Bring Me Back To Life escrita por Elizabeth Watson


Capítulo 5
Capítulo 5.




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Oliver me levou até a Starbucks depois de eu ter comentado que tudo o que eu menos queria naquele momento era voltar para a casa. Sentamos-nos em uma das mesas na parte externa e dez minutos depois eu estava me deliciando com um frapuccino coberto por creme enquanto Oliver bebia um mocha também coberto por creme.

–Cara, sem querer parecer estranha nem nada, mas eu sou uma grande adoradora desses frapuccinos cobertos por creme da Starbucks. Na verdade eu sou uma grande adoradora da Starbucks em si. - comentei.

–Espere, eu estou ouvindo uma onda de revolta entre os punks? - ele brincou fazendo-me dar uma risada fraca.

–É, acho que eles estão dizendo que sou uma péssima cidadã que se entrega aos prazeres fúteis do capitalismo.

–Você é uma cidadã cega, minha cara.

–Devo ser. - rimos mais.

–Mas, só entre nós... – ele baixou o tom de voz, olhando para os lados, verificando se era seguro dizer. - eu também sou um grande adorador da Starbucks. Shh, - colocou o dedo indicador nos lábios. - não deixe os anticapitalistas saberem.

–Seu segredo está a salvo comigo, meu caro.

–Ótimo.

Um grupo de punks invadiu a fachada da loja e entre as dezenas de moicanos de inúmeras cores e roupas de couro alguém no meio da multidão disse em um alto falante:

–Não se entregue ao prazer fútil do capitalismo! Você pode fazer seu próprio café em casa! Diga não ao capitalismo! Diga não à Starbucks!

Oliver e eu nos olhamos por dois segundos e começamos á rir como loucos!

–É melhor nós pagarmos e irmos embora. - Oliver disse terminando de rir e bebendo o que sobrara do seu mocha.

–Sim, é melhor. - concordei e terminei meu frapuccino.

Pagamos a conta. Os funcionários pareciam de certa forma incomodados ou com medo pelo protesto dos punks lá fora e nos disseram que eles iam fechar a loja por segurança. Mas sinceramente, acho que não era necessário já que o protesto era pacífico, mas enfim.

Oliver abriu a porta da caminhonete para eu entrar e depois foi ao banco do motorista, mas não deu partida.

–O que foi? - perguntei levemente confusa.

–Tá bom, eu tenho que te contar isso antes que você descubra e me faça atirar o carro numa valeta no meio da rua e bater a cabeça no volante por conta dessa caminhonete não ter airbags.

–O que foi? - repeti.

Ele suspirou e bagunçou os cabelos loiros, como fazia quando ia me contar algo difícil.

–Eu sei que você disse para eu parar de fumar e tudo o mais, mas eu não consigo parar. Simplesmente não consigo. Pode brigar comigo se quiser, mas eu vou continuar fumando. Desculpe Sarah.

Suspirei. O fato de Oliver fumar realmente me incomodava, mas a vida era dele e eu não poderia fazer nada para impedi-lo se ele realmente quisesse fumar.

–Tudo bem, eu não vou brigar com você. Se quiser fumar, fume, a vida é sua.

–Sério?

–Sim.

–Uou, obrigado.

–Eu só queria saber o porquê, só isso.

–Bem, a maioria das pessoas fuma por prazer. Eu fumo para morrer. - ele parecia ligeiramente triste. - Enfim, vamos esquecer isso. Como não teremos aula o resto da semana tenho uma proposta para você.

–E qual seria?

–Ir para a casa de campo dos meus avós. Eles foram viajar e deixaram a chave comigo, disseram que se eu quisesse usar a casa poderia usar, sem fazer bagunça, é claro.

–Proposta interessante... Quando?

–Hoje.

–Hoje?!

–Sim.

Pensei em ter que passar o resto da semana com os meus pais. A proposta de Oliver me parecia mais e mais atraente... Eu poderia inventar que iria viajar durante a semana com uma amiga. Eles engoliriam, eu sei disso.

–Tudo bem. Agora?

–Agora?!

–A proposta foi sua, senhor Fedrizzi.

