Destinos escrita por DetRood
Pela manhã, a paisagem da janela do quarto dos rapazes era como se fosse tirada de um livro de arte: O lago, a floresta ao fundo, o horizonte azul limpo, típico de uma manhã daquela estação.
Só estava faltando paz de espírito, coisa que eles infelizmente nunca encontraram, e nem tão cedo sabiam que encontrariam.
Sam olhava pela janela, ainda deitado, pensando nas coisas que havia perdido durante seu período de caçada, todo o mundo lá fora, que sequer imaginava que as coisas que para as pessoas comuns eram apenas lendas, para eles era uma dura realidade que eles tinham que enfrentar.
E que durante o tempo em que brigou com seu pai, e que foi para a faculdade, e que conheceu Jéssica, e como foi uma época boa, apesar dos problemas familiares, e que durou tão pouco...
- Hey, a gata dos seus pensamentos não tem uma amiga, não? – Dean se espreguiçou contente, apesar de ter dormido menos que seu irmão por ficar na sala até de madrugada com a silenciosa companhia da detetive.
- Bom dia rapazes, dormiram bem? – Tia Olga entrou de repente no quarto com duas canecas de café, pouco se importando se estavam com ou sem roupas debaixo das cobertas.
Os irmãos se cobriram, envergonhados com a presença daquela senhora tão cedo, e eles naquelas condições.
- Ora, mas não precisam ter vergonha! Afinal, vocês não têm nada do que eu já não tenha visto! Tia Olga deu uma piscadinha e entregou as canecas.
Os irmãos ali comprovaram de quem Valery tinha puxado a irreverência...
- Os dois estão esperando por vocês lá fora, na frente de casa... Vistam-se, e se agasalhem que está frio lá fora! – Tia Olga esfregava as mãos, e se retirou do quarto para continuar seus afazeres domésticos.
Ao chegarem na varanda, Tio Jack estava sentado em sua poltrona forrada de lã de carneiro, e Valery sentada na mureta de madeira trabalhada.
- Bom dia rapazes, por favor, se acomodem – Tio Jack apontava duas poltronas forradas com pele de veado à sua frente e ao lado de onde Valery estava.
- Muito bem, então o Tio Jack é um caçador das antigas... – Dean sentou-se, e percebeu que foi infeliz na frase ao ver mesmo olhar gélido da sobrinha que o senhor manteve naquele instante.
- Pelo visto vocês levam numa boa esse trabalho, senão ou já teriam se aposentado, ou enlouquecido, ou morrido... Vocês podem perceber que eu escolhi a primeira opção...
Tio Jack foi infeliz na frase, mas de propósito...
- Bem, a questão é que Valery trouxe vocês até aqui para conversarmos sobre este caso, que também é importante para mim – Tio Jack se ajeitava na poltrona, olhando sério para os rapazes – Pois eu, feliz ou infelizmente, sei do que se trata...
Os irmãos olhavam atentos para o senhor, e Valery só escutava, olhando na direção do lago.
Seus olhos estavam tristes e brilhantes, como quem quisesse chorar, mas como se tratava de Valery Rood ela nunca faria isso, ainda mais na frente de outras pessoas...
- Rapazes, quando eu caçava pela polícia um dos últimos casos que eu peguei foi o da minha própria família... E creio que vocês sabem exatamente pelo que eu passei e o que senti.
Os rapazes se entreolharam e realmente sabiam.
- Quando eu recebi o chamado da ocorrência e vi que era na casa do meu irmão, eu suei frio... Chegando lá, encontramos meu irmão, a esposa e o filho mais velho mutilados na sala de estar. E minha sobrinha, minha pequena garotinha, sentada próximo ao que restou da família, tremendo de medo e de frio...
- E eu não me lembro de quase nada, tio... – Valery olhou novamente para o lago.
Para ela era difícil e frustrante não se lembrar dos detalhes importantes, mas se lembrar da dor de ter perdido sua família numa tragédia.
