Facilis Densensus Averno escrita por Heosphoros


Capítulo 13
Homens de Azul


Notas iniciais do capítulo

"E ali dentro está a vontade que não morre. Quem conhece os mistérios da vontade, bem como seu vigor? Porque Deus é apenas uma grande vontade, penetrando todas as coisas pela qualidade de sua aplicação. O homem não se submete aos anjos nem se rende inteiramente à morte, a não ser pela fraqueza de débil vontade."

Edgar Allan Poe



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Clary Morgestern não faz ideia de quanto tempo ficou deitada em sua cama, olhando para estrelas imaginárias no teto branco que parecia girar, mas quando se levantou o sol não estava mais tão brilhante.

Cogitou descer as escadas, cogitou falar com o irmão, cogitou pular pela janela e fugir.. a verdade é que ela cogitou muitas coisas, e cada uma delas tinha seu próprio nível de impossibilidade para serem - ou não - realizadas.

Ela mexeu um pouco nos próprios cobertores. Se continuasse afogando-se naquela angústia, hora ou outra seria pega por alguma doença psicológica e essa é uma das últimas coisas de que precisava. Sebastian estava em algum lugar á embaixo e ela não fazia ideia de seu humor para lidar com irmãs doentes que acabaram de te beijar...

Uma camada de gelo se quebrou no peito dela, liberando a sensação fria por todo o seu corpo.

Clary beijou Sebastian.

E ele respondeu.

O que estava acontecendo, por Deus?

Como se não bastasse ela ter matado e se apaixonado por Jace, agora tinha beijado o irmão biológico!

O pior de tudo: ela gostara.

Talvez pudesse conversar com ele, talvez tudo pudesse ser explicado pu talvez esquecer fosse melhor. Talvez, talvez, talvez. Nada parecia concreto ou suficiente para clarear a mente confusa dela.

Levantou-se de supetão.

Se pensar não ajudava, então talvez agir fosse a resposta.

Vestiu-se, prendeu os cabelos ruivos.

Abriu a porta de seu quarto...

E ouviu vozes.

– ... está dizendo? - era Sebastian, provavelmente na copa ou no saguão - a Scottland Yard tomando partido de meros assassinatos no parque?

Scottlan Yard. Assassinatos. Parque.

O coração de Clary falhou nas batidas.

– Você sabe que não foi um mero assassinato, Sebastian - era uma voz masculina, e Clary não a reconheceu de imediato.

– Nós dois sabemos, Pangborn, que não foi um mero assassinato - suspirou - não sei porque não encaram tudo como uma mera briga ou um assassinato pelas mãos de um bêbado. É o que mais tem pelo Hyde, e sabemos disso...

– Eles identificaram o corte de espada - outra voz, dessa vez Clary a reconheceu como sendo de Blackwell, um dos amigos próximos de seu pai - não brincam em serviço, Sebastian. Se a própria Scottland Yard meteu suas unhas na investigação, há muito pouco do que você possa fazer.

– Posso matá-los - havia uma espécie de divertimento sombrio na voz do irmão dela - quem se aproximar...

– Já estão se aproximando, Sebastian - Pangborn o interrompeu - desculpe ser estraga prazeres, mas descobrimos tarde demais. Eles chegaram aqui em menos de minutos.

Clary sentiu que iria vomitar.

– O que posso fazer? - Sebastian perguntou.

– Esconda Clarissa onde os Homens de Azul não vão procurar... Porque eles vão atrás de você com todas as garras. A esse ponto devem saber tudo sobre o soldado de Valentim, e depois de você irão atrás do próprio com as cartas na manga para prender um dos maiores traidores da bandeira da Inglaterra.

Silêncio.

– Merda - Sebastian grunhiu - saiam logo daqui antes de Clary saia do quarto.

– O que vai fazer com ela? - perguntou Blackwell - E Jocelyn?

– Não me importo com Jocelyn, mas creio que nada ocorrerá com ela - uma pausa - Clary, porém, está muito ferrada. Temos que sair daqui.

– Vocês não vão conseguir. Fugir só piora as coisas.

– Cale a boca, Pangborn, eu não tenho opção. Vão, logo!

