Te Odeio Por Te Amar escrita por TamY, Mazinha


Capítulo 66
Capítulo 66 - Relicário


Notas iniciais do capítulo

Oieee.. Cheguei mais rápido dessa vez, né?

Quero agradecer de novo a Gabi e Virginia por estarem me ajudando tanto nesses capítulos. Obrigada, amigas. Amo vocês! ♥

Espero que gostem do capítulo, meninas...
Boa leitura :)



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* Paulina narrando *

— Sim, ir comigo... Vai ser maravilhoso passar uma semana com você em Miami Beach.

— U-uma semana? – Perguntei ainda mais surpresa com todas essas informações e baixei o olhar.

— Sim, pelo menos... Pode ser isso ou mais uns dias... – Ele respondeu pondo-se mais sério e segurou o meu queixo fazendo-me olhá-lo novamente.

— Eu... Eu não posso, Carlos Daniel... – O olhei no fundo dos olhos e vi sua decepção repentina ali. – Vamos para a minha sala, lá podemos conversar melhor. – Pedi e toquei-lhe a mão sobre a mesa e ele me olhou prontamente.

Ele não disse nada, apenas me acompanhou sisudo até a minha sala sem parar de me olhar e quando entramos, tranquei a porta, Carlos Daniel seguiu para o outro lado e me olhou enquanto passava as mãos no rosto. O puxei para o sofá que havia em minha sala e sentamos de frente um para outro.

— Mas por que não quer ir comigo? – Perguntou olhando-me nos olhos.

— Não disse que não quero, disse que não posso. Tenho outras prioridades, Carlos Daniel.

— Outras prioridades? – Ele perguntou pondo-se abismado e coçou o queixo.

— É, minha família, minha fábrica, tenho muitas coisas para cuidar por aqui, Miami é muito longe para ir assim de repente...

— Você não quer ir! – Afirmou parecendo estar indignado e levantou-se virando de costas, colocando as mãos na cintura.

— Não é isso, é que acabamos de chegar de uma viagem, passamos um fim de semana juntos e eu não posso sair daqui amanhã e simplesmente ir para Miami com você.

— Entendi, você tem outras prioridades.

— Me entenda, por favor, nós já passamos muito tempo juntos, eu não posso mais perder o foco, preciso trabalhar, preciso dar atenção também a minha família e...

— Meus negócios estão em franca expansão e eu precisarei viajar às vezes. Uma vez a convidei para ir comigo e você não foi, entendi porque era muito cedo para isso, mas agora eu estou pensando que vai ser sempre assim e não vai comigo quando eu precisar ir para fora... – Carlos Daniel desabafou de uma vez e o olhei impressionada, não acreditava no que acabara de escutar, ele havia passado dos limites, sem dúvidas.

— Você está sendo egoísta, Carlos Daniel!

— Estou sim! Estou porque não quero ter de ficar tanto tempo longe de você, preciso de você ao meu lado sempre.

— Mas eu não posso agora! Por favor, me entenda!

— Por que não pode agora? Só porque chegamos ontem de Metepec?

— Não, porque tenho alguns... Problemas, devo ter alguns problemas em casa... Tem a fábrica também... É de minha inteira responsabilidade, você sabe... Tenho muito trabalho atrasado e o Leandro não veio trabalhar hoje, estou preocupada e muito sobrecarregada, não sei o que pode ter acontecido... – Expliquei calmamente enquanto ele me ouvia atentamente.

— E esses problemas não podem esperar?

— Não Carlos Daniel, não podem esperar. E... Preciso conversar com papai sobre alguns assuntos, acompanhar algumas coisas de perto.

— Que tipo de coisas? – Perguntou rapidamente ao erguer uma sobrancelha.

— São... Coisas... – Eu não tive o valor de lhe dizer que desconfiava de toda a boa vontade de papai e de sua repentina mudança de opinião ao aceitar nosso casamento. Isso era o que mais me afligia, não queria preocupar ou causar algum aborrecimento ao Carlos Daniel agora.

— Estão com algum problema? Se estiverem, posso pedir que Rodrigo averigue e me diga do que se trata para podermos tomar providências, minha vida. – Aproximou-se mais e segurou minha cintura.

— Não Carlos Daniel, não se preocupe e obrigada... Mas acho que apenas eu posso fazê-lo, além do mais, a fábrica é de minha responsabilidade e não posso abandoná-la por tantos dias.

— Você assume responsabilidades que não devia...

— Por favor, Carlos Daniel, procure entender que você não é o único que...

— Já entendi... Tudo bem. – Interrompeu-me bruscamente, ainda mais sério. – Agora preciso voltar para o escritório, também tenho muito o que fazer, outras prioridades. – Ele respondeu totalmente chateado, aproximou-se novamente e fez beijou rapidamente meus lábios.

— Espera, meu amor. – Pedi tocando seu peito. – Está muito chateado.

— Não, está tudo bem... Como você disse, tem coisas mais importantes para fazer do que simplesmente ir viajar comigo para Miami. – Repetiu as minhas palavras em tom de ironia. Respirei fundo e o soltei. – Perdi meu tempo aqui.

— Não é como você entendeu, quero que entenda que eu não posso apenas me dedicar a você quando tenho outras coisas as quais também devo me dedicar.

— Foi exatamente o que eu entendi, Paulina. – Respondeu seco olhando-me. – Agora eu preciso ir. Nos falamos depois. – Beijou minha testa e saiu, deixando-me sozinha em meu escritório, sem saber ao menos o que argumentar.

Eu não podia dizer ao Carlos Daniel que minha maior preocupação do momento era o meu pai, o que poderia ter causado essa mudança tão repentina de atitude, não sabia como lhe dizer que desconfiava que algo estava errado, eu não queria que ele tomasse isso como preocupação também, não era algo que lhe cabia quando já tinha tantas outras coisas para se preocupar. E depois que eu e ele nos conhecemos, mal eu parava em casa, estava com ele em quase todos os momentos e eu adorava, mas não podia mais adiar meus compromissos quando esses precisavam exclusivamente de mim.

— Paulina, esses são os contratos de exportação que estavam faltando para revisar e assinar. – Disse Branca ao adentrar a minha sala tirando-me de meus devaneios.

— S-sim, Branca... Pode deixá-los aqui em cima.

— Está tudo bem? – Perguntou-me ao parar em minha frente.

— Está, obrigada. Por favor, não quero ser interrompida, apenas se tiver alguma urgência.

— Tudo bem, não se preocupe.

Branca saiu e fechou a porta, olhei para as horas em meu computador e passava das 13h. Carlos Daniel havia saiu outro totalmente diferente daquele que chegou na fábrica e isso me preocupava. Peguei os contratos e tentei me concentrar apenas neles, mas parecia impossível fazê-lo, não conseguia centralizar meus pensamentos no trabalho, apenas o semblante magoado de Carlos Daniel pairava sobre a minha cabeça deixando-me apreensiva.