- Resgatamos a criança, e recolhemos o que sobrou... A perícia não encontrou digitais e nem um fio de cabelo sequer. Não havia suspeitos, então o caso ficou arquivado, mesmo sendo o assassinato sem lógica de um policial...
Todos ouviam atentamente, enquanto tio Jack se levantou e encostou suas mãos na mureta próximas à sua sobrinha.
- Mas o que você não sabia Valery – Tio Jack virou-se para ela, num tom sério – É que seu pai de fato se infiltrou na Aliança, pois estávamos trabalhando neste caso... Só que isso custou a vida dele e a vida de sua mãe e seu irmão...
Os irmãos o olharam intrigados, não mais do que a detetive para seu tio.
- Você herdou do seu pai toda a ousadia e teimosia... O tio virou-se para os rapazes, que ouviam todo aquele discurso sem entender muita coisa.
- Rapazes, toda cidade tem sua lenda, não é verdade? Pois bem, aqui em Austin, infelizmente nós temos a lenda da Aliança...Uma espécie de sociedade secreta que fez um pacto com um demônio há muitas décadas atrás, onde em troca de suas crianças mais novas, toda a família teria saúde e prosperidade enquanto durasse...
- Como um pai ou uma mãe faz um pacto desses! Sam não escondia sua indignação.
- A questão é que isso é herdado de geração em geração... Desde a primeira Aliança, todas as famílias descendentes do pacto devem cumprir o que seus ancestrais selaram, senão toda aquela geração que não cumprir é exterminada cruelmente...
- Então todas as famílias nos enganaram direitinho! – Dean fez um gesto de descontentamento.
- Não necessariamente jovem... Os homens das famílias são os responsáveis por manter o pacto, então nem sempre as mulheres sabem que suas crianças mais novas estão condenadas... É possível que muitas mulheres com quem vocês conversaram não faziam idéia do que aconteceu com seus filhos...
- E o que minha mãe dizia na época, tio...
- Sua mãe não sabia, senão certamente ela teria impedido seu pai. Estávamos há meses tentando descobrir alguma pista, quando conseguimos seu pai decidiu se arriscar e entrar na sociedade para achar seu ponto fraco e destruí-la... Estava tudo sob controle, mas de alguma forma descobriram que ele era um espião, e então nosso plano falhou...
Tio Jack se aproximou da sobrinha e colocou sua mão em um de seus ombros, estava com lágrimas nos olhos.
- Eu falhei com você, minha querida... Falhei com seu pai, sua mãe e seu irmão, por isso decidi largar tudo e me refugiar aqui, longe de todo aquele terror, criar você e suas primas de forma que pudessem se defender só se fosse preciso...
Valery olhava para o tio, também com lágrimas nos olhos.
- Longe de tudo aquilo, para salvar a família que ainda restava, e que depois cresceu... Mas quem segura você e esse seu gênio! - Tio Jack deu um sorriso banhado em lágrimas.
- É, eu sei que insisti até demais em querer seguir os passos de vocês – Valery se segurava para não chorar, sorrindo também pelo comentário de seu tio.
- E o senhor não falhou com ninguém tio, pelo contrário: A prova viva é de que estamos aqui, e vamos de uma vez por todas acabar com essa história.
Os irmãos observavam todo aquele diálogo, e Dean deu uma tossida que fez Tio Jack e Valery se voltarem para eles.
- Me desculpem, rapazes... Quando se envelhece, se amolece... – Tio Jack enxugava seu rosto, voltando ao lugar onde estava sentado.
- Então, onde estávamos? - Tio Jack se ajeitou na cadeira para continuar a conversa.
- Porque não mataram Valery? - Sam perguntou.
- Porque eu sempre fui esperta para farejar perigo... Disso eu me lembro: Quando senti que alguma coisa ruim ia acontecer, eu entrei na estante e fiquei escondida... Só me lembro da escuridão e dos gritos de socorro da minha família... Depois disso, não lembro de mais nada... Só sei do que o meu tio conta.
