This is not a fairy tale escrita por Lice Lutz


Capítulo 3
Três: A Fera


Notas iniciais do capítulo

Desejo a todos uma ótima leitura!



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Anoitecia.

Ela podia sentir a escuridão envolvendo-a em suas garras. Podia sentir seus dedos, seu toque frio e trêmulo e seu sussurro inapreensível.

Ela ouvia um milhão de vozes. Algumas mais altas do que outras, outras mais animalescas que humanas. Mas havia o silêncio e ela podia senti-lo também. Ela sabia o que estava por trás da ausência de expressão. Havia medo, dor, angustia e desejo.

Um desejo gritante, maior do que todos os sons, ainda que não produzisse ruído algum, podia ser muito bem visto. Ele era cinza de bordas douradas, pontilhado por um vermelho proibido e perigoso, misturando amor e morte.

Ela podia sentir tudo, mas na realidade não sabia nada.

Então abriu os olhos. E gritou, mais por instinto do que necessidade, procurando se esquivar do homem que havia invadido sua cela. De início, ele tentou segurá-la, mas ela teve sorte e conseguiu fugir dele. Vendo que continuar a perseguição apenas a deixaria mais assustada e ferida, o homem então largou a varinha e ergueu suas pálidas mãos em um claro gesto de rendição.

–Eu não vou te machucar! Eu não vou te machucar! – ele disse rapidamente.

A garota, ofegante pelo esforço de fugir, encostou-se na parede e apenas encarou o homem, que permaneceu parado com as mãos erguidas. Porque ele havia largado a varinha, ou porque ela viu nos olhos dele o mesmo medo e desconforto que sentia por estar ali, ela acreditou nele. Ele não iria machucá-la, ela sabia, apesar de suas roupas estarem cobertas de sangue.

–Quem é você? – ela perguntou.

O homem abaixou as mãos e se ajoelhou, aproximando-se um pouco de sua varinha, apesar de não tencionar pegá-la.

–Eu sou um curandeiro. – vendo a confusão da garota, apressou-se em emendar: - um médico, como vocês dizem. Eu estou aqui para curar você. Eu estava fazendo isso, até você acordar...

–Me curar? Por que você faria isso?

O homem hesitou um pouco antes de responder.

–Ordens do senhor Malfoy.

A garota nem se preocupou em saber quem seria o tal do senhor Malfoy. Não ser o tal do Lorde já era um alívio.

–Mas por que ele pediu isso?

Desta vez, o homem realmente ficou embaraçado e seus olhos encheram-se de medo e pena.

–Eu não, eu não... sei... Ele apenas pediu que eu te deixasse o mais saudável possível até a meia noite, sarando todos os seus ferimentos e te dando comida. Depois, depois você deve vestir este vestido e alguém vem aqui pra te buscar.

–E me levar pra onde?

–Não, menina, eu não sei. Apenas me deixe fazer o meu trabalho, está bem?

Sem poder fazer mais nada, ela apenas assentiu e deixou o médico curar todos os seus ferimentos. Depois disso, com um breve aceno com a varinha, ele fez, literalmente, surgir do nada uma banheira. Ele lhe deu licença para que ela se banhasse e trocasse de roupa.

Ela não se sentia assim, bem e limpa há dias, mas isto não lhe trazia conforto algum. Pelo contrário, ela tinha um terrível pressentimento: por que, afinal de contas, depois de quase a matarem, eles estariam lhe dando tudo isso?

Aquelas pessoas só podiam estar tramando alguma coisa horrível. Provavelmente iriam usá-la em algum ritual macabro ou transforma-la em alguma coisa metade humana, metade animal e com poderes totalmente das trevas.

Ela só podia esperar que todo o processo resultasse em uma morte rápida.

De repente, assim como a banheira surgira e depois desaparecera do nada, um prato de comida apareceu no canto da sua cela. Faminta, ela correu para pegar o pote de barro, mas assim que viu o conteúdo, imediatamente largou-o, espalhando as entranhas e patas de rã e um caldo verde asqueroso por toda cela. O cheiro da coisa que ela deveria comer chegou até seu nariz muito sensível e ela vomitou o nada que tinha no seu estomago.

