Destinos escrita por DetRood


Capítulo 7
Bad Company


Notas iniciais do capítulo

Todas as músicas citadas nos capítulos fazem parte da trilha sonora (Oficial e não oficial) da série... Pra quem tem opotunidade de ler e ouvir a referência, vale a pena!



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Bem cedo os três voltaram para Austin, e a detetive foi até a casa de Julie Sanders para conversar a respeito do caso de sua filha desaparecida, e também sobre a morte de seu esposo.

Os irmãos aguardavam estacionados há duas quadras longe da casa, pois já tinham ido com o carro até lá anteriormente, e não queriam levantar maiores suspeitas.

- Sra Sanders, o caso de seu esposo foi arquivado por falta de provas... Mas o que exatamente eles disseram para a senhora na época?

Julie olhava para a bela mulher, e em seu coração ela sentia que aquela conversa iria ajudá-la a encontrar sua filha e a esclarecer a morte de seu esposo.

- Detetive, eles disseram justamente que por falta de provas os assassinos do meu marido não seriam encontrados, infelizmente... – os olhos azuis brilhavam, esperançosos.

- Sim, porém temos suspeitas que nos levam a crer que o assassinato de seu esposo está relacionado com o desaparecimento de sua filha – Valery entregou, pressionando a mãe para ela revelasse que sabia do que se tratava – O que a senhora tem a dizer a respeito?

Julie a encarou surpresa, e a detetive tinha um excelente feeling para saber quando as pessoas estavam mentindo, e concluiu que não era o caso...

- Mas o que vocês sabem para chegarem a esta conclusão? Vocês sabem onde está minha filha?

- Sra Sanders, seu esposo tinha algum inimigo declarado, ou mostrou algum comportamento estranho antes de sua morte?

- Nada em especial que me lembre... Ele freqüentava um círculo de amizades seleto, por conta de ser um advogado famoso aqui na cidade...Mas que eu saiba, nada de inimigos em especial...

Enquanto isso os irmãos que aguardavam a investida da detetive perceberam que do outro lado da rua onde estavam alguém se aproximava do telefone público.

- Hei Sam, do outro lado da rua! - Dean cutucou o irmão para abaixar-se, o que fez cuspir o café que tomava.

- Cara, não faz mais isso! Espere, aquela ali não é a babá? – Sam percebeu que era a mesma mulher que estava na sala quando eles foram conversar com Julie Sanders.

- Parece sim, mas o que ela vai fazer num telefone público? Eles são ricos pra caramba... – Dean abaixava-se e tentava escutar o que a mulher falava ao telefone, pois o silêncio da rua permitia que se escutasse a conversa, mesmo de longe.

- ... Ela está agora conversando com a Julie... Não, não estou... Vou daqui a pouco Walter, sei que está na hora de alimentá-las...Tá bom, eu sei, tô indo, tchau...

- Mas que conversa é essa! - Sam não conseguiu ouvir direito, nem entender sobre o que ela falava.

- Vamos descobrir rapidinho cara! – Dean ligou o carro e os dois seguiram a babá, pois ela não estava voltando para a casa...


Após dois ônibus a babá desceu em um bairro longe do centro, numa região montanhosa com poucas casas e sem ruas asfaltadas.

Chegava a dar medo aquele lugar.

A mulher rapidamente entrou em uma casa velha aparentemente abandonada.

Como as janelas estavam tapadas, os irmãos sentiram-se seguros em andar pelos arredores do quintal, onde descobriram um alçapão disfarçado por entre as folhas, próximo da parede dos fundos da casa, e o que seria um antigo depósito de lenha aparentemente era a entrada para um grande porão, pois pela fresta da madeira da porta conseguiram ver um corredor iluminado por pequenas lâmpadas presas na parede.

Tudo muito silencioso, para não despertar desconfiança.

- Bingo! – Dean andava rapidamente com seu irmão voltando para o carro estacionado longe do local.

