–Quantas vezes eu terei que lhes dizer que não importa se estamos denunciando nossa localização? –O elfo estava na frente dos dois garotos presos –Eles! Vão trazer aqueles cavaleiros. E eu vou estar aqui esperando!

A garota morena de olhos verdes saiu da sala pisando forte e correu para a noite gelada, saiu andando pelas ruas até chegar em um pequeno parque, onde andou por entre as árvores sem que ninguém a percebesse. Parou frente à uma grande Mafumeira, sua mãe. A arvore mais alta que existia naquela região.

No seu lugar de origem, a Mafumeira era considerada a mãe de todas as árvores do mundo. Era chamada de escada para o céu. E não era pra menos, seus quase 90 metros de altura fazia com que os olhos de todos os que enxergavam se virassem para ela, para apreciar sua beleza. Tinha um tronco de três metros de diâmetro e seus espinhos robustos não deixavam os humanos curiosos chegarem tão perto. Eles davam medo em qualquer um.

A garota tocou na arvore e logo sentiu seu braço ser sugado para o interior da arvore. Se transformando pouco a pouco em madeira.

“Ele não sabe o que está fazendo. Tenho que me preparar para o que vai acontecer”

***

–Você jura lealdade total à irmandade? –O velho de barba bem feita perguntou para o garoto em tom de ameaça.

–Sim, juro total lealdade a causa da irmandade, e juro a seguir a qualquer custo –O jovem pôs na boca a taça que estava com vinho e o bebeu.

O silencio reinou por um tempo dentro da sala escura, até todos os outros participantes tomarem de seus cálices.

–Seu juramento foi solene! –O velho se dirigiu para um grande baú de ouro, e tirou dele uma espada prateada –Estará sob proteção da ordem, assim como ela estará sob a sua. Não terás direito a nada que não conquiste. Nem terás direito de dirigir nossos segredos para outra pessoa que não seja Deus! Se o fizer, tens conhecimento de que será empalado vivo!

–Sim tenho conhecimento de meu juramento e de meus objetivos –O garoto se levantou do chão e observou a sua volta.

Todos estavam vestidos com uma capa negra, e em seus paletós estava desenhado um “V” vermelho. Estavam todos com mascaras prateadas e seguravam suas espadas na mão.

“Agora entendo o motivo de falarem mal desta seita. Está quase no fim. Vou conseguir meu objetivo! ”

O velho chegou mais perto, segurando a espada pela lamina, oferecendo-a para ele segurar.

O garoto segurou a espada e esperou que algo acontecesse, mas não houve nada.

–E agora, eu último teste –O velho chamou um dos homens para vir a sua frente –Prove que você é um guerreiro!

O homem que foi chamado brandiu sua espada e o atacou enquanto o velho saia da sala. O garoto conseguiu se defender e deu um pulo para trás. Algo estremeceu em sua costa, querendo sair a qualquer custo.

“Droga! Agora não! Se controle Benkê! Você consegue! ” Ele se concentrou mais na luta que se seguiu, e tentou esquecer as asas que insistiam em sair de suas costas.

***

Ryan estava na varanda de sua casa. Havia acabado de chegar de viagem, estava de férias finalmente. Nada de trabalhos para entregar ou apresentar na universidade. Estava esperando seus pais chegarem do restaurante quando se assustou com o barulho do interfone. Correu para atender, mesmo sabendo lá no fundo que não era seu amigo que estava lá em baixo esperando alguém atender a chamada.

–Alô –Ele disse meio desmotivado

–Oi –Uma voz masculina respondeu quase imediatamente –O senhor Haroldo está?

–Não, ele saiu. Você quer deixar algum recado, ou algo parecido? –Ele estava falando automaticamente

–Não –Silencio por alguns segundos –Só avise pra ele que o Romulo passou por aqui. Tá legal?

–Ok, vou avisar –E desligou antes que o homem falasse mais alguma coisa.

Foi até seu quarto e pegou o violão velho e empoeirado que estava em cima de seu guarda roupa. Tocou um pouco até olhar para sua penteadeira e ver o sino de prata.

“O que foi que eu fiz de errado? Ele fez as mesmas coisas que eu. E eu não fui escolhido. ”

Jogou o violão na cama e pegou o sino. “Ainda não é tarde para tentar novamente”

Correu até a cozinha e pegou um pacote de sal grosso e um isqueiro. Depois de voltar para o quarto arrastou a cama e fez um círculo em torno de si com o sal, tirou toda sua roupa e se sentou. Cortou a palma da mão com a beira da boca do sino pois era muito afiada. Fez uma oração para que os arcanjos protegessem aquele ritual e começou a fazer as mesmas coisas que havia feito a quatro anos antes.

Depois de algum tempo se sentiu totalmente idiota por estar fazendo a mesma coisa. Já estava decidido a se levantar e limpar toda aquela bagunça, quando sentiu em seus lábios a teia de uma aranha, que rapidamente caía por todo seu corpo. As linhas davam uma agonia quando tocavam em seu corpo, pincipalmente quando se enrolava em suas partes intimas. O quarto pareceu escurecer, e um rosto sombrio se formou no espelho do seu guarda roupa.

“Aproveite seus últimos segundos como humano Ryan! Esse é o fim de meus problemas como humano”

Sabia o que fazer dali em diante. Se levantou e virou-se para o lado leste, tocou o sino sete vezes e pediu para o arcanjo Rafael a proteção, depois para o sul, e pediu proteção para outro arcanjo e assim por diante.

Escutava uma voz no fundo de sua cabeça, e sabia que era aquele rosto negro que estava falando com ele. Só tinha um problema, ele não conseguia entender absolutamente nada. Quando terminou de pedir proteção ele se virou para o rosto de assoviou continuamente, até não sobrar ar algum em seus pulmões.

–E com esse sopro eu lhe entrego minha força vital, para que faça bom uso dela e me renove com a força de um imortal –Ele levantou a mão cortada e a apertou, fazendo algumas gotas de sangue caírem no sal.

O ritual estava quase no final quando ele escutou a voz de sua mãe o chamar e se virou rapidamente indo na direção da porta e saindo do círculo. Quando percebeu que não era só a voz de sua mãe se deu conta do que havia acontecido.

“Errei mais uma vez” Seus olhos queimaram, sua pele escureceu e Ryan caiu morto no chão gelado de seu quarto.