAS ESTÃO?

Em um ato de coragem e desespero, o soldado conseguiu mover os braços, segurou no cabo do cetro e o empurrou contra o próprio peito. Cravando até transpassar em suas costas.

Olhando para o berserker, com a boca escorrendo sangue, ele sorriu.

— Se... Se o único jeito de guardar segredo... É com a minha morte. Então... O segredo está guardado. Vida longa à Atena.

O corpo já sem vida escorreu pela haste do cetro e desabou no chão.

— Que imbecil. — disse o berserker com indiferença, passando de forma desajeitada por cima dos cadáveres enquanto se dirigia para a saída. —  O jeito vai ser eu percorrer o Japão inteiro. 

E cantarolando uma canção, ele se dissolveu em trevas e desapareceu.

—...—


Santuário — Templo do Grande Mestre — Noite do 4º dia

Uma das portas laterais do salão foi aberta e Afrodite surgiu com um longo vestido branco decotado. O Grande Salão estava bastante escuro, com apenas duas tochas acesas atrás do trono. Criando uma iluminação fraca e sombria. As sombras das colunas que sustentam o grande teto dançavam no crepitar das chamas.

Sentado no trono estava Phobos. O deus estava com a cabeça inclinada para frente, com os cabelos negros caindo sobre o rosto. A pouco iluminação mergulhava sua imagem em um pretume denso.

 O que faz sentado no trono a essa hora da noite? — perguntou Afrodite.

Mas logo a deusa percebeu que havia algo diferente em Phobos. Havia uma aura estranha ao redor dele. Mais sombria.

— A senhora sentiu, não foi? O cosmo de Deimos desapareceu a pouco tempo atrás.

— Sim, senti. E foi por isso que eu vim ver como você está. Geralmente a derrota de Deimos nunca é algo aceitado por você. Países já desapareceram na sua fúria por causa disso.

— Dessa vez foi muito mais do que uma derrota no campo de batalha. O cosmo de Deimos desaparecendo dessa forma... Isso significa que ele não foi selado. Ele foi morto. — os olhos do deus se abriram ainda com a cabeça inclinada, e lentamente ele endireitou a cabeça, olhando para Afrodite. A deusa não ficou surpresa ao ver os olhos do filhos. Ela parecia temerosa e desapontada como uma mãe ficaria ao ver o filho perdido em suas emoções.  — Eu senti bem mais do que a senhora. 

Seus olhos haviam mergulhado em trevas completamente. Sua íris azul agora era uma joia intensamente brilhante em meio a sua esclera negra. Suas veias ao redor dos olhos ficaram escuras, parecendo rachaduras em sua pele pálida. Uma sensação de medo passou por Afrodite. O cosmo de Phobos, que antes era roxo ametista, se tornou negro e denso. Tão denso que parecia estar se tornando sólido.

— Sempre que seu irmão cai em batalha, você perde o controle. — disse Afrodite, com voz de descontentamento. — Você se torna a arma de matar do seu pai.

— Eu ainda não perdi o controle. Mas é isso o que ele quer, não é? Que eu desperte a minha carnificina e me torne o seu carrasco. — a voz de Phobos estava mais grossa. — Agora, Medo e Terror se tornarão um só.

Ele se levantou e seu cosmo negro se elevou, tão negro quanto seu cabelo cor de ébano, e seus olhos brilharam em um vermelho sangue.

— O que você vai fazer? Por acaso está pensando em ir até Atlântida?

— Não. Tenho coisas para resolver aqui.

Afrodite caminhou até o filho, ficando frente a frente com ele. Ela estendeu a mão e tocou no rosto de Phobos.

— Meu coração se aperta ao vê-lo dessa forma. Eu me preocupo tanto com você. Não tome medidas desnecessárias ou precipitadas. Não quero perde-lo nessa guerra.

A deusa se afastou e voltou ao corredor que dá acesso aos seus aposentos. Com o movimentar da mão, Phobo fechou a porta do corredor e apagou as duas ultimas tochas, ficando sozinho no salão absolutamente escuro. Seu cosmo negro se expandiu se fundindo ao negrume do recinto, e seus olhos agora vermelhos brilharam com mais intensidade.

— Daqui a cinco dias Atena com certeza irá retornar do Tártaro. Eu não tenho dúvida. Mas até lá eu matarei todos os cavaleiros que se aliaram a ela. E eu vou começar por você... — uma peça de xadrez dourada com o formato da cabeça de um leão surgiu pairando entre as trevas a poucos metros a frente. — Leão.

—...—


Oceano primordial do Atlântico Norte — Outro lado do véu 

— Me expulsar? Não seja tolo! — bradou Anteros, elevando o cosmo. O cabelo roxo se agitou com mais intensidade e os olhos prateados brilharam. — Detenha-se Tritão! Abaixe o braço. Agora!!

Os olhos do deus brilharam com mais fervor. E sem entender o que estava acontecendo com o seu corpo, Tritão abaixou o braço. Seu corpo não lhe obedecia.

— O que você está fazendo?

