This is not a fairy tale escrita por Lice Lutz


Capítulo 2
Dois: O príncipe.


Notas iniciais do capítulo

Desejo a todos uma ótima leitura!



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Amanhecia. Os raios de sol atingiam-lhe os olhos como se fossem brasas. Estava tão acostumada à escuridão que luz agora a afligia. Mal se atrevia a pensar do que mais que aquelas pessoas eram capazes. Por que eles não a matavam afinal? Onde estavam as boas e velhas armas de fogo que acabariam de uma vez com tudo aquilo?

Haviam impelido-a a sentir tanta dor, que tudo nela estava mais sensível. O movimento das pessoas a dois andares acima dela a fazia tremer. A luz torturava seus olhos. Os cheiros eram muitos, desconhecidos e misturavam-se de um jeito que a faziam se sentir enjoada. O que haviam feito com ela afinal?

Ela podia ouvir também o que acontecia do lado de fora da mansão dos horrores. Um suavissímo crack ecoara e em seguida ouviu-se um baque, como alguém aterrissando. Dois passos, uma insignificante pausa. Tecido sendo erguido. Mais passos. Doze. Duas portas sendo abertas, uma dois andares acima, a outra, na sala em que ela estava. Em seguida, dor. E gritos.

Alguns vinham dela própria. Outros, num tom de insana satisfação. E mais alguns de uma voz masculina que ela ainda não havia escutado.

– Que diabos está acontecendo aqui? - bradou a voz - Ah meu Deus! - isso, ele disse em um sussurro - Quem estão torturando agora? - perguntou ele, num quase grito, alto o suficiente para que sua torturadora também ouvisse.

Ainda com a varinha apontada para ela, a torturadora de cabelos negros e muito fartos dirigiu-se até a porta.

– Venha até aqui ver por si mesmo, Draco. - convidou ela, em um tom animado.

Draco, o dono da voz, foi. Subiu muito lentamente as escadas. E quando finalmente adentrou na sala, estancou ainda na porta. Nunca se acostumaria com aquele tipo de visão, afinal. Parecia que a sala havia ganhado uma nova decoração toda em vermelho. Toda feita de sangue. Havia pegadas vermelhas por todo o assoalho, respingos de sangue nas paredes. E no meio da maior poça, próxima a janela, havia uma garota.

Ela estava de costas para ele. Os cabelos escuros grudados na coluna feita de retalhos de pele sangrentos. Um dos braços também muito machucados cobria os olhos, protegendo-os da luz do amanhecer. O único indício de que a garota ainda estava viva eram os gemidos que ela emitia baixinho.

– Por que estão fazendo isso com ela? - Draco perguntou numa voz fraca.

Sua tia, Bellatrix, aproximou-se dele, sorrindo.

– Esta trouxa - começou ela. Um aceno com a varinha e sala encheu-se de gritos outra vez - matou Lawcreff.

Lawcreff, um dos lobisomens. Draco nunca gostou muito deles. Eram absolutamente instáveis e não confiáveis. A garota talvez havia feito um favor.

– Então por que não a matam de uma vez?

Bellatrix sorriu outra vez.

– Ah, o Lorde das Trevas disse para fazermos o que quiséssemos com ela, então estamos nos divertindo. - ela dizia isso num tom totalmente casual, como se estivesse contando sobre as ultimas compras que fizera - Mas eu levo isso a sério também, sabe, Draco querido. Estou encarando isso como um treino. Uma prévia do que vamos fazer quando Potter e seu bando for pego. Eu sei, é o Lorde quem deve matá-lo, mas isso não impede que façamos o garoto pagar pelo que fez.

Draco não respondeu, voltou a encarar a garota.

– Já não acha que é o suficiente? - indagou outra vez - Digo, se querem continuar a se... A torturá-la mais, não é melhor pararem um pouco? Não parece que ela vai aguentar por muito tempo.

– Tem razão, tem razão, vamos parar um pouquinho. - respondeu a tia, em um tom que lembrava uma criança mimada que tinha o seu brinquedo confiscado - Mas a gente volta depois. Vamos, vamos limpar essa sala, para que não se contamine com o sangue podre dessa garota. - ela fez um aceno circular com a varinha e todas as manchas vermelhas desapareceram. - Leve a garota lá para baixo, querido. - ordenou, já se retirando da sala - Estou faminta.

