Tomoeda High escrita por Uma Qualquer


Capítulo 7
Limites




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Uma brisa carregada de pétalas de cerejeira soprou na noite.

As flores seguiam em longos espirais, atravessando ruas movimentadas e iluminadas. O vento as levava através de Tokyo, até que chegassem a uma região deserta àquela hora.

O pátio do Colégio Tomoeda.

A algumas quadras dali, num condomínio de fachada antiga e imponente, uma luz estava acesa na varanda do sétimo andar. Um garoto estava recostado numa cadeira robusta de metal, uma manta de lã grossa sobre os ombros, as pernas cruzadas. Dali era possível avistar o terreno da escola, e caso tivesse um binóculo, o garoto poderia vigiar o pátio sem problemas.

Porém, ele não tinha um binóculo. Em vez disso, apenas um cálice de cristal vazio estava em sua mão.

Sebastian Michaelis chegou à varanda. Trocara o terno bem cortado de professor por roupas casuais – no caso dele, uma yukata leve, num tecido cinzento de alta qualidade. Trazia uma bandeja prateada numa das mãos, e sobre ela, uma garrafinha de vidro. Tinha a forma de uma tulipa de ponta-cabeça, e capacidade para 25 ml. No momento, estava cheia até a metade por um líquido vermelho-escuro. Ele se aproximou de Ciel, que lhe estendeu o cálice, e despejou ali o conteúdo da garrafa.

– Noite calma– comentou, fechando a tampa, também de vidro, e pondo a garrafa de volta à bandeja.

– É sempre mais calmo antes de uma tempestade.

Ciel balançava o cálice em movimentos circulares, fazendo o líquido girar num redemoinho. Levou-o aos lábios, ingerindo em grandes goles, como se temesse sentir o gosto da bebida. Afinal esvaziou o cálice e entregou-o a Sebastian, o vidro todo tingido por uma finíssima película vermelha. E então, voltou a se recostar na cadeira em silêncio.

Sebastian o observava, um sorriso de sarcasmo quase imperceptível no canto dos lábios. Voltou-se para a Tomoeda, cujo pátio ia ficando salpicado de pétalas de flores trazidas de longe.

– Está vindo para cá– disse. –Sabe o caminho. E todos a quem deseja encontrar estão aqui.

– Que venha– Ciel falou arrogante. –É por isso que nos mudamos para cá afinal.

– De fato. Mas devo lembrá-lo, jovem mestre, que um confronto poderia ser fatal para mim. E mesmo para o senhor.

– Não seja inoportuno, Sebastian– ele replicou, impaciente. –Sei dos nossos limites. Eles também têm os deles. De qualquer modo, Tokyo é um local cheio de guardiões. Não os imagino permitindo um confronto no território deles. Você viu o que me aconteceu, logo que cheguei a Tomoeda.

– Se me permite dizer, jovem mestre, uma parcela de culpa foi sua.

Ciel ergueu o rosto para o homem, uma faísca de ódio perpassando seu olho esquerdo.

– Não– disse num tom baixo e ameaçador. –Não permito que diga nada.

Sebastian sorriu novamente. Mas não um sorriso leve e imperceptível, e sim cheio de tanta maldade, que um arrepio correu pela espinha de Ciel.

O garoto levou a mão à garganta, repentinamente. Por algum motivo, ela parecia estar se fechando por dentro.

– O que... está fazend...? –ele balbuciou, numa voz estrangulada.

O homem que assomava diante dele lhe parecia maior e mais ameaçador que nunca. Sebastian lhe lançou um olhar de puro desprezo.

– Prefiro que me permita expressar minha opinião, jovem mestre– murmurou sinistramente. –Porque a outra opção não é muito vantajosa, para nenhum de nós dois. Eu concordei em ajudá-lo, mas não em lhe emprestar habilidades para que você as exibisse por aí. Espero que isso tenha ficado bem claro. Certo?

– Seu...

– O que, jovem mestre?

Ele se debruçou sobre o garoto, a mão enorme de dedos longos e finos envolvendo o pescoço com delicadeza. Mas por dentro, sua garganta estava a ponto de explodir.

