Coloquei a escova em cima da escrivaninha assim que terminei de pentear o cabelo, Jacob havia ido embora há algumas horas ainda rindo de mim por causa dos ovos. Eu sabia que minhas habilidades culinárias virariam motivo de piada pra ele. Eu já estava pronta pra dormir, como na maioria das noites a chuva caia lá fora e o vento rugia furioso.

Encostei-me na escrivaninha olhando as gotas de chuva bater no vidro da janela. “o que você sente por mim?” aquela frase borbulhava em meu cérebro me causando arrepios apenas por lembrar de seu rosto tão próximo ao meu. Ele sabia que eu o amava... Ele era meu melhor amigo, como eu poderia não amá-lo?Mordi o lábio enquanto pensava: porque ele havia perguntado isso? Porque eu não conseguira responder aquela pergunta? Porque eu não conseguia parar de pensar nele? Porque como nunca agora eu sentia que precisava muito mais de Jacob comparado a antes?

Fui dormir não encontrando respostas para as minhas perguntas.

O dia amanheceu nublado, típico de forks. Depois de tantos anos morando naquela cidadezinha fria e chuvosa eu simplesmente não me imaginava em outro lugar. Não me imaginava sem os grandes pinheiros ladeando minha casa, da chuva que me embalava e que me acordava todos os dias... Eu não conseguia me imaginar longe dali. Mais eu sabia que não tínhamos muito tempo.

Já estávamos há muito tempo em forks, e eu sabia que eu só teria aquele ano. Carlisle e Edward já faziam planos para morarmos em outro lugar, e esse era o tipo de assunto que ninguém falava na minha frente embora eu já estivesse ciente de que teríamos que partir em breve. Eu já estava matriculada na escola de forks, e pelo andar das coisas eu só faria o primeiro ano ali.

A história era a mesma. Para todos eu era a mais nova filha adotada de carlisle e esme cullen, ambos incrivelmente jovens para terem filhos adolescentes.

Respirei fundo enquanto arrumava minha cama e me sentava na beirada. E como seria depois? Eu iria para uma cidade desconhecida, para uma nova escola, novas pessoas, ficaria longe de Charlie, Sue, Seth, Billy... Jacob.

Senti meu coração apertar quando pensei que uma separação muito mais longa estaria por vir, mais cedo ou mais tarde viria.

–ainda temos mais um ano. - disse meu pai encostado no batente da porta do meu quarto como se estivesse ali o tempo todo. Ele me estendeu os braços e eu me levantei indo até ele.

–não quero ir embora pai. - murmurei enquanto o abraçava, seus braços frios me apertaram contra seu peito de mármore.

–você sabe que é preciso. - ele murmurou também.

–eu sei. - murmurei de má vontade.

Ele se afastou um pouco para me olhar.

–pense por esse lado... Você vai poder fazer novos amigos.

Fechei a cara.

–eu gosto dos meus velhos amigos. - resmunguei.

–não precisa perder o contato. E Jacob sempre será bem-vindo para nos visitar.

–não seria a mesma coisa. - balancei a cabeça.

Meu pai riu olhando pra minha janela, segui seu olhar a chuva havia dado uma trégua.

–porque ao invés de você ficar ai toda deprimida não vai ver Jacob? Não está mais chovendo e você precisa sair um pouco de casa. - observou ele. –há quanto tempo você não vai a La push ver seus amigos?

Boa pergunta, eu não ia muito a La push. Das raras vezes que fui depois que Jacob tinha ido embora eu fora com Seth, sempre para algum tipo de comemoração ou aniversário. Me animei com a idéia... Jacob gostaria da surpresa.

–tenho certeza que sim. - incentivou meu pai.

Não pensei duas vezes entrei dentro do closed puxando um casaco qualquer parei apenas para dar um beijo no meu pai que ria da minha pressa súbita.

–divirta-se!- ele gritou enquanto eu já descia as escadas vestindo o casaco.

–aonde vai com tanta pressa?- perguntou minha mãe com o controle da tevê na mão virando o rosto pra me olhar do sofá.