- Certo... E agora, quer dizer que a única pista que temos são as próprias famílias que perderam suas crianças? - Perguntou o irmão mais velho.
- Tecnicamente sim – E sugiro ver quais as mais bem-sucedidas, para aumentar nossas chances de encontrar o local dos sacrifícios ou ainda o cativeiro, se é que eles guardam as vítimas – Valery desceu da mureta e ficou em pé, ao lado do tio.
Dean ouvia toda aquela conversa e pensava o que de fato eles iriam caçar...
- Mas afinal de contas, com o que estamos lidando? Uma espécie de demônio, um sacerdote, só humanos, o que diabos vamos ter que mandar de volta pro inferno? – Dean estava cansado de toda a pasmaceira que se encontravam.
- Calma lá, apressado! Justamente estamos discutindo sobre isso, e já sabemos que é um demônio, mas não sabemos qual exatamente, nem como exterminá-lo – Valery deu um passo a frente.
- Caçadores, não se exaltem, por favor! Vamos juntar nossas idéias e planejar nossa abordagem – Tio Jack tentava apaziguar, percebendo o mal estar entre sua sobrinha e o rapaz mais velho.
- Nosso acervo sobre demônios é vasto, eu vou dar uma olhada, certamente eu vou encontrar alguma coisa... – Sam levantou-se para consultar o diário de seu pai.
- O que talvez você não esteja acostumado Dean, é que provavelmente teremos que lidar com humanos antes de chegar ao demônio... – Valery recuou em respeito à presença do tio - E isso inclui baixas humanas, portanto pode preparar sua munição...
Dean de fato se incomodava com a idéia de ter que matar pessoas, e não coisas sobrenaturais. Mas se fosse preciso, e a essa altura do campeonato, não importava muito para ele se tivesse que dar cabo de pessoas que são capazes de sacrificar seus próprios descendentes.
- Jovem, eu lamento muito pela morte de seu pai... Realmente gostaria de tê-lo conhecido, mas nossos tempos de caçada não se cruzaram... E você parece ser bem determinado, não é mesmo?
Dean pensava se ele poderia, e principalmente queria falar sobre seu pai e sobre tudo o que aconteceu com a família dele.
- Bom, eu também herdei a ousadia e teimosia... Na medida do possível, ele nos criou e nos treinou bem – Dean se levantou e foi em direção a porta.
- Bom, espero que tenha mesmo, este caso será bem delicado em se tratando de gente... Quanto menos humanos matarmos será melhor – Valery também saiu de onde estava, ocupando o lugar de Sam.
- E eu espero que não seja preciso – Dean encerrou sua parte na conversa, indo se juntar a Sam.
A detetive e seu tio permaneceram na varanda a colocar a conversa em dia.
- Minha querida, está tudo bem com você? Quer dizer, dentro do possível... O tio segurou as mãos da sobrinha, que fez uma cara de curiosidade pela pergunta.
- Está tio... Na medida do possível sim...Mas por que essa pergunta?
Tio Jack voltou para a posição anterior, com um sorriso.
- Nada, só por perguntar...
Ele conhecia muito bem a sobrinha, e sabia que alguma coisa nela tornava-se diferente na presença dos rapazes.
Ele sabia que ela sofreu e ainda sofreria muito na vida em razão do destino que escolheu, e que de alguma forma, essa nova amizade trazia um quê de felicidade à vida dela.
“Será?...” – Tio Jack pensava.
E os dois continuaram a conversar e a matar a saudade, na manhã fria e ensolarada.
- Muito bem, então temos um bando de doentes que fez um pacto com algum demônio filho da p que arranca corações de criancinhas inocentes – Dean deitou-se na grande cama do quarto onde estavam hospedados.
Sam estava com seu laptop ligado em cima da escrivaninha, e atentamente analisava o diário do pai, na esperança de encontrar qualquer coisa que mencionasse ou lembrasse o caso. Olhou para o irmão, e como sempre reprovava o jeito dele, nem se preocupou em responder.
