Os Guardiões escrita por Mariane, Amanda Ferreira


Capítulo 13
Ganho uma amiga dark


Notas iniciais do capítulo

;)



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Minha cabeça explodia na mesma intensidade que fogos de artifício. Abri os olhos, mas minha visão estava completamente embaçada. Com um pouco de esforço consegui reconhecer que voltei à enfermaria. Estava escuro, mas foi o suficiente para conseguir identificá-la. Quando tentei me mexer senti que meus músculos estavam rígidos a ponto de doer, mas mesmo assim forcei-me a sentar. Aos poucos minha visão foi aguçando e finalmente consegui enxergar direito ou o melhor que eu pude.

– Oi. – falou uma voz ríspida. Nicolas.

O ignorei e tateei ate encontrar na cômoda um copo de água. Ao achar tentei erguer, mas minha mão apenas tremia e para minha infelicidade o copo caiu.

– Droga! – resmunguei.

– Tem outro copo do lado. – falou e acendeu a luz me fazendo xingar palavrões mentalmente.

Peguei um pouco contrariada e resmunguei um agradecimento.

– O que? - ele perguntou saindo da sua posição perto da porta e vindo para perto da cama.

– Obrigada. – falei quase rosnando.

– De nada. – falou sorrindo secamente e com um certo "bom-humor".

Respirei fundo bebendo vários goles.

– Agora estamos quites. - falou olhando rapidamente para mim.

– Como? – perguntei confusa.

– Se eu não tivesse te segurado pode ter certeza que você teria caído uns três lances de escada... – falou presunçosamente – E estaria muito pior.

– Humpf! – resmunguei – Obrigada, de novo.

– Seria maldade deixar você morrer assim.

Ergui a cabeça e encontrei um par de olhos azuis que pareciam divertidos agora, bem diferentes de quando estava gritando comigo no corredor. Por um momento muito idiota eu sorri feito uma retardada e ele apenas deu um sorriso torto em resposta.

Recompus-me e joguei as pernas para fora e tentei ficar de pé, mas sua mão agarrou meu pulso me voltando a cama.

– Não se esforce tanto. - falou com uma voz paciente e tão gostosa que fiquei olhando-o como se visse uma miragem. Meu cérebro trabalhava tão devagar que nem me dei conta de que estava com a mão agarrada na sua calça jeans.

Ele ergueu uma sobrancelha e vi seus olhos ganharem um tom de preocupação quando fiquei quieta.

– Eu vomitei toda minha comida. - falei a primeira coisa que pensei. E a coisa mais obvia que eu podia ter dito.

– Na verdade. - ele sentou-se ao meu lado e eu puxei minha mão para o colo. - Não vomitou sua comida.

– Mas eu me lembro de ter vomitado ou foi parte da minha loucura? - olhei para o chão claro.

– Você vomitou sim. Vomitou... - ele se interrompeu e eu o olhei esperando a continuação. - Vomitou sangue.

Depois de fazer meus cálculos mentalmente e concluir que vomitar sangue não é nada bom, cheguei a algumas opções. Pode ter vários significados... ruins, como:

a) Você está com uma infecção muito forte

b) Você está tendo uma hemorragia

c) Tem sérios problemas de estomago e precisa de cirurgia

d) É um vampiro

Talvez o meu caso fosso uma raridade: Psicose de raiva e retardadíssimo.

– Merda! - resmunguei.

– Vou chamar a enfermeira, dona Resmungona. Já volto. - falou quase docemente o que me deixou confusa e saiu em seguida fechando a porta com cuidado.

Tratei de me distrair, mas nada deu certo. Tudo o que eu conseguia pensar era no maldito sonho e no que poderia significar. Estava claro que não passava de um fruto da minha imaginação, mas e se não fosse?

Depois de remoer o que pareceu ser uma eternidade a pergunta na minha cabeça, finalmente a enfermeira apareceu.

– Como você está querida? – perguntou uma enfermeira meio gorducha, pele escura cor de chocolate, olhos negros feito a noite e um sorriso amigável. Infelizmente o Nicolas não tinha voltado com ela. Quer dizer... ainda bem!

– Muito bem... obrigada. – procurei seu nome, mas não estava no crachá. – Hum...

– Marie. - respondeu quando me viu olhando para sua roupa branca.

– Marie, posso voltar para o meu quarto?