Mensagem enviada para: Amor

<“ Me desculpa?! Sei que falei de uma maneira que soou mal, eu não quero ter que ficar tantos dias sem você. ”>— Foi o que lhe escrevi em uma mensagem que enviei assim que peguei meu celular.

Voltei a ler um dos contratos, que parecia não ter nada coerente ali, pois minha mente estava longe quando meu celular soou, era uma mensagem dele.

Mensagem recebida de: Amor

<“Não precisaria se quisesse vir comigo”.>

Mensagem enviada para: Amor

<”Não é que eu não queira ir, eu tenho que ficar, já te expliquei, tenho muitas coisas para resolver, não poderia ficar tantos dias fora. Eu não posso, meu amor... por favor, compreenda. ”>

Mensagem recebida de: Amor

<”Você é quem sabe...”>— Ele apenas me respondeu com essas poucas palavras, o que me deixou ainda mais preocupada, ele de verdade não teria entendido o que eu quis dizer e eu precisava pensar no que fazer para não deixá-lo ir assim, tão chateado comigo.

Mensagem enviada para: Amor

“Te amo ♥...” – Respondi novamente sentindo um enorme pesar, queria lhe dizer mais, mas não sabia como fazer naquele momento e ele não mais me respondeu.

Continuei tentando dar mais atenção aos papéis, mas não conseguia estudá-los, busquei fazer outras coisas e tentei adiantar o que havia de pendência para aquele dia. Consegui fazer algumas coisas, mas não tudo o que realmente precisava.

— Branca, eu estou indo para casa, se alguém ligar, anote o recado e diga que amanhã eu dou retorno, por favor. – Disse a Branca ao passar por sua mesa quando estava já de saída.

— Está bem, Paulina. – Ela assentiu prontamente e logo saí em direção ao estacionamento.

# Carlos Daniel narrando #

— Carlos Daniel, já estamos quase prontos! – Rodrigo disse interrompendo meus pensamentos.

— Estou indo. – Lhe respondi levantando-me ao pegar a pauta da reunião do dia que seria feita por uma videoconferência.

Estava profundamente chateado, não esperava de maneira alguma ouvir de Paulina tais palavras. Sempre a tive como minha maior prioridade desde que nos conhecemos e ela reagiu como se não considerasse nada disso e muito menos houvesse reciprocidade.

“Tenho outras prioridades, Carlos Daniel”... Essas palavras não saíam de minha cabeça por mais que eu as tentasse expulsar. E não conseguia agir como se nada depois de ter levado aquele banho de água gelada dela.

— Com licença, senhores. – Disse minha secretária ao encontrar-nos na sala antes que eu e Rodrigo ao adentrarmos a sala de reuniões. Consegui reservar dois apartamentos duplos na ala presidencial do Hotel South Beach com check-in para amanhã. Posso confirmar o vôo para amanhã de manhã?

— Obrigado Marta. Sim, confirme, por favor. Quando terminarmos a reunião Você nos passa tudo. – Respondi a olhando rapidamente e ela assentiu.

— A Paulina não vai. – Eu disse a Rodrigo mesmo sem ele ter me perguntado e ele me olhou seriamente quando paramos na porta da sala de reuniões.

— Aconteceu alguma coisa? A Patrícia vai comigo e pensa que vai conhecer a Paulina.

— Está muito ocupada. Por isso ela não vai. – Respondi em tom seco e logo abri a porta, não pudemos mais falar sobre nada que não referisse aos nossos negócios. Havia três sócios nos esperando lá e mais dois em uma videoconferência diretamente da Alemanha, os cumprimentamos e demos início à reunião.

...

Ficamos a tarde inteira discutindo parâmetros de novos investimentos, eu estava tão cansado que apenas pensava em um bom banho para relaxar, um delicioso jantar e uma boa noite de sono. Nos despedimos de nossos colegas e busquei meu celular, que estava sem bateria e eu sequer havia me dado conta disso.

— Resolverei algumas coisas aqui e logo embarco para a Flórida, creio que irei à noite mesmo. Patrícia terá também de resolver algo na clínica antes de viajarmos, então nos veremos depois de amanhã.

— Está bem, Rodrigo. Nos falamos.

— Mas está tudo bem mesmo? E os Martins, ocorreu algo sério? – Perguntou-me seriamente.

— Eu não sei, aparentemente está tudo igual, Paulina não me contou o que aconteceu... Obrigado, Rodrigo.

— Quer que eu investigue?

— Não Rodrigo, não é necessário. Obrigado. Nos vemos na quarta.

— Tudo bem, boa viagem Carlos Daniel! – Apertei sua mão e logo ele saiu, deixando-me sozinho.

Tentei ligar o meu celular, mas estava completamente apagado quando Marta entrou novamente chamando a minha atenção.

— Senhor, está tudo pronto. Reservei o quarto do hotel para o senhor e sua noiva. Amanhã seu vôo sai às 11h, o Gabriel já está ciente de que terá de levá-lo ao aeroporto, o Robert será o piloto nessa viagem. Está tudo anotado no seu e-mail para que o senhor não esqueça de nada, um funcionário irá buscá-lo quando aterrissar em Miami e o levará para o hotel, os outros investidores também estão hospedados lá.

— Tudo bem, Marta. Minha noiva não vai comigo, mas não tem problema, eu aviso quando chegar lá. Obrigado. – Respondi cansado enquanto ainda tentava ligar meu celular, o que era impossível.

— Precisa de algo mais, senhor?

— Não, o meu celular descarregou, mas já estou indo para casa. Já sabe, qualquer coisa, aciona o Rodrigo, apenas a mim se for por algo extremamente importante.

— Está bem, senhor. Faça uma boa viagem amanhã. – Ela disse com um sorriso cordial e simpático e saí da minha sala indo em direção ao elevador.

* Paulina narrando *

— Pensei que chegaria um pouco mais tarde, menina... Estamos preparando o jantar. – Adelina disse ao cumprimentar-me nas escadas de casa quando cheguei.

— Não conseguiria trabalhar mais hoje, Adelina. – Respondi desanimada e ela aproximou-se mais de mim.

— Aconteceu alguma coisa? Sente-se bem?

— Carlos Daniel foi almoçar comigo e acabamos discutindo. Ele vai viajar amanhã para Miami, quer que eu vá com ele, mas eu lhe disse que não. – Expliquei com tristeza e segurei em sua mão para que me acompanhasse até o meu quarto.

— E por que você não vai, filha? Você adora Miami. Não quer ir?

— Quero ir Adelina, você sabe o quanto eu gosto de Miami e não vou lá há muito tempo, mas tenho passado tanto tempo com o Carlos Daniel que parece que minhas obrigações de antes não existem mais. Tenho muito trabalho na fábrica, não consigo dar atenção a vocês, há muito que não saio com a minha irmã... Ainda tem o papai...

— Com a gente não precisa se preocupar, Lina... A Phia está muito focada com os estudos e o seu pai, ele parece bem... – Explicou depois que entramos em meu quarto e virei-me para olhá-la nos olhos.

