Price Tag escrita por Gael Donald Castellan


Capítulo 4
Reflexões


Notas iniciais do capítulo

Oi oi turma! Aqui vai mais um capítulo, obrigada por lerem! :)



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Depois de horas pensando, chorando, pensando, chorando e pensando de novo, acabei pegando no sono.

Quando acordei nem parecia que tinha dormido, estava um caco. Olhei-me no espelho de minha penteadeira e vi que meus cabelos estavam uma bagunça, meus olhos inchados e com olheiras, meu nariz ainda estava bem inchado, assim como meu rosto todo, o lado em que o tapa tinha pegado estava um pouquinho, bem pouquinho, mas se alguém reparasse, de fato perceberia que estava mais inchado e vermelho.

Depois de algum tempo reparando em meus defeitos, passei as mãos em meus cabelos tentando me sentir bem comigo mesma, dei língua em frente ao espelho e ri da minha própria infantilidade. Reparei que não saia do quarto á muito tempo e comecei a sentir claustrofobia, tive vontade de ir ao banheiro e não pensei duas vezes.

Depois de fazer minhas necessidades, tomei um banho rápido e arrumei meus cabelos em uma trança lateral folgada, escovei os dentes e passei um pouco de pó de arroz que estava em cima da pia ,para tentar esconder o inchaço de meu rosto e as olheiras, que já haviam melhorado bastante no banho.

Quando estava entrando no meu quarto novamente, ouvi a voz aguda de minha mãe me chamar.

–América, venha cá, sei que está me ouvindo. - Ela disse e com isso virei-me e lenta e relutantemente fui ao encontro de minha mãe. Quando cheguei encontrei meu pai com um olhar triste e cansado, como se tivesse passado a noite inteira em claro, minha mãe estava séria, quase inexpressiva, mas seu olhar carregava um misto de raiva contida e estranhamente alegria, era como se tivesse tirado um peso das costas, como se tivesse à um passo de ganhar umas batalha que parecia perdida.

–Seu comportamento e suas mentiras foram intoleráveis, e ainda por cima não obedeceu minhas ultimas ordens. Tem se mostrado rebelde, indisciplinada e desleixada, abusou de nossa confiança em você. – Ela falava com uma espontaneidade, era como uma atriz, fazendo um papel do qual tinha decorado todas as falas. – Nos fez passar vergonha em público e ainda zombou de nós quando ficou ao lado daquele seis. Nos decepcionou muito, e ainda se mostrou indisposta a mudar e reconhecer seus erros. Me ofendeu e ofendeu a imagem de seu irmão, me forçou a fazer algo que eu nunca fiz, eu lhe bati, mas foi inevitável, foi uma forma de tentar lhe educar. –Ela lançou um breve olhar ao meu pai e continuou. – Chegamos à conclusão de que você não está disposta a mudar, e que nenhum castigo adiantará, então tomaremos medidas mais drásticas. –Ela fez uma pequena pausa. – América, a partir de hoje você não é mais uma Singer e nem mora conosco.

Meus medos estavam virando realidade, tudo que eu ouvira era verdade, era como no sonho, quando o tsunami me levava para longe. Várias perguntas se formaram em minha mente. Por tudo isso tinha de acontecer comigo? Por que ela estava sendo tão cruel? Pra onde iria? Aspen me ajudaria? Oque aconteceria? Isso era um teste? O sonho se tornaria realidade? Meu pai não faria nada? Senti meus olhos marejarem, mas decidi que não choraria, não agiria como uma criança. Olhei para meu pai como uma forma de confirmar a veracidade dos fatos, perguntando lhe apenas com o olhar oque aconteceria, se ele consentia com aquilo, expressando em um único olhar dirigido a ele todas as minhas dúvidas e sentimentos.

–Desculpe Meri, não me olhe assim! –Ele murmurou. – Sua mãe está certa, não há nada que eu possa fazer sobre isso. – Continuou relutante sobre o olhar atento de minha mãe.

–Mãe, pai vocês não, vocês não podem... Eu... Eu... Não assim, não desse jeito... Não –Falei rápido me enrolando com palavras.

– Ah América, adoraria que não as coisas não fossem assim, mas é necessário, a partir de hoje deverá nos chamar de Senhor e senhora Singer ou de Dona Magda e Seu Shalom, a partir de agora não somos mais seus pais. – Ela disse ainda com aquela estranha calma e frieza.

