Oneirataxia escrita por venus


Capítulo 7
Only Ones Who Know




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Cinco noites antes do baile, Mavis sonhou com um campo verde. Quatro noites antes do baile, ela sonhou que estava deitada numa maca e havia uma silhueta segurando duas placas que soltavam faíscas azuis — a princípio, Mavis ficou maravilhada com as faíscas, mas seu fascínio se desfez quando percebeu que era o material que eles utilizavam nos tratamentos de choque. Três noites antes do baile, ela sonhou com um campo estéril. Duas noites antes do baile, Mavis não sonhou porque não conseguiu dormir. E na noite anterior do baile, ela voltou a sonhar com o campo amarelado, só que sentado sobre as folhas mortas e farfalhantes estava Aiden, vestido num tuxedo vistoso.

Ela não quis se aproximar. Mas vocês sabem como são os sonhos; são feitos com um propósito, e não se pode controlá-los. Então, o espaço entre eles se encurtou e repentinamente, Mavis estava de pé ao lado dele. Ela percebeu que Aiden abraçava uma mala aparentemente pesada e velha. Parecia que estava de partida.

‘‘Por que você está indo?’’ perguntou ela.

Por um momento, Mavis achou que ele não tinha a escutado. Mas então ele disse, sem descolar os olhos do horizonte escarlate.

‘‘Porque é assim que tem que ser.’’, e daí, ele se virou para ela e sorriu afetuosamente ‘‘Desde sempre.’’

Quando ela acordou, levantou-se da cama e saiu correndo pro quarto da irmã.

×××

De madrugada, a sra. McKiddie resgatou um lindo vestido de veludo do seu guarda-roupa. Ela tentou vesti-lo, porém ele não se ajustava ao seu corpo flácido e enrugado de adulta. O vestido tinha sido feito para uma jovem alegre e cheia de esperança, e mesmo que Mavis não fosse alegre ou cheia de esperança, ainda era jovem e a sra. McKiddie decidiu que iria dá-lo para a filha.

Mas primeiro, teria que tirar a poeira e as manchas amarelas do tecido cor de vinho. Passou a manhã inteira tentando se livrar das pequenas imperfeições do traje. E quando conseguiu, percebeu que o vestido não estaria seco quando Topher chegasse. Por isso, pediu à sra. Wakahisa, uma idosa muito amável que perdera seu marido e uma filha precocemente, para usar a sua secadora de última geração. Mas quando Mavis a vestiu, ainda estava um pouco úmida. Então, Allison teve que secá-la com secador e espirrar um pouco de perfume pra tirar o cheiro de sabão em pó.

Alisou o cabelo de Mavis, arrumou a gola tartaruga ao redor do seu pescoço, passou uma leve camada de maquiagem em seu rosto e emprestou seus saltos para ela. No ponto de vista de Mavis, sua mãe nunca tinha sido tão generosa quanto naquele momento.

— Christopher vai pirar quando te vir assim!

Mavis não pôde fazer nada além de sorrir.

Quando sua mãe terminou o serviço, já eram cinco e meia da tarde.

E agora, as duas esperam pacientemente a chegada de Topher acomodadas no sofá da sala. Mavis sente a sua maquiagem começar a derreter. Seus braços estão arrepiados e ela tem que pedir à mãe um casaco emprestado. E então, Allison retruca:

— Isso é dever do seu acompanhante. Ele tem que emprestar pra você. Era o que os rapazes faziam na minha época.

Mavis assente, mesmo estando incomodada com o frio. A escola tinha acertado, está nevando na data do baile. As ruas estão forradas com gelo e os pedestres têm que ser cuidadosos para não pisar naquelas poças amarronzadas que estragam os seus sapatos.

— Você sabe, May. Esse Topher é um moço pra casar. Ele é bonito, inteligente e gosta de você. Eu sei que ele vai cuidar de você. Eu confio nele.

— Mãe, eu nem tenho idade pra casar. — a sra. McKiddie parece murchar e Mavis se apressa para fazer uma piadinha — E talvez eu conheça alguém interessante no hospício.

Aí as coisas ficam estranhas, e a mãe de Mavis segura a sua mão com firmeza.

— Eu quero que você se case com alguém que goste de você.

E então Mavis percebe que a conversa não se trata sobre Topher e ela. É sobre a sua mãe e o seu pai.

— Mãe, você já teve alguém que gostava de você?

