Tomoeda High escrita por Uma Qualquer


Capítulo 23
Laços de sangue




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– Do que ela se lembrará? – Fai indagou.

Tsubasa tinha as costas apoiadas na porta de casa, observando a rua quieta e coberta de neve.

– De tudo que há para ser lembrado– respondeu distante. – Talvez tenha esquecido para sempre o que for mais doloroso, mas as coisas importantes estarão lá.

Ele se juntou à garota. Pôs uma manta sobre seus ombros, e sentou-se ao seu lado. A manta não fazia muita diferença, uma vez que Tsubasa tinha os pés nus mergulhados na neve. Mas ele gostava de tratá-la com gentileza mesmo assim.

– É possível que ela esqueça o presente, e fique mergulhada apenas no passado?

– Perfeitamente possível. Mas algo me diz que ela sabe o caminho de volta.


“Por que você…?”

“Porque você não lembra ainda. Mas fui sua amiga e irmã, e fui sua única mãe. Nós duas fomos tudo uma para a outra, numa época que se perdeu há muito tempo…”

Estava quente. Sakura levantou-se, estivera caída na areia havia algum tempo. Um cheiro pungente e salgado lhe preencheu os pulmões, e ela respirou fundo. Estava numa praia.

Não havia ninguém ali, exceto por uma família que brincava à beira da água. Ela se pôs de pé, sentindo-se um tanto deslocada com o kimono e a manta de inverno. Mas a família parecia igualmente estranha, usando roupas de banho de muitas décadas atrás e que lhes cobriam o corpo completamente. Exceto por isso, eles pareciam absolutamente normais e felizes.

Sakura se aproximou com cuidado deles, até perceber que a presença dela era invisível ali. Nenhum deles prestava atenção nela. Estavam ocupados em ajudar a criança, que parecia ter poucos anos de idade, a caminhar com eles pela areia molhada. Por fim o homem apanhou a criança e a ergueu no ar, fazendo-a gritar de alegria. Ele a colocou sentada em seus ombros, abraçou a mulher pela cintura e foram caminhando devagar pela faixa de areia.

A garota seguiu ao lado deles, surpresa. Mesmo tão perto, nenhum deles a notava. E mais estranho ainda, o rosto do homem e da criança pareciam estar borrados. Não dava para discernir sua imagem. Quanto à mulher, Sakura não tinha dúvidas. Aquela era ela mesma, vários anos mais velha. Uma adulta. Com um marido e um filho. Ela mal podia acreditar.

A noite caiu rapidamente. Sakura estava agora no quarto do casal. Eles dormiam abraçados, até que ouviram uma batida na porta. A criança estava com medo por causa de algum pesadelo. Eles a tomaram nos braços e a deitaram na cama entre eles, e voltaram a dormir.

O dia seguinte não trouxe uma cena singela como as anteriores.

Sakura piscou diante da claridade da janela, tentando entender o que havia acontecido. Tudo ficou claro quando o grito agudo de terror ecoou no quarto.

Sua versão adulta estava diante dos cadáveres de seu marido e filho. Durante a noite a casa havia sido arrombada, e alguém cortara a garganta do homem e da criança. O sangue empapava os lençóis, tingia a camisola da mulher, pingava no chão. Ela gritou desesperada, e então percebeu as figuras encapuzadas e vestidas de negro que entravam no quarto.

– Filha da sua mãe –um deles falou, numa voz soturna. – Sua linhagem maldita não deve continuar.

– Eu não sou como minha mãe! –ela exclamou.

– Filhas do mesmo sangue –disse outro deles.

– Sangue amaldiçoado – acrescentou outro.

– Vá embora– disse o primeiro. – Leve sua sombra destas terras, e vá viver com sua mãe em seu covil de serpentes. Já não há mais nada para você aqui.

– Por que não me mataram também? – a voz dela estava embargada de lágrimas. – Se querem tanto acabar com o meu sangue, o que ainda estou fazendo aqui?

– Não queremos atrair a sombra. Você viverá, e as mortes de seus entes queridos lhe servirá como lembrança das coisas às quais você não tem direito.

– Tudo o que você ama lhe será tirado. Vá embora daqui, filha das trevas.

Eles a deixaram, e Sakura sentiu que podia enlouquecer ali junto com sua versão adulta, com o sol iluminando a cama banhada de sangue e os dois mortos ainda abraçados. Chorou junto com a mulher sem perceber, enquanto ela gritava e se lamentava numa dor agonizante.

