Destinos escrita por DetRood


Capítulo 6
Revelações




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Pela manhã, a paisagem da janela do quarto dos rapazes era como se fosse tirada de um livro de arte: O lago, a floresta ao fundo, o horizonte azul limpo, típico de uma manhã daquela estação.

Só estava faltando paz de espírito, coisa que eles infelizmente nunca encontraram, e nem tão cedo sabiam que encontrariam.

Sam olhava pela janela, ainda deitado, pensando nas coisas que havia perdido durante seu período de caçada, todo o mundo lá fora, que sequer imaginava que as coisas que para as pessoas comuns eram apenas lendas, para eles era uma dura realidade que eles tinham que enfrentar.

E que durante o tempo em que brigou com seu pai, e que foi para a faculdade, e que conheceu Jéssica, e como foi uma época boa, apesar dos problemas familiares, e que durou tão pouco...

- Hey, a gata dos seus pensamentos não tem uma amiga, não? – Dean se espreguiçou contente, apesar de ter dormido menos que seu irmão por ficar na sala até de madrugada com a silenciosa companhia da detetive.

- Bom dia rapazes, dormiram bem? – Tia Olga entrou de repente no quarto com duas canecas de café, pouco se importando se estavam com ou sem roupas debaixo das cobertas.

Os irmãos se cobriram, envergonhados com a presença daquela senhora tão cedo, e eles naquelas condições.

- Ora, mas não precisam ter vergonha! Afinal, vocês não têm nada do que eu já não tenha visto! Tia Olga deu uma piscadinha e entregou as canecas.

Os irmãos ali comprovaram de quem Valery tinha puxado a irreverência...

- Os dois estão esperando por vocês lá fora, na frente de casa... Vistam-se, e se agasalhem que está frio lá fora! – Tia Olga esfregava as mãos, e se retirou do quarto para continuar seus afazeres domésticos.

Ao chegarem na varanda, Tio Jack estava sentado em sua poltrona forrada de lã de carneiro, e Valery sentada na mureta de madeira trabalhada.

- Bom dia rapazes, por favor, se acomodem – Tio Jack apontava duas poltronas forradas com pele de veado à sua frente e ao lado de onde Valery estava.

- Muito bem, então o Tio Jack é um caçador das antigas... – Dean sentou-se, e percebeu que foi infeliz na frase ao ver mesmo olhar gélido da sobrinha que o senhor manteve naquele instante.

- Pelo visto vocês levam numa boa esse trabalho, senão ou já teriam se aposentado, ou enlouquecido, ou morrido... Vocês podem perceber que eu escolhi a primeira opção...

Tio Jack foi infeliz na frase, mas de propósito...

- Bem, a questão é que Valery trouxe vocês até aqui para conversarmos sobre este caso, que também é importante para mim – Tio Jack se ajeitava na poltrona, olhando sério para os rapazes – Pois eu, feliz ou infelizmente, sei do que se trata...

Os irmãos olhavam atentos para o senhor, e Valery só escutava, olhando na direção do lago.

Seus olhos estavam tristes e brilhantes, como quem quisesse chorar, mas como se tratava de Valery Rood ela nunca faria isso, ainda mais na frente de outras pessoas...

- Rapazes, quando eu caçava pela polícia um dos últimos casos que eu peguei foi o da minha própria família... E creio que vocês sabem exatamente pelo que eu passei e o que senti.

Os rapazes se entreolharam e realmente sabiam.

- Quando eu recebi o chamado da ocorrência e vi que era na casa do meu irmão, eu suei frio... Chegando lá, encontramos meu irmão, a esposa e o filho mais velho mutilados na sala de estar. E minha sobrinha, minha pequena garotinha, sentada próximo ao que restou da família, tremendo de medo e de frio...

- E eu não me lembro de quase nada, tio... – Valery olhou novamente para o lago.

Para ela era difícil e frustrante não se lembrar dos detalhes importantes, mas se lembrar da dor de ter perdido sua família numa tragédia.

