Facilis Densensus Averno escrita por Heosphoros
Notas iniciais do capítulo
"E ali dentro está a vontade que não morre. Quem conhece os mistérios da vontade, bem como seu vigor? Porque Deus é apenas uma grande vontade, penetrando todas as coisas pela qualidade de sua aplicação. O homem não se submete aos anjos nem se rende inteiramente à morte, a não ser pela fraqueza de débil vontade."
Edgar Allan Poe
Clary Morgestern não faz ideia de quanto tempo ficou deitada em sua cama, olhando para estrelas imaginárias no teto branco que parecia girar, mas quando se levantou o sol não estava mais tão brilhante.
Cogitou descer as escadas, cogitou falar com o irmão, cogitou pular pela janela e fugir.. a verdade é que ela cogitou muitas coisas, e cada uma delas tinha seu próprio nível de impossibilidade para serem - ou não - realizadas.
Ela mexeu um pouco nos próprios cobertores. Se continuasse afogando-se naquela angústia, hora ou outra seria pega por alguma doença psicológica e essa é uma das últimas coisas de que precisava. Sebastian estava em algum lugar á embaixo e ela não fazia ideia de seu humor para lidar com irmãs doentes que acabaram de te beijar...
Uma camada de gelo se quebrou no peito dela, liberando a sensação fria por todo o seu corpo.
Clary beijou Sebastian.
E ele respondeu.
O que estava acontecendo, por Deus?
Como se não bastasse ela ter matado e se apaixonado por Jace, agora tinha beijado o irmão biológico!
O pior de tudo: ela gostara.
Talvez pudesse conversar com ele, talvez tudo pudesse ser explicado pu talvez esquecer fosse melhor. Talvez, talvez, talvez. Nada parecia concreto ou suficiente para clarear a mente confusa dela.
Levantou-se de supetão.
Se pensar não ajudava, então talvez agir fosse a resposta.
Vestiu-se, prendeu os cabelos ruivos.
Abriu a porta de seu quarto...
E ouviu vozes.
– ... está dizendo? - era Sebastian, provavelmente na copa ou no saguão - a Scottland Yard tomando partido de meros assassinatos no parque?
Scottlan Yard. Assassinatos. Parque.
O coração de Clary falhou nas batidas.
– Você sabe que não foi um mero assassinato, Sebastian - era uma voz masculina, e Clary não a reconheceu de imediato.
– Nós dois sabemos, Pangborn, que não foi um mero assassinato - suspirou - não sei porque não encaram tudo como uma mera briga ou um assassinato pelas mãos de um bêbado. É o que mais tem pelo Hyde, e sabemos disso...
– Eles identificaram o corte de espada - outra voz, dessa vez Clary a reconheceu como sendo de Blackwell, um dos amigos próximos de seu pai - não brincam em serviço, Sebastian. Se a própria Scottland Yard meteu suas unhas na investigação, há muito pouco do que você possa fazer.
– Posso matá-los - havia uma espécie de divertimento sombrio na voz do irmão dela - quem se aproximar...
– Já estão se aproximando, Sebastian - Pangborn o interrompeu - desculpe ser estraga prazeres, mas descobrimos tarde demais. Eles chegaram aqui em menos de minutos.
Clary sentiu que iria vomitar.
– O que posso fazer? - Sebastian perguntou.
– Esconda Clarissa onde os Homens de Azul não vão procurar... Porque eles vão atrás de você com todas as garras. A esse ponto devem saber tudo sobre o soldado de Valentim, e depois de você irão atrás do próprio com as cartas na manga para prender um dos maiores traidores da bandeira da Inglaterra.
Silêncio.
– Merda - Sebastian grunhiu - saiam logo daqui antes de Clary saia do quarto.
– O que vai fazer com ela? - perguntou Blackwell - E Jocelyn?
– Não me importo com Jocelyn, mas creio que nada ocorrerá com ela - uma pausa - Clary, porém, está muito ferrada. Temos que sair daqui.
– Vocês não vão conseguir. Fugir só piora as coisas.
– Cale a boca, Pangborn, eu não tenho opção. Vão, logo!