–Eu... Eu... Como podem fazer isso com a sua própria filha?! – indaguei

–Você provocou isso quando nos decepcionou ontem, quando nos humilhou, você provocou isso quando defendeu aquele qualquer e renegou a sua família!- disse minha mãe, ou melhor Magda. Meu pai se mantinha calado.

–Pai? Você realmente concorda com isso?!- olhei pra ele e que manteve o olhar baixo, evitando me olhar nos olhos.

–Ela está certa. – Passados uns dois minutos ele respondeu baixo, mas eu pude ouvir.

– Tem até... – Ela olhou para o relógio da parede. – onze e meia para pegar suas coisas e partir, leve apenas coisas básicas e extremamente necessárias, de preferencia nada de valor ou que possa servir para May.

Me retirei sem olhar novamente para os dois, quando cheguei ao quarto deixei que as lágrimas me banhassem, para logo depois limpa-las com raiva de mim mesma por chorar. Precisava arrumar minhas coisas, já eram dez e meia.

Peguei um vestido simples de algodão, um mais sofisticado de chifon, cinco camisas de algodão, três regatas, duas camisas de frio e um casaco. Também peguei dois shorts, um jeans e outro caqui, uma calça jeans e outra de moletom, três pijamas e todas as roupas intimas e meias que encontrei. Peguei um par de chinelos, minha escova de dente e um creme dental, um sabonete e outros produtos de higiene que provavelmente precisaria.

Quando acabei de separar minhas coisas, vesti um short jeans, uma camisa cinza e calcei minhas sapatilhas cor de rosa já desgastadas. Coloquei as coisas na minha mochila vermelha grande, e peguei o dinheiro que estava juntando para o casamento e as moedas que Aspen havia me dado. Também peguei a pequena flauta doce que tinha desde criança e guardei.

Sai do quarto e fui me despedir de May e Gerad, entrando no quarto deles pude ver um Gerad dorminhoco babando, e uma May já acordada. Abracei May, que pelo visto já sabia do ocorrido.

–Eu sempre serei sua irmã, tá? – Afaguei seus cabelos, tentando acalma-la, não gostava de ver pessoas em geral chorando. – Não importa oque eles digam, eu sempre vou te amar.

–Eu t-também t-e amo, Meri. – Disse entre soluços.

– Agora você será a mais velha, tenho certeza que será melhor que eu nisso!

– Isso n-não é difícil!- Disse e rimos. –Para onde você vai?

–Não sei meu anjo, não sei. – Respirei fundo. – Preciso que você me prometa que não se meterá nisso e que os obedecerá, tá?

–Mas eles...

–Eles nada! O problema é meu e não quero que você se intrometa, para você eles continuam sendo mamãe e papai, ok? – A interrompi. –Prometa.

–Eu prometo. – Ela disse sem qualquer traço do choro de minutos atrás na voz.

–Obrigada, preciso que você cuide do Gerad por mim, ele é novo demais para entender. Se ele perguntar diga que eu o amo, fui viajar e volto logo, tá?

Eu direi isso, eu cuidarei dele.

–Preciso ir agora, mas nunca se esqueça do que eu te disse. - A abracei. -Te amo. – Disse e beijei o topo de sua cabeça.

–Também te amo. – Ela disse e depois de alguns segundos eu a soltei e fui até Gerad.

Dei um beijo em sua bochechinha e baguncei seus cabelos, Eu sempre vou te amar, meu pequeno. Sussurrei em seu ouvido e fui embora.

Meu pai, ou melhor, Shalom me abraçou, um abraço que eu não correspondi, e, sussurrou um ”desculpe” quando Magda não via. Também me deu um cesta com comidas, que eu aceitei, só então reparando a fome que tinha, não havia comido nada desde que May me levara aquele meio sanduiche.

Andei sem rumo, pensei em ir até a casa de Aspen, mas sabia que ele estaria trabalhando. Decidi ir ao centro da cidade, se tivesse sorte encontraria Aspen trabalhando por lá.