- Resgatamos a criança, e recolhemos o que sobrou... A perícia não encontrou digitais e nem um fio de cabelo sequer. Não havia suspeitos, então o caso ficou arquivado, mesmo sendo o assassinato sem lógica de um policial...

Todos ouviam atentamente, enquanto tio Jack se levantou e encostou suas mãos na mureta próximas à sua sobrinha.

- Mas o que você não sabia Valery – Tio Jack virou-se para ela, num tom sério – É que seu pai de fato se infiltrou na Aliança, pois estávamos trabalhando neste caso... Só que isso custou a vida dele e a vida de sua mãe e seu irmão...

Os irmãos o olharam intrigados, não mais do que a detetive para seu tio.

- Você herdou do seu pai toda a ousadia e teimosia... O tio virou-se para os rapazes, que ouviam todo aquele discurso sem entender muita coisa.

- Rapazes, toda cidade tem sua lenda, não é verdade? Pois bem, aqui em Austin, infelizmente nós temos a lenda da Aliança...Uma espécie de sociedade secreta que fez um pacto com um demônio há muitas décadas atrás, onde em troca de suas crianças mais novas, toda a família teria saúde e prosperidade enquanto durasse...

- Como um pai ou uma mãe faz um pacto desses! Sam não escondia sua indignação.

- A questão é que isso é herdado de geração em geração... Desde a primeira Aliança, todas as famílias descendentes do pacto devem cumprir o que seus ancestrais selaram, senão toda aquela geração que não cumprir é exterminada cruelmente...

- Então todas as famílias nos enganaram direitinho! – Dean fez um gesto de descontentamento.

- Não necessariamente jovem... Os homens das famílias são os responsáveis por manter o pacto, então nem sempre as mulheres sabem que suas crianças mais novas estão condenadas... É possível que muitas mulheres com quem vocês conversaram não faziam idéia do que aconteceu com seus filhos...

- E o que minha mãe dizia na época, tio...

- Sua mãe não sabia, senão certamente ela teria impedido seu pai. Estávamos há meses tentando descobrir alguma pista, quando conseguimos seu pai decidiu se arriscar e entrar na sociedade para achar seu ponto fraco e destruí-la... Estava tudo sob controle, mas de alguma forma descobriram que ele era um espião, e então nosso plano falhou...

Tio Jack se aproximou da sobrinha e colocou sua mão em um de seus ombros, estava com lágrimas nos olhos.

- Eu falhei com você, minha querida... Falhei com seu pai, sua mãe e seu irmão, por isso decidi largar tudo e me refugiar aqui, longe de todo aquele terror, criar você e suas primas de forma que pudessem se defender só se fosse preciso...

Valery olhava para o tio, também com lágrimas nos olhos.

- Longe de tudo aquilo, para salvar a família que ainda restava, e que depois cresceu... Mas quem segura você e esse seu gênio! - Tio Jack deu um sorriso banhado em lágrimas.

- É, eu sei que insisti até demais em querer seguir os passos de vocês – Valery se segurava para não chorar, sorrindo também pelo comentário de seu tio.

- E o senhor não falhou com ninguém tio, pelo contrário: A prova viva é de que estamos aqui, e vamos de uma vez por todas acabar com essa história.

Os irmãos observavam todo aquele diálogo, e Dean deu uma tossida que fez Tio Jack e Valery se voltarem para eles.

- Me desculpem, rapazes... Quando se envelhece, se amolece... – Tio Jack enxugava seu rosto, voltando ao lugar onde estava sentado.

- Então, onde estávamos? - Tio Jack se ajeitou na cadeira para continuar a conversa.

- Porque não mataram Valery? - Sam perguntou.

- Porque eu sempre fui esperta para farejar perigo... Disso eu me lembro: Quando senti que alguma coisa ruim ia acontecer, eu entrei na estante e fiquei escondida... Só me lembro da escuridão e dos gritos de socorro da minha família... Depois disso, não lembro de mais nada... Só sei do que o meu tio conta.