— Sim. — ela balança a cabeça. — Foi quando eu tinha mais ou menos a sua idade. Nós falávamos mal das pessoas. Zombávamos delas e era engraçado. Eu sei que não é, e que não é certo fazer isso, mas ele era tão engraçado. E também era muito ciumento e possessivo. — daí, a mãe de Mavis faz uma coisa que não acontece com muita frequência. Ela sorri. — Nós não éramos bem um casal. Só que eu sabia que ele gostava de mim. Eu também gostava dele, e muito.

— Era o meu pai?

A sra. McKiddie hesita. Por um momento, fica confusa.

— Não. Eu não me lembro do nome dele, na verdade. Não lembro muito bem do seu rosto ou da sua voz. — ela rói uma unha enquanto força a sua memória. Subitamente, a sra. McKiddie se levanta do sofá. — Ouvi um barulho no quintal. Acho que ele chegou!

A campainha toca e depois disso, os batimentos cardíacos de Mavis cessam. E então, seu coração volta a bater com rapidez quando sua mãe abre a porta e manda ela sair.

— Tchau, divirtam-se! — ela beija as bochechas da filha e a abraça.

— Hum, mãe, se você achar fotos dele, pode me mostrar?

— Ok, ok, só que vão logo se não vocês vão se atrasar.

Topher não tinha um carro, mas seu pai se ofereceu para emprestar um dos seus. Ele recusou, porque não queria assustar Mavis com uma BMW ou um Volvo e por isso, resolveu levá-la para o baile de táxi. O motorista tem cheiro de suor e café, e como as janelas estão fechadas, o carro fede a suor, café e sabão em pó.

(Uma informação adicional: Quando Mavis e Topher entraram no táxi, a sra. McKiddie subiu as escadas, entrou no quarto e ficou na ponta dos pés para tentar alcançar uma prateleira do armário, que sustentava uma caixa de papelão com letras cursivas riscadas nela. Diziam: 1989. Abriu-a e despejou o conteúdo na cama. Os lençóis ficaram cheios de poeira. Ela começou a folhear um álbum específico, e viu fotos de suas antigas paixões (lembrava os nomes de alguns apenas, Beau, Finn e Teddy). Normalmente, eles estavam sentados em um gramado ou de pé no ponto de ônibus, mas ela tinha certeza que nenhum sabia que estava sendo fotografado.

E então, chegou em uma parte do álbum em que as fotos não retratavam mais garotos, e sim, paisagens. Era estranho, porque nenhuma delas era um crepúsculo romântico ou uma rosa apodrecida. Às vezes, era uma balaustrada, ou somente uma parede branca. Estranhamente, em cada foto havia uma seta vermelha, apontando para o nada, e que dizia um nome. O nome é suave como uma lufada de vento quente, que a abraça e sussurra palavras bonitas para ninguém específico. Deu-lhe uma sensação instantânea de conforto e segurança, porém, curiosamente, ela não se lembrava de ninguém com esse nome.)

×××

O ginásio tinha sido transformado numa espécie de salão de festas. Há mesas e cadeiras de plástico brancas espalhadas por toda parte, e figuras de flocos de neve colados nas paredes amarelas. As meninas parecem usar o mesmo vestido, mas deve ser por causa da luz anil, que transforma as cores claras de seus trajes em um azul-marinho. O vestido vermelho-vinho de Mavis fica preto sob àquela maldita luz, e todos estão começando a comentar sobre ela não usar uma coisinha mais feliz naquela ocasião.

Topher e ela ocupam uma mesa com Grape e seu acompanhante. É um garoto esquálido, que mal pisca e seus olhos estão sonolentos e avermelhados. Mavis nem quis perguntar o porquê. Mas Grape parece estar feliz com ele, e isso a satisfaz.

Alfie Dorothea chega no recinto, estonteante. Seu vestido não é muito elaborado, mas o seu cabelo loiro está preso num coque bem feito e seu rosto parece estar mais limpo em virtude da pequena quantidade de maquiagem que ela está usando. Tem um garotinho pequeno ao seu lado e ele segura a barra do seu vestido com tanta força à ponto de amassá-la. Seus olhos são claros e seu cabelo parece ser branco. Quando Alfie avista os quatro, acena e se aproxima.

— Esse é o meu irmão, Greg. — ela dá um breve sorriso. — Tive que trazer ele porque a minha mãe... Bom, a gente se livrou dela. Não podia deixar ele sozinho em casa.