–Tudo bem, agora. Mas, não agora, tipo, agora. Eu te deixo na sua casa, você arruma as suas coisas, eu vou pra minha casa e arrumo as minhas, você me liga e a gente se encontra aqui, tá bom?

–Tá ótimo! Anda logo!

Ele girou a chave na ignição e saiu do estacionamento. Ele me deixou em casa e disse para eu não demorar muito. Eu estava tão animada por passar o resto da semana fora de casa que cheguei a cantar uma música um tanto animada enquanto arrumava as malas.

Minha mãe bateu na porta e entrou quando eu fechei a capa do violão e estava pronta para sair do quarto.

–Sarah, onde você vai?

–A escola nos liberou essa semana então uma amiga me convidou para passar o resto da semana com ela no campo. Tudo bem eu ir?

–Sim, tudo bem. Volte até o domingo, ok? - me entregou uma lanterna vermelha. - O campo não tem iluminação, o que é uma maravilha de noite, mas, se você precisar de luz, não terá que se preocupar. Tchau.

–Tchau.

Desci as escadas correndo o quanto dava com uma mala e um violão na mão e sai pela porta.

Virando a esquina para o estacionamento da Starbucks liguei para Oliver. Ele atendeu na primeira chamada.

–Oi. Já arrumou suas coisas?

–Já estou no estacionamento da Starbucks, querido. Espero que esteja á caminho.

–Em mais ou menos cinco minutos eu chego. Tchau antes que eu leve uma multa por dirigir falando no celular.

–Tchau. - desliguei.

Após os cinco minutos mais longos da minha vida vi a caminhonete cabine dupla de Oliver virando a esquina e uma felicidade de que eu não fazia ideia de onde veio me invadiu.

–Oi. - disse entrando e jogando minha mala e meu violão no banco de trás junto com a mala de Oliver.

–Oi. Tem certeza que quer fazer isso?

–Ah cara, para de brincadeira e vamos logo!

Ele riu e deu partida. Coloquei o cinto e me permiti ligar o som. Asleep do The Smiths estava tocando e é apenas uma das melhores músicas para se ouvir quando se está viajando.

–Então, vai tocar uma das suas composições para mim nesse violão? – Oliver perguntou me olhando pelo retrovisor.

–Talvez sim, talvez não... Veremos.

–Deus! Como eu odeio quando você faz isso!

–Você sabe, te deixar irritado é um privilégio meu e um hobby.

–Você gosta mesmo de torturar as pessoas, não é?

–Demais. - o olhei maliciosa e ele sorriu de volta.

–Tudo bem. Mas, se você não tocar, eu não te levo á um lugar especial...

–Que lugar?

–Você só saberá se tocar pra mim.

–Vadio! Eu te odeio!

–Eu também te amo Sarinha, eu também te amo...

...

Depois de duas horas de viagem entramos numa estrada de terra e cinco minutos depois chegamos a casa. Era uma casa linda e gigante, com um jardim maior ainda e uma floresta com trilha logo atrás.

–Que lugar lindo! - eu disse maravilhada.

–Sabia que você ia gostar... Vem, vamos deixar suas coisas num dos quartos.

O segui para dentro da casa e ele me mostrou um quarto no andar de cima.

–Não repare se o assoalho ranger, tá? É praticamente o único defeito da casa.

–Tá bom.

–Está com fome?

–Não.

–Ok. Tome um banho e descanse, já está quase escurecendo e eu quero te mostrar uma coisa.

–Ok, então, com licença.

–Tchau.

Ele saiu e eu me dirigi à janela. A vista do crepúsculo na serra era uma das coisas mais lindas que eu já vi. Assistir ao pôr do sol; seja do campo, da praia ou da janela do meu quarto; sempre me acalmou e me deu alguns instantes de crença na minha existência. Sim, ás vezes – a grande maioria das vezes - eu simplesmente penso que não existo, que eu não sou real, que nada disso está acontecendo. O tratamento me ajuda com essas coisas, mas são anos e anos de tratamento. No auge da doença, pouco tempo depois dos meus pais me levarem ao psiquiatra eu deveria fazer tratamento com todos os antidepressivos e calmantes conhecidos. Eu cogitava todo dia em ter uma overdose, mas eu tentava (e como eu tentava!) me controlar. Ainda me surpreendo ás vezes com meu autocontrole indiscutível.