- Certo... E agora, quer dizer que a única pista que temos são as próprias famílias que perderam suas crianças? - Perguntou o irmão mais velho.

- Tecnicamente sim – E sugiro ver quais as mais bem-sucedidas, para aumentar nossas chances de encontrar o local dos sacrifícios ou ainda o cativeiro, se é que eles guardam as vítimas – Valery desceu da mureta e ficou em pé, ao lado do tio.

Dean ouvia toda aquela conversa e pensava o que de fato eles iriam caçar...

- Mas afinal de contas, com o que estamos lidando? Uma espécie de demônio, um sacerdote, só humanos, o que diabos vamos ter que mandar de volta pro inferno? – Dean estava cansado de toda a pasmaceira que se encontravam.

- Calma lá, apressado! Justamente estamos discutindo sobre isso, e já sabemos que é um demônio, mas não sabemos qual exatamente, nem como exterminá-lo – Valery deu um passo a frente.

- Caçadores, não se exaltem, por favor! Vamos juntar nossas idéias e planejar nossa abordagem – Tio Jack tentava apaziguar, percebendo o mal estar entre sua sobrinha e o rapaz mais velho.

- Nosso acervo sobre demônios é vasto, eu vou dar uma olhada, certamente eu vou encontrar alguma coisa... – Sam levantou-se para consultar o diário de seu pai.

- O que talvez você não esteja acostumado Dean, é que provavelmente teremos que lidar com humanos antes de chegar ao demônio... – Valery recuou em respeito à presença do tio - E isso inclui baixas humanas, portanto pode preparar sua munição...

Dean de fato se incomodava com a idéia de ter que matar pessoas, e não coisas sobrenaturais. Mas se fosse preciso, e a essa altura do campeonato, não importava muito para ele se tivesse que dar cabo de pessoas que são capazes de sacrificar seus próprios descendentes.

- Jovem, eu lamento muito pela morte de seu pai... Realmente gostaria de tê-lo conhecido, mas nossos tempos de caçada não se cruzaram... E você parece ser bem determinado, não é mesmo?

Dean pensava se ele poderia, e principalmente queria falar sobre seu pai e sobre tudo o que aconteceu com a família dele.

- Bom, eu também herdei a ousadia e teimosia... Na medida do possível, ele nos criou e nos treinou bem – Dean se levantou e foi em direção a porta.

- Bom, espero que tenha mesmo, este caso será bem delicado em se tratando de gente... Quanto menos humanos matarmos será melhor – Valery também saiu de onde estava, ocupando o lugar de Sam.

- E eu espero que não seja preciso – Dean encerrou sua parte na conversa, indo se juntar a Sam.

A detetive e seu tio permaneceram na varanda a colocar a conversa em dia.

- Minha querida, está tudo bem com você? Quer dizer, dentro do possível... O tio segurou as mãos da sobrinha, que fez uma cara de curiosidade pela pergunta.

- Está tio... Na medida do possível sim...Mas por que essa pergunta?

Tio Jack voltou para a posição anterior, com um sorriso.

- Nada, só por perguntar...

Ele conhecia muito bem a sobrinha, e sabia que alguma coisa nela tornava-se diferente na presença dos rapazes.

Ele sabia que ela sofreu e ainda sofreria muito na vida em razão do destino que escolheu, e que de alguma forma, essa nova amizade trazia um quê de felicidade à vida dela.

“Será?...” – Tio Jack pensava.

E os dois continuaram a conversar e a matar a saudade, na manhã fria e ensolarada.


- Muito bem, então temos um bando de doentes que fez um pacto com algum demônio filho da p que arranca corações de criancinhas inocentes – Dean deitou-se na grande cama do quarto onde estavam hospedados.

Sam estava com seu laptop ligado em cima da escrivaninha, e atentamente analisava o diário do pai, na esperança de encontrar qualquer coisa que mencionasse ou lembrasse o caso. Olhou para o irmão, e como sempre reprovava o jeito dele, nem se preocupou em responder.