Ótimo, agora ela dormiria nadando em uma poça de vomito e sopa de rã. Mas pelo menos estava limpa e cheirosa em um vestido longo de seda pura e rendas chinesas.

Ela riu com amargura e ao seu riso se juntou um som que misturava uma risada humana e um latido. Virando-se em direção ao som, ela deu de cara com um dos lobisomens que a haviam sequestrado. Ele a olhava de cima a baixo, com olhos desejosos e passando a língua pelos seus dentes afiados.

–Pena que não sou que vou comê-la. – ele disse, antes de abrir a cela e arrastar a garota de lá.- Você cheira tão bem... Sua carne é tão macia... Um completo desperdício dá-la a um humano. Mas o Lorde concordou em dar uma recompensa para um dos Malfoy, que tão amavelmente estão nos recebendo em sua casa... Blábláblá... – o lobo continuou reclamando até que chegassem ao topo da escada, mas a garota não o escutava.

Ele havia dito que alguém ia comê-la. Na atual situação em que se encontrava, ela não sabia se interpretava isso de modo literal ou naquele sentido nojento que às vezes os garotos diziam que tinham estado com uma mulher. Ela se sentia um pouco tonta diante do pânico que isso a dava. É claro, eles iriam viola-la de todas as maneiras possíveis. Era por isso que tinham a mandado vestir aquela roupa...

Ela parou de andar. Um pânico imenso gelava todo o seu corpo, mas por dentro ela fervia. Ela odiava aquele lugar. Odiava aqueles lobos que haviam matado o seu pai e que agora a arrastavam para mais um tipo de tortura. Odiava o tal do Lorde que permitia e se divertia com suas sessões de tortura. Odiava aquele garoto dos olhos cinza que, apesar de não tê-la torturado, também não fizera nada para ajuda-la. Odiava também quem havia a ajudado, aquele curandeiro que a deixara perfeita para servir de boneca sexual do senhor Malfoy. Odiava este também, que agora a encarava do topo da escada, com inexpressivos olhos cinza como os daquele outro.

Diante dela não estavam apenas os olhos daquele garoto, mas ele inteiro. Ela demorara um pouco para reconhecê-lo, porque da primeira vez que o vira estava completamente tonta e num ambiente escuro. Ele estava impecavelmente vestido em um terno todo preto de corte muito caro. Seu cabelo estava alinhadamente penteado e brilhava como ouro puro. Toda sua postura estava diferente: ele estava completamente rijo, tão impassível e frio quanto um iceberg poderia estar, se tivesse o mínimo de vida. Seu rosto era uma máscara de ângulos másculos e perfeitos, que lentamente se desmanchava em um sorriso desprovido de tanta emoção quanto o de um inescrupuloso assassino.

–Você está perfeita. – o som de voz apagou dela toda a raiva ardente que sentia. Apenas o medo permaneceu. Ela se deixou puxar por ele complemente inerte. – E está noite você será minha. – ele sussurrou no ouvido dela. Ela estremeceu.

O senhor Malfoy se virou então para o lobisomem que a levara até ali e que ainda a encarava lambendo o benços: - Arrume algum tipo de recompensa para o curandeiro e avise a todos para não pisar neste andar. Quero privacidade.

Ele nem mesmo esperou a resposta do lobisomem. Apenas arrastou a garota para dentro do quarto e bateu a porta atrás de si.

Ela mal teve tempo para registrar o ambiente em que estava. Tudo que ela via era borrões de prata e verde, enquanto era jogada na parede e o senhor Malfoy rasgava suas roupas. No começou, ela tentou se libertar dele, debatendo-se e chutando-lhe e arranhando-lhe onde conseguia. Mas era tudo inútil: ele parecia ser feito de ferro e não sentir dor. Então ela começou a chorar e gritar, mais por desespero e impotência do que por estar sentindo dor.


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Notas finais do capítulo

Saudações, bruxões!

Então, o que acharam? Estão muito putos com o sr. Malfoy?
Se sim, bem, peço um pouco de condescendência para com ele e... Bem, aguardem os próximos capitulos. E só pra avisar: essa não será a única vez em que vcs vão querer matar ele.

Anyway, até o próximo capítulo e muito, muito beijos...
Lice.



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