– C... Certo– ele respondeu com dificuldade.

Sebastian sorriu mais uma vez, e então a garganta de Ciel afrouxou.

– Muito bem– disse. –Que continue assim. Lembre-se de que seu último período de abstinência quase o matou. Você não gostaria de passar por isso novamente, não é?

Ciel apenas tossia, tentando fazer o ar retornar aos pulmões. Seus olhos lacrimejavam com o esforço.

– Bem, vou terminar de corrigir as provas agora– o homem voltou ao seu tom natural, como se nada tivesse acontecido. – Aliás, devo lhe parabenizar pelo ótimo trabalho com o senhor Li e a senhorita Kinomoto. Ambos foram melhor do que o esperado.

Depois que ele se afastou, Ciel lançou-lhe um olhar assassino, e então encostou a cabeça no apoio da cadeira, resignado.

As luzes do pátio da Tomoeda cintilavam à distância. O garoto sabia que era tarde demais para voltar atrás. Só podia torcer para que as coisas não saíssem tão mal quanto poderiam...

Em casa, Sakura também estava na janela do pequeno apartamento. Porém não poderia enxergar a Tomoeda dali, nem com uma luneta ultra potente.

Preferia ficar ali, quando seu irmão e o amigo dele estavam em casa. Não que Yukito, um rapazinho simpático e muito bonito, fosse uma companhia indesejada. Mas sempre que os três estavam juntos, Sakura sentia como se estivesse sobrando ali. Havia algo nos olhares que os dois trocavam, e em suas vozes quando se falavam, que fazia Sakura pensar que ela podia muito bem procurar algo para fazer e deixar aqueles dois em paz.

Será que era aquilo que chamavam de ‘segurar vela’? A garota sorriu, contemplando o luar. De qualquer modo, ao menos sabia que Touya e Yukito eram felizes. Se isso não podia lhe distrair de sua própria infelicidade, ao menos lhe dava esperanças de que as coisas podiam melhorar um dia...

A conversa com Tsubasa tinha lhe acalmado um pouco, e embora a lembrança do parque ainda lhe perturbasse, já não doía como antes. Como ele mesmo tinha dito, Syaoran não tinha culpa. Mas então, por que ele havia lhe evitado naquele dia? Mal a cumprimentou quando se encontraram na escola, e embora não tivesse lhe tratado mal, tampouco quis ficar perto dela por mais de cinco segundos. Parecia até que a situação havia se invertido – agora era ele quem fugia dela.

Isso não pode ficar assim, uma vozinha dizia dentro dela. Não podia deixar. Não quando esteve tão perto de...

Foi interrompida por uma batida na porta. Touya, que via o telejornal com Yukito, pediu que Sakura fosse ver quem era.

– Tsubasa...?

Ela avisou que era um amigo da sala e acompanhou Tsubasa ao corredor, do lado de fora de casa.

– Tudo bem, Kinomoto-san?

– Tudo... Desculpa não te convidar pra entrar, é que meu irmão tá meio ocupado lá dentro. –Ela baixou o tom de voz. –Acho que é um encontro.

– Você tá segurando vela?! –Tsubasa não se conteve. Então viu o ar constrangido da garota, e decidiu que não era hora para rir. –Eh, desculpa. Mas enfim, tudo bem. Eu só vim de repente porque precisava te perguntar uma coisa.

– O que é?

Ele então lhe falou do bloquinho. Disse que Sakura o deixou cair no parque, que ele esqueceu de lhe entregar e acabou perdendo-o. Era o mais longe de uma mentira que ele podia chegar. Até disse que chegou a lê-lo, para acabar com qualquer desconforto que Sakura sentisse. Ela pareceu mais aliviada; de qualquer modo, não havia nada escrito ali que Tsubasa já não soubesse.

– Só não conta pra ninguém– ela pediu em voz baixa. –Nem pra ele.

Tsubasa deu um sorriso amarelo e confirmou num aceno. Era melhor que ela não soubesse que Syaoran já tinha lido – inclusive mais do que ela havia escrito.