— O meu pai está estranho, Adelina. Eu estou preocupada com isso, além do mais, eu não me sinto segura em deixar a fábrica sob seu comando durante tantos dias.

— Mas o seu Santiago fez isso a vida toda, Lina...

— Sim, mas nos últimos anos tem sido irresponsável, descuidado, ausente... Sinto que não devo vacilar mais. Ai Adelina, eu não sei o que fazer, são tantas coisas na minha cabeça... – Murmurei ao sentar-me em minha cama puxando Adelina para sentar comigo. – Eu sinto tanta falta da mamãe... – Desabafei enquanto deixava algumas lágrimas rolarem por meu rosto. – Ela sempre soube se desdobrar, sempre soube como controlar cada situação como ninguém, administrava a fábrica, a casa, era ótima esposa e mãe... Não herdei isso dela.

— Não diga isso, minha menina... A sua mãe sempre sentiu muito orgulho de vocês, principalmente de você que sempre foi tão responsável e dedicada em tudo que faz. Ela sempre me dizia que você seria uma grande mulher, ela tinha a plena certeza disso e eu estou segura de que se ela estivesse aqui, estaria ainda mais orgulhosa de você pela mulher que se tornou. Ela tinha razão. – Adelina dizia com carinho enquanto afagava o meu rosto molhado.

— Mas eu não sou como ela, Adelina. Ela não fraquejava com qualquer coisa, enquanto eu... Eu não sei até onde vai o meu limite.

— Você não é como ela, mas você é tão incrível quanto ela, filha... É uma mulher singular, excepcional.

— Obrigada, Adelina... E o que seria de mim sem você...? É como uma mãe para mim, sempre me aconselhando, acolhendo... – A abracei forte e fiquei um pouco ali, recostada em seu ombro enquanto respirava fundo e me pensava um pouco no que fazer. - Preciso também me dedicar em preparar o meu casamento, viajar com ele para Miami seria maravilhoso, mas não é porque as coisas estão indo bem na fábrica que eu devo deixar por tantos dias, agora o Carlos Daniel está chateado comigo, para ele foi óbvio que eu não queria ir pela maneira que eu falei.

— Então por que não explica melhor para o seu amorzinho? Tenho certeza de que o seu Carlos é um homem compreensivo e vai entender que dessa vez você não pode ir. – Ela disse acariciando meus cabelos.

— Tem razão, Adelina... Não posso deixar que ele vá magoado comigo. Vou conversar com ele e resolver essa situação. – Lhe sorri e beijei seu rosto sereno. – Eu vou até sua casa, não precisa me esperar para jantar. Vou me despedir dele.

— Vai sim, filha! Tenho certeza que isso acalmará seu coraçãozinho. Agora eu preciso descer, Cacilda me espera na cozinha. – Disse sorrindo, beijou minha testa e saiu.

Levantei-me da cama, sentei frente à penteadeira e comecei a retirar minhas jóias para logo ir para o banho, quando abri uma das gavetas para buscar um novo demaquilante, encontrei algo que há muito não via. Uma caixinha preta de veludo estava ali guardada. A abri e uma lembrança me tomou imediatamente, emocionando-me.

“ – É lindo, mamãe! – Eu dizia a minha mãe enquanto admirava a jóia em minhas mãos.

— É um relicário que ganhei de meu pai quando era adolescente, ele disse para eu dar ao amor de minha vida quando o encontrasse, eu pensei em dar ao seu pai, mas ele nunca gostou de usar esses tipos de coisas, então eu o guardei e agora ele é seu. – Ela dizia sorridente enquanto continuava a organizar as suas tantas jóias, eu adorava quando isso acontecia porque ela sempre me dava alguma das que não usava mais.

— Está vazio... – Eu disse quando o abri.

— Está sim, e chama-se relicário porque é apropriado para guardar “relíquias”, então coloca-se a foto de alguém muito especial a qual gostaria de levar para onde quer que vá, alguém muito importante, que é considerado como precioso em sua vida e sempre que sentir saudades, é só abri-lo.

— Então essa pessoa que será levada no pescoço através do relicário tem que ser realmente importante, mamãe.

— Sim, filhinha... Quando você tiver a sua família, por exemplo, ou quando encontrar o verdadeiro amor saberá quais são esses tipos de relíquias, são as do coração, por isso que tem que ser muito importante.

— Guarde-o, no momento certo saberá a quem dá-lo. – Ela dizia enquanto guardava a preciosa jóia em sua caixinha preta.”

Senti uma emoção diferente me consumir, em meio aquelas lembranças algumas lágrimas novamente tomaram conta de mim e naquele momento eu sabia exatamente o que fazer com o relicário.

Corri rapidamente para o quarto de Sophia, onde estava seu computador e ela tem uma impressora profissional de fotos, rapidamente consegui imprimir uma foto de um dos melhores dias de minha vida ao lado dele. Logo voltei para o meu quarto para tomar um banho e me arrumar para ir vê-lo.

...

— Oi senhorita Paulina, como vai? – Fui recebida por Matilde, que me cumprimentou com um largo sorriso nos lábios no saguão da casa de Carlos Daniel.

— Boa noite, Matilde... Vou bem, obrigada.

— Veio ver o seu noivo? Ele ainda não chegou, mas ligou avisando que está a caminho. – Ela disse ao me vir olhando em volta da casa.

— Sim, eu quero falar com ele, mas eu o espero. – Sorri-lhe e toquei seu ombro, o cheiro que vinha da cozinha era delicioso, suspirei. – E esse cheiro maravilhoso? Aposto que são canelones.

— Exatamente, canelones recheados com ricota. Estão no forno!

— Hmm.. E devem estar tão deliciosos quanto o cheiro.

— Espero que sim, o menino adora! Quer me acompanhar até a cozinha?

— É claro que sim!

A acompanhei e ela me mostrou como prepararam os canelones do jeito que Carlos Daniel gosta, aproveitei e fiz rapidamente um bolo de chocolate impressionando Matilde e as cozinheiras, que não faziam ideia de que eu também cozinho.

— A senhorita tem muita habilidade, não levou nem quinze minutos para fazer o bolo! – Disse dona Ernesta, uma das cozinheiras.

— Eu adoro cozinhar, esse bolo de chocolate com nozes é um dos meus favoritos! Espero que o Carlos Daniel goste.

— Tenho certeza que sim! – Matilde disse enquanto nos observava sorrindo.

— Deixarei a calda feita para quando o bolo já estiver assado, daí é por sua conta, dona Ernesta. – Brinquei e ela levantou as mãos em sinal de rendição.

— A senhorita é quem manda!

— Agora eu lhes peço licença, vou esperar o Carlos Daniel no quarto dele.

— Vai ficar para experimentar os canelones, não vai? – Matilde perguntou enquanto me acompanhava até as escadas principais.

— Sim, eu não posso perder por nada Matilde!

— Está bem, vai adorar!

— Sei que sim... – Respondi enquanto ia subindo as escadas. – Ah, Matilde... Por favor, não diga ao Carlos Daniel que estou aqui, quero fazer uma surpresa.