— Você sabe que eu sou um deus perigoso, mas não sabe o porquê? — desdenhou Anteros. — Sou o deus da separação e da manipulação. A contraparte do deus Eros. Nem mesmo você, que é um deus, pode escapar do poder da minha autoridade. Por isso, eu ordeno que você feche esse portal, mate seus subordinados e entregue o tridente para mim. — ordenou, estendendo a mão.

O corpo de Tritão ficou rígido, e agindo contra a sua vontade ele ergueu o braço. Seu braço tremia e os músculos do seu rosto estavam ficando salientes, mostrando o esforço que ele estava fazendo para se conter, mas ele não conseguia. Disparando um segundo raio, o redemoinho começou a rodar no sentido anti-horário e começou a se fechar lentamente.

— Muito bem. Agora obedeça a segunda ordem. Mate os seus subordinados.

Havia uma força maior nas palavras de Anteros e essa força refletiu em Tritão. O deus virou-se para os marinas que enfrentavam os berserkers nos navios de Ares, e apontou o Tridente, disparando uma poderosa rajada cósmica que emitiu o som de um disparo de bomba e empurrou o corpo de Tritão para trás.

— Tritão!! Não!! — gritou Chrysaor, mas Cunning o segurou e ergueu uma barreira em volta deles.

A rajada avançou rasgando o oceano e então se multiplicou em centenas de golpes com formatos de hipocampo. Da barriga para cima era corpo de cavalo escamoso e com barbatanas, e a parte inferior era corpo de peixe. Cada um seguiu em direção ao seu alvo especifico, mas para a surpresa de todos, o alvo não era os marinas.

O golpe de tritão atingiu os berserkers e os soldados humanos que haviam sido trazidos por Ares. Alguns berserkers receberam o ataque de forma inesperada e foram arremessados para trás, mas outros receberam e tentaram conte-lo, sendo apenas arrastados para trás por poucos metros de onde estavam.

Anteros olhou incrédulo. Tritão havia desobedecido as suas ordens.

— Mas... como?! Como você conseguiu me desobedecer? Até mesmo Ares já foi influenciado pela minha vontade expressada nas minhas palavras.

— Um pouco de azar da sua parte e um pouco de sorte minha... Eu consegui burlar a sua habilidade graças a minha escama. Em sua forja foram acrescentados sangue e escama de Telquines. E caso não saiba, Telquines são...

— Demônios marinhos praticantes de magia. — respondeu o deus, com expressão rígida. — Foram lançados ao Tártaro por praticarem magia negra. São criaturas imunes a magia e diversas outras habilidades especiais como... o controle involuntário. — Anteros segurou firme no cabo de sua espada prateada. — De fato você teve muita sorte, mas...

O deus foi interrompido com a risada de Anatole de Quimera, acompanhado por alguns generais berserkers.

— Que ataque patético, Tritão! É só isso que o “magnífico” Tridente de Poseidon é capaz de fazer? Esperávamos mais. Senhor Anteros! O senhor não acha que já deveria ter derrotado ele? Precisa de ajuda?

— Não fique se gabando berserker. — disse Tritão, sem olhar para Anatole. Seus olhos continuavam mirados para Anteros, que analisava a expressão de confiança do jovem deus marinho. — Não está sentindo nada? Nem mesmo um queimor? Tenho certeza que sim. Olhem bem, todos vocês, para a marca que Ares deu a vocês.

Anatole olhou para o seu braço direito, assim como os demais berserkers fizeram, e só então sentiram a pele arder, acompanhada do cheiro de carne queimada.

A marca que havia sido dada por Ares e Anteros, possibilitava que os berserkers pudessem sobreviver a invasão de Atlântida, podendo respirar de baixo da água e não serem esmagados pela pressão das profundezas do oceano.

— Sem essa marca, vocês não podem descer até Atlântida. Essa é a autoridade do Imperador Poseidon sendo imposta para vocês. Agora vocês não passam de soldados desgarrados poluindo a superfície desse Oceano, por isso... — o cosmo de Tritão e do Tridente voltaram a se elevar. Altas ondas se formaram e delas surgiram hipocampos, os cavalos marinhos metade cavalo metade peixe, vestidos com peças de escamas e um tipo de sela presa ao corpo do animal. — Eu ordeno que os Marinas retornem para Atlântida e fechem o cerco ao redor de Ares. Não existe mais a necessidade de ficarem aqui.

Os marinas olharam para Tritão, hesitando, e montaram nos hipocampos, prontos para voltarem a Atlantida.

— Schönheit! — Chamou Tritão. Um homem de aparência bastante jovem caminhou sob as águas agitadas do oceano e parou a poucos metros de Tritão. Seu curto cabelo azul claro era enfeitado com correntes de pérolas, e seus olhos azuis pareciam ser puros demais para um capitão. — Como Capitão do Mar-e-Guerra do 2º distrito, eu peço que lidere os marinas de volta a Atlântida. Cunning, Nasile e Chrysaor ficarão aqui comigo por enquanto.

— Sim, vossa majestade! Partiremos imediatamente.

O cosmo de Schönheit se elevou e ele tocou os pés na água, afundando em seguida em um círculo brilhante marcado por palavras gregas e atlânticas. Os marinas acompanharam o capitão. Os hipocampos correram e saltaram para o mergulho, desaparecendo com o mesmo brilho azul do cosmo de Schönheit.

