Pompeii escrita por Liza Maia


Capítulo 6
Capítulo 5 - Sonho x Realidade


Notas iniciais do capítulo

Ahoy!
Acho - tenho certeza - que esqueci de comentar que essa é uma short-fic. Então já está chegando ao fim :(
Esse capítulo é dedicado á todas as pessoas que comentam e, especialmente, á BellaBah, pela L-I-N-D-A recomendação.
Obrigado :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/482151/chapter/6

Eu mal via a hora de chegar em casa e poder dormir logo! Não apenas por causa do cansaço, mas também por Josh. Meu sonho fora tão bom; escutar a voz dele, poder falar com ele. Tudo fora tão divertido, tão relaxado, me senti muito bem.

Assim que entrei em casa, fui direto para o quarto. Tomei um banho quente, coloquei roupas confortáveis e desta vez cantei mentalmente a música Hey Jude, dos Beatles. Sei lá, esses dias os Beatles não saíam da minha cabeça.

Joguei-me na cama, embrulhei-me no monte de cobertores e fechei os olhos. Deixei um leve sorriso escapar e adormeci em questão de segundos.

O sonho era o mesmo: um lugar vazio, completamente branco.

– Sentiu tantas saudades assim de mim, Nick? – ouvir a voz dele foi como comer algodão doce pela primeira vez.

É algo tão doce, puro, gostoso. Você não quer parar de comer aquele negócio fofinho e macio, que derrete na boca ao entrar em contato com sua saliva.

– Um pouco. – sorri sarcasticamente.

Não iria mais mentir para Josh. Afinal, ele sempre sabia o que eu estava pensando.

– Queria poder falar e ouvir de novo. – admiti.

Ele deu um sorriso gentil.

– Entendo. – disse. – Quer fazer alguma coisa? – perguntou-me.

Assenti, mas de um jeito duvidoso, já que não havia nada para fazer ali.

De repente, algo apareceu na mão de Josh. Era um jogo de tabuleiro; não conseguia ver direito qual era.

– Que jogo é esse? – questionei-o.

Ele jogou a caixa no chão e se sentou em frente à ela. Apalpou o lugar ao seu lado, indicando que era ali onde eu deveria me sentar. Fui até ele e sentei-me no chão. Li o que estava escrito, em letras coloridas, como nome do jogo:

Nick’s Life.

Parecia um daqueles jogos de perguntas sobre as pessoas, cidades, animais, essas coisas; mas pelo título, deduzi que na verdade seria sobre mim.

Josh abriu a caixa e deixou a tampa ao seu lado. Tirou o tabuleiro, as cartas e todas as outras peças coloridas dali. Ele me pediu para escolher uma cor, e eu escolhi azul, enquanto ele escolheu amarelo. Colocamos nossos peões na casa escrita “Inicio” e eu fiquei observando aquele jogo por um tempo, curiosos para saber como seria jogá-lo.

– As regras são simples: você joga o dado, anda o número que saiu e se cair em uma casa regular, tira uma carta. Se cair na casa com um ponto de interrogação, precisa contar um segredo muito íntimo.

Bufei.

– Não vale. Você já sabe todos os meus segredos; é minha consciência! – falei mostrando-lhe a língua.

Josh balançou a cabeça para os lados e pela primeira vez ficou sério.

– Nick, sua mente escolhe o que quer e o que não quer que eu saiba. E seus segredos são uma das coisas que eu não sei.

Minhas pupilas dilataram um pouco; quer dizer que Josh não sabia exatamente tudo o que eu pensava. Algumas coisas ainda ficavam guardadas num cofre com reconhecimento de voz, olho, sangue e palma da mão. Acredite, meu segredos são tão importantes a ponto de eu me imaginar fazendo tudo isso antes de lembrar-me deles.

Assenti e falei que havia entendido as regras do jogo. Ele começou, e eu concordei; não tinha a menor vontade de tirar a “sorte grande” e cair logo em uma casa com o ponto de interrogação.

Josh caiu em uma casa regular, e tirou uma carta.

– Mais uma coisa: as perguntas do jogo são todas sobre você. – lembrou-me.

Fiquei um pouco receoso, admito; que tipo de perguntas sobre mim teriam ali?

– Nick nasceu em que dia, mês e ano? – leu a pergunta em voz alta.

Josh nem piscou para responder à pergunta, e aquilo me deixou um pouco feliz, mesmo ele sendo minha consciência.

– Dia 1 de Fevereiro de 1994. – e sorriu para mim.

Pigarreei e desviei de seu olhar; eu me sentia envergonhado quando alguém me encarava sorrindo. Começava a ficar vermelho, suava, e, se a pessoa falasse comigo, eu provavelmente sairia andando como se não fosse comigo.

– Minha vez. – tentei desviar-me daquela situação constrangedora.