— Sim, senhorita... Mas o seu carro, não está lá fora?

— Sim, mas eu pedi que Gabriel o guarde na garagem. – Sorri maroto e ela me devolveu o mesmo sorriso.

...

Subi para o quarto de Carlos Daniel e não conseguia conter de ansiedade, precisava vê-lo logo para me reconciliar com ele, explicar-lhe melhor os meus motivos para não ir com ele à Miami.

# Carlos Daniel narrando #

Deixei meu celular carregando um pouco no carro enquanto voltava para casa, havia a última mensagem de Paulina dizendo que me ama, sorri ao lê-la. Não pude mais responder e ela devia estar pensando que eu a ignorei, mas deixaria para ligar para ela quando chegasse em casa.

...

— Boa noite, Matilde! – Cumprimentei Matilde quando adentrei a minha casa, como sempre.

— Boa noite, meu filho! Está bem? – Perguntou com um sorriso singelo.

— Estou cansado, Matilde, e amanhã de manhã viajarei para Miami. Preciso que faça malas com roupas para uns dez dias.

— Está bem, senhor. Seu jantar está quase pronto, vai descer para comer?

— Não Matilde, vou comer no quarto. Não estou muito animado, além do mais, não demorarei a dormir. – Eu disse olhando-a seriamente e comecei a subir as escadas, senti uma impressão, a impressão de que o perfume de Paulina estava espalhado pela casa, parei e olhei para Matilde.

— Pois não, senhor?

— Não... Não é nada, senti apenas uma impressão... Acho que estou ficando maluco.

Subi rapidamente as escadas e o cheiro dela me inebriava, cada vez mais intenso.

“Devo estar enlouquecendo...” — Pensei rapidamente e logo fui tomado em surpresa quando abri a porta do quarto. Ali estava ela, a Paulina.

Lindíssima, sexy e majestosa, estava deitada em minha cama com a cabeça apoiada em seu braço, estava distraída folheando uma revista, cabelos soltos e franja para o lado, toda a sua roupa era preta, usava uma jaqueta de couro preto e seus seios fartos realçavam com o decote da blusa de baixo, a contemplei enquanto minha boca secava, sua calça preta desenhava suas pernas lindas e torneadas e saltos muito altos.

Fechei a porta do quarto e tranquei a fechadura sem conseguir parar de olhá-la, hipnotizado por sua bela figura. Ela olhou-me rapidamente e sorriu sensual. “Será que ela havia mudado de ideia e veio para irmos juntos para Miami?”— Pensei esperançoso.

— Oi meu amor... – Ela disse sorrindo enquanto levantava-se e se aproximava de mim. – Estava ansiosa para te ver. – Passeou as mãos no meu peito e segurou minha gravata puxando-me para perto de seu rosto.

— Oi, minha vida... Não esperava vê-la aqui... Está linda! – Eu disse lábio contra lábio e logo nos beijamos intensamente.

— Eu não conseguiria dormir não estando bem com você. – Dizia enquanto passava o polegar em meus lábios, limpando o batom.

— E eu não me sinto em paz quando não estamos bem. – Respondi acariciando suas bochechas rosadas. Toquei seus cabelos acariciando-os e contemplei seu lindo rosto enquanto ela me olhava e mexia na gola de minha camisa.

— Quero conversar com você. Vem... – Cruzou nossas mãos enquanto acariciava meu braço com a outra e me puxou para sentarmos na cama. –  Primeiro vamos tirar essa roupa, e você deve estar muito cansado, não é?

— Sim, estou... Acabei de sair de uma reunião exaustiva, minha cabeça dói um pouco também...

— Eu vou cuidar de você... – Ela disse fazendo carinho em meus cabelos e lhe sorri apaixonado.

— Você vai comigo para a Flórida? – Perguntei com uma pontada de esperanças.

— Hmm... Não, meu amor... – Respondeu baixando o olhar e depois olhou-me novamente e esboçou um pequeno sorriso. Me ajudou a tirar o terno e começou a desfazer o nó de minha gravata, logo desabotoou minha camisa e acariciou meu peito fazendo-me suspirar. – Eu não vou...

Afastei-me um pouco dela e virei meu rosto, sem conseguir esconder uma certa decepção, ela continuou sentada e segurou meus ombros dando início a uma leve massagem. Desabotoei as mangas de minha camisa e as tirei enquanto Paulina encostava seu queixo em meu ombro.

— Eu não posso ir, meu bem... – Ela abraçou-me por trás e beijou o meu ombro, espalmando suas mãos macias em meu abdômen.

— Por um instante eu pensei que você estava aqui porque havia mudado de ideia, mas pensar que você não vai simplesmente por não querer, me deixa chateado. – Desabafei quando virei para olhá-la nos olhos.

— Não é porque eu não quero, Carlos Daniel... Sabe, tenho achado estranha a atitude do papai e temo que ele esteja aprontando algo. – Explicou ficando sem graça quando baixou a cabeça. A olhei firme e segurei seu queixo com meu polegar, fazendo-a olhar em meus olhos.

— O que acha que seu pai pode estar aprontando?

— Eu não sei, apenas temo que ele esteja fazendo algo errado e não quero descuidar. Prometo que da próxima vez eu vou. Além do mais, a fábrica está precisando de mim, estamos com alguns contratos de exportação, eu preciso ver de perto tudo. Compreenda, por favor.

— Tudo bem, eu compreendo... – Respondi acariciando a maçã de seu belo rosto rosado.

— Eu te amo muito, Carlos Daniel... Adoraria estar em Miami com você, sei que pareceu que eu não me importo, mas acredite, não é isso... Estou preocupada com muitas coisas...

Eu também te amo, minha vida... E não se preocupe que vai dar tudo certo. Eu que fui um incompreensível, egoísta... Me perdoa?

— Claro que sim, meu amor... – Paulina sorriu ternamente e me abraçou forte.

— É que eu queria você comigo, me mata pensar que tenho que ficar tantos dias sem você, entende?

— Entendo sim, porque comigo vai ser igual, não sentir seu calor... - Disse acariciando meu peito com os dedos. –...seu cheiro... seus beijos... seu toque... – Disse sussurrando em meu ouvido enviando calafrios por todo o meu corpo. – Estou viciada em você. – Ela disse finalizando a frase e logo me olhou novamente com um sorriso maroto.

— Hmm... Se continuar assim eu vou enlouquecer ainda mais, já estou... – Apertei o meu corpo contra o seu fazendo-a notar a minha já presente ereção e ela sorriu.

— Oh, meu céu... É isso que eu quero... Que enlouqueça! – Ela disse animada e fez um biquinho sexy demonstrando um duplo sentido que eu muito entendia, não pude evitar sorrir com o seu jeito.

— Quero ficar tão exausto quanto ontem... – Mordi os lábios e a apertei ainda mais contra mim, puxando-a para um beijo ardente, ansioso e longo.

— Hmm... Mas antes, antes você precisa tomar um banho quente... Depois vamos jantar lá em baixo e quando voltarmos para o quarto...