- Alguma coisa não bate... Não é possível que a polícia local não tenha tomado nenhuma atitude quanto a essa seita, Dean – Sam folheava o diário, ainda sem encontrar a resposta que queriam.

- A não ser que também eles estejam envolvidos – Dean sentou-se na cama como se um ‘insight’ o tivesse tomado.

- A questão é que qualquer pessoa da cidade pode estar envolvida... Mas é uma possibilidade...Até que você é capaz de pensar – Sam virou-se para ele concordando, e voltando aos relatórios oficiais fornecidos pela detetive.

- Então deixa eu te ajudar – Dean levantou-se e sentou-se à mesa com seu irmão.

Folheando mais alguns relatórios e recortes, chegaram a algumas informações interessantes.

- Sammy, onde estão aqueles primeiros recortes que encontramos sobre o desaparecimento das crianças e os bairros envolvidos? – Dean se referia justamente a primeira pesquisa que eles fizeram, o que causou a visita até aquela cidade.

- Um momento, está aqui... A lista dos bairros onde as crianças desapareceram... E a casa onde encontramos os corpos, é um dos primeiros bairros da lista, de uma forma ou de outra demos sorte...

- Ou não, já que temos companhia – Dean se referia a detetive.

Sam virou-se para seu irmão, e num tom tranqüilo soltou:

- Irmão, essa implicância toda dá muita bandeira, sabia? É assim que se começam grandes paixões...

Dean fez uma careta de espanto, desconcertado porque nunca imaginou que aquilo saísse do seu irmão.

- Cara, você acha que eu sou trouxa? Maluco, eu sei que eu sou, aliás somos, por nos metermos nestas enrascadas, mas fala sério... - Dean ria nervosamente, tentando parecer o mais natural possível, e se odiando pois de fato não sabia definir o que sentia.

- Tá bom, tá bom... Hum... Veja isso: Segundo o relatório policial, a casa está em nome de “Espólio de Allison Sanders”...

- Julie Sanders, viúva, filha desaparecida, lágrimas de crocodilo!

- Não julgue precipitado Dean, lembre-se do que o tio Jack falou, nem sempre as esposas sabem do pacto, talvez seja o caso... – Sam olhava atentamente os papéis em cima da mesa.

- Talvez seja o caso de fazermos uma nova visitinha pra ela – Dean levantou-se e foi em direção à porta.

- Mas a esta altura ela já deve saber que não somos conselheiros, é arriscado para nós – Sam virou-se acompanhando o movimento do irmão com os olhos.

- Mas não pra nossa parceira! - Dean deu uma piscada de olho pro irmão e saiu do quarto.

Sam sorriu, e continuou seu trabalho silencioso.

Mais algumas folheadas do diário de John Winchester, e leu sobre todos os rituais descritos, mas nada envolvendo crianças.

Porém, viu uma informação comum à todos: Os rituais são feitos na fase da lua cheia.

- ‘Se for assim, temos só um dia para encontrar o local’, pensava Sam.


Valery fazia contato com Julie Sanders avisando-a de que iria visitá-la para conversar, enquanto os irmãos estavam na sala especulando como encontrariam o local dos sacrifícios.

- Rapazes, minha mãe está chamando para o jantar – Diana disse com uma voz doce olhando para o mais novo, que até o mais velho percebeu e sorriu maliciosamente.

- Hey Sammy, até neste fim de mundo arrasando corações hein!

- Porque você não cala essa sua boca e faz algo de bom pra variar? – Sam levantou-se do sofá e acompanhou a bela moça.

- Eu vou daqui a pouco, irmão – Dean deu uma piscada de olho para Sam que saiu suspirando e pensando em como o mais velho era imaturo.

- Muito bem, marquei com ela amanhã cedo, portanto partimos nesta madrugada... – A detetive voltava da varanda com o tio. Estava com um semblante mais tranqüilo, por saber que os anos à espera de justiça estavam chegando ao final.