- Hei Dean, não comemore muito antes de termos certeza – Sam sempre ponderava.

- Cara, tá na cara que essa mulher é quem cuida das crianças e as mantêm vivas até o momento do sacrifício – Dean entrou no carro e o ligou – E esse tal Walter deve estar por trás disso tudo...

- Esse nome não me é estranho Dean... – Sam tentava lembrar-se das leituras que fez sobre o caso, e bateu sua mão na testa.

- Dean, você estava certo!

- É irmãozinho, às vezes eu penso com a cabeça de cima também... – Dean deu um sorriso acelerando o carro para saírem logo daí.

- Podemos entrar na casa e resgatar as crianças agora mesmo – Sam pegou seu celular para ligar para a detetive revelando a descoberta que fizeram.

- Não – Dean levou sua mão pegando o celular de Sam – Nós podemos fazer melhor... Resgatar as crianças e já se livrar deste maldito demônio e todos os que fazem parte deste show de horrores... Afinal eles não podem matá-las antes da lua cheia, não é?

- Sim, mas podemos poupá-las do trauma...

- Esperando o momento certo poderemos poupá-as de coisas piores – Dean dirigia em direção ao hotel onde se hospedaram da primeira vez.


No hotel, os três se reuniram e trocaram as informações que descobriram.

Valery não se conformava em ter subestimado o delegado da cidade.

- Como ou não percebi que havia algo errado com ele?! – Ela jogou seu coldre na mesa, junto com as armas e munições que os três preparavam para a investida naquela noite, lua cheia de outono.

- Pelo visto você falhou na sua perspicácia... – Dean ironizou a conversa que tiveram no bar dias atrás.

A detetive lançou um olhar fulminante para o mais velho, demonstrando não estar para brincadeiras naquele momento.

- Ele pode ter sido o responsável direto pela morte da minha família Dean... E rapidamente eu posso acabar com isso de uma vez por todas!

Ela estava visivelmente perturbada, pois além de fazer mais uma caçada, estava muito perto de vingar a morte de seus pais.

- Valery, acalme-se por favor! Vamos nos manter concentrados... - Sam pegou em seu braço, pedindo para ela sentar-se junto com eles.

- E Dean, nada de gracinhas agora!

Dean fez uma cara de “O que foi que eu fiz?”

- Dean tem razão quando disse esperar o momento certo, Valery... No momento do ritual, podemos libertar as crianças e acabar com o que essas pessoas doentes seguem... É importante ficarmos centrados e discutirmos a melhor abordagem enquanto temos tempo – Sam sempre era o mais sensato nestas horas.

- Ok, mas é possível que eles já estejam preparados para nos receber, pois como vocês tiveram a brilhante idéia de darem as caras na casa da viúva, a babá deve ter percebido que alguma coisa está acontecendo – Valery sentou-se com eles e disse olhando para Dean.

- Hey, não me olhe assim que a idéia foi do Sammy! – Dean se defendia.

- Mas como a gente ia adivinhar! – Sam se defendia também, pois estava certo.

A detetive levantou-se e abaixou a cabeça, passou a mão pelo rosto e deu um suspiro.

- Vou dar uma volta pra esfriar a cabeça – Pegou a chave da sua moto, o coldre sobre a mesa e saiu do quarto.

- Valery, não é bom você sair do jeito que você está – Sam levantou-se e foi em direção à porta - Dean, vamos segui-la, pra nos certificar de que ela não fará nenhuma besteira!

Antes que Sam terminasse a frase Dean estava com as chaves do carro na mão e já estava na porta.

- Aposto que sei aonde ela vai – Dean entrou no carro – E você fique aqui que eu lhe dou notícias – Saiu na mesma direção da moto.


Quase que instintivamente Dean sabia que a detetive estava indo para o local onde eles haviam combinado o ponto de chegada da corrida.