Passei muito tempo procurando Aspen, cheguei a perguntar para algumas pessoas se tinham o visto, mas de fato ninguém sabia do paradeiro dele. Já eram umas quatro e meia da tarde, quando parei na praça central para comer um sanduiche da cesta de Shalom. Tive a ideia de ir falar com Kota, ele morava perto do centro e ainda era seu irmão, tenho total consciência das coisas que disse sobre ele, mas é que hoje eu consigo ver tanto o bem quanto o mal, sei que Kota não é o herói que eu pensava, mas sei que também tem seus pontos positivos.

Escrevi uma carta para Aspen contando tudo que tinha acontecido e foi até a casa de Kota. Enquanto embrulhava a carta, e, me amaldiçoava não ter por tido essa ideia quando estava perto da casa de Aspen, vi Krigor, um amigo de Aspen, saindo de uma loja de móveis. Comecei a correr em sua direção até que o alcancei.

–Oi Krigor. – Disse tentando recuperar o ar.

–Olá? – Ele respondeu como se não se lembrasse de mim. – América, né?

–Sim, eu mesma. Será que poderia entregar essa carta para o Aspen? – Perguntei logo.

–Claro, sem problemas. Só isso?- Ele disse e sorriu.

–Só isso, obrigada. – Também sorri.

–De nada.

–Tchau.

–Tchau linda. –Ele disse, e, eu corei enquanto ia embora.

Depois de entregar a carta a Krigor, fui até a casa de Kota, que se eu não me engano era na esquina da Avenida Carolina com a 28. Lembro-me dos dias em que eu, Aspen e Kota passamos arrumando a casa de Kota, foi em um desses dias que o meu primeiro beijo aconteceu.

Flashback (on)

Estávamos apenas nós dois pintando a parede da sala de Kota, meu irmão tinha ido comprar pregos para pendurar mais um de seus quadros. Estava acabando de pintar meu lado quando Aspen me chamou:

–América olhe rápido! – E quando eu me virei ele jogou tinta verde em mim. Sai correndo atrás dele como o meu pincel. Tentava o alcançar, mas ele corria muito.

Estava correndo, correndo o mais rápido que eu podia, sentia meus pulmões arderem, estava muito cansada, mas ele parecia que poderia correr por mais uma hora, não vi uma lata de tinta no caminho, e tropecei, sai rolando muito rápido, até que esbarrei em Aspen e saímos os dois rolando até batermos em uma parede.

Abri os olhos, e, vi Aspen em cima de mim com o sol batendo em seus olhos verdes e iluminando seus cabelos, ele estava lindo, tinha um sorriso enorme no rosto, seus lábios bem desenhados formavam um perfeito “D”, não reparei quando nossos rostos foram chegando mais perto, e, mais perto, e, mais perto, até que estivéssemos a centímetros de distancia, a sensação de sentir seus lábios nos meus foi diferente de qualquer outra coisa que havia sentido, foi maravilhoso.

Quando nos separamos, ele parecia estar bravo ou nervoso, andando deum lado para o outro, já eu estava nas nuvens, mas muito inibida, estava mais corada que um pimentão e não me atrevia a olhar para qualquer lugar que não fosse o chão.

–América me desculpe... Eu... Eu não deveria ter feito isso, mas é que você é tão perfeita, foi impossível evitar e... E só por um instante eu pensei que você poderia gostar. – Disse Aspen nervoso de uma maneira fofa.

–Eu... Gostei. – Disse bem baixinho.

–Gostou?

–Gostei. – Disse mais envergonhada ainda.

Então ele rompeu a distancia entre nós, parando a minha frente e me pedindo para olhar para ele, logo em seguida segurando meu queixo para que eu olhasse em seus olhos.

–Você gostou de verdade?

–É cla-claro! - Respondi e ele me deu um selinho, que logo se transformou em um beijo de cinema. Era como se nos encaixássemos perfeitamente. Minhas mãos foram parar em sua nuca timidamente e as dele em minha cintura, tínhamos uma necessidade devastadora um do outro. Aquele foi o primeiro de nossos muitos beijos.

Flashback (off)

Estava tão distraída refletindo sobre tudo oque aconteceu e lembrando que meu primeiro beijo foi nesse lugar que nem reparei quando meus pés me levaram até a casa de Kota. Chegando, subi as escadas que levavam até sua porta e toquei a campainha duas ou três vezes, e, esperei que Kota atendesse.

–Maninha?- Indagou Kota surpreso e desprevenido.


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Notas finais do capítulo

Oque acharam? Comentem! Até a próxima!