Suspirei e fui tomar banho, pensar na minha doença nunca me faz bem e traz tudo à tona de novo. E, acredite em mim, a última coisa que eu quero é piorar novamente.

Quando eu sai do maravilhoso e demorado banho quente já era noite, mas eu não me deparei com a maravilhosa noite no campo a qual minha mãe comentou e sim com a janela fechada e um bilhete em cima da cama.

“Não olhe para fora, apenas saia logo dessa merda de banheiro, se vista e vá para a sala. Tenho uma surpresa pra você” - John Travolta.

Dei uma risada fraca e fiquei pensando em como eu não tinha ouvido Oliver entrar no quarto, até porque aquele assoalho rangia muito.

Vesti uma camiseta grande do Led Zeppelin, uma calça jeans, coturnos e um camisão xadrez e fui para a sala, pegando a lanterna.

Oliver estava deitado no sofá, brincando com seus próprios polegares de lutinha. Uma lanterna estava em cima de seu abdômen e ele estava com a maior cara de tédio.

–John Travolta?

Ele me olhou e abriu um sorriso divertido. Correspondi.

–Demorou, ein?

–Perdão.

–Tudo bem. - ele se levantou, derrubando a lanterna. - Merda. - pegou-a do chão.

–Então, qual é a surpresa?

–Espere... Vou te levar até ela, mas antes... - ele tirou um lenço do bolso e foi atrás de mim. - Só para não estragar a surpresa. - sussurrou em meu ouvido enquanto cobria meus olhos. - Quer que eu vá te guiando ou que eu te leve no colo?

–Vá me guiando. - respondi.

–Resposta errada. De um jeito ou de outro eu vou ter que te pegar no colo, então... - ele me pegou. - Vamos ser práticos.

Senti a brisa fria da noite de verão em meu rosto quando ele me levou para fora. Andou mais um pouco. Mais um pouco. Mais um pouco.

–Estamos chegando? Se demorar demais eu vou dormir aqui.

–Estamos quase lá, Sarinha. Não durma ainda.

Ele andou mais cinco metros eu acho e me deitou em algum lugar macio e gostoso.

–Pode tirar a venda agora.

Tirei e uma das coisas mais lindas que eu já vi apareceu em cima de mim. O céu completamente estrelado, eu nunca havia visto algo tão lindo antes. Meu queixo caiu e eu exclamei encantada.

–Lindo, não é? – Oliver perguntou com um sorriso quente.

–Demais...

Oliver havia aberto a caçamba da caminhonete e forrado-a de edredons e travesseiros. Ele se deitou ao meu lado e ficamos um longo tempo admirando a beleza infinita do céu estrelado.

–Quando eu era pequeno e vinha para cá, - ele começou. - meus avós sempre me diziam que se você olhasse por tempo suficiente para as estrelas, poderia ouvir anjos e as almas de seus parentes e amigos cantando para você. Eu passava horas e horas admirando o céu, tentando ouvir alguma coisa e a única coisa que eu ouvia eram os grilos e as corujas. Então eu tive um problema á cinco anos atrás, e digamos que eu nunca mais olhei para o céu de novo... - ele me olhou. - Até agora.

–E você está feliz por estar olhando o céu agora? - perguntei.

–Estou feliz por estar olhando o céu com você.

Senti-me corar por timidez e olhei para o céu novamente.

–Você era cristão?

–Sim, católico. Mas eu perdi a fé e nunca mais achei.

–Aposto rosquinhas que está no meio da bagunça do seu quarto.

–Ei! - ele me olhou. - Como você sabe que meu quarto é bagunçado?

–Intuição, querido.

–Hum, tá bom.

–Está pensando que eu entrei no seu quarto?!

–Não, claro que não...

–Ah cara, para! Assim você fica parecendo uma vadia chata que fica fazendo joguinho.

Ele começou á gargalhar, uma gargalhada gostosa e descontrolada e eu não entendi nada.

–Que foi, cara?!