Passos apressados, cujo som foi distanciando-se de Clary.
Então silêncio.
Depois de um instante ouvindo só a própria respiração falha e preocupada, Clary ouviu o som de um único passo.
– Pode descer, Clarissa - disse Sebastian - sei que estava ouvindo.
Clary desceu tão rápido que quase tropeçou no próprio vestido.
– Scottland Yard? - gritou com lágrimas de desespero e medo ardendo nos olhos - que merda, Sebastian! Que merda, que merda, que merda!
Ele estava de pé, no meio do saguão. O cabelo prateado estava seco agora, e caía pelo rosto quase alcançando seus olhos negros como carvão. Encarou-a, imóvel, enquanto Clary socava as paredes e as colunas em surtos sem sentido. Raiva ardia no peito dela e se misturava com o medo de perder a própria vida e a de Sebastian.
Enquanto puxava os próprios cabelos e xingava ele, ela sentiu braços envolvendo-a com força. Sebastian aproximou-se rápida e silenciosamente. Seu abraço a impediu de bater mais nas coisas. Ela se acalmou ao escutar o coração dele contra o dela, e logo as batidas se tornaram únicas... Em mesma sintonia.
– Eles podem me levar - Sebastian disse com calma - e eu vou matar quem tentar.
Ela arregalou os olhos verdes dentro do abraço dele.
Sebastian continuou:
– Não quero que você veja isso, então é melhor você correr agora enquanto há tempo - afastou-se para encarar os olhos dela - você sabe onde fica a casa dos Lightwood, então vá correndo para lá. Pegue Wayfarer, não olhe para trás.
– Mas, Sebastian, você...
– Não pense em mim - havia uma espécie de dor enquanto ele falava, como se cada palavra fosse um punhal em seu peito - eu não existo mais. Provavelmente podem levar o papai. Serão só você e Jace. Acho que já privei muito do que você merecia ter, e privar você do irmão que eu fui todo esse tempo é o melhor a ser feito.
A superfície negra nos olhos de Sebastian começou a ficar embaçada, pois Clary não conseguia mais olhar nos olhos dele sem umidificar seus próprios. Ela ficou imóvel, enquanto seu irmão mais velho tirava algo das vestes e estendia para ela.
Uma faca, cujo cabo era encrustado com cristais e pedras preciosas. A lâmina era de prata, como o anel Morgestern em torno do dedo dela, e lembrava nada a menos do que Sebby.
Seu Sebby. Que curou seus ferimentos, que a defendeu quando ninguém mais o fez, que fez coisas ruins e coisas boas, que era um Demônio, mas que também era um Anjo...
Que poderia morrer por um crime que ela cometeu.
– Esta faca tem uma gêmea - ele sorriu - é minha agora. Sei que eu deveria pedir que você esquecesse da minha existência, mas... só lembre do anel. E de como você aprendeu as minhas iniciais.
Ela olhou novamente a lâmina da faca.
S. M.
Seus olhos enxeram-se de lágrimas.
– Já disse que te amo? - Sebastian perguntou.
Ela não conseguiu responder, soluços impediam que sua voz saísse da boca.
– Eu te amo - ele disse, perto dela. Muito perto dela.
Ela desejou que a beijasse, da forma mais errada e certa que alguém poderia. Se cometer milhões de erros como aquele impedissem que Sebby fosse preso ou morto, estava tudo bem para ela.
– Eu também te amo - ela conseguiu dizer.
– Ainda?
Olhou para ele, para seus olhos negros, para as covinhas que nunca tinha visto até aquele dia, para seus lábios, para sua pele. Tudo fazia parte dele, e parte dela. Para todos os efeitos, era seu irmão e ela sempre sentiria aquele tipo de amor por ele... Não importa quantas mentiras como essa teriam de ser contadas para si mesma.
Respondeu como se suspirasse.
– Sempre.
Com um único abraço, ela se afastou do irmão mais velho.
Caminhou até os estábulos, onde Wayfarer esperava para tirá-la de um sonho ruim.
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Queria pedir milhoes de obrigadas para a recomendação da linda Luchska