Tomoeda High escrita por Uma Qualquer


Capítulo 21
Presa




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“Desde que você fique longe.”

De quem ela estava falando? Sakura queria muito saber. Queria entender o que se passava na mente de Tsubasa, mas era difícil, já que a sua própria cabeça estava uma bagunça.

Ela se encostou à grade protetora do terraço. Havia pedido licença para ir ao banheiro no meio da aula de Matemática, mas o que sentia mesmo era uma grande vontade de ficar sozinha e pôr os pensamentos em ordem.

Seus planos foram adiados, ao sentir braços passando ao redor dos seus ombros. Syaoran estava atrás dela, abraçando-a, e ela fechou os olhos, suspirando.

Se não podia ficar sozinha, pelo menos que ele fosse a sua companhia.

– Acho que eu tô te influenciando mal –ele disse baixinho em seu ouvido. – Você não era de cabular aula.

Sakura encostou a cabeça junto ao pescoço dele. –Não é culpa sua. Eu só queria um tempo pra pensar em algumas coisas.

– Quer ficar sozinha?

– Não, fica aqui comigo.

Ele beijou sua bochecha e a abraçou mais forte. Então puxou-a para um banco próximo, onde podiam se abrigar do vento gelado, do qual a farda grossa de inverno mal os protegia. Continuou com o braço passado ao redor dos ombros dela, e Sakura derreou a cabeça em seu peito.

– Quer falar sobre o que tá te incomodando?

– Eu... Não sei bem o que é, Syaoran. Sinto que está tudo bem na maior parte do tempo, mas às vezes, parece que estou esquecendo alguma coisa importante. Algo que não devia... E desde que a Tsubasa-san chegou à escola...

Syaoran voltou o rosto para ela. – A novata? Ela andou lhe perturbando?

– Não... Quer dizer, sim e não. Ela só parecia uma grande coincidência no começo. Então comecei a ter sonhos estranhos com ela, na mesma época em que tentei lembrar os detalhes do meu passado. É tudo um grande borrão, e em meus sonhos, ela sempre aparecia pra me dizer que tinha algo errado com a minha cabeça.

– Você nunca me falou desses sonhos.

– Não queria incomodar, você já tem tanta coisa pra resolver...

– Mas você não é um incômodo– ele afirmou, beijando seu rosto outra vez. – Sempre que houver algo errado, me fala, por favor.

– Tudo bem.

Ela ainda sentia que era errado incomodá-lo com seus próprios problemas, mas decidiu dividir seu fardo. Afinal de contas eram um casal, não eram? Então, contou que Tsubasa agora não lhe perturbava só em sonhos. Contou o incidente no pátio do hospital dias atrás, o que deixou Syaoran realmente indignado.

– Quem ela pensa que é pra mexer com a sua cabeça desse jeito? Vou falar com ela hoje mesmo.

– Não, Syao-kun– ela exclamou alarmada. – Eu posso ter ouvido errado, não sei. Afinal, por que eu teria que me afastar da Naoko-chan ou de qualquer outra pessoa? Não faz sentido. De qualquer forma, acho melhor eu mesma falar com ela.

Syaoran a encarou, preocupado. Um pressentimento ruim perpassou seu coração naquele momento. –Você tem certeza?

– Confia em mim– ela pediu.

– Claro que confio– o rapaz a envolveu nos braços. –Em você, não nela.

Correu os dedos pelo rosto dela devagarinho, e Sakura se aconchegou melhor em seu peito. Poderiam ficar daquele jeito por horas, se Naoko não tivesse irrompido da porta de acesso ao terraço.

– Desculpa– a voz estava ofegante pelo esforço de subir as escadas. Naoko já tinha sido liberada pelo hospital, mas ainda estava recobrando a força perdida aos poucos. –Lau-sensei estranhou a falta de vocês dois. Achei melhor vir avisar vocês logo.

– Valeu– Syaoran exclamou de volta. – Já vamos descer.

Ela porém não desceu de volta. Foi até o banco e sentou diante deles, parecendo bem magrinha e encolhida no abrigo e na calça de inverno. Sakura e Syaoran perceberam que ela queria falar alguma coisa, e decidiram adiar por ora o momento que estavam tendo.