–Cafajeste, vadio, tonto, besta, idiota, otário, babaca, lunático... Com tudo isso pra você me chamar, você escolheu “vadia chata”.

Comecei á gargalhar sonoramente e ele se juntou á mim. Nossas risadas eram o único barulho no lugar, com exceção dos grilos e das corujas.

–Mas, é verdade. - eu disse por fim. - Se você fosse mulher, seria uma vadia chata.

–Como assim se eu fosse mulher?! - Oliver disse em um tom gay e indignado. - Eu já sou uma vadia, meu bem.

–Ainda bem que sabe! - comecei a rir de novo.

Ouvimos o ranger da porta se abrindo, pulamos e Oliver me enfiou dentro da caminhonete, ignorando os meus protestos.

–Shh, está tudo bem. Eu vou ver o que é. Fique aí. Se acontecer alguma coisa eu grito e você sai com a caminhonete, entendeu?

–Oliver, eu...

–Entendeu, Sarah?

–Tá, tá bom. - ele me deu um beijo na testa e saiu com a lanterna enquanto eu fiquei deitada no banco traseiro da caminhonete, esperando o pior.

Dois minutos depois ele apareceu com um sorriso, acompanhado por uma senhora muito simpática.

–Tá tudo bem Sarinha, é só a Maria. - Oliver disse me tirando do banco.

–Ah, tá. - uma senhora me olhava com um sorriso caloroso e simpático. Não pude deixar de sorrir de volta.

–Olá! Sarah, não é? - assenti. - Oliver me disse sobre você antes de vir. Eu sou a empregada dos avós dele.

–Já disse que odeio quando você se chama assim. - Oliver cortou-a. - Para mim você é a tia Maria dos bolinhos de chocolate.

–Tudo bem, então, eu sou a tia Maria dos bolinhos de chocolate, ok Sarah?

Eu ri e assenti novamente.

–Sua amiga é linda, Oliver, parabéns. - ela saiu e o clima ficou um tanto constrangedor.

Ele deixou cair um maço de Black Devil do bolso e eu revezei meu olhar entre o cigarro e seus olhos dourados.

–Desculpa. - murmurou e tratou de pegar o maço que parecia recentemente aberto.

–Não precisa pedir desculpa. Cada um com os seus vícios, certo?

Ele deu um sorriso fraco.

–Tá, tudo bem. - suspirou. - Quais são os seus vícios?

–Produtos da Starbucks.

Ele riu.

–É sério.

–Promete não contar pra ninguém?

–Sim.

–De verdade?

–Sim, Sarah!

–Tá... - abaixei a voz. - Digamos que eu seja um pouco viciada em whiskey... - suspirei.- Odeio admitir isso.

–Nossa, com esse drama todo pensei que você ia dizer que era viciada em sexo!

–Talvez eu seja... - o olhei maliciosa.

–Talvez eu goste de ajudar com os vícios dos outro. - ele devolveu o olhar malicioso, com um sorriso sacana e cafajeste.

–Engraçadinho. Vai precisar de algo melhor pra conseguir transar comigo.

–Me diga então... - ele sussurrou no meu ouvido. Senti-me arrepiar.

–Não, Oliver. Não. - o afastei.

–Desculpa.

Um silêncio constrangedor se estendeu.

–Eu. Eu vou ir dormir. - eu disse por fim.

–Tá, eu vou ficar um pouco mais aqui. - ele disse, acendendo um dos cigarros negros.

–Tá bom...

Fui me afastando. Quando eu estava prestes á entrar ele gritou.

–Sarah!

Me virei.

–Desculpa.

Assenti com a cabeça e entrei. O ouvi chutando alguma coisa lá fora, provavelmente o pneu da caminhonete. Maria já havia se recolhido, estava tudo escuro, então tive que usar a lanterna.

Entrei no quarto e me joguei na cama, sem nem ao menos trocar de roupa. Estava sentindo algo estranho, já havia sentido aquilo antes e não era nem um pouco bom...

O torpor voltara e eu me sentia completamente vulnerável.


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Notas finais do capítulo

Gostaram?Reviews?Tem como alguém recomendar minha historinha? (mendigando).Bem,é isso,espero que tenham gostado.
Bye,bye.