— O que pensa que está fazendo, Tritão? — perguntou um berserker, próximo a Anatole. — Dispensando seu exército e deixando apenas dois marinas e um deus ferido para nos enfrentar... Ou você está fazendo pouco caso de nós, ou é bastante tolo de lutar em menor número.

Ele tinha mais de dois metros de altura e era bastante forte. Seu rosto barbudo era repleto de cicatrizes. Seus olhos vermelhos fitavam Tritão por debaixo do elmo que cobria seu curto cabelo cor de ferrugem.

— O deus de vocês foi derrotado. — disse Tritão, lembrando algo que eles pareciam ter esquecido. — Qual a utilidade de vocês aqui sem Deimos e sem a capacidade de irem ajudar Ares em Atlântida?

O berserker abriu um largo sorriso mostrando dentes afiados.

— Pertencemos ao exército do Senhor Deimos porque foi o sangue dele que nos converteu em berserkers, mas nossa maior fidelidade é direcionada ao Senhor Ares. E como guerreiros da guerra, nós não desistimos de lutar até que estejamos mortos.  

— Louvável sua fidelidade, Brontë de Gytrash. Mas não voltem a interromper. — disse Anteros, e o cosmo do deus voltou a se elevar. — Essa luta entre Tritão e eu já se estendeu demais. Acho que já podemos dar um fim a ela.

Anteros abandonou sua expressão pacifica e avançou. Sua Onyx o vestiu, e diferente da dos berserkers, ela não era negra como as trevas. Sua onyx era tão prateada quanto os seus olhos.

Brandindo sua espada, ele atacou, mas o avanço da espada do deus da manipulação foi detido pela haste do Tridente de Poseidon, usada por Tritão que flexionou os joelhos para suportar o choque das armas. Seus cabelos prateados como a onyx de Anteros e azuis como a água do mar se agitaram, e seus olhos verdes brilharam envolvidos com cosmo.

— Fico imaginando o que se passa nessa sua cabeça neste exato momento. — disse Anteros.

Tritão o empurrou para trás, recuou o tridente e apontou a arma novamente disparando uma rajada de cosmo, mas Anteros desviou do ataque e pousou flutuando sob as águas.

— Você carrega esse tridente com uma expressão altiva, como se fosse o seu pai, mas é só um deus menor fingindo ser um deus olimpiano.

Em silêncio o deus marinho ergueu o braço atraindo para eles nuvens de tempestade. Raios azuis desceram e tomaram o seu braço e em seguida o seu corpo.

— Você teve a proeza de falhar em nos deter mesmo estando em maior numero. —  Anteros voltou a atacar fazendo ziguezague sob a água, Os rastros dos seus pés marcavam o oceano agitado. Tritão bloqueava a espada do deus e tentava acerta-lo com raios, mas Anteros se esquivava muito bem, sempre achando um ponto descuidado para atacar. — Ares, Draco e Dionísio chegaram até Atlântida, que está fatalmente desprotegida. — Anteros girou para trás e disparou centenas de cortes que foram desviados por Tritão, agora se movendo e avançando mais rápido do que os raios que o seguiam. — Você deve se ver como uma desonra como líder do exército e como filho!! Está desesperadamente tentando provar ser útil.

Tritão passou por Anteros, girou e lançou o tridente. Anteros virou-se, mas a única coisa que viu foi uma lança de luz azul passar pela sua lateral e riscar o seu rosto no último instante em que o deus conseguiu desviar.

— Eu sei o que você está querendo fazer, mas não adianta. — disse Tritão. — As suas palavras não conseguiram dominar o meu corpo e também não vão conseguir ludibriar as minhas emoções ou a minha confiança!! As suas palavras não tem relevância alguma para mim.

Tritão fez um rápido movimento com as mãos e o tridente parou o seu trajeto, girando no ar e voltando contra Anteros.  O deus se defendeu com a espada e estendeu a outra mão para interceptar um aglomerado de raios que Tritão havia disparado.

— Você acha que pode brincar com todas as pessoas? O seu ponto fraco Anteros é encontrar alguém com confiança inabalável.

— Ninguém é desprovido de brechas! Cortarei a sua escama em pedaços e irei torna-lo um subordinado que irá destronar Atlântida!! Você verá os seus marinas morrerem um após o outro e a sua mãe se contorcendo na espada de Ares!! Irei expor a sua ambição, Tritão!!

O cosmo de Anteros explodiu, repelindo o tridente por um instante e dissolvendo os raios. Em meio ao brilho do cosmo o deus voltou a atacar. A espada desceu mais uma vez, mas Tritão a segurou com as mãos nuas e girou, aplicando um chute em Anteros, arrancando a espada da sua mão e jogando-a ao mar.

Anteros se desequilibrou e Tritão desferiu um soco no rosto, jogando o corpo do deus para o lado.

— Não fale bobagens!! Eu sempre fui um guerreiro fiel ao trono e sei exatamente o meu devido lugar. — um segundo soco atingiu o queixo de Anteros, jogando a cabeça do deus para trás. — Não sou igual ou maior que o meu pai. Não sou menor ou igual aos Generais e Almirantes. — a sequência de socos aumentava proporcionalmente com a fúria de Tritão. — Sou um líder que não tem cobiça pelo poder. Eu não falhei com o meu pai ou com o meu povo. Enquanto um marina ainda estiver em pé... — Tritão saltou e girou, chutando o rosto do deus. — O meu exército seguirá lutando para vencer!!

