Tomoeda High escrita por Uma Qualquer


Capítulo 20
Proximidade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/481738/chapter/20

A visita dos colegas de classe só foi permitida depois de dois dias de internamento. Naoko ainda estava fraca, mas já aparentava melhora desde o dia em que desmaiou na quadra da Tomoeda.

– Eu teria trazido seus livros– Rika desculpou-se. –Mas sua mãe não quis deixar. Ela disse que é melhor que você fique longe de qualquer coisa que possa perturbar sua mente.

– Ela se preocupa à toa– Naoko deu um risinho fraco. Seu rosto era pequeno mesmo sem as grandes lentes dos óculos, e a aparência abatida o tornava mais pálido. – Que bom que ela ao menos deixou vocês virem. Senti falta de vocês.

– Nós também– Chiharu exclamou aflita, e todos concordaram. – A gente pensou nas piores coisas... Que bom que não foi nada grave!

– Foi só uma anemia. Daqui a pouco me recupero, então não se preocupem!

Sakura havia vindo com as amigas, além dos Li, Yamazaki e Tomoyo. Ciel também lhe enviara um belo arranjo de margaridas com um cartão de melhoras. O pequeno lorde inglês não se considerava íntimo o bastante para visitar Naoko, mas demonstrar sua preocupação foi algo que não passou despercebido, mesmo aos Li.

– Ele é mesmo gentil– Tomoyo observou.

– Como a maioria dos garotos ingleses– Yamazaki acrescentou, num tom que não deixava claro se era de informação ou de pouco caso.

– E ao contrário de alguns garotos japoneses– Chiharu o encarou pouco amistosa. Voltou-se para Naoko. –Estamos pensando no que fazer no festival da escola. Trate de se recuperar logo, afinal, você é a nossa mente criativa!

Sakura pareceu confusa. –Que festival?

– Todo ano a Tomoeda realiza um festival de caridade– Yamazaki tomou a palavra rapidamente. – Cada sala organiza uma atividade pra arrecadar fundos, que são doados a asilos e orfanatos do distrito. Abrimos mini cafés, apresentamos teatro e dança, vendemos coisas, enfim.

– Nada superou a feira de robôs da 3-A ano passado– Tsubasa comentou. –Os caras da turma A são gênios. Se não fosse a Naoko e a Tomoyo, nossa arrecadação ia ser a pior da escola.

– Sempre ficamos em quarto lugar no ranking– Syaoran contou a Sakura.

– Bom– ela disse inocente. –Talvez o Phantom-kun possa ajudar esse ano, não?

Todos olharam para ela em dúvida.

– Eeeh, por que não? –Chiharu animou-se. –Nunca se sabe. Talvez os britânicos sejam mais do que apenas gentis.

Ela olhou feio para Yamazaki, e logo não havia mais dúvidas que eles estavam prestes a terminar o namoro pela terceira vez naquela semana.


– Você confia tanto assim no Ciel? –Syaoran indagou enquanto seguiam pelo pátio externo do hospital, caminhando pouco atrás do grupo.

– Ele não é mau no fim das contas– a garota disse. –É só uma criança. A gente não sabe exatamente pelo que ele passou, e o que levou ele a fazer o que faz. Talvez ele tenha entrado na escola também pra não esquecer como é ter uma vida normal. Pode ser que ocupar a mente faça bem a ele...

Ela parou ao notar o sorriso de Syaoran. –O que foi?

– Nada, é que você falando essas coisas, se preocupando assim com ele... Parece até uma mãe.

– Eu? – ela riu, surpresa. –Não sou tão mais velha assim que ele. É só que ele me parece tão frágil... Mesmo sabendo que é bem mais forte que eu. Quer dizer, ele é tão pequeno, e aquele rostinho de criança... Poxa, dá muita vontade de abraçar ele.

– Eu, hein– ele fez uma careta. –Mais fácil eu dar uma chave de braço naquele moleque. Aliás– Syaoran parou, e sacudiu a cabeça. –Não, duvido. Mais fácil o Tsubasa ter inventado isso.

– Feito o quê?

– Espiado debaixo da saia da Tsubasa– Ele revirou os olhos. –Meu irmão faz pose de sério, mas adora tirar com a cara dos outros. O Phantom-kun pode ser tudo, menos um pervertido. Até pra cima de mim o nii-san já veio com essa história.

– Sério? Quando?

“Quando eu te conheci”, ele pensou constrangido. Nunca ia deixar a pobre Sakura saber uma coisa daquelas, ela ia morrer de vergonha. – Nem lembro, sabe... Mas se tem uma pessoa no mundo que gosta de pregar peças, esse alguém se chama Tsubasa.

