Mais que amigos - Um Amor em NY escrita por Lucena


Capítulo 4
Capítulo 4




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− E então, você já conversou com o Ricardo?

− Sobre o quê?

Ela me olhou como se a resposta fosse óbvia.

− Emma, Nova Iorque!

Só agora, dias depois, eu percebi que teria que dar essa notícia a mais uma pessoa: meu namorado.

− Eu não acredito que você esqueceu do Ricardo!

− Nem eu!

− Meu Deus Emma! Onde você está com a cabeça? Esquecer que tem um namorado!

− Eu não sei. Foi tão repentino, e a reação do meu pai tomou toda a minha atenção.

− Você não acha que isso significa algo?

− Significa o quê?

− Ah, por favor Emma! Seu namorado viajou à trabalho, há semanas, e você nem se importou em ficar tanto tempo longe dele. Agora, você recebeu essa proposta de ir para Nova Iorque, decidiu ir. Você sequer lembrou que tem um namorado!

− Ah, Camilla, não seja dramática! Eu apenas... Estava com a cabeça cheia.

Ela ficou me olhando em silêncio. Parecia triste.

− Ok, pode falar Camila!

− Não, você quem sabe, ou pelo menos deveria saber. Eu só acho que o Ricardo é um cara legal. Você sabe que tem uma decisão a tomar. Eu não posso te dizer o que você deve fazer, mas qualquer que seja a sua decisão, seja honesta com ele, e com você mesma.

Camilla foi embora, mas era como se ainda estivesse comigo. O que ela disse não saiu da minha cabeça. E ela estava certa, havia uma decisão a ser tomada.

Quando nos conhecemos, Ricardo e eu, não foi amor à primeira vista. Ele era sócio na firma de advocacia que Camilla acabara de ingressar. Ela decidiu então nos apresentar. No nosso primeiro encontro, saímos para jantar. Ele se comportou perfeitamente, com todos aqueles atos de cavalheirismo como abrir a porta do carro, puxar a cadeira para que eu sentasse, me trazer em casa cedo, e ao nos despedirmos ele nem tentou me beijar. Eu fiquei confusa, achei que ele não estava mais interessado em mim, e que foi ao jantar só para não cometer a grosseria de desmarcar. Mas no dia seguinte ele me ligou, disse ter gostado bastante da noite anterior e perguntou se poderíamos nos ver novamente. Dois dias depois ele veio me buscar em casa para irmos jantar, foi abordado pelo meu pai, que perguntou disfarçadamente as suas intenções comigo e, abruptamente, ele me pediu em namoro, na frente de toda a minha família. Eu fiquei chocada, mas aceitei. Eu aceitei sem hesitar. Não sei se foi a pressão daquela situação, ou se achei que ele seria o namorado perfeito, e ele foi. Foram três anos de relacionamento, e ele nunca me deu motivos para reclamar. Era o homem perfeito. O que mais eu desejaria? Pensando bem, talvez esse seja o único defeito dele. O nosso namoro não foi um namoro normal, onde há discussões, cenas de ciúmes, términos e voltas, saudade, nada disso aconteceu. Era sempre o mesmo clima, o mesmo estado. Entre nós havia carinho, companheirismo, amizade, mas o que deveria existir, não estava ali... Será que, esse tempo todo, nós nunca estivemos apaixonados?

Algumas horas depois eu resolvi ligar para Ricardo. Queria saber quando ele voltaria pois teríamos uma longa conversa. A ligação foi pra caixa de mensagens. Ele deve retornar depois.

...

No Almoço meu pai parecia um pouco mais tranquilo. Me perguntou sobre Camila, e eu fiquei na dúvida se ele a usou como desculpa para falar comigo pelo sorriso que minha mãe deixou escapar.

− Ela estava com vergonha, pai! – Anna começou sua diversão.

− E como não poderia estar? Você e suas brincadeiras constrangedoras!

Meu pai interrogou Anna com o olhar. Ela sentiu-se acuada.

− Ah pai! Eu não fiz nada, eu só perguntei se ela tinha dormido bem depois de uma noitada daquelas.

Meu pai balançou a cabeça e não falou mais nada.

Mais tarde eu estava com a minha mãe no meu quarto, e perguntei sobre o comportamento mais ameno do meu pai.

− Ele está tentando Emma. É difícil pra ele ficar longe de você. Vocês dois sempre foram tão grudados. Você tem que entender, filha.

− É, eu sei. Pra mim vai ser difícil também ficar longe dele, e de você mãe. Acho até que vou sentir falta da Anna.

Nós duas rimos. Annabella era uma desmiolada, mas era minha irmã, e eu sempre cuidei dela.

− Eu vou conversar com ele mais tarde, pelo menos tentar.

− Faça isso.

Meu celular tocou.

− É o Ricardo.

− Eu vou sair pra vocês conversarem à vontade.

Ela beijou a minha cabeça e saiu.

− Oi.

− Oi Emma. Como você está?

− Bem, e você?

− Tudo bem também, só muito trabalho aqui.

− Ham. E quando você volta?

− Se tudo der certo eu volto no próximo sábado.

− Que bom!

− Emma, estou com saudade.

− Nós precisamos conversar Ricardo.

− Algum problema?

− Não. É só sobre algumas coisas que aconteceram.

− Certo. Vejo você no sábado, então.

− Até mais.

− Até, Emma.

Eu desliguei o celular e me joguei na cama. Ele disse que estava com saudades. Ele nunca havia dito isso antes. Será que algo mudou?

Anna entrou no quarto.

− Jura que é assim que vocês se falam?