— Podemos ficar aqui, agora eu estou com fome de outra coisa... – Dizia enquanto lambia seu pescoço, desejoso.

— Nana-não... Vamos jantar juntos com a Matilde lá na sala de jantar, já pedi que arrumassem tudo, estão nos esperando.

— Está bem, meu amor... Como quiser. – Beijei o dorso de sua mão e em seguida lhe dei um breve beijo nos lábios.

— Vou separar uma roupa confortável pra você enquanto toma banho. – Disse indo em direção ao meu closet e lhe sorri.

Nunca em toda a minha vida uma mulher se preocupava tanto com detalhes como esses, nem mesmo a minha mãe na época de minha adolescência, o sentimento que habitava em mim era indescritível, era mais que sentir-se especial, de fato eu não saberia descrever, apenas pensava em amá-la incondicionalmente e dedicar-me a ela como nunca, era o mínimo que esse anjo divino merecia de mim.

Vesti um pijama realmente muito confortável e descemos para jantar, Ernesta e Matilde fizeram os canelones que eu adoro e Paulina fez uma divina sobremesa, um bolo de chocolate com nozes delicioso. Jantamos e conversamos um pouco, havia tanto tempo que eu não jantava naquela mesa que até já tinha me esquecido como era tal sensação, mas nada se comparava ao sentimento que transbordava o meu coração por ter Paulina ali comigo e mal podia esperar para tê-la todos os dias assim, como minha esposa.

— Sua presença alegra toda essa casa. Todos a adoram, principalmente eu. Se dependesse de mim, moraríamos juntos ou teríamos nos casado quando nos conhecemos. – Eu lhe disse quando voltamos para o quarto e Paulina sorriu a gargalhadas.

— Quando nos conhecemos? Não acha que era muito cedo para isso?

— Eu te amei desde o primeiro momento em que te vi, me casaria com você sem pestanejar. – Respondi-lhe enquanto a abraçava por trás e cheirava seus cabelos perfumados.

— E acha que eu me casaria com você sem nem te conhecer? – Ela perguntou virando-se em meus braços para olhar-me nos olhos e a fitei fingindo surpresa.

— Sem sombra de dúvidas! Se não, eu a convenceria. Sei que você ficou louca por mim. Eu sabia que estava louca por mais beijos roubados como aquele, e sabia que valeria a pena cada joelhada que eu levasse por cada beijo. – Brinquei enquanto a olhava.

— Ainda bem que não roubou tantos para não levar tantas joelhadas, senão ele... – Brincou olhando para baixo e os dois rimos juntos. –...Nós precisamos dele... – Deu uma piscadela e em seguida esboçou um sorriso malandro.

A tomei em meus braços e a ajudei a despir-se de toda aquela roupa, que era muito linda e sexy, mas aproveitei muito mais as pequenas peças íntimas vermelhas que a vestiam por baixo de todo aquele tecido preto.

Nos amamos já cheios de saudades e prolongamos nosso momento juntos em forma de despedida e ela cumpriu com o que havia prometido, cuidou de mim e me ajudou a relaxar.

— Estou totalmente convencido de que terei a melhor esposa do mundo. – Lhe disse enquanto acariciava suas costas nuas.

— E você gosta disso? – Paulina perguntou com um sorriso nos lábios, seus olhos verdes brilhantes me fitavam deixando-me ainda mais apaixonado.

— Se eu gosto? Eu sou o homem mais feliz dessa terra desde que você entrou em minha vida e, tê-la como minha esposa é tudo que eu mais quero. – Revelei tocando seus lábios macios e lhe beijei intensamente, transmitindo todo o meu sentimento naquele beijo.

— E eu não vejo a hora de selarmos nosso amor diante de Deus e de todos...

Nos beijamos calmamente, desfrutando do sabor dos lábios um do outro enquanto trocávamos carícias e carinhos.

— Ah... Tenho algo para você. – Levantou-se rapidamente, levando consigo o lençol envolto em seu corpo e a contemplei enquanto pegava sua bolsa e tirava algo de dentro. – É um presente muito especial. – Ela disse quando estendeu uma caixa preta aveludada em minha direção. – Tome, abre...

— Paulina, eu já disse que não quero que gaste seu dinh...

— Shh... Eu não gastei nada com isso. – Disse tocando meus lábios com seu indicador e logo me deu um breve beijo. – Anda, abre... É seu.

— Se é assim, tudo bem... – Acomodei-me melhor na cama e abri a caixinha, que me revelou um relicário prateado. A olhei e lhe sorri. – É lindo, meu amor... Obrigado! – Agradeci com um selinho em seus lábios e ela sorriu.

— Tem que ver o que tem dentro dele também.

Abri aquele objeto clássico e vi uma foto nossa abraçados, sorrindo.

— O lado sem foto é para quando tivermos nosso filhinho, você pode colocar a foto dele aí do nosso lado... - Sorriu ternamente e me olhou com seus olhos brilhando.

— Sim, meu amor... Eu simplesmente adorei, minha vida... – Disse agradecido enquanto ainda olhava para a foto em um lado no interior do relicário.  

— Quero que ande com ele e sempre que sentir saudades, é só olhar para a nossa foto e o quão feliz nós somos juntos. Eu ganhei de minha mãe há alguns anos e ela disse para eu dar ao meu verdadeiro amor.

— Obrigado, minha vida... – A abracei e beijei em gratidão enquanto sentia-me emocionado. Ninguém nunca havia me presenteado assim, principalmente com algo de tanto valor sentimental como essa joia deveria ser para Paulina. – Coloca em mim?

— Sim, amor... – Sorriu e pegou o objeto, colocando-o em mim. – Está lindo! – Acariciou meu peito com uma de suas mãos quentes e depositou um beijo ali. – Agora estarei com você aonde quer que você vá. – Paulina disse brincalhona e logo nos acomodamos novamente na cama para dormirmos.

Paulina me pediu para deitar a cabeça em seu colo até que eu dormisse, proporcionando-me uma maravilhosa noite de descanso em seus braços quando me ajudou a dormir ao acariciar meus cabelos.

* Paulina narrando *

Acordei muito cedo e verifiquei se tudo estava em ordem para Carlos Daniel viajar, Matilde fez suas malas e as deixou prontas. Fiquei com ele e tomamos juntos o café da manhã, depois o ajudei a se arrumar e nos despedimos calorosamente, tomados pelas saudades. Meu coração apertava apenas por pensar que em poucos minutos ele já estaria voando rumo à Miami.

— Estou com saudades, meu amor... Vou torcer para que mude de ideia...

— Eu também, meu céu, mas dessa vez eu realmente vou ficar... Aproveite aquele clima maravilhoso de Miami, um dia iremos juntos, eu adoro aquela praia.

— E eu adoraria vê-la apenas de biquíni naquela praia. – Carlos Daniel disse olhando-me com malícia enquanto me puxava para um último beijo.

— Bobo. E verá, só tenha mais um pouquinho de paciência.