– É mesmo?

A voz feminina atrás deles fez com que se voltassem. De fato, era a jovem Kinomoto. Sem o uniforme ela se vestia bem diferente de Sakura, com um vestido tubinho coberto de rendas de cor salmão, colar de pérolas e scarpins rosados. Apesar do frio de inverno, não usava nada para abrigar os braços alvos e nus. Estava tão elegante que Sakura se sentiu encolher dentro de seu conjunto de jeans, casaco e tênis. Nunca ia chegar aos pés daquela garota em matéria de estilo.

– É, mas não é você– Syaoran disse aborrecido. Parecia que não podia ter um segundo de paz a sós com sua namorada. –Fique tranquila.

– Oh, eu não me importo– ela sorriu com um leve ar de altivez. –Vim visitar a Yanagizawa-san. Vocês vieram vê-la também?

– Acabamos de sair de lá – o rapaz respondeu secamente. – Vá na recepção, eles vão te dizer onde fica o quarto dela.

Fez menção de ir embora; a presença dela o incomodava mais do que podia suportar. Mais que o mistério em torno dela, era óbvio que a garota deixava Sakura desconfortável, e ele detestava isso. Mas ela olhou para Tsubasa, intrigada.

– Veio ver a Naoko-san? Não percebi que tinham se tornado amigas... Só os colegas mais próximos vieram vê-la, até o Phantom-kun preferiu mandar flores pra ela.

Falou inocentemente, realmente confusa com a situação. Mas o ar que perpassou o rosto levemente maquiado de Tsubasa carregava uma malícia inconfundível.

– Estranho mesmo, não é? –ela sorriu. –Mas eu sou assim mesmo, me preocupo demais até com pessoas que mal conheço. A propósito, ela vai ficar bem, não vai?

– Vai sim– Sakura respondeu devagar, hesitando em aceitar aquela desculpa.

– Que bom. Tenho certeza de que vai melhorar bem rápido.

Ela curvou-se de leve para o casal e seguiu para o saguão de entrada. Passou por Sakura, e a garota percebeu que ela lhe sussurrou algo, mas não soube dizer naquele momento o que foi. Apenas segurou a mão de Syaoran e o acompanhou, confusa.

– Garota estranha– ele resmungava. – Não sei quem ela pensa que é pra vir visitar a Naoko assim do nada.

– Vai ver é só preocupação mesmo– Sakura murmurou incerta.

– Eu não estranharia se fosse o Ciel-kun, mas ela? Mal chegou na turma e já tá se achando a rainha da amizade.

O rapaz olhou para Sakura, que havia reprimido um risinho com a mão. –O que foi?

– Nada– ela o encarou séria, e então voltou a rir. –É que, se tem uma pessoa implicante nesse mundo, esse alguém se chama Syaoran.

– Ah, fala sério. – Ele sorriu, fazendo um carinho no rosto da garota. – Minha implicância às vezes me ajuda a conhecer as pessoas. E adivinha o nome da pessoa que é mais importante pra mim nesse mundo?

Ela corou ao sentir os lábios dele nos seus, num selinho rápido. Ambos preferiam ser mais discretos em público. Os outros já tinham se afastado bastante, sendo que apenas Tsubasa esperou de longe ao ver a novata chegar, mas acompanhou o grupo novamente ao ver o irmão e a namorada a sós.

Syaoran envolveu Sakura num abraço. Ela se sentiu protegida nos braços dele, o rosto escondido em seu peito enquanto a brisa gelada soprava seus cabelos. Sentia calor e o perfume amadeirado emanar dele, a fibra do suéter roçando em sua pele, os batimentos do seu coração.

Nos braços dele, podia esquecer de tudo e de todos, podia deixar de pensar e apenas sentir.

Queria ficar assim para sempre, refletiu, sentindo o próprio peito acelerar e as faces esquentarem novamente.

Quando ergueu o rosto, procurou os lábios dele para um beijo pouco menos recatado que o anterior. Mesmo Syaoran ficou surpreso, embora não se importasse nem um pouco. Preferia se comportar com ela em público porque sabia que Sakura era muito tímida, mas não era como ela parecia naquele momento.

– Uau– ele sussurrou quando pararam para respirar. – Você tá bem, Sakura?

Ela fitou-o ternamente, ainda sentindo a impressão dos lábios e do gosto dele. Era tão bom. Queria tanto provar mais e mais. Então se deu conta de que havia pessoas passando por ali, algumas olhando para eles, e ficou vermelha feito um pimentão.