- Alguma coisa não bate... Não é possível que a polícia local não tenha tomado nenhuma atitude quanto a essa seita, Dean – Sam folheava o diário, ainda sem encontrar a resposta que queriam.
- A não ser que também eles estejam envolvidos – Dean sentou-se na cama como se um ‘insight’ o tivesse tomado.
- A questão é que qualquer pessoa da cidade pode estar envolvida... Mas é uma possibilidade...Até que você é capaz de pensar – Sam virou-se para ele concordando, e voltando aos relatórios oficiais fornecidos pela detetive.
- Então deixa eu te ajudar – Dean levantou-se e sentou-se à mesa com seu irmão.
Folheando mais alguns relatórios e recortes, chegaram a algumas informações interessantes.
- Sammy, onde estão aqueles primeiros recortes que encontramos sobre o desaparecimento das crianças e os bairros envolvidos? – Dean se referia justamente a primeira pesquisa que eles fizeram, o que causou a visita até aquela cidade.
- Um momento, está aqui... A lista dos bairros onde as crianças desapareceram... E a casa onde encontramos os corpos, é um dos primeiros bairros da lista, de uma forma ou de outra demos sorte...
- Ou não, já que temos companhia – Dean se referia a detetive.
Sam virou-se para seu irmão, e num tom tranqüilo soltou:
- Irmão, essa implicância toda dá muita bandeira, sabia? É assim que se começam grandes paixões...
Dean fez uma careta de espanto, desconcertado porque nunca imaginou que aquilo saísse do seu irmão.
- Cara, você acha que eu sou trouxa? Maluco, eu sei que eu sou, aliás somos, por nos metermos nestas enrascadas, mas fala sério... - Dean ria nervosamente, tentando parecer o mais natural possível, e se odiando pois de fato não sabia definir o que sentia.
- Tá bom, tá bom... Hum... Veja isso: Segundo o relatório policial, a casa está em nome de “Espólio de Allison Sanders”...
- Julie Sanders, viúva, filha desaparecida, lágrimas de crocodilo!
- Não julgue precipitado Dean, lembre-se do que o tio Jack falou, nem sempre as esposas sabem do pacto, talvez seja o caso... – Sam olhava atentamente os papéis em cima da mesa.
- Talvez seja o caso de fazermos uma nova visitinha pra ela – Dean levantou-se e foi em direção à porta.
- Mas a esta altura ela já deve saber que não somos conselheiros, é arriscado para nós – Sam virou-se acompanhando o movimento do irmão com os olhos.
- Mas não pra nossa parceira! - Dean deu uma piscada de olho pro irmão e saiu do quarto.
Sam sorriu, e continuou seu trabalho silencioso.
Mais algumas folheadas do diário de John Winchester, e leu sobre todos os rituais descritos, mas nada envolvendo crianças.
Porém, viu uma informação comum à todos: Os rituais são feitos na fase da lua cheia.
- ‘Se for assim, temos só um dia para encontrar o local’, pensava Sam.
Valery fazia contato com Julie Sanders avisando-a de que iria visitá-la para conversar, enquanto os irmãos estavam na sala especulando como encontrariam o local dos sacrifícios.
- Rapazes, minha mãe está chamando para o jantar – Diana disse com uma voz doce olhando para o mais novo, que até o mais velho percebeu e sorriu maliciosamente.
- Hey Sammy, até neste fim de mundo arrasando corações hein!
- Porque você não cala essa sua boca e faz algo de bom pra variar? – Sam levantou-se do sofá e acompanhou a bela moça.
- Eu vou daqui a pouco, irmão – Dean deu uma piscada de olho para Sam que saiu suspirando e pensando em como o mais velho era imaturo.
- Muito bem, marquei com ela amanhã cedo, portanto partimos nesta madrugada... – A detetive voltava da varanda com o tio. Estava com um semblante mais tranqüilo, por saber que os anos à espera de justiça estavam chegando ao final.