Draco esperou a tia se retirar da sala para então se aproximar da garota. Ele caminhou muito vagarosamente. A garota estremecia a cada passo seu e a grande colcha de retalhos que era a sua coluna parecia pior conforme ele se aproximava. Como a transportaria dali? Não era muito bom com aqueles feitiços de levitação e Draco temia que, se mais um feitiço fosse aplicado a ela, por mais insignificante que fosse, poderia matá-la.

Havia ouvido dizer - na verdade, ouvira dois comensais comentarem entre si entusiasmados - que um feitiço aplicado a um trouxa tinha um efeito seis vezes mais forte e cessava com igual rapidez do que quando aplicado a um bruxo. Era um milagre que essa garota ainda estivesse viva. Pensando bem, na verdade isso era uma maldição. Eles a torturariam até matá-la e antes disso enlouquecê-la, como Bellatrix já havia feito antes.

Draco maneou a cabeça, dispersando aqueles pensamentos. Não eram problema seu, afinal. Idiota fora a garota que ousara matar um bruxo. Estava pagando por aquilo. Estava pagando demais por aquilo. Draco precisava tirá-la dali, era a única coisa que tinha que fazer.

Não era muito bom com feitiços de levitação, mas sabia muito bem como curar ferimentos. Apanhou a varinha e então começou a fechar, ainda que superficialmente, os maiores cortes que cobriam a coluna da garota. Curou também alguns hematomas esverdeados e roxos. Alguns eram pretos e estes ele sabia que não estavam ao seu alcance sanar - indicavam ossos fraturados. Quando achou que era o suficiente, ao menos para carregá-la sem acabar com um pedaço de sua carne nas mãos, acenou com a varinha outra vez, para limpar a pele dela. Se aproximou mais e tocou sua pele muito quente, virando-a para si.

Então a garota finalmente reagiu ao seu toque. Havia antes ficado muito quieta, oscilando entre a cruel realidade e a obscuridão tranquila da inconsciência. O toque de Draco a havia despertado de alguma forma. Da maneira errada. Temerosa, ela gemeu baixinho e tentou se afastar. O movimento brusco fez com que algumas de suas feridas se reabrissem. Draco fez menção de se aproximar, para sanar novamente os machucados, mas a garota se afastou mais, tentando inutilmente se levantar, ela disse com a voz muito rouca:

– Não ouse apontar essa coisa para mim novamente.

Draco não conseguiu impedir-se de rir debochado.

– E o que você vai fazer para me impedir?

A garota estava novamente deitada no chão, mas encarava Draco com determinação. Por trás do temor que havia em seus olhos, diante de tudo aquilo que estava sendo submetida, existia um brilho intenso de vida. Ela morreria lutando, Draco concluiu. Não imploraria pela morte. Ao contrário, a encararia de frente.

Suas suspeitas se confirmaram com o que a garota respondeu:

– Pergunte aos seus amigos lobos o que eu já fiz.

Draco riu novamente. Dirigiu-se até ela, já a erguendo em seus braços. A garota tentou libertar-se dele, mas o esforço foi-lhe demais. Ela desvaneceu. Draco então a acomodou melhor e desceu suavemente as escadas que levavam ao porão, agora subdivido em repartições separadas por grades. Quase todas estavam ocupadas. Os prisioneiros apenas o observavam estáticos e encaravam a garota em seus braços com um misto de pena e solidariedade. Draco continuou sua caminhada até a ultima cela do corredor sem olhar para eles. Podia sentir os olhares sobre si, mas não se importava com isso.

Depositou a garota delicadamente no chão da cela que ainda tinha o sangue de seu ultimo habitante. Ele ficou ali parado, observando-a recobrar os sentidos novamente. Não podia deixar de se admirar com a força dela. Quando ela abriu os olhos, escuros e penetrantes, imediatamente seus olhares se cruzaram. E tão rápido como haviam se encontrado, perderam-se. A garota ergueu um pouco a cabeça para olhar ao redor. Percebeu onde estava e soltou um riso frouxo, insano. Depois ela agarrou a própria camisa com força e a puxou.

