̶ Ahh, vooocê deveria ter bebido mais... Não iria estar com essa cara aí. Ia estar como eu... Feliz, feliz!

Camila tinha exagerado na dose esta noite, ou melhor: nas doses! Nós pegamos um táxi, e eu a trouxe pra minha casa.

̶ Shiii! Quieta! Assim você vai acordar meus pais Camila!

Ela não parava de rir.

̶ Shiii! ̶ Ela me imitou. ̶ Por quê você não me levou para a MINHA casa?

̶ Eu não acho que seria uma boa ideia. Venha, vamos pro meu quarto.

Ela cambaleou atrás de mim até o meu quarto. Eu acendi a luz, e vi que Anna já estava dormindo. Levei Camila até o banheiro.

̶ Você vai tomar um banho agora. Eu vou até a cozinha pegar algo pra comermos.

̶ Eu não quero tomar banho. E também não estou com fome.

A essa altura, ela já estava sentada no chão, e mal conseguia deixar a cabeça erguida.

̶ Amanhã você vai me agradecer!

Eu a levantei e tirei seu vestido. Ela já estava sem sandálias, as tirou quando ainda estávamos nos elevador. Em meio a protestos eu a coloquei em baixo da ducha e a segurei para que ficasse em baixo d’água. Depois de um tempo ela se acalmou e começou a lavar os cabelos e se ensaboar.

Fui até a cozinha e peguei algumas fatias de pão integral e montei dois sanduíches com queijo, presunto, tomate e alface. Tinha suco de goiaba na geladeira, eu enchi dois copos pra nós. Coloquei tudo em uma bandeja e levei pro quarto.

Quando cheguei lá, Anna estava acordando.

̶ Que barulho é esse Emmanuelle? Que horas são? Eu quero dormir!

Camila, aparentemente, já tinha saído do banho e estava usando o secador de cabelo.

̶ Desculpe Anna. Camila não estava muito bem pra ir pra casa sozinha, então eu a chamei pra vir dormir aqui. Não pensei que fosse fazer bagunça.

Ela se jogou de volta na cama, e colocou o travesseiro em cima da cabeça.

̶ Pelo menos tentem não fazer tanto barulho!

Eu deixei a bandeja em cima da minha cama, fui até o guarda roupa, peguei uma camisola pra Camila e dei para ela vestir.

̶ Você acordou Annabella!

̶ Ah, me desculpe, mas eu não poderia dormir com o cabelo molhado. E se eu bem me lembro, foi você quem me jogou em baixo daquela ducha, não?

̶ E você parece estar bem melhor! Venha, fiz um lanche, depois a gente vai dormir.

...

Cheguei em casa ofegante, com o corpo coberto por suor. Banho! Era a única coisa que eu pensava depois de uma hora de corrida. Entrei no quarto e encontrei Camila no celular. Ao me ver, ela ficou aliviada.

̶ Ai, graças a Deus! Onde você estava?

Eu tirei o fone de ouvido do meu ipod.

̶ Eu fui correr no parque. Faço isso todo domingo, esqueceu?

̶ E você esqueceu que eu dormi aqui? Emma! Eu tive que ficar aqui, até você chegar!

̶ Mas por quê?

̶ Como assim? Você me trouxe pra sua casa em condições vergonhosas. Eu sei disso, apesar de não lembrar de tudo o que aconteceu ontem a noite. E provavelmente, Annabella já deve ter contado aos seus pais! Com que cara eu vou encará-los agora?

Camila tinha razão em achar que Anna já tinha contado tudo aos nossos pais. Ela não consegue se controlar pra contar as “novidades”, como ela mesma diz.

̶ Ah vamos, Camila! Essas coisas acontecem. Todo mundo já fez algo pra se envergonhar depois.

̶ Você não entende. Eu sou uma advogada! Eu represento a lei! Eu deveria me comportar impecavelmente!

̶ Sim, você é uma advogada. Sim, você representa a lei. E sim, você se comporta impecavelmente! Mas isso no que diz respeito a sua profissão. Você é humana! É propensa a cometer erros como qualquer pessoa! Ficar bêbada uma vez na vida é normal!

̶ Ai meu Deus, que vergonha!

̶ E outra coisa, desde quando você é assim tão certinha?

Ela me olhou com se estivesse perdida.

̶ Eu não sei, acho que estou envelhecendo.

̶ Ah, isso não é nada bom!

Ela sorriu.

Depois do banho, fui tomar meu café da manhã, já que antes da corrida só havia comido uma fruta. Camila queria ir embora, mas a convenci de que sua vergonha era uma besteira e que deveria tomar o café da manhã antes de ir. Minha mãe estava com Anna à mesa. Meu pai não estava lá. Me perguntei se ele ainda estaria me evitando.

̶ Bom dia mãe. Bom dia Anna.

̶ Bom dia. ̶ Camila disse, sem quase ser ouvida.

̶ Bom dia querida. Bom dia Camila. Não sabia que você tinha dormido aqui. Se soubesse teria preparado um café da manhã melhor.

Ela só podia estar brincando! O café da manhã da minha mãe era quase um banquete. Tinha de tudo: frutas, pães, suco, café, leite, ovos, cereais, iorgute... Era alimento pra toda uma semana!

Camila olhou pra mesa e ficou surpresa.

̶ Não imagino um café da manhã melhor que esse Clara!

̶ Dormiu bem Camila? ̶ Anna não podia ser mais irônica. Eu a olhei, questionando-a.

̶ Ahm, sim. Obrigada. E, me desculpe se te incomodei. ̶ Camila estava totalmente sem graça.

̶ Tudo bem. Sabe como é: Incomodo ontem, diversão de hoje!

De onde ela tirava essas coisas? Algum manual na internet?

̶ Annabella! ̶ Eu a repreendi, e lhe lancei um olhar que assustaria qualquer um, mas não a ela.

̶ Eu só estou brincando! ̶ Ela se fez de inocente, mas logo sorriu ironicamente.