_ Você tem exatamente cinco minutos para se despedir dele. Nem um segundo a mais está entendendo? – minha mãe disse de forma tão rigorosa que achei melhor não discutir.

Depois de correr por vários corredores até encontrar finalmente seu quarto, vi que só me restavam três minutos para vê-lo.Entrei um pouco desesperada demais fazendo bastante barulho. Foi quando o vi ali, deitado e impotente naquela cama de hospital, e meu coração se apertou. Fiquei extremamente chateada de ter que ver Mike daquele jeito. Ele estava descoberto, e pude ver hematomas arroxeados espalhados por todo o seu corpo. Aquilo fez meu coração se apertar ainda mais.

Os segundos se passavam, o meu tempo se esgotava pouco a pouco e eu só conseguia ficar ali parada encarando-o. Eu queria poder falar com ele, pedir desculpas, afinal era tudo culpa minha. Ás vezes quando estou sozinha fico desejando nunca ter nascido. Eu não sabia o porquê havia pessoas atrás de mim, mas se eu sempre tive certeza de uma coisa, é que eles me queriam e não necessariamente para uma boa causa. O maior problema que venho tendo é machucar as pessoas ao meu redor.

Mas já estou me cansando disso. De tudo na verdade. Não deixo as pessoas brincarem assim comigo. É da minha vida de que estamos falando, da minha liberdade. E também de Mike. Fechei meus olhos com força e fechei as mãos para tentar conter a raiva que eu sentia. Vingança. Sim, era exatamente disso que eu precisava. De vingança. Fazer todos pagarem por tudo que fizeram. E alguém teria que sofrer como Mike. Posso parecer apenas uma garotinha, mas posso provar que sou muito mais que isso. E o sangue que fervia em minhas veias, me tornava uma pessoa determinada como jamais havia visto.

Voltei a abrir os olhos e olhar para ele. Dois minutos era o que me restava. Dois minutos para me desculpar. Fui me aproximando lentamente da cama, e já bem próxima segurei sua mão entre as minhas.

_ Você não faz ideia do que estou sentindo agora. Nem eu faço. – lamentei – Mas sei que quero me desculpar. Pelo fato de ter sido tão ridícula e estúpida, por ter me aproximado e te metido nisso, você não deveria ser visto comigo. Me desculpe por ter destruído sua vida. Se eu pudesse me redimir de alguma forma... Mas não há mais volta. – suspirei – E agora as circunstâncias me separam de você. Por um momento eu pensei que isso poderia dar certo, pensei que eu e você poderíamos formar um “nós” e agora sei o quanto estava errada, e lamento por isso. O problema é que às vezes acho que ainda há esperança, e me agarro a esse pensamento como uma forma de sobrevivência... Estou indo embora, mas eu ainda vou voltar, eu prometo que esse não é o fim, mas sim o começo de um longo caminho a percorrer.

_ Acredito em você.

Sua voz fez meu coração pular. No início, de susto, depois de alegria. Abri um enorme sorriso. Não tinha palavras agora, elas já não eram necessárias. Mike sorriu para mim também, e isso fez meu corpo estremecer.

­ _ Eu... – comecei a rir um pouco distraída – Pela primeira vez eu sou a tímida. – brinquei.

Esperei que ele sorrisse, mas tomou um ar sério.

_ Você vai embora quando? E pra onde? Sophie... O que está acontecendo?

Abaixei a cabeça. Como dizer a ele que agora me restava pouco mais que um minuto para desaparecer de sua vida? E que eu era um tipo de aberração?

Ele baixou a cabeça também.

_ Compreendo – falou.

_ compreende o quê exatamente? – pedi com raiva.

_ Quando disse que iria embora não pensei que fosse assim tão rápido.

_ Me desculpe. – repeti.

_ Te desculpar pelo quê Sophie? Isso não é apenas culpa sua, não se sinta tão responsabilizada por mim. – tentei contrariá-lo, mas ele foi mais rápido – Nem precisa dizer mais nada eu não quero saber. O que quero é que pare de se sentir a única culpada disso tudo, você sabe que não é. E vamos, pare de ficar analisando o meu corpo sei que não estou numa condição muito boa para que você possa admirá-lo. Trataremos de escolher um dia mais adequado para que possa fazer isso.

_ Seu bobo. Você está perfeito. Só um pouco colorido demais. Roxo, amarelo e verde não combinam com seu tom de pele sabia?

Mike fez uma careta e depois sorriu.

_ É assim que gosto de ver você. – falei.

Olhamos um para o outro. Foram olhares de muitos significados. Naquele momento eu havia me esquecido de tudo. Apenas de estar ali com ele, apesar de não ser um encontro perfeito me fazia feliz.

_ Quanto tempo você ainda tem? – ele perguntou, suas palavras ganharam minha atenção novamente.

_ Como assim?

_ Até você ir embora.

Consultei o relógio.

_ Agora, exatamente trinta e três segundos.

Mike gelou.

_ Por que esta com tanta pressa de ir embora?

_ Eu não estou com pressa, minha mãe está. De qualquer forma eu entendo o lado dela, quer apenas me proteger, e quanto mais rápido eu ficar longe de você, mais seguro vai estar. Saiba Mike que aquilo não deveria ter acontecido com você, e sim comigo.

_ Eu sei. – ele disse para minha surpresa – Eles me interrogaram sobre você, mas eu não disse nada.

Senti ainda mais raiva. Meu coração se apertou de novo. Sentia como se eu mesma tivesse batido nele.

_ Quando eu sair por aquela porta, quero que acredite que não será pra sempre. – falei – Vou arrumar uma maneira de nos manter ligados, pra poder me comunicar com você. Seja através de cartas ou telefonemas, ou até mesmo através de pessoas. Isso não acabou entendeu? Eu e você, não acabamos. – prometi – Mas seremos discretos, para sua proteção. – pisquei.

_ Nós nunca vamos acabar.

Agora eu iria embora, não havia escolha. O meu tempo havia chegado ao fim. Olhei para ele de novo e me dirigi apressadamente para a porta.

_ Ei, Sophie! – virei no mesmo instante para encará-lo – Obrigado por aquela noite. Foi a melhor depois de muito tempo.

E pelo canto dos olhos, o encarei pela ultima vez. Sua imagem ficaria gravada até nos encontrarmos novamente, e eu não fazia ideia de quando isso iria acontecer.

Corri para fora. Quando cheguei ao carro minha mãe não parecia nada satisfeita. Mas por sorte ela não disse nada. Então seguimos caminho para estrada, aquela que me levava direto a Nova Orleans, aonde minha nova casa esperava por mim. Meu pai havia ido na frente para arrumar as coisas para a nossa chegada. Ele também não estava feliz com a súbita mudança, mas sabia que diante das circunstâncias não tinha escolha. Ninguém tinha.

Virei a cabeça para encarar a janela e observar a paisagem a minha volta. Prestei atenção a cada detalhe da estrada, a cada volta, e a cada placa. Se eu quisesse decorar o caminho de volta teria que ficar atenta. O caminho de volta para casa. Para o lugar a que eu pertencia. Ao meu verdadeiro lar.