Num subúrbio da Califórnia, em meados dos anos 80, quando os jovens estavam no ápice de sua puberdade e ao mesmo tempo na transição entre a adolescência e a vida adulta, as coisas começaram a acontecer.

Primeiro, foram os assassinatos, que ocorriam na calada da noite e cujas vítimas eram sempre crianças inocentes, donas de casa desocupadas e idosos infelizes. E então vieram as notas vermelhas, o primeiro cigarro, os indícios de uma barba rala, o odor da juventude nas axilas, as garotas pálidas ensopadas de bronzeador, os garotos exibidos de óculos escuros, as brigas de rua, os sicômoros derrubados, as noites em claro e o roçar de peles entre os sexos opostos.

Finn estava apaixonado, Beauregard estava viciado, Floyd estava deprimido, Park era esquisito, e no meio das mentes primitivas masculinas estava Raven, transpirando néctar e acendendo incensos, plenamente perdida.

No final das contas, eles só estavam atordoados e confusos.

Até ateus podiam ver o Céu em seus olhos.

Mavis e Aiden corriam descalços pelo gramado, atendiam às consultas da terapeuta deprimida, zombavam os colegas de classe e conversavam sob os lençóis no meio da noite. Seria uma história de amor ordinária se não houvesse uma exceção: Aiden não era real.
Ele não havia sobrenome, nem endereço, nem mãe, nem pai, nem irmãos, nem corpo. Atravessava paredes e objetos com seus membros translúcidos. Só Mavis conseguia vê-lo e mais ninguém.
Com a chegada de um garoto novo, Topher, que se demonstra particularmente interessado por ela, a rotina satisfatória dos dois entra em colapso. De repente, Mavis não consegue distinguir o real do imaginário e se vê em um elo entre o falso e o verdadeiro.
Toda criança já teve um amigo imaginário.
E toda criança se desfez de um.
Menos uma.