Anita subia as escadas e passava pelo corredor para ir até o quarto largar suas coisas, e logo depois tomar um banho para ver se esquecia, o dia complicado que ela teve, mais quando estava passando pela porta do quarto da mãe, que estava fechada, mas havia uma fresta aberta, começou a escutar a conversa meio que sem querer, mas se aproximou um pouco da porta escorando-se na parede do corredor ,perto a porta, quando ela ouviu de relance o nome de Ben, pronunciado em meio ao papo descontraído de Vera e Marta, o que a deixou intrigada.

– Eles formam um casal bonito, se a gente for parar para pensar. – Disse Marta empolgada.

– Realmente, não se pode negar, e o Ben, é muito lindo. - Respondeu Vera alegre.

Anita viu seus sentidos anestesiarem no mesmo instante, quão foi o tamanho de seu espanto diante da atitude da mãe, ela viu as palavras ecoarem em sua cabeça como as badaladas de um sino de uma igreja, quando se esta muito próximo a torre, e pode-se ouvir com clareza o som.

– Bom eu vou indo, eu vou trocar essa roupa, bati perna o dia inteiro, e não consegui resolver tudo que tinha para resolver. – Marta levantou de sobre a cama de Vera e caminhou até aporta.

Anita permanecia imóvel no corredor, até que movida por um impulso resolveu entrar para falar com a mãe.

– Oi Anita, eu saindo e você entrando. – Falou Marta, quando as duas se chocaram, na porta.

– Verdade. – Anita esboçou um sorriso, que nem ela mesma sabia se era verdadeiro, devido a tudo que se passou em questão de horas.

– Bom eu vou indo. – Ela afirmou com as duas invertendo as posições.

– Vai lá. – Respondeu Anita, olhando de relance para Vera de costas, terminando de colocar algumas roupas no armário, a garota bem que tentou respirar fundo, desviar a tensão e não ficar nervosa, mas foi inútil, Anita ficou observando da porta ainda, vendo Marta sumir no corredor e descer as escadas logo depois.

Anita então levou a mão à porta com força, e empurrou com o intuito de fecha-la por completo, o barulho da porta fechando ligeiro, gerou um ruído bastante estrondoso que ecoou por todo quarto, um pouco de suas forças e raiva, que eram enormes naquele momento pareciam também se espalhar com o barulho que a porta se fechando provocou.

– Nossa filha, que susto você me deu. – Vera voltou-se para ela, encarando meio assustada Anita com os braços cruzados, olhando para o chão.

– Foi mal, casa velha, porta velha, mais eu devo ter empurrado com força também. – Anita respondeu, levantando o rosto, e encarando Vera com um sorriso confuso e aparentemente irritado.

– Que foi, algum problema. – Perguntou ela, com a voz doce e não entendendo o que se passava com a garota.

– Me diz você. – Anita retrucou irônica.

– Como assim Anita, o que tá havendo. – Vera questionou mais uma vez.

– Se tá empurrando o Ben, pra cima daquele projeto de patricinha mau acabado. – Anita soltou nada amigável.

– Que isso Anita. – Vera repreendeu.

– Eu to surda, ou escutei errado. – Anita ignorou as palavras dela, e concentrou-se em seus questionamentos.

– Quem, do que, que você tá falando Anita. – Vera ficou sem entender.

– A Mariana, mãe, to falando da Mariana. – Anita foi direta ainda mais.

– Não, a Marta que comentou que achava que ela podia estar interessada nele, o que tem de tão errado nisso. – Vera exclamou.

– Errado? – Não sei, me diz você, o que tem de errado. – Anita devolveu a pergunta, Vera apenas ficou calada. – Porque pra mim ele não servia, não é mãe, mas pra ela, pelo visto serve. Anita disse irônica, cobrando explicações da mãe, sem se importar o que ela pensaria.

– Anita, eu nunca disse isso, mas a situação era delicada filha. – Ela quis argumentar.

– Delicada, delicado, é o cinismo de vocês nessa casa, agora só falta você me dizer, que tá feliz e satisfeita porque a gente se separou, mesmo sendo do jeito que foi. – Afirmou ela, fuzilando Vera com os olhos, totalmente sem paciência.