Depois de um check up total ela finalmente deixou que eu fosse. Assim que sai percebi que Nicolas continuava lá apesar de não ter entrado com Marie, ele havia ficado esperando do lado de fora.

– E aí? Por que está aqui?– perguntei sem pensar. Mas era verdade, não tinha motivos para ele ficar.

– Eu... - ele vacilou e se desencostou da parede. - Não é todo dia que eu vejo garotas vomitando sangue.

Assenti frustrada. Estava esperando que ele dissesse algo como: Fiquei preocupado. Ou talvez: Me desculpe por ter sido um idiota!

– Amanhã as sete? - foi isso o que ele disse quando fiquei muda olhando para o corredor.

– Amanhã as sete. – confirmei em desanimo.

Me virei para seguir para o meu quarto, mas ele me parou me puxando pelo pulso. Senti uma leve corrente elétrica ao seu toque inesperado.

– Ah... - começou. - Fica bem.

– Vou tentar. - fiz uma careta.

Segui para o quarto ainda pensando no motivo do porque o Nicolas resolver dar um de cavalheiro e em como ele muda de humor tão rápido. Bipolaridade 100%.

Ao entrar no quarto a Inquisição Espanhola me esperava.

– Estou com dor de cabeça, meu salto quebrou e acabo de voltar de uma discussão feia com Nicolas seguido de uma visita nem um pouco amistosa na enfermaria. – resmunguei da forma mais rude que consegui – Eu definitivamente não vou dar uma palavra com vocês.

Yve trocou um olhar com a Leninha e não fiquei esperando elas discutirem. Entrei no banheiro sem coragem de encará-las por mais tempo. Depois de tomar banho sai lentamente vestindo um pijama de algodão e me joguei na cama sem pensar duas vezes. E pela primeira vez desde que cheguei à Kince Joyce eu não tive pesadelos nem mesmo sonhos. Somente uma noite sem nada.

Acordei sobressaltada com o barulho do despertador. Mecanicamente me levantei e chequei o tempo pela janela. Não estava chovendo, mas ficou obvio que o vento estava incrivelmente forte. Quando voltei, percebi que as camas de Yve e Leninha estavam vazias. Um pouco chateada tive que dá-las razão. Elas tinham todos os direitos de estarem bravas. Minha grosseria na noite anterior foi imperdoável.

Fui pro banho completamente desanimada e tentei me concentrar para não começar a chorar. Ao sair, me enrolei na toalha e entrei no closet. Já vestida de lingerie tratei de procurar uma roupa. Peguei uma calça jeans um pouco rasgada, minhas botas de couro marrom e uma blusa que era simplesmente a minha favorita, para ser exata, a blusa era da minha mãe. Listrada, azul e bem folgada. Por fim pus um brinco de timão e um colar de moedas.

Me olhei brevemente no espelho. Parecia melhor do que na noites anteriores, sem olheiras ou com cara de morta. Meus cabelos se mantinham num ruivo intenso e ondas desdenhosas. Os meus olhos brilhavam e por um momento me senti extremamente bonita.

Assim que sai do quarto reparei que eu estava completamente atrasada para a aula de física e no mesmo momento comecei a correr em disparada. Assim que cheguei à sala quase não pude entrar, pois um segundo depois o sinal tocou.

A sala já estava cheia e o único lugar vago era do lado de uma garota cujo o rosto eu nunca tinha visto. Ela tinha cabelos cacheados e volumosos de um preto profundo e muito forte. Os olhos eram de um azul frio e ao mesmo tempo aconchegante. O rosto era anguloso e por algum motivo achei muito familiar. Ela exibia um sorriso fofo, mas que em seu rosto para os garotos podia ser caracterizado como extremamente sexy.

Assim que me viu encarando o lugar ao seu lado levantou-se e mudou para o lado da janela recolhendo seus pertences. Ela estava bem vestida, suficiente para perceber que não estávamos muito longe socialmente. Vestia um vestido jeans de botões, um cinto preto com um laço brilhante, um salto preto com furinhos, uma meia calça de bolinhas, brincos com pedras pretas. Tudo em cores escuras que deixavam seus olhos cada vez mais bonitos e chamativos.

Aproximei-me e sentei logo em seguida ao seu lado. Ela tinha um perfume forte e provavelmente caro que me deixou estranhamente tonta, mas ignorei isso e dei um longo suspiro

– Oi. – falou me olhando de esgueira e por um segundo me lembrei de alguém irritante.

