Ficou tocando a campainha por mais de cinco minutos até se convencer que o dono da casa realmente estava fora. Olhou desamparado para a rua vazia no final de tarde, sem ter a mínima idéia do próximo passo. Poderia ligar para o celular do outro ou mandar uma mensagem, o que seria muito impessoal e provavelmente o rapaz ignoraria uma tentativa dessas de reaproximação.
Decidiu andar um pouco, quem sabe ele chegasse nesse meio tempo... Foi caminhando por aquelas ruas que conhecia tão bem, inúmeras vezes passara ali com Kouyou, quando ia à casa deste. Então ficavam conversando por horas, assistiam um filme atrás do outro e no fim Uruha sempre fazia guloseimas, a sua especialidade. Depois ficava tudo uma bagunça e eles tinham o maior trabalho para limpar, mas isso não era motivo para bagunçarem menos.
Mas as coisas tinham mudado, já não tinham um tempo juntos e se viam cada vez menos.
Dava saudade andar por aquele bairro tão bonito, que lhe lembrava tantas coisas boas. Aoi por um momento desejou que tudo tivesse sido diferente, desejou voltar no tempo para consertar o que estava errado.
Passou em frente a uma loja de chocolates e foi atraído na mesma hora até a vitrine, onde estavam expostos os tipos mais variados e apetitosos. Lembrou-se que Uruha, como ele próprio, era um chocólatra inveterado, e não pensou duas vezes antes de entrar. Ficou um pouco indeciso sobre qual escolher, até que finalmente se decidiu por chocolate ao rum.
Quando saía da loja já estava escurecendo, então resolveu voltar à casa do amigo para ver se tinha chegado. Ficou um pouco desapontado ao ver todas as luzes apagadas e as janelas fechadas. Tocou a campainha, mas nada mudou. Quase sem perceber, deixou-se ficar ali. Sentou-se na escada da frente, sentindo uma leve brisa que deixava o clima agradável.
ooOOoo
Era noite e o namorado ainda não voltara. Deitou-se na cama dele, que lhe pareceu estranhamente espaçosa, e fitou o teto como se visse algo de muito interessante lá em cima. Na verdade, pensava na rápida discussão que tiveram. Tentou fazer Aoi desistir de procurar Uruha e a única coisa que conseguiu foi deixá-lo mais decidido. Ele não hesitou em ir atrás do amigo e deixá-lo sozinho, sem dar atenção aos seus sentimentos, ao seu ciúme.
Porque Kai sempre sentiu que ficava em segundo plano quando Uruha estava por perto. Finalmente tinha conseguido mudar isso, ao começar a namorar Shiroyama. Mas ainda se sentia inseguro, sabia que entre aqueles dois havia uma ligação muito forte.
Planejou exatamente a data da viagem para passarem o mais distante possível o aniversário de Kouyou. Essas semanas foram as melhores de que já se lembrava e fez de tudo para ser assim também para o namorado. Praticamente perderam a noção do tempo e Uruha acabou sendo deixado de lado. Aoi sempre falava dele, mas durante a viagem ele se concentrou no que estavam vivendo, aquele garoto estava longe demais para ameaçar a felicidade de Kai.
Só que não imaginava que o seu sonho idílico acabaria tão repentinamente logo que chegassem em Tokio. Matsumoto e Suzuki apoiavam abertamente o seu rival, e com tanta oposição, Yutaka sentia-se acuado e sem ter certeza de ter o namorado consigo. No fundo, sempre soube que era uma disputa desigual, Aoi já tinha feito a sua escolha...