As águas do oceano explodiram e subiram ao céu reagindo ao grito do deus, formando pilares de água ao redor e entre os dois deuses. Raios desceram novamente e envolveram os pilares, gerando dezenas de tornados aquáticos poderosos.

— Agora é sem armas, Anteros. Apenas a força dos nossos braços e do nosso cosmo.

— Partirei você ao meio. — Os olhos de Anteros estavam arregalados e brilhando intensamente. — Ou melhor... Deixarei que Chrysaor faça isso. Mate-o!!

Tritão virou-se e viu o irmão descendo com a lança dourada na mão. Seus olhos estavam prateados e sua expressão era de sofrimento por estar lutando contra a sua vontade.

— Irmão!! Não!!

O deus marinho saltou para trás no momento em que a lança desceu em um longo corte. O ataque rasgou os pilares de tornados e o oceano como se fosse parti-lo ao meio, e mesmo não atingindo Tritão em cheio, a pressão da lança o alcançou partindo sua escama e o cortando superficialmente.

— Tritão... — disse Chrysaor, chorando. — Irmão... Me desculpe por isso.

— Eu que lhe peço perdão, irmão. — O tridente se materializou em sua mão e ele disparou uma rajada de cosmo que arremessou Chrysaor. Cunning saltou e segurou o deus antes que ele colidisse com o navio de Atlântida. — Anteros... Seu miserável!!

O deus virou-se e se deparou com Anteros frente a frente. Poucos centímetros do seu rosto.

— Agora eu vejo a sua mente abertamente. Então é verdade. Você não cobiça o trono e é fiel ao seu pai, mas irei torna-lo um assassino do seu próprio povo. Eu ordeno que você...

— Não diga mais nenhuma palavra!! — gritou Tritão, segurando e apertando o pescoço de Anteros. Seus olhos verdes brilharam queimando o cosmo e seus cabelos voltaram a se agitar. A cicatriz em seu rosto parecia pulsar com a raiva do deus. — Não me force a rasgar a sua garganta e manchar esse oceano com o seu sangue.

— Você é o deus que domina a tempestade, mas fica se contendo. Irá morrer se continuar assim. Garoto tolo!!

Anteros afastou o braço de Tritão e aplicou um soco na barriga do deus. Sentindo seu estomago revirar, o deus marinho cambaleou e Anteros girou e chutou seu braço, fazendo o tridente cair no oceano e desaparecer.

Os dois deuses voltaram a trocar socos e chutes em pé de igualdade. Seus rostos estavam lesionados, escorrendo ikhor. Entre a troca de socos Tritão atingiu o peito de Anteros, empurrando-o para trás, e prosseguiu com um chute em direção ao rosto do deus, atingindo de raspão no momento em que Anteros jogou o corpo para trás e virou o rosto.

Furioso, o deus da manipulação concentrou cosmo em sua mão e se teletransportou, surgindo cara a cara com Tritão e desferindo um golpe no rosto. O deus marinho foi atirado contra o navio de Ares, colidindo violentamente.

— Ouça minhas palavras Tritão!! — gritou Anteros. — Restrinja os seus movimentos!!

— É inútil!! — a água do oceano começou a subir pelas pernas de Tritão como se fossem finas veias, emitindo um brilho azul que alimentava o seu cosmo. — Agora eu tenho uma defesa bem maior do que a da minha escama. Tente manipular o Oceano se puder!!

Tritão correu em ziguezague. Parecia um raio azul furioso rasgando a superfície das águas. Ele saltou e girou aplicando um chute, mas Anteros saltou para trás e a perna de Tritão passou rente as costas do deus da manipulação.

Girando no ar, Anteros pousou flutuando sob as ondas e virou-se com uma arma na mão. A sua espada prateada havia voltado para ele. Mas no momento em que ele virou Tritão já estava em cima dele e desferiu um soco em cheio, arremessando o deus, mas dessa vez Tritão não deu tempo para o oponente se recompor. Ele ziguezagueou e acertou uma joelhada no queixo de Anteros, que voltou a saltar para trás na tentativa de fugir da fúria do deus.

Em uma de suas esquivas o deus da manipulação achou uma brecha e atacou com sua espada. Tritão conseguiu reagir a tempo e parou novamente a espada com as mãos nuas, mas ele sentia que seu corpo estava sendo forçado a largar a espada e deixa-la corta-lo ao meio. Por mais que a boca de Anteros não estivesse emitindo qualquer palavra, a intenção do deus fluía dos seus olhos prateados.

A lâmina prateada brilhou e disparou uma rajada de cosmo, empurrando Tritão para trás. Nesse meio tempo Anteros seguiu em frente e aplicou um chute no peito de Tritão, jogando-o para cima, então ele segurou a perna do deus e o girou várias vezes até joga-lo em sequência de navios russos, que iam explodindo na medida em que Tritão passava por eles semelhante a um cometa azul.