— Sim, eu sei... Tudo bem, eu entendo...

— Obrigada por compreender, Carlos Daniel... Não se arrependerá. Que Deus o acompanhe, meu amor... Faça uma boa viagem, e nos comunicaremos por mensagens, chamadas e videoconferências. Assim que chegar no hotel, por favor, me avisa...

— Claro que sim, vida minha. Te ligarei... – Abraçou-me apertado e me segurou um pouco em seu abraço. – Eu te amo muito.

— Eu também te amo, Carlos Daniel... Se cuida!

Demos o último beijo e Carlos Daniel entrou no carro, onde Gabriel o esperava. Logo me despedi de Matilde e dos outros e entrei em meu carro, seguindo em direção à minha fábrica, pois já estava atrasada para o trabalho.

 

... NA FÁBRICA DOS MARTINS ...

— Bom dia, Branca!- A cumprimentei quando passei por sua mesa, na fábrica.

— Bom dia, Paulina!

— Tem algum recado? Está tudo em ordem por aqui? – Perguntei a olhando enquanto ela me acompanhava até a minha sala.

— Está sim, de momento sim... Mas...

— Mas... Aconteceu algo? – Liguei meu computador e Branca me olhou seriamente.

— O Leandro está na fábrica querendo falar com você. Disse que tentou ligar, mas o seu celular estava fora de área.

— Sim, meu celular estava desligado. – Conferi meu celular e pus para carregar. – Por favor Branca, avise-o que já estou aqui.

— Sim, Paulina. O farei agora mesmo.

Branca saiu rapidamente e em pouco tempo chegou Leandro em minha sala, fechou a porta e me olhou com uma cara muito séria.

— Dona Paulina, tentei falar com a senhorita, mas não consegui.

— O que houve, Leandro? Você está com algum problema?

— Sim, aconteceu algo... – Ele disse passando a mão no rosto e fiz um gesto para que ele sentasse em minha frente.

— O que aconteceu? – Perguntei também já ficando preocupada.

— Primeiro quero pedir desculpas por ter faltado ontem, eu estava muito ocupado, não parei desde então. O que ocorre é que houve um incêndio na vila que meu compadre vive com a sua família. Mais de oito casas foram atingidas e essas famílias perderam tudo.

— Meu Deus, Leandro! Como aconteceu isso?

— Não se sabe exatamente a causa do incêndio, mas parece que foi problema de curto nas instalações elétricas que eram malfeitas.

— E alguém se machucou? – Perguntei também preocupada com o que acabara de saber.

— Sim, há vítimas fatais. Até o momento três. O meu afilhado sofreu algumas queimaduras de segundo grau e quebrou um braço. Ele estava dentro de casa quando tudo começou.

— Puxa vida, Leandro! Eu sinto tanto...

— Foi muito triste o que aconteceu com eles. E eu estou fazendo o que posso e o que não posso para ajudá-los.

— E como está ajudando? O que pode ser feito por eles?

— Arrecadando donativos de todos os tipos. Eles não têm mais nada, nem mesmo onde morar.

— E onde eles estão agora? – Perguntei olhando-o também preocupada, imaginando a situação dessas famílias que perderam tudo que tinham.

— Os meus compadres estão em minha casa por enquanto, alguns estão com parentes também e tem outros estão abrigados em uma escola do bairro, mas não podem ficar lá por muito tempo.

— Eu... Eu posso vê-los, Leandro? Quero ajudá-los também. – Leandro me olhou imediatamente com os olhos bem abertos.

— É sério, dona Paulina?

— Sério, Leandro! Vamos lá? – Eu já dizia levantando-me e Leandro estava parado ainda me olhando surpreso. Não hesitei, o que Leandro disse era muito sério e eu senti dentro do meu coração uma imensa vontade de ajudar essas pessoas.

Peguei rapidamente a minha bolsa e avisei a Branca que sairia por uns instantes, Leandro me acompanhou até o meu carro e fomos conversando até chegarmos na pequena vila destruída pelo fogo.

Não sei descrever o sentimento que tomou conta de mim quando vi aquele cenário tão triste, estava tudo convertido em cinzas. Parecia que ali não havia casas antes de tudo, apenas sobraram os estilhaços de cada casa. Meu coração ficou tão apertado que eu não conseguia me conter, Leandro apenas me olhava também emocionado, não havia o que dizer diante de algo assim.

— Onde eles estão, Leandro? Me leva até eles. – Pedi o olhando enquanto enxugava algumas lágrimas do meu rosto.

— Minha casa é aqui perto, vou levá-la até lá. – Ele disse imediatamente e voltamos para o carro.

Quando chegamos à casa de Leandro, sua esposa Viviana nos recebeu de maneira amável e gentil, cumprimentou-me e me convidou para entrar em sua modesta casinha.

— Essa é a Margarida, a nossa comadre. – Disse Leandro nos apresentando.

A mulher com total tristeza aparente aproximou-se mais e estendeu a mão para mim, segurava em seus braços uma criança de, pelo menos, dois anos, que já dormia.

— A senhorita é muito bonita. – Foi o que ela disse um pouco sem graça enquanto balançava levemente o bebê nos braços. – Nos desculpe pelo mal jeito em recebê-la. Acabamos de perder nosso barraco, tudo que tínhamos. – Ela disse baixando seu olhar, o que novamente me causou uma profunda comoção, toquei sua mão e afaguei.

— Eu soube... E estou aqui porque gostaria de ajudá-los de algum modo. – Expliquei tentando demonstrar-lhe confiança e a esposa do Leandro me trouxe uma xícara de café e me entregou.

— Não sabemos nem como agradecer, senhora... Nem mesmo do que precisamos, pois não temos mais nada. Graças a Deus e a Virgenzinha nós estamos vivos, perdemos três vizinhos, está sendo muito difícil para todos. Mas no nosso caso o que mais me preocupa é a saúde de meu filho Cristian, que está agora no Pronto Socorro, e o que dar de comer aos dois.

— Comadre, você sabe que quanto a isso não precisa se preocupar. – Leandro lhe disse e ela sorriu sem graça.

— Eu sei compadre, e te agradecemos muito por isso, mas não podemos incomodar vocês por muito tempo.

— E como está o seu filho? O Leandro me disse que ele se machucou no incêndio.

— Meu marido Antônio tá com ele agora no Pronto Socorro, ele tá com algumas queimaduras e vai precisar de uma cirurgia no braço direito, o problema é vaga para transferir que não tem, não se sabe quanto tempo ele pode esperar para operar.

— Me digam o nome dele e o hospital em que está que eu vou ver o que posso fazer para ajudá-lo. Posso ajudá-los com algumas coisas que estão ao meu alcance agora e vou fazer isso.

— Obrigada, senhorita. Não sei nem o que dizer. – A mulher disse esboçando um pequeno sorriso.

— Não é nada, dona Margarida, eu prometo que vou tentar ajudá-los da melhor maneira possível.