Alfie senta na última cadeira disponível e põe o irmão no seu colo. Ele não tarda a dizer:

— Me larga, sua vaca. — e corre pra longe da mesa, mas não antes de beijar a bochecha dela.

— Você tem um irmãozinho adorável. — comenta Grape.

Alfie abre um sorriso simpático. O acompanhante de Grape se levanta e pergunta se alguém quer beber alguma coisa. A garganta de Mavis está ardendo de tão seca, mas ela não consegue dizer uma palavra. São os efeitos da medicação surtindo. Em alguns momentos, ela quer deixar a cabeça pender e dormir.

— Então, Mavis. — começa Alfie Dorothea, com o tom que ela usava antigamente quando queria irritá-la. — Quando você vai para Colchester?

Mavis analisa sua expressão e percebe uma certa maldade cintilando em seus olhos.

— Amanhã. — Topher está com seu braço em volta da sua cadeira e Mavis deita a sua cabeça nele. Os traços serenos do rosto de Alfie se estreitam.

— Sabe, minha mãe tá se tratando lá. — diz, enquanto encara suas unhas (que finalmente foram cortadas e agora, não estão pintadas).

— É, eu ouvi falar. — e então, ela percebe que Alfie está a fitando, como se esperasse mais alguma coisa. Com muito esforço, Mavis consegue proferir as palavras: — Sinto muito.

Agora, Alfie parece radiante.

— Bom, lá em Colchester tem umas coisas legais. Eu já fui lá várias vezes. Algumas enfermeiras são simpáticas e podem até te dar um cigarro escondido se você implorar, minha mãe me falou isso. E tem um doutor muito gato lá, deve ter uns quarenta anos. Acho que é da ala feminina, o nome dele é Donald Seward.

Mavis mal consegue deixar suas pálpebras abertas.

— Por que você tá sendo legal comigo? — pergunta. Topher faz menção de abrir a boca, mas ela o interrompe. — É por causa dele?

— Cacete, Mavis, por isso que você não consegue fazer amigos. Toda vez que alguém é legal contigo, você empurra a pessoa pra longe. — ela faz uma pausa. — Mas em parte, é por causa do Topher, sim.

— Continue assim, então.

E então, Alfie se forçou a esquecer sobre Mavis e Topher, e Mavis se forçou a esquecer as maldades de Alfie durante aqueles anos.

— Olha lá, o Danny está voltando. — Grape acena, mas ele parece não ver. — Você trouxe o ponche que eu pedi?

— Foi mal. Esqueci.

— Tá, tanto faz. Senta aí. — fala, claramente aborrecida.

Os olhos de Grape vagam pelo ambiente, até que ela repara na mesa dos professores, próxima do palco improvisado que eles instalaram sob a cesta de basquete.

— Vai ter aquele negócio estúpido de rei e rainha do baile? — pergunta.

Alfie se levanta de supetão. Ela já pode se imaginar com uma coroa e um ramalhete de flores, segurando o braço de um garoto sem rosto. Antes, imaginaria Topher sorrindo ao seu lado, com os olhos cerrados por causa dos holofotes, mas agora ela não tem tanta certeza.

— Já tão fazendo a contagem. — murmura e depois se senta novamente.

— Não acredito que você se inscreveu. — Grape revira os olhos. — Já era de se esperar.

— Em quem vocês votaram? — questiona Alfie, apreensiva.

Ninguém responde. Ao invés disso, Grape puxa seu acompanhante e o guia pela multidão de estudantes pálidos e magricelas, e em seguida, ela já está agarrada em seus ombros enquanto os braços dele abraçam a cintura de Grape.

— Vocês votaram em mim? — repete.

— Eu... — inicia Topher. Ele olha para Mavis (ela está de olhos fechados e respira calmamente) e sacode de leve os seus ombros. — Você tá bem?

Mavis pressiona o polegar contra a ponte do nariz. A música alta, as conversas, as risadas histéricas, o silêncio da mesa, tudo está lhe dando uma tremenda dor de cabeça.

— Eu vou dar uma saída. — avisa ela enquanto abandona a mesa.

— Aonde você vai? — Topher a segue, e deixa Alfie Dorothea sozinha, suas costas eretas e grudadas na cadeira, sustentando uma expressão frustrada no rosto, como uma princesa derrotada.