–a La push. Vou ver Jacob. - eu disse abrindo a porta.

Ouvi minha mãe rir também.

Saltei da varanda aterrissando no quintal correndo a toda para dentro da floresta densa. Eu poderia muito bem pedir para meus pais me levarem de carro mais eu queria correr, e tinha certeza de que pela pressa que eu estava para ver Jacob eu não conseguiria ficar quieta dentro de um carro. De vez em quando meu pai me dava algumas aulas de direção, porém eu não era assim uma boa aluna. Eu nunca me esqueceria da cara que Alice fez quando voltou da loja mais cedo após ter tido uma visão do seu Porsche amarelo canário embaixo de dois pinheiros na esquina da minha casa. E foi isso que aconteceu, eu havia me atrapalhado confundindo o freio com o acelerador indo direto para os pinheiros. No fundo eu sabia que Alice ainda estava sentida comigo (embora negasse até a morte) mesmo depois de meu pai ter dado outro Porscheigualzinho para ela.

Eu não sabia se já havia passado da antiga fronteira de vampiros e lobisomens então acelerei a corrida. Depois que Jacob havia se tornado o alfa por direito ele quebrara o tratado que se bisavô Ephraim Black havia feito com nossa familia a varias décadas atrás, agora tantos os vampiros poderiam ir até La push como os lobos poderiam ir até forks.

Enquanto corria senti um cheiro estranho mais ao mesmo tempo conhecido. Respirei uma vez e sorri um pouco. Lobo. Parei olhando em volta deveria ser um dos garotos...

Foi então que o lobo surgiu do nada saltando sobre mim e me lançando metros ao ar agitei os braços tentando me agarrar em algo mais cai rolando ladeira a baixo grunhi enquanto fincava os dedos na terra levantei a cabeça sentindo cheiro de sangue e algo molhado escorrendo por meu rosto. Olhei pra cima vendo o enorme lobo branco como neve com os dentes arreganhados a poucos metros de mim, não me parecia com nenhum que eu conhecia.

Respirei fundo sentindo minha cabeça latejar, porque ele estava me atacando? Trinquei os dentes sentindo a fúria que se seguiu, não consegui controlar de repente parecia que eu estava queimando numa fogueira. Abri a boca deixando escapar o que mais me pareceu um rosnado, o lobo ainda me encarava os dentes afiados a mostra. Sorri sentindo o fogo por fim cessar e ouvi uma última batida solitária do meu coração. Eu me sentia estranha, mais forte, engoli em seco sentindo minha garganta queimar como se eu estivesse inalando brasas.

Olhei pro lobo branco enquanto a fúria repentina ainda me consumia. Dei dos passos me jogando contra o enorme lobo, agarrei os pelos de suas costas e o joguei com força contra uma árvore que estalou partindo-se em duas. Minha risada ecoou forte por entre as árvores, pareciam sinos ao vento. O lobo branco se levantou cambaleante se jogando contra mim de novo, me desviei ainda rindo embora não existe graça nenhuma. Pela primeira vez eu desejei sangue, eu queria... Matar. Queria fazer aquele lobo em pedaços.

Me preparei pra atacar, eu já estava prestes a me lançar sobre o lobo quando eu ouvi um grito.

–Nessie não!- gritou a voz.

Não liguei pra quem quer que fosse me joguei contra o lobo assim mesmo meus braços envolveram seu pescoço, eu apertei sentindo o lobo se debater abaixo de mim.

–Pare Renesmee! Pare!- olhei pra frente quando o vi Jacob a poucos metros de mim. Mais ele não me olhava, olhava para o lobo que eu largara no chão que ainda se debatia, parecia até estar em convulsão. Os outros chegaram aos poucos primeiro Quil, Depois embry, seth e por fim leah. Jacob estava agachado junto com o lobo branco, ninguém pareceu prestar atenção em mim ali apenas seth que me olhava assustado.

–Sarah acorde! Vamos!- Jacob gritou. Sarah?