− Como é? Você estava ouvindo a minha conversa? Ah Anna, dessa vez você passou dos limites!

− Olha só, eu não costumo fazer isso porque sei que é muito feio, mas quando percebi que você estava falando com o seu namorado, e de um modo tão... vazio, eu tive que escutar Emma!

Ela estava falando sério? Será que ela tinha noção do que acabara de fazer?

− Annabella, que esta seja a última vez que você faz isso! Eu não persigo você e seu namorado!

− É claro, você nos quer bem longe, parece até que tem nojo da nossa relação.

− Do que você está falando?

− Eu percebo Emmanuelle! Você acha o quê, que sou cega? Eu não sei se você tem inveja de nós por não ter um namoro como o nosso, ou se simplesmente não torce pela minha felicidade. Eu só espero que não seja a segunda opção.

Eu não acredito no que acabei de ouvir. Ela achava que eu não queria que ela fosse feliz. Mas por quê? Por quê eu iria querer isso? E por quê ela acreditava nisso?

− Eu não estou entendendo...

− Puxa, isso é incomum, afinal, você sempre se achou tão esperta!

− O que você quis dizer com isso, Anna?

− Hah, eu desisto! – ela levantou as mãos e saiu do quarto.

Meu Deus, o que está acontecendo com as pessoas? Ou será que é comigo? O que Anna quis dizer com “se achou sempre esperta”? Meu coração estava acelerado e eu estava me sentindo péssima. Eu odiava discutir assim com Anna, apesar de sempre nos alfinetarmos.

Meu pai entrou no quarto.

− Aconteceu alguma coisa Emmanuelle?

− Nada, só a minha vida que está uma tremenda confusão.

Ele me olhou como se temesse a conversa. E eu sabia por quê.

− Annabella saiu do quarto irritadíssima. Vocês discutiram, não foi?

− É, foi sim.

− Algo grave?

− Eu ainda não sei bem. Ela me disse algumas coisas, mas não quis explicar. Achou que eu estava fingindo não entender.

− Hum. Não se preocupe, vocês logo vão se entender.

− Eu estou cansada disso pai. Primeiro você brigou comigo, depois a Camila me deu um sermão sobre o meu namoro, agora Anna. Eu estou cheia disso!

− Algum problema com Ricardo?

Algum problema? Eu não sei.

− É que, com toda essa história de viajem... – Eu o olhei, medindo sua reação. Ela parecia calmo, mas eu sabia que estava pisando em ovos. − ... e o nosso desentendimento, eu simplesmente esqueci dele. Eu esqueci que tinha um namorado, e que teria que conversar sobre isso com ele.

− Sei. E quando ele volta?

− No próximo fim de semana.

− Bem, eu acho que você vai ter um tempinho pra pensar sobre o que fazer a respeito. – Ele fez uma pausa e depois continuou. – Dá pra perceber que você está confusa Emmanuelle.

− É, eu acho que sim.

− Acho que antes de pensar nele, você deve pensar em você filha. Pense bem sobre o que você sente, e o que você quer. Você não pode viver pelos outros, deve viver pra você, por você.

Eu o abracei, e fiquei assim por um bom tempo. Eu amava tanto o meu pai, e esse clima ruim entre nós, essa distância estava me matando. Eu o abracei mais forte e comecei a chorar. Foi quando eu percebi que nada, nem mesmo uma viajem idiota para Nova Iorque, valia mais do que ter o meu pai ao meu lado.

− Eu sinto muito pai. Eu não quero que você fique magoado comigo. Eu te amo muito, e desistiria de qualquer coisa, até mesmo dessa besteira de viajem, para que tudo fique bem entre nós.

− Não querida, não é nenhuma besteira. Eu amo muito você e vou sentir a sua falta, mas você deve ir. É o que você quer. Eu não vou impedi-la, muito menos chantageá-la para que fique.

− Mas se você...

− Eu vou estar aqui, com a sua mãe e os seus irmãos, para o que você precisar. E afinal de contas, são só alguns meses. Você vai, está decidido.

...

Ao entardecer, eu e meu pai fomos buscar Leonardo na rodoviária. Ele tinha ido no sábado á uma excursão escolar em Campos do Jordão.

Ao sair do ônibus e nos ver, ele correu até nós.

− E então filho, como foi a viajem? – Leo tinha se enroscado em meu pai, que o abraçava carinhosamente.

− Pai, a viajem foi muito maneira! O lugar é lindo! E aquele frio! Nossa, vocês tem que ir lá. No natal! É, nós podíamos ir lá no natal! Aquele lugar deve ser lindo no natal!

Os olhos de Leo brilhavam, ele estava muito empolgado. Ele veio até mim e me deu um grande abraço, me fazendo perder o equilíbrio.

− Calma, garotão! Isso tudo é saudade?

− Ah, Emma, você tem que ir lá. Aquele frio que você gosta. Sabe, agora eu também gosto de frio. É tudo tão bonito. As pessoas se vestem bem, não é como aqui, que em dias de sol as meninas usam um pedaço de roupa pra cobrir apenas as partes íntimas. Argg! – Ele fez uma cara de nojo. Eu e meu pai rimos.

− Não conte a ninguém, mas você está cada dia mais parecido com o nosso pai. – Eu cochichei no ouvido dele, que soltou uma risada tão gostosa que eu não pude evitar e o abracei de novo.

− Ahm, ahm... – Meu pai pigarreou. Nós o olhamos. – Assim eu vou ficar com ciúmes.

− Ah, pai! Venha você também! – Leo o puxou e nós ficamos abraçados por um bom tempo.


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