Conversamos mais um pouco e ela me contou a situação de sua família e das outras sete que ficaram desabrigadas e desesperadas por não terem para onde ir, nem o que comer, não sabiam o que fazer para se reerguerem, mas além de tudo isso, algo me chamou muito a atenção. A dona Margarida me disse que não perdia a fé nunca e tampouco as esperanças de que eles conseguiriam tudo de novo, que o que realmente importava ali não eram as coisas materiais que eles haviam perdido e sim suas vidas, que é o que temos de mais precioso, e se Deus permitiu que tudo virasse pó, mas os poupasse da morte, eles não deveriam reclamar. Logo, Leandro me levou na escola que abrigava as outras famílias refugiadas, o que me trouxe ainda mais emoção. Aquelas pessoas não tinham mais nada além da roupa do corpo e um pouco de comida que conseguiram com a ajuda de uma comunidade próxima e de algumas pessoas que se sensibilizaram e os estavam ajudando, mas nada disso era o suficiente, eles não tinham destino, não tinham perspectivas naquele momento e, vendo toda aquela situação algo gritou dentro de mim que eu sim poderia fazer algo, pelo menos um pouco para tentar tirá-los daquela situação e assim eu o faria.

— Leandro, tome esse dinheiro, compre os remédios que o seu afilhado precisa. – Eu disse a Leandro enquanto lhe entregava todo o dinheiro que tinha na carteira, o que não era tanto, mas eu acho que ajudava. – E aqui, com este cheque você compra mantimentos e algumas roupas para as crianças. – Eu dizia enquanto assinava um cheque sem preenchê-lo.

— Mas dona Paulina, isso pode ficar muito caro e...

— Não se preocupe, apenas faça isso. Eu vou buscar outros meios para ajudá-los, vou tentar conseguir mais para eles, conheço algumas pessoas que talvez possam ajudar também...

— Eu... Eu não sei o que dizer, senhorita... – Ele dizia enquanto me olhava com os olhos molhados.

— Não precisa dizer nada, Leandro. Eu quero ajudar essas pessoas mais que tudo. E por favor, veja sobre a vila onde eles moravam, como está a situação e se algo pode ser reparado. – Lhe sorri e olhei meu celular que estava carregando no carro. – Eu vou voltar para a fábrica agora, não se preocupe quanto a ir trabalhar, eu vou dar um jeito e colocar alguém para substituí-lo durante esses dias. Considere como dias de folga e assim que eu tiver novidades, te ligo, mas você também tem que me ligar assim que souber de algo, tudo bem?

— Tudo bem, dona Paulina. Muito obrigado por tudo isso, você tem um grande coração.

— Pois bem... Uma das prioridades deve ser sobre a reforma das casas, por favor.

— Eu sei que a senhorita quer muito ajudar, mas não pode fazer tudo. Todos estamos trabalhando em mutirão para reconstruir tudo.

— Eu não estou garantindo nada, Leandro, apenas quero pensar na possibilidade dar-lhes total apoio e sinto que posso fazer algo.

— Está bem, todos vão ficar eternamente agradecidos. – Ele disse apertando minha mão e saiu do carro quando o levei de volta para casa.

Ver aquelas pessoas sem nada me fez refletir sobre muitas coisas... Eu sempre tive tudo na vida, sempre morei em mansões, roupas caras, joias, mesa farta, nada nunca havia me faltado, houve momentos em que eu sequer sabia com o quê gastar, mas meus pais sempre me ensinaram que tudo deveria ser medido, que não deveríamos fazer as coisas com excessos, não esbanjar por que não sabíamos do dia de amanhã. Eu e Sophia tínhamos de tudo o melhor, mas aprendemos a valorizar cada coisa com o cuidado de não se apegar a nada, pois nossa mãe nos ensinou que as coisas materiais não são tudo nessa vida e agora, vendo a situação dessas pessoas eu me senti confusa, não consegui compreender que as coisas materiais não são tudo na vida, mas para aquelas pessoas eram tudo que precisavam no momento. Por que com eles, que já tinham tão pouco? E por que aquelas famílias não estavam chorando em desespero pelos cantos por não saberem o que fazer ou como seria amanhã?

Uma mulher me disse: “o amanhã a Deus pertence, minha filha...” E fiquei pensando sobre isso. De fato aquelas pessoas me trouxeram uma grande lição naquela manhã. “Se coisas boas se vão é porque melhores estão por vir.” E fui o caminho inteiro pensando sobre isso enquanto dirigia.

Já estávamos no fim da tarde e liguei para a fábrica e passei as coordenadas de quem assumiria o lugar de Leandro na área de produção por enquanto, Roque é tão eficiente quanto Leandro e tenho certeza que conseguirá dar conta de mais esses setores durante alguns dias. Fui para a minha casa e reuni alguns empregados, expliquei-lhes o problema daquelas pessoas e alguns disseram um jornal local notificou o acidente, porém os pobres parecem invisíveis para alguns, pois nem todos os veem.

Eles se prontificaram em arrecadar algumas roupas e calçados enquanto eu pensava em como lhes providenciar comida e recuperar suas casas convertidas em cinzas.

— Lina, tenho sapatos e roupas que não uso mais e estão guardadas há um tempo para doação. – Sophia me disse quando entrou e meu quarto.

— Aquelas pessoas não têm mais nada, Phia... E aquelas crianças... – Eu lhe disse enquanto tudo me vinha em mente novamente deixando-me triste. – O incêndio levou tudo... O que será daquelas famílias? Para onde irão agora?

— Eles darão um jeito, minha irmã... Não fique assim... – Apoiou suas mãos em meus ombros e os afagou.

— E quando vier a chuva ou o frio? Aquela escola não pode abrigá-los por muito tempo. Acho que todas as famílias têm crianças, Sophia... Eu quero ajudá-los.

— Você já está ajudando, e não se preocupe que eles vão ficar bem.

— Eu sei que vão... – Respondi entrando no banheiro enquanto continuava a pensar em tudo.

Tomei um banho quente e vesti um roupão felpudo, voltei para o quarto e retirei do meu armário tudo o que não mais usava, algumas coisas eram de valor e eu até poderia vencê-las para comprar outras coisas mais úteis para aquelas pessoas naquele momento. Fiz uma mala enorme com alguns objetos que tentaria vender e outros que poderia doar quando fui surpreendida pelo meu computador que tocou em uma chamada de videoconferência. Corri para atendê-la, era o Carlos Daniel.

— Oi meu amor! – Ele disse quando apareceu na tela do computador através da câmera.

— Oi amor, você está bem? Como foi a viagem? – Perguntei ao vê-lo sorrir. Ele também vestia um roupão branco e estava com os cabelos molhados.

— Cheguei há pouco, tomei um banho e vim correndo te ligar. Estou bem, apenas cansado... Mas e você?

— Eu estou bem, estou com saudades de você.

— Hmm... Eu também já não aguento de saudade, minha vida... Você está muito cansada?

— Um pouco, tive um dia cheio hoje, mas tomei um banho quente e estou mais relaxada. - Sorri-lhe um pouco sem graça, mas ele não sorriu.