— Senhor Tritão!! — gritou Nasile.

— Deixe-o, Nasile. — disse Cunning, que apoiava Chrysaor nos braços. — O senhor Tritão não será vencido tão facilmente.

— E o que faz você acreditar nisso, Almirante. — perguntou Anteros.

— O Senhor Tritão não é do tipo que cai em um campo de batalha e deixa o oponente vivo. A dedicação dele para com Atlântida é a energia que lhe move para se erguer e vencer. Veja você mesmo, Anteros.

Ao longe, em um dos últimos navios, o qual estava afundando lentamente, uma cosmo energia se elevou como um pilar de luz que subiu ao céu. No centro do pilar, se erguendo no ar com o tridente na mão novamente, estava Tritão trajando sua nova escama, completamente restaurada e evoluída. Estava mais viva e imponente, emitindo um brilho tão azul quanto o cosmo do deus marinho.

— Você evoluiu a sua escama?! — perguntou Anteros, surpreso.

— Fuja ou morra.

Tritão se moveu tão rápido que até mesmo Anteros teve dificuldade para acompanhar. A espada, erguida em reflexo rápido de defesa, foi partida ao meio pelo tridente em um corte de meia lua, e em seguida o deus agarrou Anteros pelo pescoço com a mão livre e continuou seu avanço como um raio em direção a ilha de Rodes. O local onde Moshchnost, o almirante do primeiro distrito, lutou até morte contra o jovem berserker Sélestat, que também morreu em batalha.

A Ilha Rodes é um local sagrado. Pertence a deusa Rode, filha de Afrodite com Poseidon, mas esse local estava para ser palco de um segundo confronto.

O deus marinho avançou em direção a um conjunto de rochedos no litoral da ilha e arremessou Anteros com toda a força, cravando o deus na massa de rocha, que despedaçou em seguida.

Enquanto o deus da manipulação caia em direção ao mar em meio as pedras, Tritão estendeu o tridente e disparou uma rajada de cosmo impiedosamente. O golpe atingiu Anteros em cheio e despedaçou o peito da sua Onyx. Antes que ele afundasse desacordado, sem a mínima capacidade de reagir, o cosmo de Tritão o envolveu e levitou o seu corpo.

— Que fique bem claro o que eu vou lhe dizer mais uma vez... — Os olhos de Tritão brilhavam em um azul claro e forte. Não dava para ver sua íris. Apenas o brilho do seu cosmo radiando. — Fuja ou morra. O portal ainda está aberto. Não me force a mata-lo. Retire-se daqui enquanto ainda tá vivo. Diferente dos berserkers, você é um deus e não é cegamente fiel a Ares a ponto de morrer por ele. Você valoriza a sua vida, então saia daqui e retorne para o Santuário.

Anteros ergueu a cabeça e mirou seus olhos para Tritão. Seu rosto e seu corpo estavam marcados por ferimentos. Havia uma grade quantidade de Ikhor encharcando o resto do seu traje. Seus cabelos roxos estavam sujos e bagunçados, colados em sua testa suada.

— Filho de Poseidon... Eu subestimei você. — disse cuspindo sangue. — E eu não esperava que o seu pai o ajudaria. Olá Poseidon!

O tridente na mão de Tritão vibrou e desapareceu.

— Sumiu?! — disse Tritão, confuso, olhando para a mão vazia. — Não! O tridente retornou para Atlântida. — seus olhos se arregalaram e voltaram ao normal. — Será que...?!

— Lembrarei dessa nossa batalha, Tritão. — o corpo de Anteros começou a se desfazer em cosmo. Ele estava regressando para a Grécia. — Juro pelo Rio Estige que irei me vingar futuramente.

O deus subiu ao céu como uma estrela prateada e desapareceu no portal.

— Aquela estrela cadente... É Anteros. — disse Cunning.

— O cosmo de Tritão... Está voltando para Atlântida. — disse Chrysaor.

— Anteros, você é um deus fraco. — disse Anatole, o berserker de Quimera, vendo o cosmo do deus sumir na fenda. — Perdeu para um deus tão pequeno. Enquanto a vocês... — ele olhou para Cunning, Nasile e Chrysaor. — Que grupinho patético sobrou.

— Não vai seguir o conselho do Senhor Tritão, berserker? — perguntou Nasile. — Não vai recuar?

— Recuar?! — Anatole gargalhou e elevou o cosmo. Os outros berserkers que o acompanhavam fizeram o mesmo. — Berserkers não recuam. Só saímos de um campo de batalha com a vitória ou como cadáveres.

— Então já que se recusam a sair daqui com vida, podemos providenciar a morte de vocês. — disse uma voz vindo de uma onda que se ergueu. Um homem de longos cabelos rosa e olhos dourados, que trajava a escama de Lymnades, surgiu em meio as águas e caminhou até se juntar com Cunning, Nasile e Chrysaor. — Somos o suficiente para dar conta de um exército desagarrado. Perdão pela demora, Senhor Chrysaor. Tive que dar um fim definitivo ao berserker de Coruja.

—...—r


Atlântida – 1º distrito

— Ofiotauro? Do que você está falando? — perguntou Anfirtrite. Havia nervosismo em sua voz. Ela já não sustentava mais a firmeza de antes. — Isso é uma lenda tola. 