E lá a encontrou, no mesmo lugar onde passaram aquele rápido momento de paz, dentro da realidade de sofrimento e amargura a qual tinham que se submeter.

Company, always on the run / Destiny is a rising sun
I was born six gun in my hand / Behind the gun I make my final stand
That\'s why they call me...”

Estava se sentindo confuso, pois nem pestanejou ao segui-la. Para ele aquela mulher tinha algo que ele não sabia explicar.

‘- Se ela não fosse tão teimosa, eu...’ - Antes de concluir seu pensamento veio que foi justamente esta teimosia, essa natureza selvagem que fez com que ela se destacasse em seus pensamentos, o fez admirá-la...E sabia que dificilmente encontraria alguma mulher que entendesse tanto do seu trabalho como ela, e que infelizmente entendia tanto de sofrimento quanto ele e seu irmão.

Valery estava sentada na grama, a moto encostada na mesma árvore que serviu da vez anterior.

Bad company, I can\'t deny / Bad, bad company
\'Til the day I die...”

Olhava para o lago, tranqüilo, como se ele pudesse dar as respostas que ela tanto buscava.

Dean se aproximou dela, e novamente sentou-se ao seu lado como da vez anterior.

- Esqueceu de pegar isso – Dean deixou ao lado dela o carregador de sua arma, que na pressa ficou em cima da mesa.

O mesmo silêncio de antes pairava no ar.

- Eu nunca faria algo sério de cabeça quente - Valery respondeu a pergunta que Dean fez mentalmente, o que o fez segui-la até lá.

- Eu não disse nada...

- Não precisa dizer, você veio aqui.

Ambos olhavam para o lago, que refletia a luz do sol de forma singular.

Rebel souls, deserters we are called / Chose a gun and threw away the sun
Now these towns, they all know our names / Six gun sound is our claim to fame
I can hear \'em say...”

- Eu sinto muito Dean... Eu fiz um juramento de nunca me envolver de maneira pessoal em nenhum caso, seja comum ou sobrenatural... Mas esse caso mexe muito comigo, pois é a minha família...

Ela se amaldiçoava por soltar aquelas palavras, pois não queria nunca parecer magoada, ou fraca... Pelo menos não agora, justamente quando estava se sentindo assim.

Ainda mais na frente daquele homem, cuja audácia e coragem fez com que ele se destacasse em seus pensamentos, o fez admirá-lo... Ele tinha sangue frio, e a tratava como igual, e que nem tinha medo dela ou de como ela agiria... Alguém que entendia de sofrimento e dor tanto quanto ela, e que estava disposto a guerrear contra tudo aquilo podia destruir o que ainda lhe restava...

Amaldiçoou-se ainda mais por escutar seu coração, que poucas vezes falou tão alto quanto naqueles dias. Droga!

- Você já parou para pensar o quanto vale a pena tudo isso? – Dean lançou a pergunta, também para si mesmo.

- Você já pensou em parar com tudo isso? – Valery devolveu a pergunta, virando-se para ele.

Bad company, I can\'t deny / Bad, bad company
\'Til the day I die...”

- Algumas vezes...

Seus olhares se cruzaram, e puderam perceber pela primeira vez que ambos estavam desarmados.

Era como se seus olhos pudessem dizer bem mais do que as palavras, e sabiam dizer melhor...

- Você já acordou alguma vez no meio da noite, tendo pesadelos com as coisas que você já matou? – Valery voltava seus olhos para o lago.

- Só quando eu não consigo terminar meu trabalho, o que aconteceu pouquíssimas vezes... – Dean sabia que era bom no que fazia.

- Todas as noites acordo ouvindo os gritos da minha família, há pelo menos vinte anos...

Os dois permaneceram por mais um momento de silêncio, apreciando a paisagem.

- Depois da morte do meu pai, todas as noites eu sonho com ele – Dean pegou um pedrisco do chão e atirou no lago, tirando-o da inércia em que estava.