– Vem cá– Syaoran riu, abraçando-a enquanto ela escondia o rosto, dessa vez de vergonha mesmo. – Você tá sempre me surpreendendo de algum jeito.

Passou os dedos pelos fios dourados sobre a cabeça dela. Como adorava aquela menina. Poderia haver centenas de sósias dela no mundo, mas Sakura era a única capaz de fazê-lo esquecer que ele precisava respirar de vez em quando.


– Boa tarde, Michaelis-sensei... Não esperava encontrar o senhor aqui.

O homem estava sentado diante da maca onde Naoko cochilava. Estava lendo jornal, e sequer ergueu os olhos para a porta quando Tsubasa entrou.

– Sabe que não precisa me tratar como seu professor– disse friamente, em sua voz grave de barítono. –Aqui fora, estamos em pé de igualdade.

– Entendo... Você não é do tipo que gosta de jogos.

– Não. Meu mestre é desse tipo. Mas bem... Ele não é do nosso tipo.

Tsubasa havia comprado um buquê de pequenas rosas na floricultura do hospital. Pôs o jarrinho ao lado de vários outros buquês na mesa ao lado da maca, e fitou o semblante de Naoko com desinteresse.

– Está montando guarda? –indagou casualmente.

– Visto os últimos acontecimentos, creio que seja necessário.

– De fato... É decepcionante constatar que Tokyo não é um lugar tão seguro como pretende ser. Tantas falhas, tantas brechas... Tantos Guardiões incompetentes.

Os olhos do homem se estreitaram uma única vez na direção dela.

– Seu grau de cinismo parece não ter diminuído com o passar dos anos– observou.

– Ora, nem se passaram tantos anos assim– ela sorriu, largando-se graciosa numa poltrona próxima. –Parece que foi ontem que eu encontrei o pequeno e apavorado Ciel Phantomhive. Que, a propósito, não cresceu muito. Achei que o pacto iria fazê-lo se desenvolver mais rápido.

– Você supõe coisas demais, mulher– ele reclamou entediado. –Devia pôr uma coleira no seu cão ao invés de perturbar a vida dos outros e chamar atenção desnecessária.

Tsubasa torceu os lábios delicados num esgar de desprezo.

– Não ouse me chamar de “mulher” outra vez– ameaçou.

Sebastian dobrou o jornal cuidadosamente. Levantou-se e foi até a porta, não sem antes passar por Tsubasa, sua figura alta e imponente erguendo-se diante dela.

– Chamarei seu nome quando for digna de usá-lo. –Ele largou o jornal no colo de Tsubasa. –Você e seu cão já estão no radar de Kurogane e dos Li. Não chamem a atenção dos outros pontos de guarda, ou meu mestre ficará bastante aborrecido. Ele prefere acabar com você sozinho.

– Mesmo? –Ela cruzou as pernas, sorrindo desafiadora. –Estou ansiosa por vê-lo tentar.

Sebastian fitou a paciente adormecida por um momento. – Não esperará muito.

Ela acompanhou o olhar do homem.

– Não quer saber como Fai fez isso, sem que os Guardiões notassem?

– Não– ele cortou-a. –Meu único interesse é que esta garota volte à sua vida normal. Assim como todos os outros. Não me importo com os truques que seu cão sabe fazer, desde que sua coleira esteja bem apertada.

Quando ele deixou o quarto Tsubasa fitou a porta fechada, com um ar nada amigável. Então pegou o jornal. Na página que Sebastian havia dobrado, uma notícia mostrava um estranho surto de anemia em vários pontos da cidade.

– O miserável tem razão– ela amassou o jornal e o jogou fora. – Fai já se divertiu demais.


O surto de anemia não havia passado despercebido aos Guardiões. Uma reunião seria marcada na sede deles em breve, onde representantes de cada região iriam compartilhar suas investigações e decidir que atitudes tomar.

Afinal, todos os anêmicos possuíam algum tipo de orifício duplo em seus corpos. Era óbvio para os Guardiões que alguém estava conseguindo driblar o radar deles.

– Você não vai poder ir, certo? –Tomoyo indagou a Kurogane.

Ambos estavam no dojo, praticando o aquecimento com as shinais. Tomoyo havia começado a aprender kendo havia poucos dias, e Kurogane achava melhor ela usar espadas de bambu por enquanto.

– Tsubasa vai em meu lugar, sendo o mais velho dos irmãos. E o mais sensato, por assim dizer.

– Aliás... Como vocês aqui ficam sabendo dessas coisas? Notícias, reuniões... Eu não vi um rádio sequer no templo, desde que cheguei aqui.

