Hoje Yukiko veio visitar-me novamente. Não lembro-me de seu sobrenome, mas deve ser de uma família de outro país, afinal não existem pessoas com esse nome por aqui. Além de seu nome, também sei é que esta garota trás cor aos meus dias.

Ah, qual meu nome? Essa pergunta impertinente me aborrece, como disse antes, isso não importa.

Eu a conheci no verão.

Naquele dia ela entrou apressadamente na sala onde eu estava. Acho que sempre foi desastrada dessa forma, mas o fato é que quanto a garota entrou quase caindo dentro da sala, todos os olhares voltaram-se para ela, dando-me tempo para que eu me escondesse atrás de Renan. Aquilo foi realmente um alívio. Lembro-me também de ter rido de ela usar um vestido verde vivo. A combinação de vestido verde, cabelos vermelhos e olhos amarelos era engraçada, ao menos para mim. Passada a comoção inicial, todos voltaram ao que estavam fazendo antes dela irromper dentro da sala. Enquanto as pessoas com quem eu conversava anteriormente procuravam-me, eu escondia-me atrás de meu irmão, tentando conter o riso enquanto agarrava-me as suas costas. Ser pega em uma situação dessas seria deselegante.

Quando tudo acabou e eu pude finalmente entrar na carruagem, vi com certo desespero Renan conversar com a garota de vestido verde. Aquilo era estranho, ele nunca apresentava-se pessoalmente a alguém. Ele sorriu uma última vez para a garota e veio em direção à carruagem, entrando calmamente. Quando deparou-se com meu silêncio interrogador, simplesmente deu ombros. Quando murmurou aborrecido “não poderia deixar escapar tão facilmente alguém que te fez rir daquela maneira” tive a certeza que ele era Renan, meu irmão, ninguém o mudaria, nem mesmo eu. Não sei se quando me dei conta disso foi confortante ou assustador, mas agora já faz muitos anos, e isso não importa mais.

XXX

Talvez se eu houvesse me apressado mais, não teria de estar correndo naquele momento. Entretanto aquele vestido era aborrecedor. Talvez seu não houvesse olhado para trás, talvez se não tivesse parado. Mas eu parei, não havia outro jeito senão falar com aquele homem, um deles. Tudo o que eu podia fazer era engolir o orgulho, que passava rasgando por minha garganta, e sorrir gentilmente. Então ele foi embora e eu pude seguir meu caminho – que parecia tornar-se cada vez mais longo.

Ao entrar no salão todos imitaram meu gesto anterior – sorriram gentilmente –, a gentileza fria por trás dos murmúrios incessantes, afinal todos sabiam a situação em que minha família estava. Na verdade, era a situação em que todas os clãs do Norte estavam, isso não poderia ser ignorado pela multidão.

Daquela vez eu não fui esmagada pelas pessoas que normalmente vinham em montes falar comigo, melhor dizendo, falar para mim, pois tudo o que eu fazia era escutar. Não podia fazer nada além de escutar, dizer a eles que suas bajulações adocicadas e falsas eram patéticas seria deselegante. Mas isso não aconteceu, afinal Renan não estava lá, não havia ninguém para impressionar. Não era o fato de eu ser mulher que me tornava tão menos importante, e sim o fato de eu ser a filha mais nova, o herdeiro imediato era meu irmão, o que, sem dúvida, me deixava muito aliviada.

Naquele dia eu fui sozinha à reunião, esperando que acabasse o mais rápido possível, pois sabia que quando aquilo acabasse duas pessoas estariam me esperando para um doce chá. Surpreendia-me a maneira como eu podia tornar-me tão dependente, assombrava-me a possibilidade de um dia Yukiko e Diego não estarem mais lá, me esperando calmamente para o chá, enquanto – a pedido de Yukiko – o mordomo dedilhava levemente as teclas do piano, procurando uma música que agradasse a todos.