- Acharam mais alguma coisa sobre os rituais? - Valery sentou-se ao lado do mais velho, que se ajeitou no sofá para ficar de frente com ela.
- Nada de específico... Demônios geralmente se apoderam de um corpo e só podem ser exterminados se exorcizados...Um exorcismo básico resolveria o problema, mas como caçadora, você já deveria saber disso – Dean a olhava nos olhos e a desafiava, como ele achava que ela sempre fazia.
A detetive olhava para ele pensando como ele era arrogante e estúpido, mas acabava se perdendo naqueles olhos verdes cristalinos...
- Hum, interessante... Então como caçador que é, deve saber também que existem dezenas de tipos de demônios e possessões – Valery apoiou o cotovelo no sofá e seu rosto na mão – Portanto, meu caro, precisamos reunir tudo o que tivermos de munição e estar preparados...
Os dois se encaravam novamente como da primeira vez.
Valery levantou-se do sofá e foi em direção à cozinha.
- Estão sem fome por acaso? Tia Olga fica brava quando se demora, hein...
- Comida? Disse a senha secreta! - Dean se levantou e Tio Jack ficou observando os dois se juntarem aos demais para o jantar.
Sorriu, respondendo mentalmente á sua pergunta anterior.
Naquela noite Sam não estava conseguindo pregar os olhos por causa do calor repentino, estranhamente acontecendo em pleno outono...
“Mama, take this badge off of me / I can\'t use it anymore
It\'s getting dark, too dark for me to see / I feel like I\'m knocking on heaven\'s door...”
Foi até a varanda do quarto, e ouviu de longe a música na voz de Bob Dylan, ficou curioso para saber o que era.
Percebeu que o som vinha do quarto ao lado, onde Valery estava hospedada, só que de cima do telhado...
“Mama, put my guns in the ground / I can\'t shoot them anymore / That long black cloud is coming down / I feel like I\'m knocking on heaven’s door...”
Valery estava em cima do telhado, admirando a ‘paisagem urbana’ no horizonte, as luzes da cidade mais próxima tentavam a iluminar a noite escura.
- Sem sono, também? Junte-se ao clube!... – Valery estava com umas garrafas de cerveja ao seu lado, mais um aparelho de som portátil.
- Como você foi parar aí? – Sam pensou que ela havia no mínimo escalado a parede para chegar até o telhado.
- Hum, tem uma escada ao seu lado, se quiser suba!
Sam sorriu por ser tão idiota...
- Por conta da casa! - Valery ofereceu uma garrafa a Sam, que aceitou.
- Obrigado... Sei que não é da minha conta, mas deveria estar descansando, não...
- Hoje, tecnicamente, é meu dia de folga... – Valery tomou um gole de cerveja, olhando o horizonte pouco iluminado.
- Ah, então, a super-policial também tira folga!... – Sam abriu a garrafa.
Com um sorriso triste a detetive não respondeu, e sabia que ela na realidade nunca tirava folga, e a vida dela se resumia somente aquilo...
- Estamos bem perto de solucionar este caso, Sam... Se chegarmos até o local dos rituais, encerraremos esta carnificina... – Tomou num gole só o conteúdo restante da garrafa.
- Sim, mas não sabemos direito com o que estamos lidando, todo cuidado é pouco...- Sam olhava também para o horizonte.
- Meu tio contou o que aconteceu com a sua família... Você não se lembra de sua mãe, não é?...
- Não... Na verdade exatamente como ela era não, pois eu era um bebê quando ela morreu... Mas quando Dean e eu voltamos à nossa antiga casa investigar um caso, tive um encontro com o espírito dela... Ela era linda...
- Talvez tenha sido melhor, Sam... A dor de perder alguém com quem você conviveu e tem lembranças, é horrível...
- Valery, por causa de um demônio eu também perdi minha namorada, Jéssica... Tinha comprado um anel de noivado pra ela... É uma dor horrível você querer e não poder fazer nada a respeito... Eu sei que sou responsável por isso, e isso me machuca muito... Assim como Dean se culpa até hoje pela morte do pai...