– Então, eu ia te devolver, mas acabei perdendo... Você lembra onde foi que comprou ele? Aí eu posso ir lá e te arranjo um novo.

– Uh, é que não fui eu quem comprei... A Naoko me deu de presente.

– Naoko-san, hein? –As coisas ficavam mais fáceis então. Naoko era membro do comitê de voluntários da biblioteca, que ele presidia. –Vou falar com ela.

– Não precisa se incomodar, sério. Era só um caderninho... Ah, espera um pouco.

Ela entrou em casa e voltou com algo nas mãos. O lenço de Tsubasa.

– Obrigada– disse, sorrindo. –Por cuidar de mim naquele dia.

Nem todo o barulho da cidade podia lhe fazer esquecer a voz dela, e nem o ar poluído diminuía a lembrança de seu perfume. Enquanto pedalava na direção da casa de Naoko, Tsubasa tirou o lenço do bolso e o encostou nas narinas. O aroma fazia seu interior estremecer. Ele guardou-o novamente e pedalou com fúria no meio da noite.

Então chegou ao rio, na zona norte da cidade. Deixou a bicicleta cair no meio-fio e desceu a margem correndo. Parou à beira da água, resfolegando.

Se houvesse como matar aquilo dentro dele, tudo seria mais fácil. Se pudesse destruir aquilo... Aquilo que era forte o bastante para chamar de amor.

“Uma vida resumida a um eterno ‘se’ não valia a pena ser vivida.”

Não havia como esquecer Sakura. A possibilidade era tão pequena quanto a de ela querer dar alguma chance a ele. Mas, por pior que aquilo parecesse, ainda lhe trazia alívio. Pois sua vida não era feita de incertezas: ele sabia muito bem o que podia fazer ou não, e quais as consequências de seus atos ou da falta deles. O pouco espaço que havia para os “se” era algo que fazia sua vida valer a pena.

Tirou o lenço do bolso, resistindo ao impulso de aspirar seu perfume uma última vez. Então jogou-o na água. Ficou vendo a corrente carregá-lo, levando-o para longe em poucos segundos.

Se livrar de seus sentimentos por Sakura não seria tão fácil, mas ele estava disposto a tentar. Por ela, e por seu irmão. E até por si mesmo.

– Uma feira mística?

– Sim, de artigos místicos. – Os olhos de Naoko brilharam por trás das lentes enormes. –O cara que me vendeu era uma gracinha. Louro, de olhos azuis... Acho que ele era estrangeiro.

– Tá... Mas onde eu acho essa tal feira?

– Bem, aí é mais difícil. É uma feira itinerante. Quando fui lá, eles estavam participando de uma exposição cultural na praça da Torre. Eles devem rodar pelo país, mas acho que sempre acabam voltando pra Tokyo. Vêm pra cá pelo menos umas três vezes no ano.

As informações não acrescentaram muito ao que Tsubasa já sabia: o bloquinho era um artefato místico real, e fora usado para invocar uma identidade. Mas quem o fez, como, e a qual entidade, era um mistério. Ele precisaria chegar até a feira para descobrir, mas até isso não seria fácil.

Depois da casa de Naoko, resolveu voltar para o templo. Syaoran devia estar chegando de sua ronda pela cidade, e de fato, Tsubasa o viu guardando a bicicleta perto do jardim. Quando se aproximou, Syaoran revirou os olhos e se afastou às pressas.

– Ei, volta aqui– Tsubasa exclamou impaciente. –A gente precisa conversar. Dá pra me dizer por que me chutou hoje cedo?

– Foi mal– Syaoran respondeu sem olhá-lo. –Me deu vontade, foi só isso.

– Ah, certo. Então me diz, você andou bebendo o sake do sensei ou algo assim? Porque você faz muita besteira, mas na boa, hoje você passou da conta.

– Eu pedi desculpas, ok? – o mais novo voltou-se para ele, impaciente. – Já entendi, você também tá a fim da Sakura. Acredite, eu entendo isso como ninguém. Também entendo você querer que eu não existisse. Já é demais aturar o fato de que você divide o teto com um cara que tá de olho na garota que você gosta. Só que eu não podia entender tudo isso hoje de manhã. Não quando eu fico sabendo de tudo isso, logo depois de acordar. Me dá um tempo, tá bom. Eu tenho o direito de agir por impulso às vezes.