– Ondas de rádio afetam o equilíbrio desse local. E qualquer onda eletromagnética, na verdade. Por isso você precisa desligar seu celular antes dos treinos. Não usamos internet ou televisão aqui. Contamos apenas com o correio, e uma linha de telefone bastante rústica que nem sempre funciona.

– Isso não deixa a comunicação meio... Lenta?

– Eu não disse que o correio era sempre o convencional.

Ele era bastante solícito em explicar como as coisas funcionavam ali, Tomoyo observou.

Aliás, Kurogane era bem diferente do monge ranzinza e fechado que os Li tinham descrito para ela. Não era falador, mas também não era do tipo calado demais. Talvez passasse tanto tempo sozinho naquele lugar, que não se importasse em falar de seu mundo para alguém que ele conheceu havia poucos dias. Ou talvez, o fato de Tomoyo ser uma bruxa ajudasse. Kurogane demonstrava grande respeito por elas; havia contado que a líder dos Guardiões era uma bruxa, e mesmo a falecida mãe dele fora uma.

Aquela, inclusive, não foi a única coisa pessoal que Tomoyo soube do monge por meio dele mesmo. Foi como ela soube de Fai, de como Kurogane se sacrificou para mantê-lo ao seu lado, o perdeu e foi condenado a viver nos limites do templo. Não se aprofundou muito na relação entre eles, mas Tomoyo entendeu que ela havia sido bastante íntima. Não que importasse à garota; saber as consequências e o sofrimento causado era o bastante para não querer que Kurogane falasse de coisas que, talvez, ele ainda não confiasse o bastante para desabafar.

Além do mais, toda a sinceridade dele encorajou Tomoyo a contar um pouco de suas próprias aflições. Entre um treino e uma pausa para o chá, entre um momento de descanso e outro de prática e estudos, ela deixava fluir suas preocupações. Sobre o quanto Daidoji Sonomi, sua mãe, foi apaixonada pela melhor amiga na juventude. Sobre como esse amor foi frustrado, quando a amiga se casou com um certo arqueólogo que foi professor dela. E sobre como a história parecia estar se repetindo. Sonomi amava um professor da Tomoeda, que era apaixonado por uma das alunas dele. Uma das amigas de Tomoyo.

– Primeiro ela quis que eu usasse minha habilidade nos dois– ela contou. –Queria que eu fizesse com que esquecessem um do outro. Eu me recusei, então ela disse que eu devia me afastar da minha amiga. Chegou a dizer que ia me tirar da Tomoeda, mas eu fiquei tão furiosa que a ameacei com meus poderes. Eles são mais fortes que os dela, por isso ela desistiu. Sei que foi uma atitude terrível da minha parte, então me arrependi e pedi desculpas depois, mas... Enfim, nossa relação não é mais a mesma. Cada dia de convivência é um pouco pior que o outro. Vivo na Tomoeda, no ateliê, no clube de música, agora aqui também... Faço o possível pra chegar tarde em casa e não precisar falar com ela.

Era a primeira pessoa para quem ela desabafava aquela situação. As amigas sequer imaginavam. Tomoyo não entendeu como pôde confiar tão rapidamente em Kurogane. Não tinha nada a ver o fato de ele ser um monge ou viver encarcerado nas dependências do templo, ou um adulto responsável por dois garotos da idade dela. Kurogane inspirava confiança. Ouvia-a sem julgá-la, respeitava seus silêncios, perguntava apenas o que parecia relevante.

Ela entendeu naquele dia, depois que falaram da reunião dos Guardiões. Tomavam chá no degrau de acesso ao dojo, durante um pequeno intervalo no aquecimento. Os Li não estavam em casa, e Kurogane nem sempre sabia onde eles estavam metidos.

– Syaoran está com Sakura, eu espero– cogitou entre um gole e outro do chá. – A garota precisa de proteção, ainda mais com esse tal surto. E o garoto gosta muito dela, então deve aproveitar qualquer oportunidade para ficarem juntos. Tsubasa... Bom, ele é uma incógnita. Nem sempre sei o que passa na cabeça dele. Meus palpites são de que ele deve estar em algum cyber café, com os voluntários da biblioteca ou na vigília na casa da sósia. Eu apostaria nessa última. Os garotos estão bem irritados com a presença da garota, mas o caso pra ele parece ser pessoal... Só espero que ele não faça besteira, mesmo não sendo disso.

Ela o observou por um momento. –Se preocupa bastante com eles, não é?

– São tudo o que tenho para me preocupar– o monge suspirou. –Além deste templo. Me causam preocupações o tempo todo, mas não me imagino vivendo sem eles. Entende?