— Mas pela sua carinha triste não parece ser apenas por isso. Aconteceu alguma coisa?

— ...Bom, aconteceu... É que o Leandro faltou ontem o trabalho e hoje foi se justificar. Acontece que alguns conhecidos dele perderam suas casas em um incêndio que não pôde ser evitado a tempo e consumiu tudo em pouco tempo. – Respondi em tristeza enquanto ele escutava com atenção. – Eu senti vontade de ajudá-los e pedi a ele para me levar até lá e quando chegamos, vi de perto os problemas que aquelas pessoas estão enfrentando, a vila em que moravam está totalmente destruída. Eles perderam absolutamente tudo, inclusive parentes! O afilhado do Leandro quebrou uma perna e sofreu algumas queimaduras. Ele também é uma criança, os pais mal têm dinheiro para a comida e agora precisam de remédios e uma cirurgia que não sabem quando acontecerá por falta de recursos e conhecimento. - Expliquei sem conseguir conter a emoção que tomou conta de mim.

— O que causou o incêndio? Alguém sabe?

— Não, parece que ainda estão averiguando. - Respondi triste. - Crianças muito pequenas naquelas famílias, Carlos Daniel... Estão abrigadas numa pequena escola do bairro, não têm comida, nem roupas, nada... É de doer o coração vê-los assim... Eu preciso fazer algo para ajudá-los.

— Você é um anjo, minha vida... Te admiro pela sua sensibilidade, por se colocar no lugar dessas pessoas, você tem um bom coração, meu amor... Mas como pretende ajudá-los?

— Eu... Eu não sei, lhes dei algum dinheiro para ajudar a comprar comida, mas não é o suficiente. Eu...

Fui interrompida pelo timbre do telefone do quarto de Carlos Daniel que soou atrás dele e ele fez um gesto de que precisava atender, pedindo para eu esperar.

"Alô... Sim, é ele. _ Não, não sabia que me esperariam no restaurante. _ Pensei em jantar no quarto hoje. _ Sim, entendo. _ Obrigado por avisar. Diga-lhes que os encontro em meia hora."— Foi o que ouvi ele dizer ao telefone enquanto o esperava.

— Quem era? - Perguntei sentindo-me curiosa e ele sorriu.

— A recepcionista, ela disse que estarão me esperando no restaurante para jantarmos. - Respondeu enquanto secava seus cabelos molhados em uma toalha branca. Que saudades eu sentia dele, que vontade de estar ali com ele e ajudá-lo a secar seus cabelos...

— Quem? – Perguntei de novo num impulso.

— Os engenheiros e representantes dos árabes.

Eu não disse nada, apenas baixei meu olhar e olhei para as minhas mãos próximas ao teclado do laptop.

— Eu não gosto de ver você assim...

— É que eu não consigo parar de pensar neles, Carlos Daniel... Naquelas crianças, eles têm filhos pequenos e não têm nem onde colocá-los para dormir, enquanto eu... A minha cama é dez vezes maior que eu. – Eu disse já sem conseguir conter as minhas lágrimas.

— Acalme-se meu amor, não se preocupe que eles vão sair dessa... Do que eles precisam exatamente nesse momento? Eu também quero ajudá-los, vou pedir que Rodrigo providencie o necessário para eles nesse momento até vermos exatamente o que pode ser feito.

— Você está falando sério, Carlos Daniel? – Perguntei-lhe ficando perplexa e ele sorriu ao aproximar-se mais da câmera.

— Muito sério. Rodrigo ainda está aí no México e poderá ajudar, vou pedir que ele fale com você para fazermos algo por essas pessoas.

— Meu amor, eu... Eu nem sei o que dizer... Eu te amo, te amo, te amo... – Aproximei minha boca da câmera gesticulando pequenos beijos.

— Não precisa dizer nada, minha vida. Sua atitude é muito nobre, você sempre se preocupa mais com os outros, te admiro demais e faço qualquer coisa para ver esse sorriso em seus lábios... Além do mais, quero também poder fazer algo de bom por alguém. Ajudar a quem necessita.

— Mas ainda assim seria muito, Carlos Daniel... Eu não sei quanto pode ser...

— Não se preocupe com isso, apenas fale com Rodrigo e vejam o que eles precisam. A princípio posso lhe pedir que faça um depósito com uma quantia que os alimente nos próximos dias até que vejamos como recuperar suas casas.

— Eu não sei o que dizer, meu amor... Elas vão ficar tão contentes com isso, elas não têm mais nada além de sua dignidade.

— O que é uma virtude que poucos têm. - Ele disse com um leve sorriso nos lábios. - Como eu queria te abraçar agora, Paulina... Cheirar seus cabelos...

— E eu queria estar em seus braços, sentir seu perfume, seu abraço forte... Eu te amo tanto... - Respondi com um doce sorriso e Carlos Daniel sorriu largamente.

— Vou tentar resolver tudo muito rápido para poder voltar para você logo, mas agora eu realmente preciso me vestir, preferia jantar aqui no quarto mesmo, mas essas pessoas são muito importantes e eu preciso, no mínimo, causar-lhes boa impressão.

— E não precisa se esforçar para isso, meu amor... Eles vão adorar você, eu tenho certeza... E tudo vai dar certo.

— Obrigado, Lina... Nos falamos em breve... Te amo, meu amor... Beijo.

Beijei meus dedos e os pus sobre a tela do laptop onde estava a boca de Carlos Daniel e logo a chamada foi encerrada, fechei o computador e deitei-me em minha cama pondo-me pensativa.

...

# Carlos Daniel narrando #

Ao desligar a videochamada, liguei imediatamente para Rodrigo pedindo-lhe que veja sobre o incêndio e tome todas as providências cabíveis para ajudar as pessoas refugiadas e contate Paulina. Prontamente ele me disse que poderia ajudar e falou com Patrícia, que é médica e tem amigos que poderia ajudar o menino que precisa da cirurgia sem nenhum custo. Logo enviei uma mensagem para Paulina, que não respondeu e supus que já estivesse dormindo naquela hora.

Desci para o lobby do hotel e segui para o restaurante, onde me identifiquei e o maitre me direcionou até onde estavam os que me esperavam. Ao me aproximar, eles se levantaram e me cumprimentaram esboçando sorrisos de satisfação.

— Finalmente estamos todos reunidos, eu estava ansiosa para conhecer de perto o tão famoso Carlos Daniel Bracho.

— E suponho que seja... – Eu disse àquela mulher simpática que me sorria enquanto mantinha sua mão estendida para cumprimentar-me.

— Isabel Velasquez, ao seu dispor...


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem, espero que tenham gostado.
As fotos deles (como eu os imagino) estão postadas no grupo do facebook.
https://www.facebook.com/groups/389054244597200/662199590615996/?notif_t=like&notif_id=1480205398997282
(Fanfic "Te odeio por te amar") << Entrem lá e participem com a gente! :D

Beijossss e até o próximo cap.
Marta