- Como assim ele se culpa?
Sam assumiu uma feição triste, e decidiu contar o que aconteceu com seu pai, pois sabia que podia confiar nela.
- Sofremos um acidente, e Dean ficou entre a vida e a morte... Meu pai trocou a vida dele pela vida de Dean, assumindo um pacto com o mesmo demônio que matou Jess e nossa mãe... E esse fato agregou mais valor à nossa caçada pessoal.
Valery entendia o porquê do mais velho ser tão fechado, se escondendo numa capa de sarcasmo e humor negro.
Afinal de contas, ela fazia o mesmo.
- Sam, nenhum dos dois é culpado de nada, nem ninguém... No final, somos todos vítimas de nossos próprios medos... Lamento muito pela sua perda, não sabia... – Valery voltou-se para ele, e viu seu semblante de desgosto.
Ela colocou suas mãos no rosto de Sam, e era como se eles fossem velhos amigos, sentiam-se à vontade para conversar e partilhar seus sentimentos.
- Tenho toda certeza de que você e seu irmão fizeram o que lhes foi possível... Por sua mãe, pela Jéssica, pelo seu pai, e por todas as vidas que vocês conseguiram salvar, não se culpem por todas as dores do mundo...
- Valery, estes dias têm sido muito importantes para mim e Dean, pois conhecemos alguém que nos compreende...
- Pra mim também, Sam... Não sabe o quanto... – Respondeu, voltando ao seu lugar.
Sam a olhou com pena, pois ela também perdeu pessoas que amava, do mesmo modo que ele e seu irmão.
- Estas pessoas provavelmente não são as mesmas que mataram meus pais, mas de qualquer maneira, farei justiça à memória deles e de todas as outras famílias que perderam suas crianças...
Sam abaixou a cabeça e se lembrou que toda aquela guerra era da família dele também.
Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos, admirando a noite passar...
- Hey, podemos conversar sobre algo mais animado? – Rompeu o silêncio Valery, se sentindo um pouco alta por causa das cervejas.
- Sim, sobre o que quer conversar?
- Fiquei sabendo que antes de começar sua caçada com seu irmão, você fazia faculdade... De quê?
- Ah, eu prestei exame para estudar Direito em Stanford...
- Sério? Que interessante! Eu sou formada em Direito, perita em Psicologia forense, com quem você iria ter aulas?
E assim os dois ficaram até o começo da madrugada conversando sobre a faculdade, sobre o curso, e sobre várias coisas...
Dean ouvia de longa as risadas que vinham do quarto ao lado, mais precisamente do telhado ao lado.
- Sammy, você está ferrado... – Murmurava Dean, se mexendo desconfortavelmente na cama.
- Então Valery, nestes anos todos de trabalho, você nunca se envolveu com ninguém? Perguntou Sam já se sentindo meio zonzo por causa das cervejas.
- Pergunta indiscreta, Sam... Mas não, nunca apareceu alguém que valesse a pena... – Respondeu séria.
- E se aparecesse alguém, o que faria?
- Onde você quer chegar, Sam... – Perguntou mais séria ainda.
- Bem, nada de mais, só curiosidade... Você não tem vontade de formar família, um dia largar tudo isso? Afinal de contas, você tem um bom emprego, uma boa carreira...
- Sim, Sam... Mas só quando tudo um dia terminar, um dia...
Valery olhou para o vazio, pensando se realmente aquilo era o que ela queria.
- Você também Sam, deve pensar em você... Entendo que a sua perda foi grande, mas a questão é que você ficou, está vivo... Deveria pensar também sobre isso...
Sam abaixou a cabeça, e sabia que ela estava certa.
- Só quando eu me sentir preparado, Valery... – Concluiu Sam.
- Mais uma cerveja e vamos dormir, amanhã será um dia agitado! – A detetive abriu a última garrafa.
“De fato, são bem parecidos...” - Sam sorriu, e levantou-se para voltar ao quarto.
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Bom, mais dois capítulos...