— Não se esforce tentando mentir. — disse Ares. — A biblioteca de Bluegraad possui um vasto acervo. Possui informações incríveis, como a de abrir um portal para essa dimensão, e a de como criar uma marca que permite chegar até Atlântida vivo. Mas tem uma que é ainda mais interessante. Ela fala sobre uma antiga criatura que morava no palácio de Poseidon e que desapareceu junto com Atlântida. E dizem que se as entranhas da criatura forem retiradas e queimadas, ela irá conceder o poder de derrotar os deuses a quem queimou. — os olhos vermelhos de Ares se acenderam. — Eu quero essa criatura para mim.

— Você é um monstro. — disse Anfitrite. 

— O que você disse? — Ares olhou com indiferença.

— Na era mitológica o Ofiotauro era um animal sagrado. Mata-lo é crime gravíssimo. É uma criatura pura, sem malícia, capaz de curar feridas, purificar as águas e levar prosperidade por onde passa. E mesmo assim você o caça para mata-lo e queima-lo. Tudo pela sua ambição. Você carregaria nas costas uma maldição caso isso acontecesse, mas não passa de uma lenda. Está perdendo seu tempo. 

— Não teste a minha paciência, Anfitrite. Eu sei muito bem que você está mentindo. Seu país está sendo destruído, mas você não parece se importar tanto. Por que será? Será que é apenas porque a população foi evacuada e os três distritos estão vazios, ou será que é por causa do meu interesse no animal? Ou melhor, na criança?

— Ares... — Dionísio parecia impaciente.

Mas Ares não deu atenção ao amigo.

— Anteros me contou que de acordo com o livro que ele leu, a criatura foi morta na Titanomaquia. A famosa guerra entre os Titãs e os deuses na era mitológica. Um dos titãs matou o animal, mas foi o meu pai que queimou suas entranhas e recebeu o poder. Mas assim como os deuses, as criaturas também retornam do Tártaro. Só que esse animal voltou a vida na forma de uma criança. E ele nasceu aqui. Em Atlântida. Assim vem acontecendo de séculos em séculos. 

— Bobagem!! 

— Será mesmo? — desdenhou Ares, caminhando até a deusa das nereidas. Ele parou a poucos centímetros dela. Mas ela não recuou. Anfitrite permaneceu firme encarando os olhos do deus. — Pelo que eu fiquei sabendo, foi por causa do nascimento dessa criança que você estabeleceu uma lei em Atlântida. A lei que rege o terceiro distrito. De acordo com os costumes estabelecidos por você, todas as mulheres ao completar seu oitavo mês de gestação  devem ser levadas ao terceiro distrito, passando por um ritual de conhecimento.

— Esse ritual é para selecionar as meninas que estão destinadas a me servirem como nereida. 

— É o que você alega. — rebateu Ares, dando um sorriso malicioso. — Mas também serve para descobrir quem é a criança que reencarnou com as entranhas do Ofiotauro. Essa criança permanece no Terceiro distrito, não é? Me diga, onde ele ou ela está? Seja quem for, deve emanar uma energia diferente dos demais. Como você oculta essa criança até mesmo de um deus? Essa criança deve ficar perto de você. No palácio talvez. Rodeado de selos de restrição e...

Ares interrompeu as suas próprias palavras. Sua mente clareou como se um gatilho tivesse disparado as engrenagens da clarevidência. Tudo parecia bem óbvio para ele. Até mesmo sua expressão mudou. Era uma mistura de surpresa com espanto e felicidade. Algumas palavras se repetiam na sua mente. Terceiro distrito. Poder diferente dos demais. Selos. Tudo agora fazia sentido.

Seu sorriso se abriu lentamente. E tão lentamente quanto seu sorriso, ele virou o rosto para um homem caído no chão que estava sob os cuidados das nereidas. Um homem que veio do terceiro distrito, com um poder diferente dos outros marinas e coberto de selos poderosos. 

— Ora, ora, o que temos aqui... 

O deus segurou com firmeza no cabo de sua espada, mas antes que ele move-se um músculo, Anfitrite ficou no caminho entre ele e Sehrli. As nereidas também se moveram, protegendo o terceiro almirante.

— Como eu não pensei nisso antes?!

— Pensar não é uma das suas virtudes, meu amigo. — disse Dionísio. — Mas acho que você vai ter que esperar mais um pouco para matar esse rapaz. Você tem um exército para vencer. Isso é... Magnífico!! 

Ares olhou para Dionísio e acompanhou os olhos verdes do deus do vinho. A luz do sol atravessou o oceano até as profundezas de Atlântida, mas havia centenas de pontos escuros se aproximando. Na medida em que avançavam, a luz do sol ia sendo obstruída, até que o céu ficou tomado por um exército de marinas armados e montados em hipocampos. Schönheit estava liderando o exército, sem abandonar a sua expressão serena e inocente. Diferente dos demais marinas que estavam furiosos após verem Ares sorrindo em meio as ruínas do primeiro distrito.

O deus elevou o cosmo, e sua espada brilhou reagindo. Centenas de espadas rubras surgiram ao redor do deus. 

