Linda me levou através do acampamento, notei que enquanto passávamos alguns adolescentes apontaram para nós, mas ela não pareceu se importar.

– É sempre assim quando chega alguém novo. – Explicou. – Não se preocupe.

Ela me levou até a arena onde alguns adolescentes pareciam estar lutando entre si com espadas e lanças, havia alguns bonecos de guerra espalhados em um círculo ao redor de todo o lugar.

– Há quanto tempo você sabe sobre tudo isso? – Perguntei quando nos sentamos o mais distante possível dos outros e fiz um gesto ao redor de tudo.

– Ano passado. – Ela suspirou parecendo ficar exausta de repente. – Papai me explicou o que sabia, então ligou para cá e um sátiro foi me buscar junto com Liz, parece que ela já sabia sobre tudo isso há muito tempo.

– O quê?

– É verdade! – Ela falou. – Parece que ela sempre soube.

– Não estou falando disso, estou perguntando sobre o quê foi buscar você. – Expliquei.

– Um sátiro, sabe, aqueles caras da mitologia grega, metade bode e metade humano, e na verdade, você já o conhece.

– Ah! – Foi o que pude dizer. – Quem?

– O nome dele é Leneu, ele estava estudando com a gente esse ano.

Arregalei os olhos. Não podia ser. Uma memória quase esquecida do garoto com muletas que estudava na mesma classe que a gente apareceu na minha mente.

– Ele... ele... – Comecei, mas não consegui encontrar as palavras.

– É, isso mesmo que você está pensando. Na verdade ele cuidou de nós quatro a maior parte do período letivo. – Linda falou e eu ergui uma sobrancelha. Quatro? Peter também? – Sim, nós quatro, mas relaxe, Peter é só um mortal comum segundo Leneu, ele só ficou sob proteção porque andava com a gente.

Suspirei aliviada.

– Que bom, ele não lidaria muito bem com tudo isso. – Murmurei e olhei ao redor, meu olhar parou nos adolescentes que treinavam.

Meus olhos pararam em um ponto específico depois de alguns segundos.

– Aquele é Kevin Wayne. – Linda falou quando percebeu que eu olhava fixamente para o garoto que estava parado na frente de um grupo.

– Quíron me falou que ele é uma União Rara. – Falei ainda olhando para ele e reconhecendo o nome.

De longe o que pude reparar é que ele era alto, mas não consegui estimar a altura exatamente. Cabelos negros rebeldes e espetados. Tinha nas mãos o que parecia uma espada negra com um cabo prateado. Usava uma camiseta preta e jeans.

– Sim, ele é. – Linda confirmou. – Ele, a Fernanda e mais alguns aqui no acampamento, passam um mês no Brooklyn. Mas quando ele está aqui é instrutor de esgrima, um dos melhores. Ele é irmão do Nico, embora você não saiba ainda quem é.

– Eu lembro que você comentou isso há alguns minutos. Sua irmã não parece gostar muito dele. – Comentei e Linda soltou uma risada.

– É verdade, e o sentimento é recíproco. Ele e a Fernanda vivem como cão e gato tanto aqui no acampamento quanto lá na mansão. O pessoal egípcio já mandou muitas reclamações sobre eles dois para o Quíron. – Ela falou ainda seguindo meu olhar. – Mas eu tenho para mim que eles se gostam, só não sabem disso ainda.

– O caso clássico de amor. – Murmurei sorrindo.

– Sim. – Linda concordou. – Minha mãe adora esse tipo de amor, diz que é o mais interessante.

– Hum. Ela deve saber o que diz não é? – Falei em voz baixa e suspirei antes de lembrar de algo. – Linda, são que horas?

Ela pensou por um momento.

– Fuso horário diferente, então não sei dizer com precisão, mas com certeza aqui ainda está cedo. – Ela franziu a testa. – Acho que são cinco horas a menos, ou são seis?

Revirei os olhos e olhei para o céu, para o sol, e dois horários surgiram simultaneamente na minha cabeça.

– São seis horas da tarde em Londres. – Falei automaticamente. – E uma hora da tarde aqui.

– Nat? – A voz de Linda soou preocupada.

Olhei para ela, confusa.

– O que foi?

– Ah! – Ela sorriu como se tivesse entendido. – Seu pai é Apolo, o deus do Sol. Então você sabe que horas são em qualquer lugar do mundo só de olhar para o céu! Isso é muito legal!

Franzi a testa, não estava tão contente assim. Não me agradou a ideia de ser um relógio ambulante, mas não falei mais nada, nem Linda.

Ficamos em silêncio por algum tempo, apenas ouvindo o som de metal contra metal e observando os adolescentes travarem lutas sob a supervisão do garoto chamado Kevin até que eu lembrei de outra coisa.

– Linda? – Chamei e ela olhou para mim. – Foi a sua mãe que te deu esse lenço?

Minha amiga sorriu e tirou o lenço do bolso da calça.

– Sim, ela me deu esse lenço e o cordão. – Linda trouxe para fora da camisa o pequeno pingente dourado. – Ultimamente os deuses estão bem amáveis, alguns de nós acreditam que é para provar que eles são melhores que os egípcios.

Ela revirou os olhos e eu sorri.

– Sério? – Perguntei.

– Sim, anos atrás eles mal falavam conosco, agora podemos esperar um chamado a qualquer momento, Fernanda diz que eles estão se mantendo apenas no limite da lei antiga que diz que eles não podem interferir diretamente na vida de seus filhos, afinal dar uma arma de presente é quase uma tradição. – Linda explicou. – Mas os deuses meio que tem se aproveitado dessa brecha e dado presentes muito poderosos.

– Como seu lenço? – Perguntei.

Ela concordou.

– Todos os deuses deram armas para seus filhos, digo, para todos os semideuses. Afrodite me deu o pingente que vira armadura e esse lenço que vira armas diferentes quando estou lutando. Para Fernanda ela deu aquele chicote que acho que você notou. – Linda soltou um suspiro baixo e eu concordei. – Cada um dos meus irmãos tem uma arma diferente, mas muito poderosa.

– E todos no acampamento também ganharam?

Ela assentiu com a cabeça.

– Mas para os que são Uniões Raras eles estão sendo um pouco mais cuidadosos, ainda dão presentes bons, mas parecem tentar se manter neutros. – Disse e sorriu para mim. – Talvez seu pai te dê algum presente logo!

Revirei os olhos.

– Preciso falar com Will sobre isso. – Murmurei. – Aliás, você sabe onde ele está?

– Sei, no chalé de Atena, com a Annie e provavelmente o Nico. – Linda respondeu e se pôs de pé com um sorriso no rosto. – Posso te levar lá agora, aí você conhece outro filho de Hades que vive no acampamento, o que acha?

– Parece bom para mim. – Respondi me levantando com um ligeiro sorriso e ficando ao lado dela. – Vamos, algo me diz que isso vai ser interessante.