– Vai ver foi, melhor pra todo mundo, é bom que acabou tudo bem, apesar de tudo, pra que mexer no passado Anita. – Vera falou calmamente.

– Porque se eu não resolvo o passado, não sou feliz no futuro, depois do que eu passei, e se você acha bom, melhor, o fato de que o Antônio separou a gente, com um preço tão pequeno, né mãe, a minha primeira vez na internet pra todo mundo ver, eu não sei quem você é. – Anita deixou uma lágrima de raiva escapar. – E nem o que você é capaz de fazer, pra proteger a tua família perfeita, que não existe, acorda nessa casa ninguém é perfeito, e eu sinto muito, se eu sou a filha ingrata, mimada e egoísta, que se envolveu com o filho do padrasto para acabar com teu sonho, mais continua com ele. – Disse Anita enxugando as lágrimas. – Eu sofri horrores, porque perdi o cara que eu amava, e sem falar no resto, mas não tem importância pra você. – Anita afirmou, querendo muito contar dela e de Ben, mas com sua cabeça dizendo que não, ainda mais depois das novas ameaças de Antônio.

– Anita você esta sendo dura e egoísta comigo, você me escondeu teu namoro com ele, e quando resolveu ficar com ele, também não me disse nada, não ponha a culpa em mim, porque eu não tenho culpa. – Vera falou, apreensiva, e não entendo tanta revolta da garota.

– Se eu falasse que eu pensava em ter minha primeira vez com ele, você ia me hostilizar, me repreender, me julgar, você me deixou sem brecha quando me proibiu de ficar com ele, e consequentemente eu não podia te falar nada da minha vida que dissesse a respeito ao Ben, será que você não percebeu isso. – Anita tentou não se alterar, mesmo estando indignada com a mãe, para que ninguém escutasse a bate - boca das duas.

– Eu só queria o teu bem, e foi o que eu fiz e pensei, você e o Ben, fizeram eu e o Ronaldo perder a confiança em vocês, vocês nos colocaram numa situação delicada. – Afirmou Vera ressentida com ela.

– Você tem vergonha de mim, vergonha de falar pras pessoas que eu namorei o Ben, e tem mais vergonha ainda da história do vídeo. – Anita soltou magoada, sabendo que era verdade. – E foi mal se eu não sou perfeita, como você pensava, boazinha, obediente o suficiente, amiguinha de todo mundo, bobinha, a ponto de anular minha vida, por causa do que os outros iram pensar, eu penei muito por causa de tudo que eu sofri, você tem ideia da quantidade de vezes que eu pensei em fazer uma loucura da minha vida, acabar com tudo de vez, mais eu não vou mais pensar no passado, e muito menos permitir que as pessoas me puxem pra ele, eu sou muito mais forte do que eu pensava, e eu vou reconstruir a minha vida, eu já to fazendo isso, eu vou ser feliz como eu sempre quis ser, e não vai ser a vergonha do que os outros pensam ou podem pensar que vai me impedir, mais não vai ser mesmo. – Anita despejou suas angustias para fora, fechando os olhos e sentindo o calor das lágrimas que caiam por seu rosto.

– Eu sei que tudo isso, foi muito duro pra você, eu tenho consciência disso. – Vera quis entende-la.

– Será, porque não parece às vezes, mesmo sabendo de tudo que rolou entre mim e o Ben, você fingi que nada aconteceu, aceitou o namoro dele com a Sofia numa boa, tá aí falando bem dele pra Marta, mais pra mim já deu já, to cansada disso tudo, da licença, e isso não foi uma forma de te deixar culpada. – Disse ela, meio incrédula.

– Aceitei porque justamente eu não queria que o erro se repetisse Anita, e o Ronaldo agimos de uma forma, e houve o que houve, eu não me perdoaria se tudo se repetisse. – Justificou ela.

– Tudo bem, eu vou pro meu quarto, da licença. – Afirmou Anita, tentando compreender e saindo em seguida, deixando Vera um pouco pensativa.