– Oi. – respondi sem entusiasmo. Por algum motivo àquela voz me fez tremer. De onde eu a conhecia? Tinha certeza que conhecia, mas da onde eu não sei.

– Qual é o seu nome? - perguntou se virando um pouco para o meu lado.

– Katherine. – respondi e ela esbugalhou levemente os olhos, confusa tentei ignorar isso. – E o seu?

– Margareth. – falou com um obvio nojo na voz – Mas se você tem algum espírito jovem me chame apenas de Maggie, pelo amor de Deus! Margareth é o cumulo do mal gosto.

– Não acho. – falei com sinceridade. – Por uma graça meu nome não acabou sendo Matilde. Prefiro muito mais Margareth. Mas de qualquer maneira ainda ganhei um nome clássico das antigas.

Ela deu de ombros e concordou, afinal de contas que mãe sã daria o nome de Matilde a uma filha.

– É um lindo nome. - falou dando um sorrisinho. - Katherine, nome digno de uma guerreira.

– Obrigado. - corei um pouco. - Mas se quiser pode me chamar de Kate.

Assentiu dando seu sorriso fofo.

Instantaneamente gostei de Maggie. Apesar da aparência de boneca sexy, ela era uma garota completamente dark e tenho que admitir... muito engraçada. Ficamos falando na aula toda e por uma tremenda sorte do destino ela pegou o mesmo horário que eu. Por fim, já nos tratávamos como melhores amigas e assim que saímos da sala fiquei com tremenda curiosidade sobre sua vida.

– Me conta um pouco de você. – pedi.

– O que você quer saber?

– Me conte tudo o que você puder.

– Ok. – falou revirando os olhos e fazendo uma expressão de quem tentava pegar coisas importantes. – Eu sou originalmente inglesa, mas já morei nos quatro cantos do mundo. Itália, França, Índia, Los Angeles, Nova Iorque... Meu pai é um arquiteto muito procurado, minha mãe é do tipo: ‘Amo torrar dinheiro’. Tenho dois cachorros: Zeus e Atena... acho que é só né!?

– Ah! Você não me contou a melhor parte. – resmunguei.

– Qual?

– Como você veio parar no inferno. - olhei em volta e depois para ela.

Ela gargalhou, uma risada graciosa e meio... escandalosa, mas ainda assim bonita. Se aproximou de mim sussurrando como se fosse estritamente confidencial.

– Eu fiquei bêbada e fiz um striper nas bodas de prata dos meus pais. – confidenciou e eu não pude conter o riso.

– Você é... nem sei o que dizer.

– Diga... adorável. - sorriu mostrando dentes perfeitos e brancos. - Agora me conta sobre você. Tudo o que puder lembrar.

Tentei pensar e o resumo da minha vida seria: Nunca conheci minha mãe, mas recentemente tive um sonho com uma maluca que diz ser uma deusa e que minha mãe é sua irmã fazendo assim, dela uma deusa também. Meu pai nunca me vê, está sempre ocupado contando seu dinheiro ou fazendo mais negócios. Tenho duas amigas que tenho venho tratando-as muito mal e não me surpreende se elas estiverem me odiando agora. Tem um garoto maldito que mexe comigo cada vez mais e por fim... sou uma maluca em serie. Literalmente.

Mas conclui que isso faria ela correr de mim ou me mandar para a enfermaria de novo, então disse:

– Perdi minha mãe quando criança. Meu pai está sempre trabalhando. Adoro compras, animais, livros. Sou uma consumista e amo viajar. Britânica de natureza e meio louca... as vezes.

Ela assentiu e continuou me olhando como se esperasse mais. Então se virou e continuamos a andar.

– Sabe Kate, as vezes não conhecemos tudo que temos ou tudo o que somos. Mas uma hora outra somos obrigados a saber.

Parei por um segundo para pensar. Não sei porque, mas isso me soou como se ela já tivesse ouvido falar de mim.

– É. - concordei. - As vezes não conhecemos mesmo.

E só os céus sabem do que estou falando. Talvez eu não conheça a mim mesma e nem a minha família, mas por outro lado... as vezes, alguns segredos são melhores guardados. E podem acreditar. Eu sou a prova viva disso.


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Notas finais do capítulo

Kate: http://www.polyvore.com/kate_conhecendo_maggie/set?id=122177646
Maggie: http://www.polyvore.com/maggie/set?id=122180557



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