Após o estranho acontecimento da fotografia, Jane ficou meio distante de mim.

No dia seguinte eu fui à casa dela, com um objetivo além de simplesmente passar o tempo livre lá. Eu queria perguntar o porquê da foto. Estava meio inquieto depois daquilo (e o DVD de Zoey não havia ajudado muito).

Bati na porta e não precisei esperar muito tempo até que Jane atendesse, sorridente como sempre. Ela usava um vestido rosa claro, e estava descalça. Me puxou para dentro de sua casa e me abraçou. Fiquei mais confuso ainda. Ela parecia muito animada.

– Eu quero te mostrar uma coisa! - Depois de fechar a porta, Jane me puxou até o segundo andar. - Vamos!

Ela para em frente a última porta do corredor, à direita, e se vira para mim.

– Está pronto?

Arqueio uma sobrancelha.

– Acho que sim...

– Ta-dá! - Ela abre a porta devagar. Arregalo os olhos com o que vejo dentro do cômodo.

As paredes estão repletas com dezenas, centenas, MILHARES de fotos. A tinta verde-clara quase não é visível. Entro dentro do cômodo e encaro as quatro paredes, incapaz de questionar aquilo.

– Você gostou? - Jane pergunta, sorrindo para mim. - Eu comecei a montar há alguns dias atrás.

– Isso é... surpreendente - Eu não sabia o que achar, nem sequer o que pensar, daquilo que estava vendo. Haviam fotos minhas que eu nem me lembrava de ter tirado. Eu avistei até mesmo fotografias de Luke e Rosalie.

– Como assim surpreendente? - Jane entra na minha frente. Ela não está mais sorrindo. - Isso significa que não gostou? - O brilho em seus olhos ficou ofuscado. Ela estava séria.

– Não é isso, é que... - Antes que eu pudesse concluir minha desculpa, Jane disse, em tom frio:

– Você sabe o quanto demorou para eu tirar essas fotos?

A encaro. Aquele tom de voz, os olhos sérios... Não parecia a Jane que eu conhecia. Parecia outra pessoa.

– Sabe quanto tempo eu perdi tirando e pendurando essas malditas fotos?

Engulo em seco diante daquela versão ameaçadora de Jane, mas forço minha voz a sair.

– Eu só achei isso meio estranho... - Sou interrompido de novo.

– Estranho? Você achou isso estranho? Você acha que sou doida? - Rapidamente o tom de voz de Jane se altera novamente. Está fraco e choroso. Lágrimas enchem seus olhos e lentamente escorrem pelas bochechas.

– Jane, eu...

– Vá embora! - Ela me empurra para fora do quarto e fecha a porta com um estrondo. Posso escutar seu choro abafado e fico parado durante um tempo, com os pensamentos se alternando de "Que diabos foi isso?" para "Eu sou muito idiota".

Eu havia ido até lá para tirar uma dúvida, mas havia voltado com mais uma na cabeça.

Nos cinco dias que se passaram, eu falei muito pouco com Jane. Nas raras vezes, ela estava ríspida e fria. E eu não havia visto-a sorrir nenhuma vez.

No sexto dia, eu estava em casa quando escutei a campainha tocar. Me levantei do sofá e corri para atender, com esperanças de que fosse Jane. Mas, quando abro a porta, dou de cara com o carteiro, que diz que outro envelope chegou. Disfarço minha expressão decepcionada e agradeço a encomenda. Quando ele vai embora, fecho a porta e encaro o objeto em minhas mãos. Tudo bem. Isso pode me distrair um pouco.

Desligo a TV e subo para o meu quarto. Retiro do envelope lívido o disco envolto no típico pano vermelho, colocando-o em seguida no aparelho de DVD. Quando a figura séria - e um tanto sombria - de uma garota pálida e magra aparece na tela da TV, todos os meus problemas e dúvidas parecem desaparecer da minha cabeça.