Pequena Watson escrita por Mary Morstan


Capítulo 2
Capítulo 2: Leve-me daqui, por favor


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente eu quero agradecer a capinha que a Dai me fez! Obrigadaaaaaaaaaa!!!
Agora, me desculpem, eu sei que demore horrores...Mas meu fisioterapeuta me colocou de castigo... Espero que alguém leia isso pelo menos :D



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Lá estávamos nós; a garota ruiva e eu, cara a cara, em uma sala estranha. Eu não sabia se deveria oferecer chá a ela, já que a proprietária do lugar estava ocupada demais em minha própria “casa” (bajulando uma certa assassina de violinos, diga-se de passagem).

Ela olhou para os lados por alguns minutos e eu estava a ponto de pegá-la pelos ombros e sacudi-la para que me dissesse alguma coisa. Sabe, no momento, eu aceito qualquer coisa para usá-la como uma desculpa para sair daqui. Sozinho, é claro.

“Poderia me contar o que a trouxe aqui, não acha?” tentei incentivá-la, mesmo sem chá ou biscoitos, se ela não estivesse satisfeita eu pegava um copo de água, mas essa mulher teria que falar.

“Bem, senhor Holmes” ela começou vacilante, ainda olhando ao redor “vim até aqui por indicação de uma amiga muito querida”, ela fez uma pausa irritante.

O que me deu tempo para conjecturar. “Um fato óbvio, prossiga”.

“Desculpe, o que disse?”, ela pareceu confusa e eu achei melhor esclarecer meu comentário de uma vez, antes que ela voltasse a ficar muda e voltássemos a nos encarar em silêncio. Não que eu não apreciasse o silêncio, longe disso, ele só não seria um bom álibi para meu sumiço no momento.

“Bem, é uma análise do óbvio. Para mim está muito ‘claro’ que considere sua amiga como alguém ‘muito querida’. Afinal, só o fato de tê-la chamado de ‘minha amiga’ já conjectura para mim o quanto tal pessoa é importante. Digamos que o comentário de que ela é muito querida para você soou redundante, mas tudo bem. Enfim, continue...” e eu tentei dar-lhe um sorriso, mas ela parecia assustada, então adicionei um sutil “por favor”, que a fez ‘pegar no tranco’.

“Oh, sim, o senhor está certo”.

“Claro que estou, prossiga”.

Ela pigarreou e encarou suas mãos por um longo minuto... Eu estava a ponto de bocejar quando ela voltou a dar o ar da graça e me lembrou de que não era muda.

“O senhor tem que entender que estou sem saída, totalmente desesperada” ela começou a dar indícios de que iria chorar, mas tentei não cortá-la para que não demorasse ainda mais. “E Molly disse que eu poderia contar contigo”.

“Hooper?” acabei perguntando e ela fez que ‘sim’ com a cabeça. Em minha mente eu já me questionava porque Molly havia feito isso, porque mandou uma moça chorona para minha sala? Quando percebi que deveria ser agradecido a ela e não questioná-la. Afinal, vamos lá, sem ‘a grande ideia de Molly’ eu estaria preso a pequena Watson pela noite toda...

“Ela me disse que...”, e a garota havia voltado a falar nesse meio tempo, glória. “Bem, disse que o senhor costuma pegar casos incomuns. O meu soa meio estranho de qualquer forma”.

Toda essa propaganda sobre o assunto daquela dama estava me cansando. Porque as pessoas não aprendem logo a falar o que se passa ao invés de ficar floreando a coisa, não? Porque todos sentem esse desejo ‘a la John Watson em seu blog’ de transformar coisas simples em ‘um romance’. Qual o problema dessa gente?

“Eu namoro faz sete meses, sete e meio para ser mais precisa, e Henry, este é seu nome, sempre me foi muito atencioso de toda forma. Acontece que, de duas semanas para cá, ele tem estado distante, desaparece com frequência e começou a mentir para mim sobre por onde tem andado”.

“E como exatamente sabe que ele tem mentido, senhora...” raios, esqueci o nome da dita cuja e não há ninguém ao lado para me lembrar.

“Kimberly,ou Kim, como lhe disse antes”, ela respondeu tristemente.

“Ah sim, Kimberly Straunt” após o empurrão até o sobrenome me veio em mente. “Mas me diga, como sabe que ele mente?” E embora eu quisesse continuar dizendo que o rapaz só devia era estar cansado de tanta ladainha, eu travei minha boquinha bem fechada e meus ouvidos atentos. É como dizem, o sábio é aquele que ouve e não aquele que fala.

“Bem” a garota começou timidamente, encarando suas mãos e falando como se contasse alguma estripulia que a envergonhava “às vezes, ele dizia ao telefone que estava na televisão, vendo qualquer coisa boba em sua casa e que acabaria não podendo ir em casa. A princípio eu não liguei, poderia ser só cansaço. Mas quando a coisa se tornou frequente, decidi que iria avaliar bem os sons que eu ouvia ao fundo e, ainda enquanto falávamos, comecei a buscá-los em todos os canais de televisão, com um fone no meu outro ouvido para avaliar”.

“Engenhoso”, foi tudo o que disse quando ela parou de falar. Mas era melhor que ela falasse logo e eu pudesse correr dali, então fiz um gesto com a mão para incentivá-la a prosseguir.

“Acontece que em todas as ocasiões em que a desculpa se repetiu, eu nunca consegui achar um som que pudesse, nem que minimamente, lembrar qualquer programa que estivesse passando na televisão aquele instante”.