Percebeu o olhar confuso dela, que assentiu e bebeu em silêncio.

– Por exemplo... Por que você pediu desculpas à Daidoji-san?

Ela refletiu rapidamente. – Porque me senti culpada por ter ficado com raiva. Porque... Apesar de tudo ela é minha mãe. Não me imagino vivendo sem ela.

Kurogane anuiu. –É algo parecido comigo.

– Como somos estranhos– Tomoyo sorriu.

E então entendeu o porquê de confiar tanto nele, e talvez o porquê de inspirar nele confiança. Ambos eram mais parecidos do que imaginavam.


Àquela hora Syaoran deixava Sakura na porta de casa. Touya estava lá, então eles se despediram no portão do condomínio, antes que ela entrasse.

Não falaram muito, mas se beijaram bastante, num vão escondido de olhares indesejados. Aquilo estava preocupando Syaoran, não de uma maneira ruim, mas fazendo-o pensar em como o que sentia pela namorada incluía bem mais do que carinho e amor. Ainda mais quando ela colava o corpo junto ao dele, inclinando a cabeça e deixando sua boca ser explorada livremente pela dele, as costas e a cintura acariciadas com um pouco mais de atenção. Um arrepio forte o percorreu quando ela roçou as unhas pela sua nuca, e ele precisou se afastar um pouco para se recompor.

Não que fosse ruim, pelo contrário. Mas por mais experiência com garotas que ele tivesse, nunca havia ido muito longe. E de uns dias para cá, estar com Sakura o fazia pensar... Em como seria ir mais além, com ela.

– Desculpa– Ela pôs as mãos no rosto, ofegante pelo beijo e por todas as outras sensações.

– Pelo quê? –Syaoran sorriu, os dedos acariciando o pequeno queixo dela.

– É que... Bem, você sabe. Eu costumo me comportar melhor que isso...

– “Isso”? –os lábios dele pousaram em sua face, deslizando até a orelha. – Eu gosto “disso”, pra falar a verdade.

Ela estremeceu, agarrando nos ombros dele. Ia iniciar uma nova sessão de beijos e talvez outras coisas, mas o ruído de gente se aproximando a fez parar.

– A gente se vê amanhã? –indagou, meio sem graça.

– Sim– ele sorriu, lhe dando um último beijo antes de se afastar.

A pele sedosa estava toda corada, os olhos verdes reluziam, os lábios vermelhos e convidativos. Syaoran engoliu em seco e se afastou, lhe dizendo uma última coisa antes de ir embora.

Sakura entrou em casa e se encostou na porta fechada, ignorando as perguntas do irmão. Tinha um sorriso no rosto e o coração retumbava. Ela se jogou no futon e ficou sonhando acordada, enquanto Touya preparava o jantar, dando uma olhada desconfiada para ela de vez em quando.

Ela fechou os olhos, a mãozinha fechada junto ao peito.

Não bastasse ele lhe fazer sentir daquele jeito, como se tremesse e arrepiasse por dentro, o estômago frio e aquele calor subindo pelo corpo. Ele tinha que lhe sussurrar que ela estava linda, antes de ir embora quase correndo.

Parece até sonho, ela deu um risinho que fez Touya erguer uma sobrancelha.

Ela, linda? Onde? Sempre de jeans e tênis, o rosto sem maquiagem nenhuma, os cabelos penteados ao sabor do vento, vez ou outra lembrando de passar um perfume qualquer. O que alguém como Syaoran podia ver nela, afinal? Ele sim era mais que bonito, era o que ela e suas amigas definiriam tranquilamente como um tremendo gato. Com aquele rosto, aqueles olhos, aquele físico, o jeito charmoso e confiante... Ele não combinava com uma garota desajeitada feito ela.

Alguém do porte de Kinomoto Tsubasa seria bem mais adequada.

Sakura sentou-se no futon de repente. Estava lívida. No fogão, Touya parou com a frigideira ainda no ar.

– O que foi agora? –perguntou impaciente.

Mas ela continuava a não ouvi-lo.

Lembrou da visita ao hospital naquele dia, mais cedo, quando encontraram Tsubasa. Ela lhe disse algo. “Tenho certeza de que a Naoko vai melhorar”, ou algo assim. Mas depois, ela sussurrou uma coisa que, só agora, ela lembrava o que era.

“Desde que você fique bem longe.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que leem e acompanham a fic! Se puderem comentar, darem opinião, dizerem o que estão achando, agradeço ainda mais =)
Té maisinho :***



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tomoeda High" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.