Season escrita por Lady Anadare


Capítulo 4
4-Inverno




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Não sou uma pessoa antissocial, como pode parecer a princípio, tenho vários amigos e ainda mais conhecidos e aliados. Mas nos últimos tempos eu os vejo raramente, eles apenas pararam de visitar-me. A única que aparece por aqui é Yukiko, quando vem ela sempre fica muito tempo. Ela me diz como as coisas vão mal, que a situação entre as famílias das Alianças é frágil, que todos os termos de paz e lealdade estão caindo – ela acrescenta, rapidamente, que sempre será minha amiga após terminar de dizer isso – e que muitas pessoas já começaram a “desaparecer”. Eu apenas concordo com tudo que ela diz e peço um pouco mais de açúcar para o chá.

É sempre muito bom quando ela vem aqui, ela me faz sentir-me viva. Um de seus passatempos é equilibrar-se nos corrimões das escadas, enquanto eu dou risada de suas constantes quedas. Da última vez que veio aqui ela anunciou que estava noiva, suas bochechas estavam muito vermelhas e ela sorria; eu sempre apreciara seu sorriso, nunca mudava e sempre se podia contar com ele, mesmo depois de tantos ano ele continuava lá, intacto. Por um segundo imaginei ela em suas núpcias, com aquelas mesmas bochechas vermelhas, seu sorriso franco e tímido, com seu cabelo vermelho e sua respiração pesada, a cena fez-me rir. Ela continuou a falar do noivado, mais exatamente do noivo. Falava de como ele era belo, de seu andar gracioso e suas roupas elegantes e, no fundo de seu redundante discurso, ela reprimiu e menosprezou ao máximo as palavras que expressavam como um casamento seria conveniente em tempos como aqueles, em que a situação era muito frágil, e traria mais solidez para a família dela. Ignorei o detalhe e deixei que ela continuasse com seu solilóquio. Fiz cara feia para o chá, açúcar demais. Yukiko repetiu mais uma vez sobre como ele morava longe. Fiz um esforço para lembrar o sobrenome dele, Anjou. Eu entendi o que ela quis dizer. Ele morava longe e era o noivo – o homem -, ela iria mudar-se, não ele. Sorri mais uma vez e, ignorando a impressão anterior, coloquei mais açúcar no chá.

Antes de sair ela me disse algo, só depois de alguns segundos eu consegui compreender: Renan, meu irmão, havia mandado uma carta endereçada a mim, o mensageiro tinha chegado na casa dela quase morto. Ela saiu correndo e acenou antes de entrar na carruagem. Essa é a última lembrança que guardo dela: uma garota vermelha acenando para mim sobre a neve branca. Eu nunca li a carta. Eu nunca mais vi minha amiga de cabelos ruivos.

A neve foi embora, deixando a grama úmida, o verão chegou e junto com ele chegaram o convite de casamento de Yukiko e uma carta de meu irmão. O convite serviu de alimento para o fogo antes mesmo de ser aberto. A carta foi lida esperançosamente; ela não dizia-me muita coisa, uma vez que era continuação da carta que perdera-se, mas me informava que ele voltaria assim que possível – o que eu esperava que fosse em breve.

Muitas outras cartas de Yukiko chegaram, eu não abri nenhuma delas. Não conseguia atribuir uma razão lógica àquele comportamento, dizia a mim mesma que desejava evitar suas perguntas sobre minha particularidade, saúde e futilidades. Mas a verdade era que eu desejava manter sua lembrança afastada, lembrar dela doía-me muito.

A neve chegou novamente, mas meu irmão não. Quem chegou junto com a neve foram eles. A neve daqui não era como a de onde eu tinha nascido e crescido, a neve daqui vinha rápida e pesada, acompanhada de fortes ventos e ia embora tão rápido quanto chegara. A neve daqui era como eles.

Eles chegaram arrombando a porta, quebrando meus vasos, rasgando meus quadros e sujando o chão de lama. Eu sequer resisti. Meu mordomo e as duas empregadas tentaram para-los, os três foram mortos. Eles me arrastaram para fora pelos cabelos, de dentro da casa vinha o som do choro de Sophi, a filha de uma das empregadas, e então o choro parou. Eles me jogaram no chão. A neve entrava nas minhas roupas. Estava tão frio...

Mais tarde Renan irá chegar, irá entrar pela porta sorrindo e ver os cadáveres. Subirá as escadas correndo, gritando por mim. Entrará no meu quarto e olhará pela janela. Então ele vai ver. Ver uma garota branca, estendida sobre a neve vermelha.


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Notas finais do capítulo

Então... Esse foi o último capítulo. Ér... Vai ter um extra... Talvez... Espero que tenham gostado, pois eu gostei muito de escrever essa história. Eu disse que ia ser bem curta, não? Até o próximo... Ou não.



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