– E tá sempre abusando desse direito, por sinal– reclamou Tsubasa. – O que você pensou exatamente, se é que pensou em alguma coisa? Achou que eu ia te apunhalar pelas costas e tentar ficar com a Sakura? Esquece, ela já tá na sua. Você mesmo viu naquele bloco de papel. Nem isso você levou em conta?

– Não– Syaoran sacudiu a cabeça. –Eu não pensei nisso. Com você me ajudando naquele dia, depois de termos enfrentado o Phantom-kun, eu nunca ia desconfiar que você tava a fim da Sakura.

– Então...

– É que esse lance de não querer que eu existisse... Sei lá. Foi meio pesado. Só consegui pensar, ‘será que esse cara pode querer brigar a sério comigo, por causa de uma garota que a gente nem conhece direito?’ Mesmo sendo a Sakura. A gente enfrentou coisa demais junto, pra deixar tudo ficar assim.

Tsubasa concordou em silêncio, um tanto surpreso. Não esperava que Syaoran se importasse tanto com a relação que tinha com o irmão.

– Certo– disse por fim. –Mas você entende, o que eu escrevi foi só uma coisa que me veio na cabeça. Não é que eu realmente deseje aquilo.

– Eu entendo. Quer dizer, agora sim, eu entendo. A minha reação também foi coisa de momento, sabe.

– O que não significa que você deixou de me dever um chute nas suas costelas.

– Tá, um dia a gente resolve isso.

O mais velho sacudiu a cabeça, sorrindo. Ter desistido foi mesmo a melhor decisão que podia ter tomado. – Olha, cuida da Sakura direito, viu. Não pensa que pode largar ela, como fez com as outras garotas. Faça ela feliz, senão eu te mato.

– Claro... Ah, cara– ele bateu com a mão na testa. –Merda. Merda, merda, merda.

– Que foi?

– Eu tava tão chateado hoje cedo, com essa história toda, que mal falei com ela. E o pior é que eu acho que ela realmente tentou puxar assunto comigo.

Tsubasa o fitava indignado. – O que ainda tá fazendo aqui, manezão? Vai atrás dela AGORA!

Syaoran obedeceu no mesmo instante, pegou a bicicleta e partiu desabalado. O rapaz olhou para a silhueta do irmão desaparecendo na penumbra, satisfeito. Era assim que as coisas deviam ser.

Ao voltar-se para o templo, deu de cara com Meiling atrás dele. Com os cabelos soltos e sem as blusas chinesas costumeiras, parecia até outra pessoa. Vestia apenas uma camisa larga de dormir, que escondia bem pouco as pernas longas e alvas.

“Por sinal, ela é bem atraente.”

– Você é mesmo um cara legal– ela sorriu.

“Mas continua uma tremenda bisbilhoteira.”

– Ele é meu irmão– Tsubasa deu de ombros. – Finalmente encontrou alguém que pode dar um jeito naquela cabeça oca dele. Não quero ficar no caminho e impedir que ele seja feliz.

– E abre mão de sua própria felicidade– Meiling observou. –Como eu disse, um cara legal.

Tsubasa sorriu. –Bom, é isso, ou ser só um idiota.

– Não. Com certeza, você não é idiota.

Sua voz estava estranhamente quente e insinuante.

Ele só percebeu calor do busto dela contra sua camisa, e em seguida, os lábios dela nos seus, quando o beijo já tinha acontecido.

– Ei...– sussurrou, sem ação. – O que é isso?

– Prêmio de consolação– ela lhe piscou um olho. –Não quer?

O rapaz não respondeu. Havia uma faísca no olhar de Meiling, que ele captou com bastante clareza. Puxou-a para si pela cintura, inclinando o rosto sobre o dela, e ela enlaçou seu pescoço.