Passos apressados, cujo som foi distanciando-se de Clary.

Então silêncio.

Depois de um instante ouvindo só a própria respiração falha e preocupada, Clary ouviu o som de um único passo.

– Pode descer, Clarissa - disse Sebastian - sei que estava ouvindo.

Clary desceu tão rápido que quase tropeçou no próprio vestido.

– Scottland Yard? - gritou com lágrimas de desespero e medo ardendo nos olhos - que merda, Sebastian! Que merda, que merda, que merda!

Ele estava de pé, no meio do saguão. O cabelo prateado estava seco agora, e caía pelo rosto quase alcançando seus olhos negros como carvão. Encarou-a, imóvel, enquanto Clary socava as paredes e as colunas em surtos sem sentido. Raiva ardia no peito dela e se misturava com o medo de perder a própria vida e a de Sebastian.

Enquanto puxava os próprios cabelos e xingava ele, ela sentiu braços envolvendo-a com força. Sebastian aproximou-se rápida e silenciosamente. Seu abraço a impediu de bater mais nas coisas. Ela se acalmou ao escutar o coração dele contra o dela, e logo as batidas se tornaram únicas... Em mesma sintonia.

– Eles podem me levar - Sebastian disse com calma - e eu vou matar quem tentar.

Ela arregalou os olhos verdes dentro do abraço dele.

Sebastian continuou:

– Não quero que você veja isso, então é melhor você correr agora enquanto há tempo - afastou-se para encarar os olhos dela - você sabe onde fica a casa dos Lightwood, então vá correndo para lá. Pegue Wayfarer, não olhe para trás.

– Mas, Sebastian, você...

– Não pense em mim - havia uma espécie de dor enquanto ele falava, como se cada palavra fosse um punhal em seu peito - eu não existo mais. Provavelmente podem levar o papai. Serão só você e Jace. Acho que já privei muito do que você merecia ter, e privar você do irmão que eu fui todo esse tempo é o melhor a ser feito.

A superfície negra nos olhos de Sebastian começou a ficar embaçada, pois Clary não conseguia mais olhar nos olhos dele sem umidificar seus próprios. Ela ficou imóvel, enquanto seu irmão mais velho tirava algo das vestes e estendia para ela.

Uma faca, cujo cabo era encrustado com cristais e pedras preciosas. A lâmina era de prata, como o anel Morgestern em torno do dedo dela, e lembrava nada a menos do que Sebby.

Seu Sebby. Que curou seus ferimentos, que a defendeu quando ninguém mais o fez, que fez coisas ruins e coisas boas, que era um Demônio, mas que também era um Anjo...

Que poderia morrer por um crime que ela cometeu.

– Esta faca tem uma gêmea - ele sorriu - é minha agora. Sei que eu deveria pedir que você esquecesse da minha existência, mas... só lembre do anel. E de como você aprendeu as minhas iniciais.

Ela olhou novamente a lâmina da faca.

S. M.

Seus olhos enxeram-se de lágrimas.

– Já disse que te amo? - Sebastian perguntou.

Ela não conseguiu responder, soluços impediam que sua voz saísse da boca.

– Eu te amo - ele disse, perto dela. Muito perto dela.

Ela desejou que a beijasse, da forma mais errada e certa que alguém poderia. Se cometer milhões de erros como aquele impedissem que Sebby fosse preso ou morto, estava tudo bem para ela.

– Eu também te amo - ela conseguiu dizer.

– Ainda?

Olhou para ele, para seus olhos negros, para as covinhas que nunca tinha visto até aquele dia, para seus lábios, para sua pele. Tudo fazia parte dele, e parte dela. Para todos os efeitos, era seu irmão e ela sempre sentiria aquele tipo de amor por ele... Não importa quantas mentiras como essa teriam de ser contadas para si mesma.

Respondeu como se suspirasse.

– Sempre.

Com um único abraço, ela se afastou do irmão mais velho.

Caminhou até os estábulos, onde Wayfarer esperava para tirá-la de um sonho ruim.


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Notas finais do capítulo

Queria pedir milhoes de obrigadas para a recomendação da linda Luchska