Sem dúvida, aquele era o pior dia da sua vida. Não era nenhuma data importante já que ninguém tinha lembrado mesmo. Mas o pior de tudo é que Aoi também não. Por isso, Uruha decidiu que ficaria em casa sem fazer nada em especial, para não pensar demais na dura verdade: tinha sido esquecido por todos. Já que não tinha solução, era melhor ignorar.

            Foi até o quarto, mexeu numa pilha de DVDs até encontrar um que ainda não havia assistido. Ligou o aparelho e jogou-se na cama. Chorou quase o filme todo, talvez andasse sensível demais. Não tinha sido mesmo uma boa idéia ver um filme romântico. Ainda secava as lágrimas, quando tocaram a campainha. Estranho, não tinha pedido pizza nem nada. Correu para lavar o rosto e em seguida, foi abrir a porta.

            -Feliz aniversário!!- gritaram Ruki e Reita ao mesmo tempo, abraçando-o.

            -Ah, gente! Obrigado...não precisava...- agradeceu, cheio de presentes.

            -Que cara é essa???- Matsumoto, reparando nos seus olhos inchados.

            -É...bem, eu estava assistindo um filme...

            -Uruha, hoje não é dia de ver filme depressivo. É o seu aniversário!

            -Você tem razão.- o guitarrista hesitou um pouco mas acabou perguntando:- E o Aoi? Ele não quis vir?

            -Ele e o Kai estão viajando, você não sabia?

            -Viajando...eh...juntos?- tentou manter uma expressão de indiferença.

            -Isso. Pensei que você soubesse.

            -Já faz um tempinho que eu não converso com o Yuu.- por pouco não recomeça a chorar. – Quer dizer que agora eles estão firmes mesmo?

            -É o que parece. Mas você sabe como é o Aoi, ele não tem muito jeito para namoro sério.- comenta o baixista maliciosamente.

            -Uhn, como você é maldoso...- Takanori ri e lhe dá um selinho.

            Uruha desviou o olhar. Ainda não tinha se acostumado à idéia dos dois amigos estarem namorando. Pelo visto, os casais já estavam formados, só ele estava sozinho. De repente seus olhos ficaram marejados de lágrimas e ele saiu correndo da sala para que não o vissem chorar.

            -O que aconteceu com ele?- o menor ao namorado.

            -Não sei. Mas ele não está nada bem...- preocupado, vai atrás do amigo, seguido pelo outro.

            Veem a porta do quarto fechada e Reita bate de leve.

            -Kouyou, o que está acontecendo?

            -Eu não quero conversar agora. – lá de dentro, a sua voz sai embargada.- Desculpa, mas eu acho melhor vocês irem embora.

            -Não vamos te deixar sozinho nesse estado. Abre a porta, nós só queremos te ajudar.

            -Ninguém pode em ajudar...

            -Isso não é verdade.- eles experimentam a maçaneta e a porta se abre.

            Eles pararam na entrada do quarto com a visão de Uruha na cama chorando contra o travesseiro. Nunca tinham visto o amigo tão triste. Os dois se aproximam e Akira acaricia os cabelos do maior, vendo-o se acalmar pouco a pouco.

            -É o Shiroyama, não é?- pergunta Ruki, quebrando o silêncio.

            -Como você sabe??-  ele se senta na cama, surpreso.

            -Nós já tínhamos percebido, mas resolvemos não dizer nada. Não sabíamos que gostava dele tanto assim.

            -Eu não gosto dele!- protestou Takashima.- Ou melhor: eu não gosto mais... Ah, eu sou tão idiota! Ele nem deve se lembrar agora que eu existo.

            -Ele não ligou para você?

            -N-não. Ele está com o Yutaka, por que ele se lembraria de mim?

            O casal se entreolhou, desaprovadores.

            -Quer saber de uma coisa? Vá se arrumar, porque não vamos passar o seu aniversário em branco de jeito nenhum.- falou Ruki, puxando-o pelo braço.

            Mesmo não estando muito animado, o guitarrista resolveu obedecer o amigo, não estava realmente com vontade de ficar sozinho aquele dia.

ooOOoo

Duas semanas se passaram...

            -Uruha, o Shiroyama acabou de me ligar. Eles chegaram de viagem hoje de manhã e chamaram a gente para ir na casa dele.- propôs Ruki, falando animado ao telefone.

            -Eu não vou.- Takashima afirmou, depois de um instante.

            -Mas...

            -Não estou afim, Ruki! Nâo quero ver a cara dele tão cedo.