E então, ela a viu levantar-se da cama, os olhos verdes inchados e vazios. A mulher desceu até o jardim da grande casa onde vivia. Colheu todas as flores que encontrou, e levou-as para o quarto.

– Sinto muito– ela sussurrava tristemente, enquanto cobria os corpos de seus amados com as flores. –Tinha que ter sido eu, e não vocês.

No porão da casa ela apanhou galões de querosene. Derramou-os por toda a casa. Trocou a camisola ensanguentada por um vestido longo e negro. Apanhou um cavalo no estábulo, e antes de galopar para longe, ateou fogo na casa. Não ficou para vê-la arder em chamas.

O céu estava coalhado de estrelas quando o cavalo parou diante de uma mansão no meio dos campos. A mulher apeou e subiu as escadas. Parou na porta, sem bater, e ela se abriu.

Uma garota estava do outro lado. Tsubasa, Sakura sabia. Usava roupas de outros tempos, um vestido vitoriano elegante, mas os cabelos já tinham o corte de sempre.

– Não me restou mais nada, mamãe– a mulher disse tristemente.

– Eu sei– Tsubasa respondeu, seu rosto juvenil tomado por uma profunda desolação. – Você ainda tem a mim. Está em casa agora, Sakura.

Ao longe, enquanto as duas não podiam vê-la, Sakura ia entendendo a situação aos poucos. Ainda estranhava Tsubasa ser tão mais jovem que a filha, mas tudo fazia sentido. Além do mais, seu comportamento maduro e sensato era mais antigo do que ela havia imaginado.

– O que vai fazer agora? –ela perguntou a filha, certo dia.

– Não sei… Não há nada a se fazer, eu acho.

– Pensei que fosse me pedir para vingá-los.

– Eu não poderia lhe pedir isso. Só iria atrair mais caçadores e pôr a senhora em risco... Além do mais, não tenho certeza de que a vingança iria me trazer algum consolo. Eles estão mortos. Nada do que eu faça vai trazê-los de volta.

Com o passar dos dias, a mulher apenas definhava de tristeza. Não havia nada que Tsubasa pudesse fazer a respeito, por mais que lhe doesse ver a filha naquela situação. Foi quando finalmente a mulher achou uma saída. Tsubasa não conseguiu chegar a tempo. Quando entrou em seu quarto, a encontrou do lado de fora da janela, pendurada pelo pescoço com os lençóis da cama.

A dor de Tsubasa foi ainda mais terrível porque foi silenciosa. Não emitiu um único soluço de choro. Mas Sakura via em seus olhos marejados a culpa e o desespero que a tomavam. Ela puxou o corpo da filha para dentro de casa. Depositou-o sobre a cama e debruçou-se sobre ele, acariciando seu rosto.

– Você foi a melhor pessoa que conheci no mundo– lamentou. –Não merecia nada do que lhe aconteceu. Não devia ter tido a mim como mãe. Tudo o que posso fazer agora… É lhe dar uma segunda chance.

Sakura não conseguiu ver direito o que ela fazia. Mas algo brilhou suavemente no peito e na testa da mulher morta. Tsubasa apanhou a luz com as mãos e a levou ao próprio ventre.

– Vai ficar tudo bem– prometeu.

Ela não soube dizer quantos anos se passaram. Os campos ao redor da propriedade eram férteis, mas os animais não resistiam muito e morriam pouco tempo depois de pisarem naquelas terras. Diziam que a dona da mansão havia amaldiçoado o lugar, por isso ninguém se aproximava dali.

Havia um cavalo caído no meio do feno, agonizando, enquanto uma menina estava debruçada sobre sua jugular. Ela levantou-se satisfeita, a roupa e o rosto lambuzados de sangue. Sakura reconheceu a si mesma aos cinco anos e ficou um pouco enojada com a cena.

– Oh, de novo não– Tsubasa gemeu ao ver a filha naquele estado. – Assim, nunca teremos ninguém para arar nossas terras.

– Fiquei com fome– Sakura disse apenas, em sua defesa.

– Eu sei, meu bem– ela a apanhou nos braços. –Você precisa de algo mais duradouro para saciá-la. Acho que já está na idade certa.