Enquanto isso, em algum ponto da cidade, a ansiedade de Syaoran tinha dado lugar à frustração. Havia pedalado para tão longe do templo, apenas para lembrar de que ainda não sabia onde Sakura morava...

“Sempre é mais calmo antes da tempestade.”

Do seu canto na sala, depois que as garotas assediadoras o deixavam em paz, Ciel conseguia alguns minutos para estudar a turma 4-O.

Não que pessoas fossem algo que realmente lhe interessasse. Mas precisava conhecer o território em que estava pisando, saber como aquelas peças se moviam no tabuleiro. E mesmo não gostando de fazê-lo, observar o comportamento das pessoas era algo em que Ciel era realmente bom.

Sabia que os irmãos Li tinham interesse na mesma garota, mas sabia ainda mais que isso. Aqui e ali, via uma ou outra coisa que os outros não percebiam. Coisas sobre Sasaki Rika que passavam despercebidas para a maioria. Ou sobre Daidoji Tomoyo, que de fato nunca deixava transparecer muito sobre si mesma. Não que adiantasse, diante da percepção apurada de Ciel Phantomhive. Mas discrição era algo que o garoto respeitava, e ali estavam duas jovens com um talento extraordinário em guardar para si o que se passava com elas.

Mais adiante, Syaoran acabava de entrar na sala, um sorriso satisfeito no rosto. Pelo jeito, tinha finalmente conseguido chamar a jovem Kinomoto para sair. Tsubasa, sentado no lugar vizinho ao irmão, dava um cascudo na cabeça do irmão e o mandava tirar aquele ar idiota da cara. Pelo jeito, estava lidando muito bem com a derrota.

Quando parou de tirar sarro do irmão e olhou para Ciel, o inglês pensou se não era possível que, assim como ele sabia muito sobre muitas pessoas ali, também não fosse possível que o Li mais velho também soubesse dele.

Desde a última vez em que se enfrentaram, Tsubasa não o perturbou mais. Graças a interferência de Sebastian, Ciel pôde conviver com Syaoran por tempo suficiente para saber que o mais novo era exatamente o que aparentava ser. Já o outro gêmeo, esse sim parecia ser um problema. Sempre escondendo suas verdadeiras intenções, sendo gentil com todos e vigiando Ciel de longe. Àquela altura, ele já sabia que a pessoa mais desconfiada da turma, depois do próprio Ciel, era Li Tsubasa.

– Ele não percebeu, se é isso o que lhe preocupa– esclareceu Sebastian, no estacionamento da Tomoeda, depois que o garoto se jogou no banco de trás do Jaguar negro.

– Não, não me preocupa– ele replicou. –Além do mais, de qualquer forma ele sabe que tem algo errado comigo. E o fato de você ser meu tutor só torna as coisas mais estranhas.

– De fato– Sebastian disse, pensativo, e então girou a ignição. –Seja como for, se ele quiser tirar essa historia a limpo, hoje será uma oportunidade excelente.

O garoto fitou-o pelo retrovisor. – Acha que virão até nós?

– Tenho certeza– o homem sorriu. – E claro, como senhor dos Phantomhive, o jovem mestre deverá lhes dar uma recepção apropriada.

– Não sei não. –Ele cruzou os braços, contemplando o prédio da escola enquanto se afastavam dali. – Talvez fosse mais prudente esperar um pouco.

– O senhor sabe que não podemos mais esperar, jovem mestre. Está no seu limite, e em breve chegarei ao meu também.

Ele suspirou fundo.

Não podia deixar de concordar com Sebastian. Sabia que não podia passar daquela noite. Ele apenas... Apenas preferia não provocar um confronto agora. Porque significava que suas intenções, cedo ou tarde, seriam reveladas. Além de ser um assunto sigiloso, também trazia à tona coisas nas quais preferia não pensar.

Mas ele já devia ter esperado por isso. O melhor a fazer agora era se conformar. E preparar a recepção para os irmãos Li.

Uma lua alva e imperiosa se erguia no céu. Não havia nuvens, apesar do frio de junho estar se assentando no ar. Era apenas uma noite perfeita.

