Pequena Watson escrita por Mary Morstan


Capítulo 3
Capítulo 3: Erro de principiante


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que sumi... Mas espero muito que exista ainda uma boa alma para ler isso, pois foi de coração, tá? :D Enfim o "tio Sherly" vai ser pego de surpresa. Espero que gostem! :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/486874/chapter/3

Eu ainda encarava do taxi, recém fechada por mim, quando disse meu destino ao taxista. No instante seguinte eu me encostei no banco e estava a um passo de suspirar em satisfação quando um risinho “doce” chamou minha atenção para o assoalho.

“Buu!” a pequena mostrinha Watson gritou ao pular com as mãozinhas em forma de garras felinas em minha direção. “Te peguei tio Sherly!”

Eu estava a ponto de demonstrar minha imensa satisfação, quando percebo o próprio taxista nos olhando pelo retrovisor e rindo com aquela monstrinha.

“Ah senhor Holmes, sua sobrinha sabe mesmo todos os seus passos. Acredita que a danadinha me pegou na padaria e pediu para que eu o esperasse? Eu duvidei a princípio, mas não é que ela tinha razão”.

Eu sorri amarelo com aquela empolgação, me sentindo o pior dos otários, o ser mais desprovido de massa cefálica na face da Terra. Como pude, hein? Como eu pude me deixar levar contra minha principal precaução, não? Como pude cair na besteira de pegar logo o primeiro taxi, correndo contra tudo o que eu mesmo ensinara tanto a John...

Apenas uma coisa ficou extremamente clara em minha cabeça naquele momento: erros bobos são mesmo cometidos em medidas impensadas de desespero... Eu havia acabado de me tornar um ser comum naquele instante e, se não fosse a minha decepção interior, eu teria dado meia volta e largado aquela garota na rua Baker, esperando que a senhora Hudson a recolhesse e lhe entretece.

Mas, com certeza, livrar-se daquele pequenino ser loiro, de risada fácil e olhos curiosos, não seria a mais fácil das tarefas. Olhei para Emma, que estava m encarando com um ar que tentava ser sério e me perguntei mentalmente: qual seria o preço daquele silêncio?

Antes mesmo que eu pudesse fazer uma oferta, ela baixou a voz e me acusou.

“Você agiu muito mau tio Sherly” e era possível ver que havia muito mais de Mary ali do que de John, quando ela seguiu sua frase ameaçadora. “Meu papai ficaria muito zangado com o senhor”.

Segurei seu dedinho indicador, que estava sendo apontado para mim e balançava furiosamente, e tentei me defender.

“John sabe bem que quando um caso de suma importância me chama, eu não tardo, minha cara...”

“Sei...” ela disse puxando o dedidinho e levando suas mãozinhas a cintura, enquanto estreitava os olhos. “Mas a minha mamãe com certeza não iria gostar. Você nem ao menos se deu ao trabalho de conferir se eu estava dentro da casa, não é?”

Mentir? Hmm... a hipótese me ocorreu, é claro, mas a senhora Watson era bem mais esperta que o marido em muitos pontos (sinto muito John, são os fatos!); mas como eu digo, para tudo nessa vida há uma saída, basta se pensar um pouquinho ou...se fazer de desentendido, que tal?

Dei de ombros e encarei a janela ao lado, com a minha maior cara de “grande pensador que não pode ser interrompido”. Percebi quando Emma ficou de pezinho no banco e iria puxar meu cachecol, mas o taxista a repreendeu apenas encarando-a pelo retrovisor.

“Menininha, menininha, o senhor Holmes está ocupado. Melhor não atrapalhá-lo”, santo homem, merecia até uma generosa gorjeta. “Deixaremos ele onde desejar e eu a levo de volta para casa em cortesia”, uma não, duas! Eu lhe daria uma mala de dinheiro, meu senhor, se pudesse segurar essa monstrinha longe de mim!

Eu estava quase pulado mentalmente quando um pigarrear, do lado que Emma não estava sentada, me chamou a atenção. Era John ali, mesmo que de fato ele não pudesse estar ali.

“Deveria se envergonhar”, ele disse de cara amarrada e com os braços cruzados... Tal pai, tal filha... “O consultor de detetives de Londres que eu conheci no passado era muito mais esperto”.

Cocei minha cabeça, pronto para fazer uma pergunta absurda a John, quando percebi que os olhinhos de Emma estava lacrimejando.

“Pensei que o titio Sherly gostasse de mim...”, eu podia fazer um milhão de coisas como coçar os cabelos daquela pequena dama, pedir para que não chorasse, fingir que não ouvi ou até mesmo comemorar, mas minha atenção estava toda voltada ao John (ou o que eu achava que deveria ser ele) naquele exato momento.

Eu estava quase dando o braço a torcer e perguntando “o que diabos você quer dizer, Watson?”, quando ele pareceu ler minha mente e apontar com o queixo para frente, ainda em sua pose de braços cruzados.

“Na nossa primeira excursão você me disse o perigo que um taxista podia ser. Homens sem rosto, a cima de qualquer suspeita, vagando livremente por ai. Ceifadores de vidas, enganadores, perigos ambulantes... E, não, recuso-me a acreditar que você deixaria a minha filha a mercê de qualquer um desses. Esse não é o grande detetive consultor com que me deparei anos atrás”.

As palavras de John me caíram como um piano metafórico atirado do vigésimo andar em meu corpo inerte na calçada. John, claro, não estava ali, mas ele era a imagem de minha consciência a mais tempo do que eu podia me lembrar e um nó em minha garganta me atingiu em cheio.

Eu não poderia deixar aquela garotinha desamparada na rua. Por mais que ela tivesse destruído o meu lindo violino de colecionador (ao qual eu repito interiormente: John ou Mary nunca teriam dinheiro na vida para pagar por outro, nem se eles vendessem segredos sujos da realeza como o falecido Magnussem).

“...Eu vou voltar para sua casa” a pequenina disse fungando, eu nem havia percebido que ela estava falando enquanto ouvia John, mas ela não pareceu notar meu desinteresse. “Vou esperar meus pais e dizer que dormi depois do chá e não te vi sair titio Sherly. Não quero que eles briguem com você”, e aquelas palavras finais atingiram meu coração como facas... Eu havia ignorado-a, tratado aquela criança mal, e ela estava me protegendo de uma bronca (que eu mereceria, com certeza).

Eu poderia me arrepender amargamente depois, mas não tiraria os olhos de Emma por hora. Até porque, o caso já estava resolvido, eu só precisava formalizar os resultados aquela garota paranóica e tudo bem. Mas, para não perder a corrida, disse ao taxista o endereço de onde nos levaria.

Emma ainda fungava encolhida no cantinho do banco quando paramos, o taxista recebeu meu dinheiro e parecia mesmo disposto a dar meia volta e levá-la para minha casa, mas eu peguei sua mãozinha e a chamei.

“Vai perder toda a investigação se ficar no taxi pequena Watson. Vamos, investigação é um trabalho de campo!”

Seus olhinhos se iluminaram e ela saltou do veículo sorridente, me lembrava a empolgação do pai em tantos momentos. Bem, quem sabe, remotamente falando, eu não possa acabar por não me arrepender dessa decisão, não?

Por favor, Mary, se você for o diabinho em minha mente, faça o favor de ficar quietinha, afinal a garota é sua filha também e eu sou uma pessoa fortemente convencível por sua própria consciência.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, gostaram gente?? :D
Amaria saber o que vocês acharam, viu?
Beijinhos