            -T-tudo bem. Olha, eu acho que eu e o Reita também não vamos...

            -Você não tem motivos para isso. Eu quero que vocês vão.

            -Ok. Mas você tem certeza de que não tem problema?

            Claro que não. Não se preocupe comigo.

ooOOoo

            -Devem ser eles...- Aoi correu até a porta, quando ouviu a campainha, seguido por Kai.- E aí , gente?- cumprimentou, ao ver o casal.

            -Pensei que vocês não iam mais voltar...- riu Reita.

            -Uhn, nem dava vontade mesmo né, Aoi?- comentou o namorado- Estava tão bom...

            -Pois é. Eh... cadê o Uruha?- perguntou o moreno, estranhando a ausência do amigo.

            Os recém chegados trocaram um olhar rápido e Matsumoto falou em outro tom:

            -Yuu, nós precisamos ter uma conversa... particular.- olhou de canto de olho para Yutaka.

            -Como assim...?.- murmurou o rapaz, sem entender porque fora excluído da conversa.- Aoi...- buscou o apoio dele.

            -Não vamos demorar nada, Kai. Você não vai se importar, né?- Akira lançou-lhe um olhar maléfico, usando a mesma frase que Kai usou com Uruha da última vez que eles se falaram. Takashima havia lhe contado tudo o que ocorrera.

            A alfinetada não passou despercebida pelo baterista, que logo fechou a cara, saiu bravo da sala e foi para os fundos do apartamento, não sem antes lançar um olhar magoado ao namorado.

            -Por que ele teve de sair?- perguntou Yuu, ficando já nervoso.

            -Você sabe que dia é hoje?- indagou Matsumoto, também irritado.

            -Ah, sei lá. 21, eu acho. E daí?

            -Será que você não se esqueceu de nada nas últimas semanas?

            -Não... E o que o Kouyou tem a ver com isso...?- ele pensou por um momento.- Ah, eu não acredito!- exclamou, finalmente entendendo onde eles queriam chegar.- O aniversário dele, esquecemos de ligar para o Uruha.- parecia muito chateado pelo que fez.

            -Ele ficou muito magoado, achando que você não se importa mais com ele. Porque...bem vocês sempre foram tão amigo e de repente você começa a namorar e se afasta assim.

            -Isso não é verdade... Eu não me afastei, ele sabe disso.

            -Talvez ele não saiba realmente e precise que você mesmo diga isso a ele.

            -Ele deve estar morrendo de raiva de mim, e com razão. Eu sou um idiota desligado, fui esquecer algo tão importante. Mas eu vou atrás dele agora mesmo, eu preciso me desculpar. Não quero que pense que fiz por mal.

            -Acho que é o melhor a fazer.- Akira concordou.

            -Kai!- o guitarrista chamou, indo atrás do namorado, encontrando-o na cozinha.- Eu vou na casa do Uruha...nós deixamos de ligar no aniversário Del.- abaixou a voz, envergonhado de ter de admitir isso novamente na frente dos dois amigos.

            -Vai agora???- perguntou Yutaka, com um tom de irritação. Nós acabamos de chegar, nem deu tempo de me acostumar ao fuso horário...

            -Nós temos que ir.- retorquiu o outro, acentuando a palavra “temos”.

            -É, eu sei, eu sei. Mas pode ser depois... Agora eu estou cansado.

            -Claro que não!- exclamou indignado.- Eu não vou conseguir fazer nada, sabendo que o meu melhor amigo está mal por minha causa.

            -Ah, que drama... o Uruha não vai se matar só porque você não lheu deu os parabéns. Ele não é criança, para você ficar dando uma de babá, Aoi! Aliás, o aniversário dele foi há dias, ele agüenta mais um.

            Por um instante, o ar na sala pareceu mais pesado e todos ficaram silenciosos, até que Yuu falou friamente:

            -Se você não quer ir, eu vou sozinho. Você tem a chave do apartamento, pode ficar aqui e “descansar” se quiser.- falou ironicamente e andou em direção à saída, enquanto três pares de olhos assustados acompanhavam os seus movimentos até perdê-lo de vista.

            -Heh...bem... acho que já vamos né, amor?- Akira totalmente sem graça.

            -Ahn-han...- o namorado concordou, louco para sair dali também.- A gente se vê, Kai.

            Yutaka não responde. Depois de darem os primeiros passos dentro do corredor, o casal ouve um estrondo ensurdecedor atrás de si da porta fechada violentamente.

                            Continua...