– Desculpa incomodar– ela repetiu constrangida, ajeitando os óculos no rosto rubro, e voltou-se para Sakura. – É que você sugeriu que eu falasse com o Phantom-kun, quando a gente estava tentando decidir o que fazer no festival, lembra?

– Sim– ela respondeu interessada. Naoko mal voltara à escola e já tinha corrido atrás dos preparativos para o festival. –Você falou com ele?

– Bem, eu perguntei se ele não gostaria de contribuir com alguma ideia ou sugestão... Ele disse que não tinha muita criatividade, mas por outro lado, poderia ajudar financiando qualquer coisa que a gente decida fazer.

– Sério? –Syaoran exclamou surpreso. –Ele quer bancar o festival?

– Ele tem bastante dinheiro, acho que não é problema pra ele– explicou Naoko. –E também, Michaelis-sensei foi escolhido como responsável pela nossa turma, então acho que estaremos em boas mãos.

– Realmente– o Li refletiu.

Àquela altura os alunos já sabiam que Sebastian era tutor de Ciel, mas o comportamento reservado de ambos impedia que se fizesse qualquer comentário a respeito.

–Então, só precisamos de alguma ideia boa o bastante pra atrair o máximo de pessoas pra nossa turma. Pensou em alguma coisa, Naoko-chan?

Ela sorriu. – Queria que vocês ouvissem antes dos outros. Me digam o que acham, e então eu apresento ao líder da sala e fazemos a votação.

Os dois a ouviram contar sua ideia, empolgada, e então se entreolharam. Ambos pareciam ter tido o mesmo pressentimento, de que algo não iria dar certo se pusessem aquela ideia em prática. Mas Naoko parecia esperançosa enquanto aguardava a opinião deles, e resolveram não decepcioná-la.

– Fale com o nii-san– disse o Li.

– Tenho certeza de que todos irão gostar– Sakura acrescentou.

Mas enquanto voltavam para a sala, eles se olharam novamente.

Havia algo de errado com aquela ideia.

Endereço: darkmahou.net

DarkLover abriu um novo tópico de discussões.

Tópico: Alguém sabe como entrar em contato com a feira mística?

Postado às 10:21

@shura escreveu:

Então, está melhor mesmo?

Postado às 10: 23

DarkLover escreveu:

$Sim, foi só um probleminha de saúde. Estou bem melhor agora.

Postado às 10:24

@shura escreveu:

Percebo... Bom, acho que esse tópico foi seu jeito de chamar minha atenção mais rápido, certo?


Postado às 10:26

DarkLover escreveu:

Pois é... Da última vez que eles estiveram em Tokyo, você disse que soube disso por fontes seguras. Então achei que...

Postado às 10:30

@shura escreveu:

Achou certo. Eu posso entrar em contato com eles. Mas preciso saber do que se trata, pra explicar a eles melhor, entende?

Postado às 10:32

DarkLover escreveu:

Claro. Vai ter um festival na minha escola, e eu quero montar uma feira mística na minha turma.

Postado às 10:35

@shura escreveu:

Sério? Mas numa escola... será que é uma boa ideia? Os pais dos alunos podem estranhar...

Postado às 10:38

DarkLover escreveu:

Então, eu pensei em fazer uma sessão reservada ao ocultismo, que os visitantes só podem ter acesso se forem de maior ou estiverem com os pais. Os outros estandes podem exibir coisas mais tradicionais, que não causem tanto estranhamento.

Postado às 10:43

~black escreveu:

Parece interessante.

Postado às 10:44

@shura escreveu:

É de se pensar mesmo. Vou ver o que posso fazer.

Postado às 10:46

DarkLover escreveu:

Muito obrigada!!!!

Postado às 10:50

@shura escreveu:

Melhoras pra você.

Postado às 00:00

~black escreveu:

Se cuide, garota.


Era pouco mais de sete da noite quando Tomoyo terminou o treino diário no templo. Encontrou com Tsubasa na escadaria. O rapaz acabava de vir do supermercado e vinha carregado de sacolas de compras.