- Acharam mais alguma coisa sobre os rituais? - Valery sentou-se ao lado do mais velho, que se ajeitou no sofá para ficar de frente com ela.

- Nada de específico... Demônios geralmente se apoderam de um corpo e só podem ser exterminados se exorcizados...Um exorcismo básico resolveria o problema, mas como caçadora, você já deveria saber disso – Dean a olhava nos olhos e a desafiava, como ele achava que ela sempre fazia.

A detetive olhava para ele pensando como ele era arrogante e estúpido, mas acabava se perdendo naqueles olhos verdes cristalinos...

- Hum, interessante... Então como caçador que é, deve saber também que existem dezenas de tipos de demônios e possessões – Valery apoiou o cotovelo no sofá e seu rosto na mão – Portanto, meu caro, precisamos reunir tudo o que tivermos de munição e estar preparados...

Os dois se encaravam novamente como da primeira vez.

Valery levantou-se do sofá e foi em direção à cozinha.

- Estão sem fome por acaso? Tia Olga fica brava quando se demora, hein...

- Comida? Disse a senha secreta! - Dean se levantou e Tio Jack ficou observando os dois se juntarem aos demais para o jantar.

Sorriu, respondendo mentalmente á sua pergunta anterior.


Naquela noite Sam não estava conseguindo pregar os olhos por causa do calor repentino, estranhamente acontecendo em pleno outono...

Mama, take this badge off of me / I can\'t use it anymore
It\'s getting dark, too dark for me to see / I feel like I\'m knocking on heaven\'s door...”

Foi até a varanda do quarto, e ouviu de longe a música na voz de Bob Dylan, ficou curioso para saber o que era.

Percebeu que o som vinha do quarto ao lado, onde Valery estava hospedada, só que de cima do telhado...

Mama, put my guns in the ground / I can\'t shoot them anymore / That long black cloud is coming down / I feel like I\'m knocking on heaven’s door...”

Valery estava em cima do telhado, admirando a ‘paisagem urbana’ no horizonte, as luzes da cidade mais próxima tentavam a iluminar a noite escura.

- Sem sono, também? Junte-se ao clube!... – Valery estava com umas garrafas de cerveja ao seu lado, mais um aparelho de som portátil.

- Como você foi parar aí? – Sam pensou que ela havia no mínimo escalado a parede para chegar até o telhado.

- Hum, tem uma escada ao seu lado, se quiser suba!

Sam sorriu por ser tão idiota...

- Por conta da casa! - Valery ofereceu uma garrafa a Sam, que aceitou.

- Obrigado... Sei que não é da minha conta, mas deveria estar descansando, não...

- Hoje, tecnicamente, é meu dia de folga... – Valery tomou um gole de cerveja, olhando o horizonte pouco iluminado.

- Ah, então, a super-policial também tira folga!... – Sam abriu a garrafa.

Com um sorriso triste a detetive não respondeu, e sabia que ela na realidade nunca tirava folga, e a vida dela se resumia somente aquilo...

- Estamos bem perto de solucionar este caso, Sam... Se chegarmos até o local dos rituais, encerraremos esta carnificina... – Tomou num gole só o conteúdo restante da garrafa.

- Sim, mas não sabemos direito com o que estamos lidando, todo cuidado é pouco...- Sam olhava também para o horizonte.

- Meu tio contou o que aconteceu com a sua família... Você não se lembra de sua mãe, não é?...

- Não... Na verdade exatamente como ela era não, pois eu era um bebê quando ela morreu... Mas quando Dean e eu voltamos à nossa antiga casa investigar um caso, tive um encontro com o espírito dela... Ela era linda...

- Talvez tenha sido melhor, Sam... A dor de perder alguém com quem você conviveu e tem lembranças, é horrível...

- Valery, por causa de um demônio eu também perdi minha namorada, Jéssica... Tinha comprado um anel de noivado pra ela... É uma dor horrível você querer e não poder fazer nada a respeito... Eu sei que sou responsável por isso, e isso me machuca muito... Assim como Dean se culpa até hoje pela morte do pai...