A Loba parou de tremer se encolhendo todos andaram para trás dando espaço para que ela se destransformasse, eu os olhava sem dizer nada a súbita fúria já havia passado. Debaixo daquele pelo branco havia uma garota, bonita por sinal. A pele morena igual aos outros o cabelo bagunçado preto na altura dos ombros apontava para todo lugar. A garota suspirou nos braços de Jacob tombando a cabeça de lado. Eu olhei para Jacob esperando pela fúria (a minha, e a dele) seus olhos ferviam. Eu nunca o vira olhar pra mim daquele jeito, nem pra mim e nem pra mais ninguém.

Leah pegou algumas folhas para cobrir a garota nua nos braços de Jacob. Eu nunca vira tanto ódio no rosto de uma pessoa quanto no de Jacob que olhava pra mim.

Dei um passo pra trás sentindo o calor voltar novamente, respirei fundo sentindo meu coração bater com um solavanco, logo as lágrimas passaram a escorrer por meu rosto.

–jake eu...

–o que você ainda está fazendo aqui?!- ele gritou pra mim. O ódio ainda estampado em seu rosto.

Aquilo doeu mais do que se ele tivesse me dado um tapa na cara.

–Jacob!- repreendeu seth aturdido.

Jacob me olhava incrédulo.

–olhe o que você fez!- ele gritou de novo. Fechei os olhos cambaleando pra trás.

–me... Desculpe-me. - gaguejei.

–tudo bem. - disse leah. –ela está bem. E não duvido que ela tenha começado isso.

Leah me defendendo?

–jake...

–sai daqui Renesmee! Já causou problemas demais!- assenti enquanto cambaleava pra trás as lágrimas jamais deixavam de rolar.

E eu voltei a correr por muitas vezes perdendo os passos por causa do choro. Eu era um monstro!

Entrei em casa de supetão batendo a porta da sala com tanta força que até as janelas tremeram meus pais se encolheram no sofá quando passei como um furação subindo para o meu quarto.

–nessie o que... - ouvi minha mãe dizer, bati a porta do meu quarto também me jogando na cama puxei o travesseiro branco e enfiei meu rosto ali abafando o choro que se seguiu. Eu me sentia um lixo.

–nessie o que aconteceu?- senti as mãos de minha mãe afagarem meu cabelo, a voz subiu uma oitava de preocupação. Meu pai entrou No quarto com certeza a par de tudo, ele agachou do lado da minha mãe na cama tentando me acalmar embora eu pudesse ver a preocupação em seus olhos cor de ouro.

Eu mal conseguia falar por causa do choro.

–eu sou... Sou um monstro!- gritei enterrando o rosto no travesseiro de novo.

–não. Você não é quem te disse uma coisa dessas? - agora a voz da minha mãe tinia de revolta.

Meu pai explicou tudo o que havia acontecido já que eu não conseguia falar mais nada. Por céus eu havia tentado matar uma loba! Eu queria matar... O que estava acontecendo comigo? Eu estava virando algum tipo de psicopata e não sabia?

–não... - Edward murmurou enquanto voltava com um copo com água e açúcar pra mim, eu peguei o copo e virei aquilo garganta a baixo e depois coloquei o copo do lado do abajur, minha mãe fitava meu pai enquanto ele falava: -não percebe o que aconteceu?

Sim, eu quase havia estrangulado uma loba e agora Jacob me odiava. Meu pai ignorou aquele pensamento.

–você se transformou... Em vampira. Não notou? A força? Parecia que você estava dentro de uma fogueira não é?

Fiz que sim com a cabeça, eu me lembrava de me sentir mais forte... Mais nada era mais forte do que o desejo louco de matar aquele ser.

Ouvi minha mãe arquejar.

–como isso é possível Edward?

–o que sabemos de Renesmee, bella? Pelo que parece é possível sim já que ela se transformou em uma.

Minha mãe me olhou apreensiva.

–o que vai fazer?- perguntou ela assim que meu pai passou pela porta.

–ligar para carlisle. - respondeu.

oOo

–pronto nessie... Agora só me dê um minuto. - pediu carliste enquanto tirava o meu sangue e o colocava um pouco num pedaço e vidro e examinava.