Ela trocou suas roupas e se arrumaram para ir a uma cidade próxima. A pequena Sakura era uma criança cheia de vida, seus olhos inquietos buscavam tudo ao seu redor, suas narinas inspiravam os cheiros mais diferentes possíveis. Percebeu que o que os humanos tinham correndo em suas veias podia ser ainda melhor do que sangue de cavalo ou qualquer outro animal. Mas antes que ela saísse correndo e cravasse os dentes na primeira pessoa que visse, Tsubasa a segurou pela parte de trás da gola do vestido.

– Nem pense, mocinha– advertiu. – Deixe isso comigo, até que aprenda como se faz.

Ela pôs Sakura dentro do coche e a deixou esperando por algumas horas. Quando voltou a menina estava no auge da impaciência.

– Beba isso e acalme-se– Tsubasa lhe estendeu uma pequena garrafa de vidro, cheia do líquido vermelho escuro.

A criança não hesitou em levá-lo à boca. Assim que a primeira gota pingou em seus lábios, Sakura viu suas pupilas se estreitarem nas grandes íris verdes, verticais como as de uma cobra. Ela bebeu mais e mais, até esvaziar a garrafa. Sua mãe, que havia tomado um pouco também, observou-a em silêncio. Então tomou as rédeas do coche, e partiram de volta para casa.

Desde então, a animada Sakura tornou-se uma criança silenciosa e quieta. Parecia estar sempre remoendo algo muito antigo e muito sério. Mal falava com a mãe, e passava muitas horas nos campos, olhando para a direção onde ficava a cidade. Tsubasa continuou a supri-la com sangue humano e ela parou de atacar animais, de modo que, com o tempo, os camponeses voltaram a trabalhar naquelas terras.

Quando Sakura voltou a vê-la, ela já tinha atingido a idade de Tsubasa, tendo a sua exata aparência. Foi nessa época que ela pediu à mãe para lhe ensinar como matar humanos.

– Algum motivo em especial pra isso? – sua mãe indagou, desconfiada.

– Não sou mais uma criança– disse ela. – Posso conseguir meu próprio alimento sozinha, se você me ensinar.

– Mas para consegui-lo, não é preciso matar o humano.

– Nunca se sabe.

Tsubasa então se dedicou a ensinar a filha tudo o que sabia. Mostrou-lhe como usar sua força e agilidade descomunais em diversos tipos de luta e com o auxílio de armas. Instruiu Sakura a usar seu encantamento natural de vampira, que permitia ela enfeitiçar a mente das pessoas, para que abrissem as portas de suas casas, deixassem que ela roubasse seu sangue e depois não lembrassem o ocorrido. E advertiu-lhe sobre seus inimigos naturais, os caçadores, treinados desde cedo a desenvolver dons sobrenaturais apenas para caçar e eliminar vampiros.

Sakura absorveu perfeitamente todas as lições. Ia regularmente à cidade para se alimentar. Também passou a frequentar os bosques nos limites da cidade, onde diziam ser um esconderijo de malfeitores. Ela ia enfrenta-los para pôr em prática seus ensinamentos de luta. Ia sempre encapuzada para os bosques, onde praticamente trucidava quem quer que encontrasse. Logo se espalhou a fama do ‘monstro mascarado’ naquelas redondezas, e boa ou má, qualquer pessoa evitava os bosques quando passava por ali.

Mas seu interesse havia focado nos caçadores. Ela estava ansiosa por encontrá-los, mesmo Tsubasa dizendo que era melhor ficar longe, Sakura não resistiu a sair procurando por eles. Pegou um cavalo, que aprendeu a usar não apenas como alimento, e cavalgou para muito além dos campos de sua casa.



O festival havia sido um sucesso. No final da tarde as barracas começaram a ser fechadas e a renda arrecadada foi enviada à diretoria. Enquanto todos estavam ocupados em seus afazeres, Syaoran procurava por Sakura em todos os lugares.

Quando Sebastian foi adverti-lo sobre o término do seu tempo de folga, percebeu que havia algo errado. Juntou-se ao garoto na busca por Sakura, e assim a encontraram no gramado atrás do colégio, caída junto às raízes de uma velha árvore. Eles a levaram para a enfermaria sem fazer alarde, e constataram que a garota havia entrado num sono profundo repentinamente.

Ciel chegou pouco depois, e então vieram Li Tsubasa e Tomoyo. A garota ficou lívida ao ver a amiga em coma. Segurou sua mão e ficou ao seu lado, até que a ambulância chegasse e a levasse ao hospital.