- Como assim ele se culpa?

Sam assumiu uma feição triste, e decidiu contar o que aconteceu com seu pai, pois sabia que podia confiar nela.

- Sofremos um acidente, e Dean ficou entre a vida e a morte... Meu pai trocou a vida dele pela vida de Dean, assumindo um pacto com o mesmo demônio que matou Jess e nossa mãe... E esse fato agregou mais valor à nossa caçada pessoal.

Valery entendia o porquê do mais velho ser tão fechado, se escondendo numa capa de sarcasmo e humor negro.

Afinal de contas, ela fazia o mesmo.

- Sam, nenhum dos dois é culpado de nada, nem ninguém... No final, somos todos vítimas de nossos próprios medos... Lamento muito pela sua perda, não sabia... – Valery voltou-se para ele, e viu seu semblante de desgosto.

Ela colocou suas mãos no rosto de Sam, e era como se eles fossem velhos amigos, sentiam-se à vontade para conversar e partilhar seus sentimentos.

- Tenho toda certeza de que você e seu irmão fizeram o que lhes foi possível... Por sua mãe, pela Jéssica, pelo seu pai, e por todas as vidas que vocês conseguiram salvar, não se culpem por todas as dores do mundo...

- Valery, estes dias têm sido muito importantes para mim e Dean, pois conhecemos alguém que nos compreende...

- Pra mim também, Sam... Não sabe o quanto... – Respondeu, voltando ao seu lugar.

Sam a olhou com pena, pois ela também perdeu pessoas que amava, do mesmo modo que ele e seu irmão.

- Estas pessoas provavelmente não são as mesmas que mataram meus pais, mas de qualquer maneira, farei justiça à memória deles e de todas as outras famílias que perderam suas crianças...

Sam abaixou a cabeça e se lembrou que toda aquela guerra era da família dele também.

Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos, admirando a noite passar...

- Hey, podemos conversar sobre algo mais animado? – Rompeu o silêncio Valery, se sentindo um pouco alta por causa das cervejas.

- Sim, sobre o que quer conversar?

- Fiquei sabendo que antes de começar sua caçada com seu irmão, você fazia faculdade... De quê?

- Ah, eu prestei exame para estudar Direito em Stanford...

- Sério? Que interessante! Eu sou formada em Direito, perita em Psicologia forense, com quem você iria ter aulas?

E assim os dois ficaram até o começo da madrugada conversando sobre a faculdade, sobre o curso, e sobre várias coisas...

Dean ouvia de longa as risadas que vinham do quarto ao lado, mais precisamente do telhado ao lado.

- Sammy, você está ferrado... – Murmurava Dean, se mexendo desconfortavelmente na cama.

- Então Valery, nestes anos todos de trabalho, você nunca se envolveu com ninguém? Perguntou Sam já se sentindo meio zonzo por causa das cervejas.

- Pergunta indiscreta, Sam... Mas não, nunca apareceu alguém que valesse a pena... – Respondeu séria.

- E se aparecesse alguém, o que faria?

- Onde você quer chegar, Sam... – Perguntou mais séria ainda.

- Bem, nada de mais, só curiosidade... Você não tem vontade de formar família, um dia largar tudo isso? Afinal de contas, você tem um bom emprego, uma boa carreira...

- Sim, Sam... Mas só quando tudo um dia terminar, um dia...

Valery olhou para o vazio, pensando se realmente aquilo era o que ela queria.

- Você também Sam, deve pensar em você... Entendo que a sua perda foi grande, mas a questão é que você ficou, está vivo... Deveria pensar também sobre isso...

Sam abaixou a cabeça, e sabia que ela estava certa.

- Só quando eu me sentir preparado, Valery... – Concluiu Sam.

- Mais uma cerveja e vamos dormir, amanhã será um dia agitado! – A detetive abriu a última garrafa.

“De fato, são bem parecidos...” - Sam sorriu, e levantou-se para voltar ao quarto.


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Notas finais do capítulo

Bom, mais dois capítulos...



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