– Quer ajuda? –Tomoyo indagou.

– Não, não, eu tô bem. –Ele lhe sorriu. –Como foi o treino?

– Meio cansativo, eu acho.

– Então procure descansar. Cuidado quando for pra casa.

– Tsubasa-san...

– Sim?

Ela o fitou incerta. Não podia demorar muito; a neve começaria a cair em alguns segundos, e na noite seguinte Tsubasa encontraria com os Guardiões de Tokyo. Por fim decidiu-se, e pegou algumas sacolas da mão dele.

– Temos que conversar– disse enquanto se apressava de volta ao templo. –Você, eu e o sensei.

Tsubasa franziu o olhar e resolveu segui-la, sem ter ideia do que estava acontecendo. Aparentemente Kurogane também não sabia, mas não fez perguntas quando Tomoyo disse que os ajudaria a guardar as compras na despensa, e só então diria o que havia a ser dito.

Os três completaram o serviço e se reuniram no amplo kotatsu da sala de estar, instalado especialmente para o clima frio. Tomoyo respirou fundo e dirigiu-se a Kurogane.

– Se aquilo que o senhor suspeita for verdade, e Fai realmente for a causa da doença de Naoko e daquelas outras pessoas, eu prefiro que isso não chegue aos outros Guardiões.

Ele a estudou por um momento, parecendo entender suas intenções.

– Imaginei que você tomaria uma atitude desse tipo– disse. –Afinal, se trata de sua melhor amiga. Mas eu nunca falaria nada se você não se posicionasse a respeito.

– Vou encarar isso como a promessa de que vai manter sua palavra.

Tsubasa olhou para os dois, cada vez mais confuso.

– Posso saber o que tá acontecendo agora? –indagou, já meio impaciente.

– Pode– Tomoyo voltou-se para ele, e sua expressão grave deixou o rapaz em alerta. –Tsubasa-san, há algumas coisas que eu preferi não lhe contar sobre Sakura. Fiz isso pra protegê-la. E é pra protegê-la outra vez que eu vou te dizer tudo.

Minutos depois, o rapaz ainda a encarava sem acreditar.

Basicamente, estava diante de uma bruxa de verdade, e a Sakura que conhecia tinha memórias criadas por ela. Não sabia o que o chocava mais, se o fato de Tomoyo ser tão poderosa, ou de Sakura ser uma criatura tão misteriosa. Pelo menos, agora ele sabia que a chance de Kinomoto Tsubasa e ela estarem conectadas era perfeitamente possível.

O problema daquilo era que Tsubasa era uma vampira. Antiga e poderosa, capaz de manipular sua própria presença e fazer todos acreditarem que era uma humana inofensiva, quase invisível. Se os Guardiões soubessem de Fai, certamente saberiam dela, e não demorariam a chegar a Tomoeda para investigá-la. Dali a notarem Sakura era uma questão de pouquíssimo tempo.

– Não estou dizendo que ela seja uma vampira– Tomoyo acrescentou. – Mas não sabemos se ela não é. O jeito como ela chegou em minha casa anos atrás, o modo como sua mente estava em branco e seu físico não mudou... Não sei o que pensar disso.

– Mas sabemos o que os Guardiões pensam– disse Kurogane. –Se encontrarem provas da identidade de Sakura, irão varrer o passado dela em busca de algo que torne sua presença ilegal em Tokyo. Vão procurar puni-la por qualquer coisa eu ela tenha feito e, no momento, sequer se lembre.

– Pior que isso, vão arrasar a cabeça dela. A mente de Sakura só é estável porque eu trabalhei muito pra que as memórias dela a mantivessem desperta. Não sei o que pode acontecer quando ela perceber que o passado inteiro que ela se lembra não existiu. Não sei se ela pode vir a lembrar do que houve antes de sua mente ficar em branco, nem o que pode acontecer se ela lembrar dessa época. Se ela sofrer um colapso mental, nem meus poderes vão salva-la.

– Certo– Tsubasa murmurou bem lentamente, mastigando as novas e surpreendentes informações.

