E mais uma vez eu estava lá, agarrada fortemente às costas de meu irmão, enquanto eles reviravam minha casa. Ser acusado de traição era muito sério, isso queria dizer que eles podiam revirar tudo que encontravam no caminho. E tudo o que eu podia fazer era ficar encolhida, enquanto o orgulho ferido de Renan parecia fazê-lo desejar assassinar todos aqueles malditos, sinceramente eu não me importaria, afinal também era meu desejo que ele o fizesse.

Os dias que se seguiram foram uma correria para todos. Menos para mim, é claro. Eu era apenas uma espectadora, observar tudo, apenas por si só, já bastava. Observava todos os dias as vidas dos outros, enquanto, pouco a pouco, deixava de viver a minha.

As visitas aumentaram muito. A grande maioria eram mulheres. Elas passavam horas comigo, enquanto eu lhes sorria, quase esvaziando o potinho de açúcar, sendo que a cada gole o chá me parecia mais amargo. Eu não sabia se me compadecia ou ria daquelas pobres coitadas, que achavam que eu me casaria com seus irmãos ou filhos. Poderia até estar em uma situação difícil depois da acusação, mas eu não estava desesperada a esse ponto, entretanto elas não pareciam entender isso, continuavam a falar até que se cansassem de minhas respostas monossilábicas e, por fim, fossem embora.

Depois de alguns meses as visitas cessaram totalmente. A única que continuou a visitar-me foi Yukiko. Entre olhares e risos eu tentava arranjar-lhe um apelido, mas a cada ideia ela parecia estar mais ofendida, então resolvi apenas desistir e continuar a chamar-lhe pelo seu nome, por mais estranho que parecesse.

Eu nunca soube muito sobre ela, apenas conhecia seu nome, seu estranho gosto para roupas e que vinha de um país onde o sol se põe cedo. Todo o resto era um mistério para mim, mas eu realmente não ligava. A única coisa que importava era que quando eu lhe disse que Renan viajaria por muito tempo, até anos, ela segurou minha mão delicadamente enquanto uma brisa primaveril nos envolvia.