Ela murmura qualquer resposta e passa despercebida pelos professores que vigiam a porta de saída. O contrário acontece com Topher e ele é interrogado pelos adultos por alguns segundos — o tempo suficiente de Mavis andar alguns metros e sumir para dentro das sombras. Quando finalmente é liberado (disse que sua acompanhante esquecera a medicação dentro do seu carro e que eles só iam pegá-la), corre às cegas na direção que ela seguiu.

Topher atravessa o estacionamento (primeiro dá uma olhada pra trás pra ver se os professores ainda estão o observando) e se embrenha em uns arbustos monstruosos. Ele se depara com o campo de futebol e vislumbra uma silhueta esguia contornando as arquibancadas.

Não está nevando e o gelo já está se derretendo na grama, deixando-a úmida e escorregadia. Ele cai algumas vezes e suja seu terno novo (não se importa muito com isso, mas logo se sente culpado — sua mãe deve ter gastado uma nota preta).

As arquibancadas vistas detrás parecem construções abandonadas, com as barras de ferro cobertas de sujeira e teias de aranha. Mavis está procurando alguma coisa no chão (ele supõe isso porque ela tateia a grama fervorosamente e quando pegava sem querer uma lata de Coca-Cola, chacoalha e a vira de cabeça pra baixo pra ver se tem algum conteúdo). Quando encontra, suas mãos tremem de tão sôfregas.

— O que você tá fazendo? — ele se intromete.

Ela se vira pra ele e dá um gole na lata de Monster.

— Eu vim beber uma coisa. Tem sempre alguém que esconde bebida aqui.

— Sabia que tinha ponche e refrigerante lá dentro, né? — ele não pode conter um sorrisinho.

— É que tinha muita gente. E a música tava muito alta.

— Ah sim. — ele percebe que ela está tremendo e que os seus ombros estão arrepiados. — Você tá com frio?

Ela nega com a cabeça, mas não pode conter a tremedeira. Topher sorri. Tira o seu paletó e o oferece para Mavis. Ele o coloca cuidadosamente sobre as suas costas e a abraça.

Topher cheira a colônia masculina cara e a grama molhada. Isso a faz enterrar o rosto gelado em seu peito e inalar o seu perfume inúmeras vezes. Seria estranho para qualquer cara se uma garota começasse a cheirá-lo, mas ele está com frio e gosta de sentir o aroma de sabão em pó que ela emana.

E Mavis torna a reparar nos pequenos detalhes que ela não tinha notado sobre Topher durante aqueles meses. Ele tinha uma pinta (era um círculo escuro; não dava pra não enxergar aquilo) no canto da mandíbula, seu cabelo cheirava a melão, sua respiração era pesada (e a acalma tanto quanto os seus remédios) e mesmo sendo franzino, seus braços eram firmes e um pouco vigorosos.

E agora ela tem uma tremenda vontade de chapar-lhe um beijo na boca.

— Topher.

— Sim?

— Você vai me visitar quando eu estiver em Colchester?

— É óbvio.

— Vai me trazer flores?

— Claro.

— Vai me mandar cartas?

— Sim.

— Vai ficar longe da Alfie?

— Não é preciso muito esforço.

Ela sorri e abraça a sua cintura com mais força.

— E você vai me beijar? — ao dizer isso, Mavis ergue seu olhar e se depara com as orbes aliciantes de Topher, amarronzadas e lacrimosas.

Ele toca suavemente o seu queixo com a ponta dos dedos.

— Se você quiser.

— Eu quero.

Está tão frio que quando ela fala, sai vapor da sua boca. Topher não consegue conter um sorriso e segura o rosto oval de Mavis com as mãos ansiosas em forma de concha. Ela sente seus lábios finos e gelados encostarem nos seus e a ponta do nariz úmido de Topher roçar na sua bochecha.

Mavis saboreia o gosto de schnapps de cereja que Topher bebeu momentos antes. Ele toma curtas e rápidas respiradas, estas soprando no ouvido dela.

E de repente, Mavis não consegue se sentir triste.

×××

Nesta noite, todos voltam satisfeitos pra casa.

Olhe lá, Grape e seu acompanhante, os dois sentados no meio-fio de uma rua desconhecida. Ele segura um baseado, e ela não se incomoda com isso. Na verdade, Grape está empolgada demais para reclamar. Ela fala que o ama. Ele assente e diz que a ama também.

