Até Ele Sente Falta!

Fazia exatamente uma semana desde aquele beijo. Fazia também uma semana que eu sonhava todos os dias com aquela conversa com Hugo.

Ao contrário do que eu faria normalmente, não contei nada para Rose. Apesar de nós duas nunca termos segredos uma com a outra, eu não conseguia falar para ela que havia beijado seu irmão.

Sabia que ela tinha notado algo estranho quando fui na sua casa na semana passada. Eu havia cumprimentado Hugo e ele só soltou um “Eai?”, subindo para o seu quarto e trancando a porta.

Se tudo estivesse normal, ele agarraria minha cintura num abraço e giraria no ar, rindo enquanto perguntava:

— Estava com saudade do cara mais gato da cidade?

E eu responderia:

— Não tenho saudades do papai, vejo ele todo dia.

E nós riríamos enquanto Rose ficava reclamando que deveríamos ser menos previsíveis.

Rose era do tipo que notava qualquer coisa, por mais mínimo que seja. E ela estreitava aqueles olhos para mim, enquanto eu fingia que estava tudo normal e abraçava tia Mione.

Logo as outras primas chegaram e ela não conseguiu uma oportunidade para questionar aquilo e eu respirei mais aliviada.

Mas não pude fugir quando estávamos nos preparando para assistir um filme, deitadas em frente à televisão no seu quarto.

— Você e Hugo brigaram?

— Não.

— Tem certeza?

— Tenho. — sem olhar nos seu rosto.

Mas a verdade é que eu não conseguia esquecer aquele beijo e olhar que ele me mandou antes de sair do sótão na casa da vovó.

Todos os dias eu acordava, com aquela tristeza no peito e aquela vontade devastadora de resolver as coisas entre eu e Hugo, mas eu não sabia como fazer.

Às vezes, eu me perdia, e me perguntava o porquê de ele ter ficado tão chateado comigo. Eu não havia feito nada de mais além de beijá-lo.

Beijá-lo... Eu não sabia quantas vezes me peguei meditando sobre aquilo. Sobre como foi diferente de tudo e ao mesmo tempo como aquilo não podia ter acontecido.

A culpa era como uma nuvem negra de neve, prestes a cair, me sufocando. Eu sabia que mal conseguira olhar para Jason sem pensar no que eu havia feito.

Eu já havia me cansado de tentar inventar desculpas para mim mesma sobre o que tinha acontecido. “Foi um acidente, eu cai sobre ele e nossos lábios se tocaram!”

Mas eu sabia que não foi aquilo. Se havia tido um acidente, por mais estranho que parecesse? Sim, havia. Mas depois do acidente, havíamos nos beijado para valer e era aquilo que me atormentava.

As aulas voltaram e com elas, minha preocupação só aumentou. Eu tinha todas minhas aulas com Hugo e a sua falta de atenção com a minha presença, tinha atraído a atenção de todos.

De um momento para outro, todos ficavam a me perguntar o porquê de eu não sentar com Hugo em todas as aulas como nós sempre fazíamos, desde que entramos em Hogwarts.

— É por causa do seu namoro? — perguntou uma vez Carm, com olhinhos brilhando de curiosidade e com a língua pronta para espalhar alguma fofoca.

— Não, eu só não quero ficar roubando o Hugo só para mim. — eu disfarcei, rindo.

Ele agora andava apenas com os gêmeos March e Mattew e todas as aulas era possível ouvir ele rindo com os dois, me deixando por completo de lado, sentada sozinha na carteira que já foi, um dia, considerada por todos a carteira Lilugo.

Às vezes, suas risadas e sua total falta de atenção me deixavam irritada. Ele parecia tão feliz, como se eu não fizesse a menor falta em sua vida. Talvez eu não fizesse mesmo.

Eu olhei triste, enquanto passava por mim, rindo, sem me notar.

Tudo só piorou depois que Jason notou que eu estava muito estranha, o evitando quase sempre podia e mais estranha ainda quando Hugo estava por perto e que ele não implicava cada vez que os dois se trombavam.

Ele não comentou nada sobre o que estava acontecendo comigo, mas não demorou para perguntar sobre o Hugo.