Ambos sentiam-se estranhos por partilharem algo tão íntimo para eles, mas não sabiam explicar como eles se sentiam tão seguros um na presença do outro.

Rebel souls, deserters we are called / Chose a gun and threw away the sun
Now these towns, they all know our names / Six gun sound is our claim to fame
I can hear \'em say...”

- Estou cansada, Dean... Cansada... - Já não estava mais pensando direito, seja pelo cansaço físico, mental ou ainda pelo momento que estava vivendo ali.

Ela voltou-se para ele, e nunca justificaria a atitude que estava prestes a tomar.

Repousou a cabeça no ombro dele e fechou os olhos. Ele envolveu-a num abraço suave, também confuso pois não esperava tal reação. Pensou que teria que brigar, desafiar, quem sabe vencê-la pelos meios que conhecia e que pensou que ela adotaria.

Nesse gesto ele pôde sentir o calor de seu corpo, seu cheiro, e ela pôde sentir as mãos firmes e quentes dele a envolvê-la, e ambos sentiam seus corações pulsarem, como se fossem um só.

Bad company, I can\'t deny / Bad, bad company
\'Til the day I die...”

Ele fechou seus olhos e respirou fundo, como se nos segundos anteriores tivessem lhe privado o ar.

A tarde terminava tranqüila, sem alarde... O sol já estava quase se escondendo atrás do horizonte, e só um filete dourado pairava nas águas claras daquele lago.

Nos braços um do outro, sentiram paz.


A noite já caía, e o dourado refletido no lago começava a dar lugar ao prateado da lua cheia, totalmente despida das nuvens características de outono, que excepcionalmente não apareceram.

Parecia que aquele abraço durava horas... E nenhum dos dois queria que acabasse.

Em suas memórias tudo o que havia acontecido com eles nestes últimos dias, todas as situações, tudo se passava como um filme, com todo o enredo desenrolado, porém sem um desfecho ainda.

Suas respirações estavam mais tranqüilas do que há poucos minutos atrás, seus corações batiam compassados, no mesmo ritmo, quase pulsando normalmente.

Sentiam-se aliviados, pois de alguma forma partilhavam toda a carga que eram obrigados a levar, cada um, desde que começaram esta vida infeliz, desde crianças, sendo treinados para lutar sem ter medo de nada nem ninguém.

Suas almas, nuas, como a luz da lua no céu.

Num susto despertaram, com o toque do celular de Dean.

- Cara, onde vocês se meteram? O Tio Jack já chegou, não podemos perder tempo! – Sam estava nervoso ao telefone, pois não tinham conversado direito sobre um plano.

- Tá legal cara, já estamos a caminho – Dean levantou-se voltando para o carro, e Valery em direção à sua moto.

‘ – Estamos a caminho?’ Vocês deveriam estar aqui agora, caramba! – Sam reunia as armas e Tio Jack arrumava tudo em sua Van devidamente equipada.

- Tá bom, cara! Nos encontramos no começo daquela estrada que pegamos para chegar lá – Dean desligou o telefone, e antes de entrar no carro virou-se para a detetive.

- Valery... - Dean pôde ver algumas lágrimas refletirem no rosto dela, as últimas que restaram antes de serem enxugadas por ela, que se sentia um pouco melhor, apesar de tudo.

- Vá, já perdemos tempo demais, lá conversamos sobre o que vamos fazer... Subiu na moto, e antes de colocar o capacete, ainda completou:

- Dean, obrigada por tudo...

Sem dar chance de Dean responder, partiu como sempre, numa arrancada ensurdecedora, sumindo pela estrada escura.

Naquela tarde revelou um lado dela que nunca havia revelado pra ninguém, e que ele próprio tinha, e que estava disposto a revelar a ela também...

Dean tentava entender porque ela tinha dito aquilo, e logo pensou em si mesmo, em como sentia-se aliviado por saber que com ela, ele poderia ser ele mesmo...

Compreendeu e sorriu timidamente.


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