Estávamos na biblioteca que por sinal também era o laboratório de carlisle, eu podia ouvir os murmúrios lá fora. Emmett, Rosalie e Esme esperavam do lado de fora no corredor. Meus pais estavam do meu lado, minha mãe afagava minha cabeça enquanto meu pai observava Carlisle.

–realmente há algo de diferente Aqui... - Carlisle murmurou. E depois me olhou. –como está se sentindo nessie?

Um monstro.

–bem. - menti.

Carlisle olhou pro meu pai e depois pra mim.

–isso me lembra de quando peguei o sangue de Jacob para estudos...

–de Jacob?- perguntei.

Carlisle puxou uma cadeira se sentando de frente pra mim.

–sim de Jacob. Foi quando cuidei dele há muito tempo atrás, antes de você nascer... Quando ele se machucou... - ele parou olhando pra minha mãe. Pigarreou e voltou a falar. –é exatamente igual. 24 cromossomos, isso só quer dizer uma coisa.

–o que?- murmurei.

Ele sorriu.

–você é como Jacob. Também se transforma. - explicou ele.

–mais... Como?- perguntou minha mãe.

Carlisle suspirou.

–não sei... Afinal isso aconteceu de repente, ela não veio demonstrando nenhum tipo de sinal. Era como se isso estivesse guardado dentro dela, só esperando o momento de explodir.

Respirei fundo impaciente, eu me sentia cansada.

ouvi um barulho de moto estacionar no gramado, olhei através do vidro enquanto jacob descia e pulava a varanda batendo na porta.

ótimo. era tudo o que eu precisava nesse momento, jacob vinha dizer que não queria mais ser meu amigo e que não era pra mim olhar na cara dele nunca mais. Trinquei os dentes tentando afugentar o pensamento:

–tenho certeza de que não é isso. - disse meu pai enquanto saia do quarto. Minha mãe me deu um beijo enquanto acompanhava meu pai, Carlisle saiu logo depois.

Levantei-me da cadeira caminhando até a janela de braços cruzados tentando segurar as lágrimas que já teimavam em descer.

–nessie?- a voz de Jacob soou me virei pra olhá-lo. Ele estava parado no batente da porta, a mão direita segurando um casaco. Demorei um pouco para olhar seu rosto que para o meu alivio não havia vestígio de ódio ali mais sim arrependimento.

Ele se aproximou jogando o casaco em cima da mesa de carlisle e me puxando pra um abraço. Continuei de braços cruzados enquanto ele me envolvia com seus braços quentes.

–eu não devia ter gritado daquele jeito com você. Desculpe-me eu fui um idiota. –murmurou ele.

Eu não disse nada, fiquei imóvel daquele jeito por tanto tempo que ele se afastou pra me olhar. Ele estendeu uma mão limpando as lágrimas que ainda teimavam em descer.

–Carlisle me contou o que aconteceu com você. –disse ele quebrando o silêncio. Bufei jogando as mãos pro alto.

–ah então você já está sabendo que eu sou um monstro?

Ele me encarou.

–você não é um monstro. Conversei com Sarah, ela disse que atacou você primeiro. Você não tem culpa.

Sarah... Ele dizia o nome dela com tanta naturalidade que parecia que eles se conheciam há anos.

–Sarah?- murmurei seca.

Ele respirou fundo.

–acho que me esqueci de te contar... Ela é a sobrinha mais velha de Sam. Veio a La push para passar algumas semanas e bum!- ele fez um barulho de explosão com a boca. - Acabou se transformando num lobo gigante.

–que bom. - grunhi.

Ele riu enquanto puxava meu braço para me abraçar de novo, não resisti dessa vez e o abracei também enterrando meu rosto em seu peito quente. Ele soltou uma risadinha.

–você fica linda quando está com ciumes.

Eu me afastei revirando os olhos.

–vê se cresce Jacob.

Ele voltou a rir enquanto se encostava na mesa de carlisle e me olhava dos pés a cabeça.

–e o que vem agora?- ele riu. –transformação em morcego?