— Ares!! — gritou Schönheit.

Para alguém tão belo e sereno, ele tinha uma voz firme. 

— Venham para a morte, rapazes! — gritou Ares, estendendo um dos braços pra frente.

As centenas de espadas se acenderem com o cosmo vermelho ardente de Ares e subiram ao céu como uma chuva de estrelas sangrentas. 

— Protejam-se!! — gritou Schönheit.

O capitão se teletransportou para junto de Anfitrite, chamando a atenção de Ares para si. Não adiantou muito. Alguns marinas conseguiram se desviar, mas muitos que estavam na mira do deus foram abatidos pelas lâminas sanguinárias. Dezenas de corpos e hipocampos desabaram e criaram poças de sangue.

— Schönheit, eu vou precisar que você distraia Ares. — disse Anfitrite. — Precisamos ganhar tempo. Nereidas!! Levem Sehrli para o palácio.

— Certo! Irei distraí-lo!! Ares! Agora é você e eu. Marinas!! Detenham o Dragão e ajudem a senhora Anfitrite.

— Vai me enfrentar, Capitão? Vocês são corajosos. Talvez eu tenha me precipitado ao chama-los de covarde. Mas entenda que eu não tenho tempo para ficar brincando com um capitão. Dionísio cuidará de você.

Ares passou por Schönheit, o ignorando, mas o capitão virou-se e segurou no ombro do deus.

— As ordens da Imperatriz foram bastante claras. Eu tenho que atrasa-lo. Mesmo o senhor sendo um deus. Ordens são ordens. 

— E você como um bom soldado pretende cumpri-la. Tudo bem. Draco!! Impeça-os de entrar no palácio.

O deus virou-se para Schönheit e se moveu extremamente rápido, aplicando um soco no abdome do capitão. Pelo menos foi isso que o deus achou que aconteceu. A imagem de Schönheit desapareceu e voltou a aparecer no topo de um prédio.

— Ora, vejam só. Isso foi uma velocidade superior a da luz? — Ares pareceu interessado. — Esse rapaz... O cosmo dele aparentava ser tão pouco que eu se quer notaria a sua presença. Mas... — pensou o deus.  Olhando bem, você é tão poderoso quanto alguns dos meus melhores berserkers. É fascinante achar um bom soldado como você em meio a esse amontoado de lixo. É literalmente uma pérola entre os porcos. Qual o seu nome, rapaz?

— Schönheit de Ceto, Capitão de Mar-e-Guerra do segundo distrito.

— Ceto... É, essa escama lhe cai bem. Eu tenho uma proposta para você. Beba do meu sangue, se converta em um berserker, e assim permitirei que você libere os horrores e formas estranhas coloridas e exuberantes que você pode produzir. Assim como a deusa que a sua escama representa.

— Sinto dizer, mas eu terei que negar a proposta.  Schönheit tirou da cabeça o colar de perolas que o adornava. — Passei muito tempo selando as minhas habilidade como Capitão Marina de Ceto. — O capitão deu um passo a frente e caiu em direção ao chão. Mas ao pousar parecia que seu peso havia se multiplicado em toneladas. Ele abriu uma enorme cratera e houve um terremoto que abalou toda a área.— Mas hoje eu não preciso me conter.

—...—


Oceano primordial do Atlântico Norte — Outro lado do véu 

— Nyctea foi derrotado por você? — perguntou outro berserker que também liderava as tropas de Ares.

Ele era alto e magro, de corpo esquelético um pouco curvado para frente, e sua pele era esverdeada. Seus braços e pernas eram tão finos que davam a impressão de que iriam se quebrar com o peso da Onyx. Seus dedos eram compridos, cerca de vinte centímetros, e finos com garras longas e afiadas. Seu rosto tinha contornos profundos, ossos salientes e olhos afundados em olheiras pesadas. Uma parte do seu rosto era coberto pelo seu ondulado cabelo marrom esverdeado.

— Não sei como alguém do seu nível conseguiu derrotar Nyctea. — o berserker esquelético passou por Anatole e os demais elevando seu cosmo. — Eu irei derrotar todos vocês.

— Não seja tão impulsivo, Tier de Shagfoal, a besta da loucura. — a voz era de uma criança. Anatole e os outros berserker se afastaram, abrindo caminho. — Por mais que você seja forte, eles também são. Principalmente aquela ali... A almirante.

Cunning avistou uma menina pequena. Ele deveria ter aparentemente dez anos de idade quando se tornou uma berserker. De pele clara, olhos vermelhos mergulhados em uma esclera negra e longos cabelos loiros como ouro, ela vestia uma onyx apropriada ao seu pequeno corpo. Trazia na sua mão direita uma foice comprida e curvada. A expressão do seu rosto era inocente, mas seu cosmo era tão maligno quanto dos demais.

Ele caminhou até Tier e segurou em sua mão, como se fosse uma filha segurando na mão do pai, e olhou para ele com uma expressão sorridente.

— Vamos nos retirar, está bem? — sua voz era meiga, mas era uma farsa. Tier arregalou os olhos para ela. Ele a temia. A menina olhou para os outros berserkers e depois olhou para Cunning. — Meu nome é Alecto de Erínia. Foi um prazer conhecer vocês marinas, mas nosso trabalho aqui já terminou. Corram para Atlântida. Tentem salvar o país de vocês. Berserkers! Vamos retornar para o Santuário!

