Presa a Você escrita por Beatriz Dionysio


Capítulo 7
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Um pouquinho de nostalgia para vocês, espero que gostem.



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Eu fitava nostalgicamente o teto do avião, enquanto tentava inutilmente recolher os restos de meu coração despedaçado.

Ter fugido para o aeroporto e me enfiado no primeiro avião para São Francisco fora meu único consolo, minha única saída. Meu estomago ainda doía, eu tinha certeza de que estava meio verde e toda borrada, com os olhos vermelhos e inchados.

Eu tentava inutilmente me esconder dos olhares curiosos que minha aparência em meu vestido bufante atraia.

A velhinha sentada na poltrona ao meu lado, me lançava olhares caridosos e preocupados, o que apenas fazia com que eu quisesse fugir chorando outra vez.

Nas horas que se seguiram tentei dormir, mas sempre que ousava fechar os olhos, a visão de Dean em cima de Jenna fazia com que eu sentisse meu estomago se contorcer e faltava-me o ar. Então apenas permaneci ali, vagando de lembrança em lembrança.

“ Um mês! Durante um mês sentei e assisti todas as garotas do Campus se arrastarem para Dean. Isso era extremamente irritante! Acho que a qualquer momento eu explodiria. Mesmo que ele as dispensasse e ainda tentasse falar comigo, ainda doía, doía sempre que deitava em minha cama fria, pensando no quanto me sentira aquecida enquanto tinha os braços dele sobre mim.

Dean Hunt era a porra de um perfeito cavalheiro, sempre tentava me acompanhar para minhas aulas, sempre se sentava comigo quando tínhamos um período juntos, mesmo que fosse apenas para ser ignorado, abria as malditas portas e sempre, SEMPRE me dizia o quão linda eu estava.

Até tentei usar moletom! Moletom! E mesmo assim para ele eu continuava sendo a garota mais linda do Campus.

Foi quando James e ele se aproximaram que se tornou insuportável estar por perto. James era super protetor, e tentava de todas as formas possíveis me manter longe de Dean, ou “O ima para calcinhas” como ele era chamado na universidade agora.

Eu fingia não me importar, fingia não bufar toda vez que via alguma garota investir contra ele. Serio, elas nunca se cansavam de serem tão, tão vadias!!?

Foi em um dia chuvoso, dois meses após o inicios das aulas que conheci Andrew. Ele havia se mudado para a universidade a pouco tempo, estava no segundo ano de direito, e em uma semana conseguiu entrar no time da escola, como titular! Nunca tinha prestado atenção nele, não até o dia em que uma tempestade repentina atingiu São Francisco. Quando deixei o dormitório a chuva logo me ensopou, corri apressadamente pelo estacionamento, quase sendo atropelada por Andrew no caminho. Graças aos céus ele conseguiu parar, sendo o cavalheiro de sempre, ele se ofereceu para levar-me até o supermercado que ficava a algumas quadras dali. Ainda meio tonta pela adrenalina e congelando por estar ensopada, aceitei.

Logo era Andrew quem me levava às aulas, que abria portas para mim, que dizia o quanto eu estava bonita, que me convidava para tomar sorvete e me levava para casa. Aos poucos eu voltei a sorrir, tornando-me próxima do garoto doce de olhos castanhos, o que trouxe o pior de Dean, que começava a se meter em brigas, discussões, rachas, lutas clandestinas...

Ainda sim ele tentava argumentar e até mesmo ameaçava Andrew algumas vezes, dizendo que nunca desistiria de mim. Mas ele gradativamente o fez. Em um dia no refeitório, quando Andrew finalmente me beijou na frente de todos, Dean levantou-se possesso, e derrubando uma mesa, deixou o refeitório. No outro dia, surgiu Dean, o garoto prostituto, daqueles que a cada dia tem uma garota embaixo das asas, e as vezes até mais do que uma. Um simples beijo acarretou muito mais do que eu podia lidar, não suportando vê-lo tornar-se alguém sombrio, me aproximei de Andrew, deixei o dormitório do Campus e comprei um apartamento ali perto, Sophie me acompanhou...”

Quando se tornou demais pensar no passado, tentei assistir Romeu e Julieta, mas acabei adormecendo.

“Mais um dia chuvoso se fazia presente em São Francisco, enquanto eu trabalhava para decorar um texto. Não o ouvi se aproximar, até que seus lábios estivessem em meu pescoço.

– Andrew? –sorrindo me virei para encontrar a carranca de Dean Hunt. – Ah, hum, o que quer Hunt?

Sua expressão fria dizia que meu pequeno erro o havia levado ao limite.

– Por que ainda insiste nessa mentira Emma?

– Ao que exatamente esta se referindo? – perguntei, mesmo que já soubesse a resposta. Ele estava falando de Andrew e eu.