Fazia sentido agora, o pavor inicial que ela sentiu ao conhecer os Li. Talvez fosse um instinto de preservação muito antigo da raça deles. Tsubasa não conseguia conceber como uma garota como Sakura podia ter sido uma sugadora de sangue no passado, e pior, estivesse apenas momentaneamente esquecida disso.

– Syaoran não pode saber, não é– comentou pesaroso.

– Ele não precisa. De qualquer modo, não vai conseguir guardar segredo da garota. O que tenho em mente é que, quando a verdade vier à tona, os dois saibam de tudo juntos.

– Mas é injusto, sensei– ele reclamou aflito. –Syaoran pode estar correndo perigo. Todos que estão perto dela podem...

– Acho que eu estava errada– Tomoyo sorriu melancólica, fazendo Tsubasa se voltar para ela.

– Como assim?

– Quando eu disse que talvez fosse melhor ela ficar com você, e não com Syaoran-kun. Mas escute o que está dizendo agora. Sakura não é um perigo. Ela é quem está correndo perigo. Syaoran entenderia isso, se soubesse o que você acabou de saber. Porque se ela for mesmo uma vampira, está tão segura em Tokyo quanto uma presa no meio de uma caçada.

O rapaz baixou a cabeça, um tanto constrangido. Ela tinha razão. Não era a primeira vez que ele simplesmente colocava outras prioridades acima de Sakura.

– De qualquer forma– disse– ela também está escondendo a própria presença, não é? No dia em que atacamos a casa do Phantom-kun, ela nos seguiu sem que ninguém percebesse. A presença humana dela é quase tão fraca quanto a sua de bruxa, Tomoyo.

– O que não significa muito, em relação a nossas habilidades– ela deu de ombros. –No nosso caso é até uma vantagem, um disfarce melhorado. Mas Sakura não tem consciência do que está fazendo. Talvez a presença de vampira esteja oculta nas memórias perdidas dela. Não temos certeza de muitas coisas nesse momento.

Kurogane suspirou fundo. – Você já confrontou a novata antes, Tsubasa. A respeito de Sakura-san. E não obteve sucesso, pelo que me contou.

– Não, sensei... –ele assentiu. –Mas entendo a situação. Não vou deixar os Guardiões chegarem a esta área. Eles não tem motivos; Tsubasa não emana presença vampírica, muito menos Sakura-san. Quanto a Fai... Realmente, não entendo como ele também pode se disfarçar.

– Ele é servo de Tsubasa agora. –O monge deu outro longo suspiro. –Quando foi banido de Tokyo, ele se aliou à vampira. De algum modo, ela deve beneficiá-lo suprimindo a presença dele também.

– Mas isso é... Digo, já é difícil pra uma pessoa sozinha. A criatura pode fazer isso consigo mesma e com ele?

– Isso mostra o quanto é poderosa– Tomoyo constatou.

– E antiga também– Acrescentou Kurogane. –Só os mais velhos têm esse tipo de capacidade, e mesmo assim, eles são difíceis de encontrar. Está mais do que óbvio que ela veio pela Sakura-san, mas por ora, é melhor não nos precipitarmos. Esperamos ela dar o primeiro passo. Enquanto isso, mantenha o interesse dos outros Guardiões afastado daqui.

– Farei meu melhor– Tsubasa assentiu enfaticamente.

Levou Tomoyo até a escadaria lá fora. Estava bem frio, mas a neve havia diminuído bastante desde que entraram no templo.

– Você não me contou sobre a Sakura-san– comentou. –Mas falou com o sensei.

– Achei melhor falar com alguém adulto– ela explicou. –Não que eu não confie em você, mas... Kurogane-sensei é mais experiente.

– Você prefere homens experientes?

Tomoyo voltou-se para ele, enquanto o rapaz dava um risinho. –Não me leve a sério– ele pediu, se recompondo ao ver o semblante frio dela.

Ela franziu a testa, e virou-se para as escadas. –Enfim, Tsubasa-kun. Faça o que puder pra proteger a Sakura.

– Eu vou– ele disse, recuperando a seriedade. –Pode confiar em mim.


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