O coma durou sete dias completos. Nesse tempo Touya, Tomoyo e os Li se revezavam em ficar com ela, por vezes juntando-se uns aos outros na vigília. Numa das noites, Syaoran estava com o irmão e Tomoyo no quarto. Tsubasa não parava de fitar a Daidoji, que baixava a cabeça, relutante.

– O que há com vocês? –Syaoran indagou, cansado. –Tem alguma coisa que eu não tô sabendo?

– Tem– Tomoyo decidiu-se, erguendo o olhar para ele. E então, contou-lhe toda a verdade sobre o passado e as memórias de Sakura.

Ele tocou de leve no rosto da namorada.

– Ela vai ficar bem, Daidoji-san? Você sabe por que ela tá assim?

Tomoyo suspirou pesadamente.

– Não dá pra sentir a energia de Sakura, vinda de lugar nenhum– constatou. –Mesmo que os aparelhos mostrem que os sinais estão bem, é como se a mente dela estivesse em outro lugar. Talvez... Acho que dessa vez, pode ser que ela lembre de alguma coisa que aconteceu antes de eu implantar as memórias nela.

– Se isso acontecer… Ela vai ficar bem?

– Espero que sim, Li-kun. Tomara que sim.

Tsubasa apenas os observava em silêncio. Imaginava o que se passava na mente perdida de Sakura agora. Onde estaria, e o que estaria fazendo.

E se, finalmente, havia se dado conta de quem ela realmente era.


Em sua mente ela galopava por caminhos sem fim, sob a luz brilhante do sol ou a de milhares de estrelas que preenchiam o céu. Não se recordava de já ter visto um céu como aquele em Tokyo. Lembrou que alguém lhe disse que gostaria de ver o céu da praia, quando por acaso passou por uma.

Os cascos percorreram a água devagar, enquanto a Sakura renascida aspirava profundamente. O cheiro da praia, pensou a outra Sakura. Ela devia estar lembrando de algo muito importante. E de fato estava. Fez o cavalo voltar a galopar por toda a extensão da praia. Subiu pequenas dunas de areia, afastou-se do litoral e chegou a uma área rochosa e ampla, que avançava para dentro do continente. Seguiu pelos caminhos de pedra, que a levaram a uma área rodeada de árvores baixas e coberta por ervas daninhas, que cresciam sem controle.

Ela desceu do cavalo, e as duas Sakuras passaram pelas ervas daninhas, chegando a uma região mais baixa. Ali estavam os escombros de uma grande casa, onde apenas seus sustentáculos restaram de pé. Havia cinzas petrificadas por toda parte, em meio a rede de ervas que também invadiram o local. Sobre elas, porém, milhares de flores cresciam por toda parte, cobrindo o que uma vez fora o assoalho daquela casa, brotando dos vãos de cada escombro. A lua as iluminava, fazendo algumas delas refletir uma estranha luminosidade noturna. Quando as duas passaram por entre as flores, algumas das luzes ergueram-se no ar, e logo flutuavam ao redor delas. Vaga-lumes.

Devia ser uma bela paisagem, mas só a outra Sakura sabia que ali era na verdade um túmulo. Mesmo assim, a Sakura antiga sentia o peito apertar. Lagrimas desciam pelo seu rosto, sem que pudesse entender a tristeza que a tomava.

Quando se preparava para voltar, sentiu a presença deles. Humanos letais. Os caçadores estavam próximos dali.

De repente, toda a ansiedade em encontrá-los desapareceu. Sakura não queria mais vê-los. Tinha medo, não deles, mas do que pudesse vir a descobrir por meio de sua presença ali. Arrependeu-se de todas as decisões que tomou desde que saiu de casa, e quis mais que tudo voltar para lá, onde poderia continuar em segurança e ignorante do que lhe pudesse fazer algum mal.

Não teve tempo de pegar o cavalo. Os caçadores estavam em grande número, e caíram em cima dela como abutres. Com a guarda baixa pelo medo, Sakura foi pega por uma rede enfeitiçada, que queimava terrivelmente sua pele. Gritou de dor e lutou para sair, mas seus esforços eram inúteis.

–Espere– disse um deles. –Não é a mãe daquela mulher?