– A esta palhaçada de “namoro”. Você não pode, Droga! Você não pode namorar ninguém que não seja eu Emma. – frustrado ele passava a mão pelos cabelos. Suas palavras aqueceram meu peito, mas não permiti que Dean e suas palavras bonitas me enganassem novamente.

– Não sou nem nunca fui sua propriedade Dean, acredito ter deixado isso claro nos últimos meses.

Exasperado Dean socou a mesa e então se aproximou até seus olhos estarem praticamente colados nos meus e rosnou.

– Você é minha Emma, desde o maldito momento em que pus meus olhos em você, e SEMPRE SERÁ. Espero que quando finalmente entender isso não seja tarde demais.

Como ousa? Filho da p...

– É nisso que pensa sempre que enfia sua língua na boca de todas as garotas que vê? – eu não percebi as lágrimas escorrem por minha face, estava muito ocupada gritando com o garoto a minha frente.

Ele abriu a boca para responder, mas não o deixei continuar.

– VOCÊ NÃO PODE DIZER O QUE POSSO OU NÃO FAZER! NÃO PODE FICAR INSISTINDO A ME MACHUCAR QUANDO FOI VOCÊ, VOCÊ QUEM ME AFASTOU PRIMEIRAMENTE. – suspirando abaixei a voz. – Não posso continuar com isso Dean, eu realmente gosto dele, e talvez você deva fazer o mesmo, encontrar alguém e tentar me esquecer, eu já o esqueci. – a mentira em minhas palavras nos dilacerava igualmente. Mas era preciso, eu precisava do calmo e estável, e estar com Dean era totalmente o contrário.

– Não faça isso Emmie. – limpando minhas lágrimas eu podia ver seus belos olhos azuis marejados.

– Eu já fiz Dean.

Pegando meu texto, deixei a biblioteca, deixei Dean. Ou pelo menos era o que eu pensava...”

Acordei sobressaltada após sonhar com minha discussão com Dean quando ele descobriu sobre o inicio de meu namoro com Andrew. Ainda podia sentir as lágrimas agora secas em minhas bochechas. Acho que nunca de fato entenderia o que Dean e eu tínhamos, também não acreditava que algum dia iria esquecê-lo, eu não podia, nem se quisesse.

Suspirando encostei a cabeça no banco novamente.

– Precisa de um analgésico querida?

A velha ao meu lado sorria com seus belos olhos azuis.

– Não. Estou bem, obrigado. – quando voltei a fechar os olhos, a ouvi dizer.

– Você não parece bem.

Me senti desconfortável com seu comentário, certamente eu estava horrenda. Mas quando vi sua expressão verdadeiramente preocupada, senti o peito afundar.

– Problemas com garotos?

Assenti, limpando uma lágrima traiçoeira.

– Quer falar sobre isso? – sua voz, seus olhos, e a maneira como ela realmente parecia preocupada, me fizeram contar tudo. Tudo! Como o conheci, como o reencontrei e a forma como lidei com isso, como conheci Andrew e o perdi por isso, como menti para mim mesma durante tanto tempo, como ele me machucou repetidamente, como me casei com ele, como decidi admitir e aceitar ama-lo apenas para que ele me quebra-se novamente.

O tempo toda a senhora me olhava atentamente. Quando acabei, novas lágrimas molhavam meu rosto. Tudo com Dean era sempre tão intenso que apenas menciona-lo me fazia sentir assim, perdida.

Ela curiosamente me estendeu um lenço, um lenço de linho com as iniciais E. H, assuei o nariz e fiquei esperando que ela dissesse o quão ruim eu era.

– Eu sinto muito. Sinto que tenha passado por tanto. Mas o único problema que vejo aqui é você e seu medo de deixar-se amar e ser amada pequena. Dean a machucou uma vez e lutou para tê-la de volta, mas você o afastou, assim como alega que ele tenha feito primeiramente. Você não o aceitou em sua vida novamente, e a duvida de como poderia ter sido a corrói. Você mente para si mesma Emma, tentando fingir ser feliz, tentando substitui-lo quando sabe que amor não é algo que possamos ditar. Ele claramente errou diversas vezes, mas será que estas não são apenas consequências de uma cadeia de ações e decisões erradas? – sua mão tomou a minha e ela carinhosamente a apertou. – Sei que ai dentro de você existe uma mulher corajosa, uma mulher que irá lutar por aquilo que acredita, aquilo que deseja. Tome seu tempo querida para descobri-la, apenas não a deixe sucumbir.

Assenti e a beijei na bochecha. Eu sempre quis ter uma avó, mas nunca me atrevi a imaginar como ela seria, agora eu sabia exatamente como.

Adormeci pensando nas sabias palavras da velha a meu lado.


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Notas finais do capítulo

Reviews? Curiosas?