E numa casinha decrépita nessa mesma rua, estão Alfie e Greg. No próximo dia, um casal os visitará e talvez os adotará. Ambos estão felizes, e ela mais ainda. Alfie está se observando no espelho, com a coroa de plástico enfeitando a sua cabeleira platinada. Quando o diretor anunciou o seu nome, todos a aplaudiram enquanto caminhava na direção do palco. E era tudo o que Alfie precisava: um pouquinho de atenção.

Agora observemos o interior da casa dos McKiddie. Iris está deitada em sua cama, com o cobertor até o nariz. Ela está segurando o ursinho de pelúcia no qual Mavis esconde a sua garrafa de whisky. E mais adiante, dentro de um quarto abafado e modesto, estão o sr. e a sra. McKiddie. Pelo visto, é a primeira vez que Percival dá as caras nessa história. Assim como Allison, ele já foi jovem, magro e alegre. Neste momento, ele exibe uma barriga roliça que cai sobre o cós da samba-canção. Percival observa a sua esposa estirada na cama, entediada e zapeando os canais da TV. E subitamente, um sentimento nostálgico toma conta da sua cabeça, e ele se recorda de Allison no colegial, esquisita e pálida, como Mavis. E então lembra de si mesmo, esbelto e encrenqueiro. E sua mente lhe remete mais memórias da sua adolescência, e de como amou aquela mulher durante a sua vida. Percival deita na cama e dá um beijo na testa da sua esposa, que a princípio se retrai, mas depois abre um enorme sorriso e abraça a sua barriga mole e peluda.

Muito bem, vamos ao foco da noite. Mavis está andando pela calçada rachada e suja da sua rua, segurando os seus saltos nas mãos e tomando cuidado para não pisar em algum caco de vidro. Ela continua usando o paletó de Topher, embora não sinta tanto frio agora. Quando vai devolvê-lo para o dono, ele diz que Mavis pode ficar com a peça de roupa. E secretamente, quando já se despediram um do outro, ela cheira o paletó e suspira.

Só há uma coisa a incomodando, e todos nós já sabemos o que é.

Naquela noite, Mavis estranhou o fato de Aiden não ter aparecido nas arquibancadas e impedido o beijo. Será que ele não se importava mais com ela? Poderia tê-la esquecido? E ficou pensando nisso até de madrugada, quando a sua mãe chegou no seu quarto — estranhamente feliz — e se deparou com a filha com o rosto enfiado no travesseiro. Amarfanhada em sua mão, estava uma folha de papel úmida. E nela havia um nome, escrito com letras gorduchas, como as que crianças fazem.

Quando Mavis acordou, suas malas já estavam prontas e seu pai já tinha dado partida no carro. A sra. McKiddie decidira que seria melhor mandá-la rapidamente para Colchester; pouparia a família de muita tristeza.

Antes de entrar pela última vez na sua picape, Bessie, sua mãe lhe entregou o papel. Mavis leu em voz alta a única palavra escrita nele:

‘‘Aiden.’’

‘‘Quem é Aiden, filha?’’ questionou a sra. McKiddie, embora uma parte inconsciente do seu cérebro reconhecesse o nome.

Mavis franziu o cenho. Sentiu-se frustrada, como muitas vezes se sentia durante algumas provas, quando esquecia a resposta de uma pergunta sobre um tópico que ela estudara veementemente.

‘‘Não sei.’’

E entrou no carro, apertando a folha de papel contra o peito.

O que ela não viu, foram as últimas estrelas que restaram no céu róseo. Elas piscaram duas vezes antes do motor da picape rugir e o veículo se afastar na casa vagarosamente.

Toda criança já teve um amigo imaginário.

E toda criança já se desfez de um.


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Notas finais do capítulo

antes de tudo, queria dizer que estou planejando postar mais fanfics e que todas estão conectadas. nesse capítulo, cinco personagens são mencionados e eles farão parte dessas histórias (e um, que apareceu durante ONTX inteira, vai ser reutilizado).
mas enfim... eu esperava que a fanfic fosse mais longa, mas eu não consegui pensar em mais conflitos e tudo mais, porque se não ia ficar confuso demais :( mas não vamos começar com as despedidas porque ainda tem o epílogo que vai esclarecer muitas coisas yay
enfim, a música do capítulo é do Arctic Monkeys e espero que vocês tenham gostado do capítulo (foi o meu presente de Natal atrasado kk)
até mais,
x