—...—


Asgard — Palácio Valhalla

Hilda estava sentada em um grande sofá diante da lareira quando uma das suas damas de companhia entrou no salão assustada, anunciando que Eos estava com problemas.

Assustada, Hilda e a dama foram até os aposentos onde a deusa estava. Ao chegar lá, a representante de Odin se deparou com a deusa sentada na cama chorando e sentindo dores. Freya e uma mulher mais velha estavam cuidam da deusa. Suas mãos enrugadas e tremulas emanavam um cosmo esverdeado e ela apalpava o corpo da deusa, procurando o que estava fazendo a deusa sofrer.

A deusa chorava e se inclinava para frente, levando a mão até a barriga.

— Eos?! — disse Hilda, espantada. — Freya, o que houve?

— Irmã! Eu... Eu não sei. Ela estava bem e de repente começou a chorar e depois se queixou de dores. — disse Freya, um pouco nervosa. — Hilda... Ela... Ela disse que teve uma visão.

Hilda enrugou o cenho.

— E o que ela viu?

— Hyoga... morto. — disse Freya.

Hilda não escondeu o espanto. A notícia foi como uma facada.

— Princesa Hilda... — disse a curandeira se levantando. Ela estava séria. Parecia surpresa e assustada. — Poderia dispensar as damas de companhia, por favor? Vamos precisar de um pouco de privacidade.

As damas se retiraram, ficando apenas Hilda, Freya, Eos e a curandeira.

— Algum problema com ela, Bygul? — perguntou Hilda.

— A visão, o choro e as dores... Estão interligados. — disse ela. — O homem a quem ela chama de Hyoga... Está morto. — A expressão de espanto foi unanime, e Eos continuou a chorar. — Mas... — Bygul estendeu a mão e a barriga de Eos reagiu. — A senhorita está gravida, e pelas contrações, acredito que ele seja o pai.

Eos levantou a cabeça surpresa e levou as mãos até a barriga.

— Estou... gravida?!

— Sim! Está! Um semideus forte está crescendo em seu ventre. — disse a curandeira. — Se fossemos comparar com uma gestação humana, a senhora estaria em seu quarto mês. Mas por ser uma deusa, dentro de poucos dias a senhora estará dando à luz a essa criança. Lamento pelo destino que ele terá.

—...—


Atlântida — 1º distrito

— Você parece ser muito forte. — disse Ares para o capitão, dando as costas para ele. — Mas não tenho tempo para perder com você. Dionísio, cuide desse rapaz!

— Devo insistir. —  Schönheit sumiu e reapareceu diante de Ares. — Eu irei obedecer as ordens da senhori...

Uma estrela azul cruzou Atlântida e caiu direto no palácio.

— Esse cosmo... — pensou Ares. — Eu já senti ele antes.

Do palácio se ergueu um cosmo gigantesco que cobriu Atlântida com autoridade e poder, reparando a barreira danificada, os edifícios destruídos e forçando Draco a voltar a sua forma divina. Era uma força esmagadora e grandiosa, capaz de cobrir a Terra. 

— Ares... — havia um tom de preocupação na voz de Dionísio.

— Talvez você tenha razão meu amigo. Chega de brincadeiras. 

Uma forte batida, como a de um cetro batendo no mármore, ecoou por toda Atlântida. E então houve uma segunda batida. E uma terceira. E uma quarta. 

— Ele está aqui!! — disse Schönheit. — E ele está chamando o senhor.

Ares guardou a espada na bainha que trazia em suas costas, e estendeu o braço para o lado, materializando uma lança de cabo dourado e lâmina vermelha.

— Dionísio. Você sabe o que fazer.

Ares sorriu e avançou em direção ao palácio. Ninguém o impediu. As nereidas e os marinas abriram caminho até ele chegar no salão do palácio. A grande porta foi aberta e Ares entrou no grande salão.

Um salão azul-marinho, de teto cristalino sustentado por grossos pilares. Através do teto era possível ver uma parte da vida marinha que rodeava a cidade, passando tranquilamente. O teto era tão alto que ficava rente com a barreira sustentada por Poseidon, a qual dividia a água e a cidade.

 E no fim do recinto, onde uma estátua imponente do deus do mar se erguia segurando seu tridente e olhando para frente com os olhos emanando gloria e majestade, havia um trono onde um homem, tão imponente quanto a imagem do deus que se erguia atrás dele, estava sentado.

Seus longos cabelos azuis escorriam por debaixo do elmo dourado, e seus olhos azuis brilhavam com um cosmo vivo e poderoso. Seu corpo estava coberto por uma escama dourada e em sua mão direita ele segurava um tridente.

— Ares!!

— Poseidon!!

—...—


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Notas finais do capítulo

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Contato: 81 97553813

Próximo capítulo: Capítulo 57
Sinopse: indefinida.
Data de publicação: indefinida

Oi oi gente ^^ Demorou né? (risos). Mas espero que o capítulo faça valer a pena. Deixe sua opinião sobre o capítulo.

Beijos e abraços.



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