– O que ela faz aqui? Será que deseja vingança, depois de todos esses anos…

– Vingança…? –Sakura murmurou, entre gemidos de agonia. Ela não sabia o que significava aquela palavra.

– Sim– um deles apertou a rede, imobilizando os braços queimados enquanto ela gritava. –Você sabe muito bem.

“Por favor... Não contem a ela…!”

– Matamos o seu genro e o seu neto, e deixamos apenas sua filha viva. Acredito que ela não tenha conseguido viver por muito tempo, não é mesmo? Senão, por que mais você estaria aqui?

Sakura calou-se, os olhos dilatados de espanto. Do lado de fora da rede, sua parte presente entendeu na mesma hora.

Ela tinha se lembrado.

– Não…! –Ela gritou muito alto, erguendo a rede enquanto levantava do chão. Em sua fúria, conseguiu livrar-se dela e dos caçadores que a prendiam.

Suas unhas cresceram como garras nos dedos das mãos. Ela pulou na garganta de um deles, destroçando-a, e logo depois na de outro, arrancando sua cabeça com uma força desmedida. Logo aquilo se transformou num banho de sangue, e nem os caçadores mais experientes puderam lidar com a fúria assassina dela. Em apenas cinco minutos todos estavam mortos, e Sakura finalmente entendeu o que significava ‘vingança’.

Uma presença conhecida se aproximou do campo de luta. Sua mãe conseguiu lhe seguir nas sombras, e agora a encontrava coberta de sangue. Parecia até que ela continuava sendo uma menina de cinco anos, mas Tsubasa sabia que sua filha estava mais velha do que nunca naquela noite.

– Você sabia…? –Sakura indagou, sem virar-se para ela. –Me trouxe de volta mesmo assim? Você me odeia tanto assim, mamãe?

Havia uma tristeza profunda em sua voz. Tsubasa tentou se aproximar, mas Sakura deixou-a, indo na direção dos escombros de sua antiga casa.

– Sabe que eu a amo, filha– ela exclamou, seguindo-a. –Tudo o que eu fiz foi tentar lhe dar uma nova chance.

– Para quê?

– Para ser feliz.

Sakura apanhou um pedaço de escombro do chão, como tudo naquela área, estava coberto de flores.

– Ser feliz– repetiu lentamente. – Sabendo tudo o que sei. Sendo quem eu sou. Você achou mesmo que eu conseguiria?

– Você só está assim porque acabou de lembrar de tudo– Tsubasa tentou acalmá-la. – Assim que der um tempo a si mesma e pensar melhor...

– Pensar em como eles foram tirados de mim? Pensar no que eu devo fazer? Eu me lembro, mamãe. Me lembro muito bem de ter dito a senhora. Talvez a vingança não adiantasse nada. E não adiantou. Só me deixou mais triste, e mais vazia. Não me resta absolutamente mais nada, nem mesmo vingar meu marido e meu filho.

Então Sakura percebeu que o pedaço de escombro era uma velha estaca de madeira, com uma das pontas cheias de lascas, mas afiada o bastante para servir ao seu propósito. Ela gritou, e Tsubasa também. Mas antes que pudesse impedi-la, Sakura já tinha cravado a estaca no próprio peito.

– Não– Tsubasa puxou as mãos dela, tentando interromper o ato. –Por favor! Não me faça passar pela dor de te perder outra vez!

– Por que não? –ela indagou fracamente, o sangue jorrando entre seus lábios. – Você me fez passar por isso de novo. Se ousar me trazer de volta a esse mundo outra vez, eu nunca vou te perdoar. Vou me certificar de matar você primeiro, antes de tirar minha própria vida. Pelo menos dessa vez, me deixe em paz!

Tsubasa estremeceu. Soltou as mãos dela, e Sakura se deixou cair no leito florido.

– Fique em paz, então – murmurou trêmula, lágrimas pingando sobre o rosto de sua filha, morta novamente.



Quando ela despertou, sete dias depois do seu coma, a enfermeira havia esvaziado o quarto para poder cuidar dela mais adequadamente. Os sinais vitais estavam ótimos, assim como sua aparência. Depois de responder a algumas perguntas da enfermeira para mostrar que estava realmente bem, Sakura pediu para ver algumas poucas pessoas. Eram as únicas a quem queria encontrar, antes de deixar o hospital.

Tinha contas a prestar com eles. Por ordem de prioridade, ela quis ver Touya, Tomoyo e Syaoran.


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