Apenas de sutiã e com a pele toda vermelha e marcada, ela deitou no chão da mínima cela retangular e soltou um suspiro de alivio. O chão frio anestesiava um pouco a dor. Draco continuava ali, olhando-a.

– Pois não? - perguntou ela, insolente. Seu tom fez Draco sorrir.

– Você é uma trouxa. C... - ela interrompeu-o.

– É, me chamam disso por aqui.

– Você sabe o que isso significa?

– Muda alguma coisa eu saber?

– Justifica tudo isso.

A garota não respondeu. Tentava se levantar para poder encarar aquele estranho garoto loiro. Ele era obviamente um deles, mas não estava tentando torturá-la. Caminhava em direção a ela, aquela coisa de madeira fina e comprida em punho, mas ela sabia que ele não ia machucá-la. Ele se ajoelhou, comprimindo-a ainda mais no minúsculo espaço. Não fez menção de fechar as grades, sabia que ela estava fraca demais para conseguir fugir. Draco se aproximou um pouco mais. Seus olhos automaticamente se prenderam uns nos outros.

– Como você matou Lawcreff? - Draco perguntou baixinho.

Sem desviar o olhar, a garota respondeu com certo orgulho:

– Enfiei essa coisa de madeira - ela apontou com o queixo para a varinha de Draco - no peito dele. Ele matou meu pai.

Draco ergueu as sobrancelhas, surpreso. Estava explicada então a crueldade com que estavam torturando-a. Mas tudo aquilo talvez se provasse inútil. Bellatrix não conseguiria enlouquecê-la. A garota já era maluca e não tinha medo de morrer. Admirável.

Tanto, que Draco riu.

– Você daria uma bela grifinória.

A garota estreitou os olhos. Parecia ofendida.

– Grifinória é sua mãe. - respondeu ela.

– Não, querida. - retorquiu Draco, aproximando-se mais. Um sorriso torto e divertido em seus lábios. Sem dúvida conversar com essa garota era mais interessante que torturá-la. - Ela é sonserina.

Finalmente ambos não sabiam mais o que dizer. O silêncio que se seguiu era quebrado somente pela respiração descompassada da garota e pelos gemidos e reclamações dos outros prisioneiros.

Mas dentro da cabeça de Draco havia muito mais. Gritos, angustias, conflitos, impossibilidades, medos, tentativas e erros frustrados, recriminados e irremediáveis antes mesmo de se tornarem concretos. E acima de tudo, a causa de tudo: ela. A garota trouxa que matara um bruxo com sua própria varinha, que fora torturada por dias e que tinha os olhos mais profundos e destemidos que Draco já havia visto e que não deveria querer voltar a ver e que já não o estavam encarando mais.

Mas quem se importa apenas com os olhos? Usando apenas um sutiã e calças quase que completamente rasgadas, os olhos de Draco é que se enchiam com tal visão. Nem mesmo os profundos cortes e sujeira que danificavam sua pele, conseguiam esconder as curvas sinuosas de seu corpo. Olhando um pouco mais para sua pele, ele quase podia sentir sua textura macia em suas mãos, que ardiam em puro desejo de realmente tocá-la.

Draco então cerrou os punhos e fechou os olhos, bloqueando todos esses pensamentos. Por Deus, essa garota era uma trouxa. Eles iriam fazer o que quisessem com ela até finalmente matá-la. Não havia nada que ele pudesse fazer.

Havia tudo o que ele queria fazer.

Mas ele apenas virou as costas e saiu do porão agora transformado em prisão.


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Notas finais do capítulo

Então então então, o que acharam do meu príncipe?
Por favor, por favor, digam o que estão achando. Eu preciso muito muito muito saber a opinião de vcs. Se vcs estão gostando ou não, se acharam tudo isso uma porcaria inutil que não precisava existir, se vcs quiserem me xingar, contar problemas da vida e do coração... Por favor, me digam. Estou aqui para ouvir vcs!

Beijos mágicos,
Lice ;**



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