— O que aconteceu entre vocês?

— Eh? Não, nada, não aconteceu nada amor. — Eu sorri, tentando disfarçar — É coisa da sua cabeça.

Estava ficando cada vez mais difícil de esconder. Minha culpa me matava a cada vez que via ele me paparicando, como se eu fosse a coisa mais importante do mundo.

— Se fosse só da minha cabeça, metade da escola não estaria comentando nada. — Ele zombou e eu amaldiçoei cada um daquela escola. — Vamos, me diga o que aconteceu de uma vez.

Eu suspirei fundo, olhando ele do outro lado do salão, conversando com Rose, alheio a mim.

— Acho que ele se cansou de mim. — murmurei.

— Não tem como se cansar de você, docinho. — Ele me abraçou de lado — Deve ter acontecido algo. Já tentou perguntar para ele? Você sabe que eu e Hugo não nos damos bem, mas se isso está te deixando triste, você devia ir atrás, não acha?

Eu balancei a cabeça, apenas concordando, mas sabendo que isso não era tão simples assim.

Então, eu notei mais tarde, que Jason também sentia falta das implicâncias de Hugo.

xx

— Boa tarde alunos! Hoje vamos praticar os feitiços que aprendemos na semana anterior, então quero todos em duplas fazendo uma fila aqui na frente.

O Professor mal entrou na sala e já dizia ás pressas. Imediatamente as pessoa já se levantavam e agarravam os braços uma das outras, indo para frente da sala. O Professor fazia um feitiço para afastar as carteiras para ter mais espaço.

A verdade é que todo aquele tempo em que eu não estava com Hugo, eu passara todas as aulas sozinha. Tirando, é claro, o fato de Carm vir algumas vezes ao dia me perturbar com suas fofocas e tentar arrancar alguma de mim.

E basicamente, eu fiquei sem par enquanto todos se formavam. Me senti perdida e ao mesmo tempo irritada. Estava começando a odiar aquele gelo que recebia de Hugo.

— Professor Bonster, estou sem dupla. — Tentei falar aquilo da forma mais neura possível, tentando não mostrar o quanto aquilo me afetava de verdade.

Ele olhou por um momento sobre a multidão.

Hugo parecia tão perdido quanto eu, olhando ao redor e procurando um possível par. Meu coração gelou. Ele se virou na minha direção quando ouviu o professor lhe chamando.

— Você está sem par também, certo? Aqui, fique com a Srta. Potter. — disse — Agora, quero todos formando a fila aqui, nesta direção. Isso! Srta. Watsson, por favor, pode vir até aqui para demonstrarmos? Primeiro quero ver individualmente e depois todos vão praticar um pouco.

No momento em que o Professor o chamou e ele me viu, vi sua expressão fechar e eu podia facilmente comparar o jeito que ele andava na minha direção, como se tivesse indo para Askabam. Aquilo fez algo doer dentro de mim.

Ele me acompanhou até o final da fila, para esperar as nossas vezes. Não olhou mais para mim ou falou qualquer coisa. Aquilo só estava me deixando mais nervosa. Eu comecei a cutucar freneticamente a ponta da minha camisa. Eu nunca pensei que eu e Hugo um dia poderíamos ficar desse jeito. Conosco era tão fácil a conversa.

E eu comecei a ficar cada vez mais nervosa quando a Mary Stkeaw e a Brandon Lootney, que faziam duplas e ficavam na nossa frente, voltaram-se para ele e começaram a conversar, como se eu não existisse.

Estava enojada com os olhares que elas mandavam para ele e os sorriso maliciosos. Uma delas elogiava Hugo pelo bom desempenho na aula de transfiguração mais cedo, apenas o bajulando. Ela havia se jogado em cima dele, passando a sua mão nojenta sobre os seus braços e colocando a boca perto do seu ouvido e falando alguma coisa.

Aquele era Hugo. O meu primo Hugo. O garoto que eu nunca vi dar bola para qualquer garota que dava em cima dele ou dar em cima de qualquer outra garota.

E agora estava sorrindo para a garota se esfregando na sua perna.

Eu não aguentei.