Nada podia dar errado, Syaoran pensava, saindo do banho. Depois que Sakura aceitou seu convite para irem à Torre de Tokyo, o dia inteiro pareceu ter se arrastado até bater as sete da noite. Ia poder continuar de onde havia parado naquela dia no parque. Teria pedido Sakura em namoro, se aquela maluca da Meiling não tivesse aparecido do nada e estragado seu plano.

Ele a viu com Tsubasa num corredor adiante, os dois falando baixo, muito perto um do outro. Não dava para entender. Num dia a garota chamava Syaoran de marido, e no outro estava pendurada no irmão. O Li nem via problemas em uma garota sair com quem quisesse, até porque ele costumava fazer a mesma coisa. Mas tudo tinha limites, e tentar ficar com dois irmãos, debaixo de um templo budista e dos olhos de um monge ranzinza era... Um pouco demais.

Sacudiu a cabeça e entrou no quarto. Pelo menos, agora Meiling não era mais problema seu. Ele fechou a porta e foi pegar uma roupa no armário.

E então, sentiu aquilo.

Sua mão apertou a maçaneta do móvel, enquanto ele parava, tenso.

A vida inteira, foi treinado para ser extremamente sensível àquela sensação; não importava quanto tempo passasse, ele anda a sentiria. O Mal encarnado numa única vibração, numa única presença.
Em algum lugar de Tokyo, um ato profano estava para acontecer.

Vestiu-se às pressas seu traje de trabalho, um changshan branco com calças escuras, sapatos e bainha negra na cintura. Ele correu para fora do quarto, e encontrou com Tsubasa e Meiling, já vestidos também. Meilin usava um vestido cheongsam vermelho e curto, com mangas longas de cor bege, os cabelos presos nos coques costumeiros; Tsubasa vestia uma camisa negra de gola alta, calça branca e botas . Um coldre axilar trazia duas pistolas debaixo dos braços de Tsubasa, enquanto dois punhais estavam embainhados na cintura de Meiling.

– Vão direto pra lá– Kurogane tinha uma expressão fechada no rosto. Carregava a espada de Syaoran e a estendeu ao rapaz. – Perceberam de onde aquilo emanou, não foi?

– Sebastian-sensei –disse Tsubasa. – E mais alguém, próximo a ele.

– Pois é– Syaoran pegou a espada, um brilho de ódio em seus olhos de cores diferentes, enquanto ele sorria, ameaçador. –É a segunda vez que ele estraga meu encontro com a Sakura. Agora sim, eu tenho um bom motivo pra detonar aquele moleque.






*Notas (porque elas não cabem no campo lá embaixo)

Cheongsam- acho que já tinha mencionado, mas não expliquei o que era. Cheongsam é um vestido longo com uma gola alta em forma de lapela (abertinha no meio), abotoaduras na diagonal em direção à parte de baixo do braço e uma fenda lateral na saia. Pode ter mangas compridas, longas ou não ter. Existe também a blusa cheongsam, que tem o mesmo corte do vestido mas sem a saia (dã) e a barra inferior tem umas fendinhas nas laterais. Basta pesquisar imagens da Meiling, ou da Kagura de Gintama (ela só veste roupas chinesas). Ou do próprio cheongsam =D

Changshan - a versão masculina do cheongsam. Geralmente é uma túnica comprida, com ou sem mangas (longas ou curtas) e fendas laterais bem largas que vão até a cintura, mas pode não ter também. O traje de baixo é uma calça, que é mais folgada ao longo das pernas mas possui um elástico (ou é amarrada) nos tornozelos. Pesquise imagens do China (não sei o nome que deram a ele) de Hetalia, ou o Kamui (irmão da Kagura) de Gintama. O Syaoran de Sakura Card Captor usava um changshan verde também, lembram? Mas aqui ele é mais dark ♥


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que leem, acompanham e comentam! Por favor, manifestem-se sempre que puderem! Amo seus comentários e opiniões, e ainda mais adoro respondê-los (mesmo demorando um pouquinho ^^). Então é isso, me mandem um oi de vez em quando! Bom feriado, e té maisinho :***



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