“Poderia ser uma gravação?” sugeri mesmo sem convicção.

“Eu pensei nisso, mas prestando atenção, vi que havia pessoas conversando entre si e o som parecia ser ao ar livre, pois hora ou outra se ouvia pássaros, crianças ou cachorros, entende?” ela concluiu o raciocínio.

Mas ela deve ter visto que ainda não me convencia com aquilo e com certeza deve ter lido em meus olhos quando eu pensei ‘estética’, pois logo voltou a falar.

“Isso, fora o fato de que em uma tarde, no sábado passado, Molly e eu estávamos em um café, após fazermos algumas compras para a minha festa de aniversário e eu o vi entrar em uma agência de viagens no outro lado da rua. Eu pensei em chamá-lo para se juntar a nós, mas quando o liguei, vi que ele pegou o aparelho e simplesmente não a tendeu a ligação. Naquela noite quando nos encontramos, ele disse que não havia me atendido porque estava em uma reunião. Senhor Holmes, como vê, eu não estou sendo absurda, realmente está acontecendo algo e ele não quer que eu saiba”, e ela terminou a frase dando uma batidinha na mesinha de canto da senhora Hudson.

Ah, o que dizer, não? Meus amigos a resposta do enigma – que cá entre nós nem é digno de levar esse nome – foi dada toda por essa garota... Como ela não percebeu a simplicidade da cadeia de acontecimentos? E, digamos que o verdadeiro mistério aqui é, o que faz esse rapaz com uma moça tão burra?

Ela me olhava com olhos pidões, olhos que me lembravam uma certa pessoa pequena, loira e de mãos “incontroláveis”. Pensar nisso fez o sorriso em meu rosto sumir e eu tentar bancar o melhor ar de seriedade que eu poderia.

Franzi minha testa e, em pé, segui até a garota e toquei seu ombro para falar no meu melhor tom de preocupação.

“Seu caso é tão importante, tão preocupante, que terei que avaliá-lo agora mesmo. Pegarei meu casaco e sairei nesse instante. Só preciso de uma última informação”.

Os olhinhos dela brilhavam e ela parecia realmente agradecida quando se levantou da cadeira com suas mãos unidas e uma cara de felicidade desmedida. “O que quiser senhor Homes. Pode perguntar o que precisar!” e ela sorria...

Segurei a vontade de revirar meus olhos e pedi para que ela marcasse para mim o endereço de seu namorado, o endereço dela mesma e mais uma ou duas informações desimportantes em meio a isso. Claro que eu tinha eu fazê-la pensar que a coisa era complexa, senão, como eu mentiria para a senhora Hudson?

Levei a senhorita Straunt até a porta e lhe pedi para que seguisse imediatamente para sua casa e que aguardasse notícias minhas em breve. E após ela sair pela porta, e eu fechá-la antes que ela voltasse a querer falar qualquer coisa comigo, subi as escadas com a mesma pressa que a desci. Tudo minimamente calculado para parecer que “o caso era muito sério”.

Quando entrei na sala e vi Emma com os pés no sofá segurei minha vontade de ralhar com um “ela pode, não é senhora Hudson?!” Segui até meu quarto e peguei meu cachecol pronto para passar pela porta sem dar qualquer detalhe, já que só as mentiras necessitam de um detalhe complexo... Ok que a vontade de pintar um quadro terrível de que Moriarty estivesse envolvido com qualquer coisa que eu precisava investigar era enorme, mesmo com o cara “morto”. Mas me segurei e quase cheguei a sair pela porta ileso quando ouvi a senhoria me repreender.

“Willian Sherlock Scott Holmes!”, e isso me fez encará-la, claro. “Posso saber o que acha que está fazendo?” E lá estava ela, mãos no quadril, a ponta do pé esquerdo batendo ritmadamente o chão e uma feição de poucos amigos... Até parecia minha mãe zangada!

Pensei em fazer cara de coitado ou então jogar a culpa em Lestrade. Mas eu sabia que qualquer coisa que eu tentasse fazer para parecer inocente faria com que eu soasse como um culpado.

“Estou de saída senhora Hudson, terei que verificar com caso que requer minha atenção total” e antes que ela falasse qualquer outra coisa. “Cuide de Emma, por favor, não queremos que John ou Mary tenham motivos para se preocupar. E, a propósito, avise a John que preciso que esteja aqui cedo, amanhã, ele ode se interessar por esse caso” ou não...eu completava mentalmente e torcia com todas as forças.

Depois dessa eu tinha o passe livre para a liberdade, já que a senhora Hudson voltou para a cozinha, é claro que retrucando sozinha, e eu pude fechar a porta de meu apartamento e seguir pelas escadas.

No andar de baixo, percebi que eu havia deixado a porta do apartamento da senhora Hudson aberto a tive que voltar para fechá-la. Não que ela fosse me repreender, mas achei que seria o mínimo que poderia fazer de cordial, em troca de ela cuidar de Emma, claro.

Quando voltei a porta de entrada, ela também estava aberta. Que anda acontecendo com essas fechaduras, hein?

Eu estava a um passo da rua quando vi um taxi parado a frente da porta. Olhei para os dois lado e não havia sinal de ninguém tê-lo pedido, então entrei.


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Notas finais do capítulo

Ok, eu sei, todos já sacaram qual é o caso e qual é a resposta do caso... Mas ele estava desesperado para sair e...bem, logo vocês vão entender o porque de ele não poder ir a um caso com corpos e pessoas armadas, ok?
Bem, espero que tenham gostado :D