Joguei os dados, e deram justo os números um e dois. Dia e mês do meu aniversário. Macumba: sim ou com certeza?

Andei três casas e, como eu sou super sortudo, caí logo na casa maldita: a com o ponto de interrogação. Ouvi Josh dar risada, e eu tive vontade de tapar sua boca com minhas mãos, porém logo depois repensei: até que sua gargalhada era bonitinha. Eu não poderia fazê-lo parar.

Quis me dar um tapa por pensar isso; foi a coisa mais gay do mundo. Não pense que só porque eu gosto de garotos vou ser todo fofo e gentil. Eu sou daquele tipo que mesmo quando gosta, não consegue deixar escapar alguns pensamentos sarcásticos.

Com um longo e pesado suspiro, movi meu peão até a casa e o deixei lá. Pensei por alguns instantes, tentando achar um segredo bem pequenininho e sem muita importância. Achei, infelizmente.

– Meus pais se separaram quando eu tinha sete anos. – comecei. – Naquela época eu ainda era uma criança, e morria de medo de muitas coisas; uma delas era de que, quando meu pai saísse de casa, ele esquecesse de mim. Então eu o mandava cartas todo mês, para que se lembrasse de que tinha um filho. Até que um dia ele não respondeu minha carta; naquele dia, eu não sabia se ela tinha extraviado ou algo do gênero, mas simplesmente não chegou. Fiquei tão desesperado que... – pigarreei. – Falei para minha mãe que ia até a casa de Althea, e como é aqui do lado, ela deixou, mas na verdade eu fui correndo até o correio. Caí umas cinco vezes, no mínimo, já que eu já era desengonçado nessa época. Quando finalmente cheguei lá, e perguntei pro moço que ficava na entrada onde era o balcão de reclamações (o que demorou uns dez minutos, já que ele não conhecia a língua dos sinais), ele me disse que o correio já tinha fechado, e que só abriria segunda de manhã. Mas eu, como uma criança encapetada, não gostei da resposta, e fui até a porta dos fundos. Quando eu finalmente encontrei e entrei, achei uma caixa cheia de cartas. Peguei todas, e com raiva do correio, rasguei tudo. Voltei para casa e minha mãe disse que meu pai estava ao telefone, querendo falar comigo. Quando conversamos, ele disse que não havia respondido minha carta porque o correio da cidade dele estava em greve. Até hoje o correio acha que foram vândalos que invadiram e rasgaram tudo, quando na verdade foi uma criança surda e muda de sete anos com um ódio não justificado.

Josh estava rindo, mas rindo pra caramba. Comecei a sorrir e, quando me dei conta, estava gargalhando junto. Era um segredo idiota, e bem leve, mas era algo que ninguém sabia. Nunca contei sobre isso para uma pessoa sequer porque tenho muita vergonha; as pessoas iriam sacanear comigo se eu falasse sobre isso, então apenas guardei para mim mesmo.

– É um ótimo segredo. – comenta Josh.

Assinto com a cabeça e continuamos a jogar. Sem perceber, o tempo passa tão rápido. Mesmo parecendo muito, nunca é o bastante. Quando se está com alguém de quem você gosta, seu desejo é de que o tempo pare, ou nunca acabe, simplesmente. Você quer ficar ali para toda a eternidade, e apenas se despedir quando for a hora certa. Quando você achar que é a hora certa, apenas.

Quando me dou conta, já está na hora de acordar. Josh faz o tabuleiro e todas as peças e cartas desaparecerem, e começa a levantar-se.

– Já acabou o tempo? – pergunto com uma dor no peito.

Josh assente com um sorriso triste em seu rosto.

– Você precisa acordar, Nick. – chega bem perto de mim. Nossos olhos tremulando, observando um ao outro. As órbitas verdes de Josh quase se misturando com as minhas. – Nos vemos quando você dormir novamente.

Então me dá um leve beijo na bochecha, e sai andando. Os sons de seus passos ficam cada vez mais baixos, até que não posso mais ouvi-los. Pisco algumas vezes, e minha visão começa a ficar preta.

Acordo em um sobressalto, ofegante. Sinto algo quente saindo de meu olhos, e percebo que estou chorando. Limpo as lágrimas, mas algo quente ainda está em meu rosto; e é bem na bochecha. Toco no local, e é como se Josh tivesse realmente beijado minha bochecha. Ainda posso sentir o molhado de seus lábios, e o quente de seu hálito.

Fico com a mão ali por um tempo, até minha mãe aparecer na porta do quarto, falando-me para eu me arrumar para a escola. Sem conseguir conter, abro um sorriso. Observo-me no espelho por alguns segundos e começo a pensar.

Foi tudo tão real.

Então percebo que, mesmo minha mente dizendo que não, aquilo foi real.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de comentar!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pompeii" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.